quarenta e quatro | k o m b i
— Se alimenta direitinho, ok Lisa?
— Mãe, eu agora sou auxiliar de cozinha. O que eu mais faço é me alimentar bem.
— Ah, é verdade. — Ela sorri, alisando meus cabelos com a mão. — Graças a Deus você abandonou a dieta exclusiva de hambúrguer e batata frita. Olhe só, está até mais corada, com o cabelo mais brilhante.
Sorrio, tendo o rosto segurado por ela.
— Vou sentir saudades, mãe.
Ela suspira, tentando segurar as lágrimas que preenchem seus olhos.
— Também vou, minha Lisa.
Trocamos um longo e apertado abraço.
— Meninas, nós nos veremos de novo. É só um "até logo".
— Papai tem razão. — Seco minhas lágrimas, colocando um sorriso no rosto. — Nos veremos em breve, mãe.
Ela consente, ainda chorosa.
— Se cuide, filha. Te amo.
— Pode deixar, pai. — Afirmo, afundada em seu peito. Ele aplica um beijo no alto de minha cabeça, antes de terminar o abraço. — Eu te amo.
— Fique com Deus, minha filha. Amo você.
Mando um beijo com as mãos.
— Amo você!
Papai e mamãe retribuem com sorrisos, antes de caminharem até o portão de embarque.
Fico parada, olhando-os embarcar. Enxugo uma lágrima que corre por meu rosto, até sentir as mãos de Kim em meus ombros. Me viro para ela e sorrio fraco.
— Odeio isso.
— Eu sei.
Sem dizer mais nada, caminhamos abraçadas até o carro de Tyler, que nos espera do lado de fora do aeroporto.
Kim sabe o quanto eu sou ruim com despedidas.
Simplesmente não sei lidar.
— Alguém chorou. — Tyler encosta o dedo na ponta de meu nariz, antes de me puxar para um abraço.
— Para de me julgar. — Fungo.
— Eu jamais faria isso, amor. — Ele beija o topo de minha cabeça.
— Ai, ele disse "amor". Que fofinho!
Tyler e eu rimos.
— Estou com fome. Quem topa comprar uma pizza?
— Você só pensa em comer? — Tyler questiona, quase indignado.
— Estou convivendo muito com Mike. Culpe ele.
— Como você é pilantra, Lisa. — Kim semicerra os olhos em minha direção.
— Não me ofendi. — Dou de ombros, entrando no carro. — Tente outra vez.
— Você é inacreditável. — Ela ri, também entrando.
— Ouço muito isso.
Tyler dirige até a Nick's, dona da melhor pizza de toda Manhattan.
Ficamos no carro performando Beyoncé, sob protesto divertido de Tyler, até que, vinte minutos mais tarde, nossas pizzas ficam prontas.
— Uau, que rápido. — Kim coloca as caixas ao seu lado, no banco de trás.
— Graças a Deus. Mais um minuto e eu enlouqueceria. — Tyler respira aliviado, dando partida.
— Ei, respeite nossa Queen B! — Kim coloca a cabeça entre os bancos.
Bato em sua nuca, com o semblante fechado.
— Ai! — Ele passa a mão onde o acertei, rindo. — Total respeito à ela. Exatamente por isso estou agradecendo por vocês terem parado de cantar. — Sorri torto. — Vocês são uma catástrofe musical.
Não nos aguentamos e começamos a rir.
— Isso é pura inveja. — Comento com Kim.
— Com certeza.
Tyler ri pelo nariz e segue dirigindo. E nós agora cantamos "Listen" a plenos pulmões. Por pura provocação, ou não. Deixarei no ar.
— Boa tarde, garotos.
— Boa tarde!
—E aí, Ralph. — Faço um toque com o mais divertido dos seguranças dos Abrams.
— E aí, garota. — Ele sorri, amistoso.
— Dia da pizza! — Kim entrega uma das caixas para ele.
— Uau! — Ralph abre um grande sorriso, aceitando a pizza das mãos de Kim e levantando a tampa para vê-la melhor. — Adorei essa menina!
— Cuidado com o queijo, Big Ralph. — Tyler avisa, em tom divertido, antes de entrar com o carro na garagem da mansão.
Descemos os três e caminhamos pelo gramado até minha casa. Tyler, como um bom cavalheiro, carrega as caixas.
— Alguém aqui pediu pizza? — Destranco a porta e sorrio para os quatro indivíduos jogados no tapete da sala.
— Meu estômago pediu! — Mike é o primeiro a levantar.
— Estou "zero" surpresa.
Ele sorri, sem humor, e ajuda Tyler a distribuir as pizzas sobre a mesa da cozinha.
Logo todos se levantam e se servem.
Kim se junta à Alex, Izzy, Cody e Mike no tapete, enquanto Tyler e eu ficamos no sofá.
Iniciamos uma votação sobre qual filme assistir, até Kim se pronunciar, absolutamente do nada.
— Ei! Agora que eu percebi!
— O que, maluca? — Pergunto com a boca cheia de pizza.
— Estou de vela aqui!
Não sei quem fica mais vermelho. Se Cody, Mike ou Izzy.
Alex, por sua vez, deita a cabeça no ombro de Isabelle e sorri.
— Todos já notaram, só falta você me assumir.
Ela cobre o rosto com as mãos e ri, envergonhada demais para dizer algo. Tyler, por sua vez, acerta uma almofada em Alex, com cara de poucos amigos.
— Não se empolga não, bombadinho. Você tem um longo caminho a percorrer ainda.
— Até parece. — Ele pega a almofada e a coloca atrás de sua cabeça. — Seu pai me adora, seu irmão também. Você não faz diferença pra mim. — Dá de ombros. — Só falta Izzy se render ao pedido desesperado de seu coração para assumirmos nosso amor.
Tyler revira os olhos.
— Como você é convencido! — Isabelle ri, também revirando os olhos, e logo é abraçada por Alex.
— São fatos, minha linda. Fatos. — Ele se aninha entre seus cabelos.
Kim e eu somos as únicas a manter a atenção em Cody e Mike, que parecem extremamente aliviados por não terem virado alvos nessa discussão.
Trocamos um olhar e uma levantada de sobrancelhas. O que, para nós, resume meia hora de conversa sobre o assunto.
Cody toma a frente e, enquanto Tyler e Alex trocam farpas divertidíssimas, coloca um filme de luta para assistirmos.
No meio do filme, me levanto e vou até a cozinha, pegar outro copo de refrigerante. Kim me segue e se encosta na pia.
— Estamos conseguindo te distrair?
— Estão. — Sorrio. — E disfarçando isso muito bem.
Ela pisca.
— Mudando totalmente de assunto, acho que vamos mesmo nos mudar.
— Jura, Kim? Poxa, que bom!
— Pois é. Eu não vejo a hora. — Ela suspira. — Por mais que eu saiba que não, às vezes fico olhando com medo para a porta, como se meu pai fosse entrar por ela e matar todos nós.
Me encosto ao seu lado na pia.
— Já sabem para onde vão se mudar?
— Ainda não. Minha mãe tem feito pesquisas pelo bairro, mas a vontade dela mesmo é ir para E.N.Y.
— Da última vez que vi, meu apartamento seguia vazio no prédio da Sra. Bell. O único problema é que ele tem só um quarto.
— Será que não tem nenhum outro apartamento livre?
— Podemos ver isso. Lá seria ótimo para vocês, além de ser super próximo da lanchonete.
— E minha mãe pode ter mais chances de conseguir um emprego.
— Ela ainda não conseguiu nada?
— Só algumas faxinas. A referência da última patroa não vale de muita coisa, já tem mais de dezoito anos. Meu pai não admitia que ela trabalhasse fora.
— Eu posso falar com Eleanor ou até mesmo com Victoria, elas tem muita influência. Uma recomendação delas e o emprego é garantido. Nós vamos dar um jeito nisso tudo, Kim. Confie em mim.
Finalizamos o papo com um toque de mãos e voltamos para a sala.
Alex e Kim voltaram para o Brooklyn por volta de meia noite. Isabelle e Cody foram para a mansão no mesmo horário. Já Mike e Tyler ficaram em casa comigo.
Enquanto Mike dormiu em seu colchão na sala, como sempre, Tyler dormiu em meu quarto.
Acho que nunca senti tanta paz.
Deitada em seu peito descoberto, ouvindo as batidas de seu coração, dividindo o calor de seu corpo.
Mentalmente, agradeci.
Sorri.
E finalmente, adormeci.
Sinto alguém me cobrir, mas por pura preguiça, não abro os olhos. Apenas me aninho no cobertor.
Ouço uma risada baixa e abafada. A risada de Tyler.
— Vem deitar. — Peço, dando uma batidinha com a mão no colchão, ainda de olhos fechados.
— Como você é preguiçosa. — Ele se posiciona sobre mim, beijando minha têmpora.
Finalmente, abro os olhos. E sorrio.
Tyler está incrivelmente bonito.
O sorriso instantaneamente some de meus lábios.
— O que foi? — Ele nota minha mudança de humor repentina.
— Eu devo estar horrível! — Tampo seus olhos com as mãos. — Você ainda não pode me ver assim, não!
Tyler gargalha.
— Deixa de ser maluca, Elisa.
Ele tira minhas mãos de seus olhos.
— Você é linda. — Sela meus lábios. — Incrivelmente linda.
Inconscientemente, sorrio.
— Bom dia, casal.
Mike bate uma continência na porta, antes de entrar no quarto, pegar uma troca de roupa e ir para o banheiro, acabando com nosso clima.
— Por que tenho a impressão de que ele é o dono da casa e você a hóspede?
— Sabe que tenho a mesma impressão, às vezes?
Tyler ri.
— Vem cá. — Puxo ele para deitar comigo.
Ficamos deitados conversando sobre a noite anterior, até Mike sair do banheiro.
— Nossa, que cheirinho de avó. — Tyler comenta, em tom divertido.
— Respeite meu sabonete de erva doce. — Mike retruca, de nariz erguido, e jogando a toalha sobre o ombro, vai para a cozinha.
— Estou começando a gostar desse moleque.
Sorrio.
— Bom, agora é minha vez. — Dou um beijo rápido em sua boca, me levanto e depois de escolher uma troca de roupa, vou para o banheiro.
— Nem um convite para um banho a dois, Elisa? — Tyler pergunta, da cama.
— Você ainda não desbloqueou essa fase, Tyler Abrams.
Ouço a risada de Mike.
— Se fodeu, mané.
Poucos segundos depois, ele grita.
— Ai!
— É, ainda estou bom de mira.
— Lisa, ele jogou sua vela perfumada em mim!
— Tyler! Você estragou minha vela?
— Cretina! Minhas costas estão marcadas e você está preocupada com a vela?!
Não me aguento e gargalho. Ouço Tyler fazendo o mesmo.
— Odeio vocês!
— Não odeia, não. — Rebato, ainda rindo.
— Odeio sim. — Ele afirma, bem próximo à porta.
À noite, nos reunimos na Big Bill's Burger, enquanto Kim e Alex cumprem seus turnos.
Yumi, minha substituta asiática, nos atende com muita alegria e doçura.
— Dou três meses para ela mandar um cliente se foder, mentalmente. — Comento, enquanto ela vai até a cozinha, entregar nossos pedidos para Alex.
— Foi o tempo que você levou? — Cody me pergunta.
— Não. — Kim passa atrás de mim, com a bandeja na mão. — Ela levou duas semanas para isso.
Todos riem.
— Desbocada. — Mike brinca.
— Trabalhe servindo pessoas e você vai descobrir que se tornar desbocada é o menor dos efeitos colaterais.
Kim aponta com o dedo, concordando.
— Sábias palavras, Elisa. — Theo brinda comigo.
— Ei, mocinha. — Um senhor chama por Kim, em uma mesa próxima.
— E lá vou eu.
Kim vai atendê-lo e Theo a segue atentamente com os olhos. Ele sorri enquanto ela ajuda o cliente a escolher o melhor hambúrguer do cardápio.
E eu baixo um pouco a guarda ao ver isso. Não há maldade nem desejo em seu olhar. Há admiração.
Uma mensagem chega no celular de Tyler, tirando minha atenção de Theo.
Ele sorri, enquanto a lê.
— Finalmente.
— Finalmente, o quê? — Pergunto.
Ele sorri torto.
— Curiosa.
Arqueio uma sobrancelha.
— Vem comigo.
Tyler estende sua mão e eu aceito, mesmo sem ser respondida.
Ele tampa meus olhos com a mão e me guia até a porta da lanchonete.
— O que está rolando?
— Você já vai ver. — Tyler sussurra em meu ouvido.
Inconscientemente, sorrio.
— Certo... Surpresa!
Tyler descobre meus olhos e eu paraliso.
Uma linda kombi adaptada para motorhome azul brilha os faróis para mim.
— A kombi está aqui. Agora só me resta saber: você aceita minha companhia para desbravar as estradas desse país, Elisa Hattaway?
Ainda não sou capaz de sentir minhas pernas, mas mesmo assim, sorrio.
— É claro que sim!
Todos da lanchonete aplaudem e Alex grita "Boa, playboyzinho!", nos fazendo rir.
— Você está realizando um sonho de infância. Tem noção da importância disso?
Tyler corre o dedo por minha bochecha, acariciando-a.
— Quero realizar todos os seus sonhos, Elisa. Dos mais modestos aos mais ousados.
— Eu já disse que te amo?
— Comentou uma vez, por alto.
Dou uma risada.
— Eu amo você, Tyler Abrams.
— Eu também amo você, Elisa Hattaway. E eu nem sabia que era capaz disso. Obrigado por me apresentar o amor.
Me aninho em seu peito e, mais uma vez, me pego agradecendo por isso.
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