quarenta e dois | a ç ã o d e G r a ç a s
— Quantas cervejas você bebeu?
Ele revira os olhos e ri.
— Você não pode dizer apenas: "Eu também amo você"?
— Sabe como é, não gosto de mentir. — Encolho os ombros.
— Então, porque você não para de fazer isso a si mesma e admite logo que é completamente louca por mim?
Dou uma risada.
— Eu sei que você é extremamente autoconfiante e convencido, mas hoje está além do normal, sabia?
Ele sorri torto e me olha sugestivamente, como que esperando.
Dou uma pequena risada, baixando minha cabeça.
— Ok, você venceu. — Aproximo minha boca de seu ouvido. — Eu também amo você, Tyler Abrams.
Tyler abre o sorriso mais lindo que eu já vi em toda minha vida e beija meus lábios de forma apaixonada.
Enquanto isso, tento ignorar minha mente, que ecoa de forma insistente minha confissão:
"Eu também amo você, Tyler Abrams."
Quantos danos essas palavras ditas de forma tão verdadeira podem me causar?
— Então, nada deu errado?
— Milagres acontecem.
Mike ri.
— Você e Tyler são o casal mais improvável dos últimos tempos.
— Por que?
— Vocês não tem absolutamente nada em comum. Você é incrível e ele, bem... Ele é um babaca.
Dou uma risada.
— Ele está se esforçando para ser uma pessoa melhor, vai.
— Graças a você.
Sorrio.
— Você está mesmo gostando dele, não está?
Suspiro.
— Está tão na cara assim?
— Seus olhinhos brilham só de ouvir o nome dele, minha cara.
Cubro o rosto com as mãos.
— Que droga.
Mike ri.
— Mudando de assunto, quais são os planos para o Dia de Ação de Graças?
— Trabalhar, trabalhar e trabalhar mais um pouco.
— Uau, que empolgante.
Dou uma risada.
— Eleanor me disse que o Senhor Abrams nos liberará mais cedo, para podermos aproveitar a noite com nossas famílias.
— Legal da parte dele. E você vai fazer isso?
— Tecnicamente, sim. Você e eu vamos para a casa do Alex.
Mike tira os olhos da TV e me encara.
— O que foi? — Pergunto.
— Nada. É só que... Eu não estava esperando por isso.
— Alex é minha família em Nova York. E você é minha família aqui em Manhattan. Nós somos dois abandonados nessa ilha de luxúria, meu caro. Então, você vem comigo, quer queira, quer não.
Ele sorri.
Como resposta, eu o abraço pelos ombros e ofereço o balde de pipoca.
O tão aguardado Dia de Ação de Graças chegou!
E cá estou eu, de avental e coque, esquentando a barriga no fogão, preparando o stuffing para o peru.
Eu sei, isso pegou mal.
Essa frase, definitivamente, pegou mal.
— Posso saber o que a moça tanto pensa aí?
Tyler me abraça por trás e roça a ponta de seu nariz em minha nuca, me fazendo arrepiar.
— Nada produtivo. — Dou um risada e me viro para ele. — Quando você vai parar de fazer isso?
— Isso o quê? — Ele tenta pegar uma fatia de bacon na frigideira, mas eu o impeço, batendo em sua mão com a espátula de silicone. — Ai!
— Aparecer do nada e me assustar. Ou me agarrar.
— Como se você não gostasse.
Acabo rindo.
— Eu te odeio.
— Não. Você me ama.
— Não amo, não.
— Ama, sim.
Faço um bico, em negação.
Tyler zera o espaço entre nós.
— Você me ama, Elisa? Realmente me ama?
Encaro seus olhos azuis.
— Mais do que eu imaginei ser possível.
Ele sorri e me beija com desejo. Um pigarrear, porém, nos faz parar.
— Sem querer atrapalhar, já atrapalhando, — Eleanor sorri, com as mãos para trás — esse stuffing não pode virar carvão.
— E não vai. — Afasto Tyler com o quadril e volto a mexer na frigideira. — Está tudo sob controle aqui, El.
— Eu vi mesmo. — Ela sussurra para si, mas Tyler sorri, confirmando que também ouviu. — Bem, depois que terminar isso, você pode adiantar a sobremesa para mim, por favor? Preciso resolver algumas coisas com Victoria para essa noite.
— É claro, chefe! — Bato uma continência.
Eleanor sorri e se despede com uma piscadela.
— Então, sua noite de Ação de Graças será na casa do bombadinho de meia tigela?
— Pare de chamar o Alex assim.
— Ele me chama de playboyzinho ramelão!
— Ele nunca te chamou disso.
— Não na sua frente.
Dou uma risada.
— Respondendo sua pergunta, sim. Mike e eu iremos para lá. A mãe e a irmã dele chegam às sete.
— E sua família?
— Eles não vão conseguir vir. Algum problema na loja do meu pai, mamãe não me explicou direito.
— Entendi.
— E seus planos, quais são?
— Fazer uma média com o paizão e depois ir para a casa do bombadinho, ficar com você.
— Ah, que fofo! — Deixo as panelas e selo seus lábios.
— O que posso dizer? Você desperta o melhor em mim, Elisa Hathaway.
Sorrio.
— Bem, vou parar de te atrapalhar. Não quero que você incendeie a cozinha.
Semicerro meus olhos.
— Até mais tarde, amor. — Ele beija minha testa. — E foco nessas panelas!
Bato uma continência e o observo deixar a cozinha.
— "Amor". — Repito em voz alta, com um sorriso idiota nos lábios. — Tão clichê.
— Mike, vamos!
— Calma aí, Lisa!
Reviro os olhos, enquanto chacoalho meus pés, já pronta, jogada no sofá.
— Então, como estou?
Mike para no meio da sala, bem na minha frente, alguns minutos mais tarde.
— Um gato! — Analiso sua roupa impecavelmente bem combinada. — Só falta miar.
— Idiota. — Ele ri. — Bem, estou pronto.
— Finalmente! — Me levanto do sofá e ajeito minha roupa. — Pensei que passaria a noite de Ação de Graças toda nesse sofá, te esperando.
— Exagero faz parte da sua personalidade?
— Totalmente.
Ele ri e oferece seu braço, que eu aceito sorrindo.
— Estou morta de fome.
— Novidade.
Deixamos a mansão caminhando sem pressa e medo, já que os Abrams estão em festa e com alguns convidados, dentre eles, Mike. Não que isso seja verdade.
— Feliz Dia de Ação de Graças, rapazes.
— Feliz Dia de Ação de Graças, Elisa.
Mike sorri e, com um pequeno aceno de cabeça, me segue para fora da mansão.
— Quem vai estar lá mesmo?
— Alex, Marlise e Madelaine, que por sinal, é uma gata. — Faço sinal para o táxi. — Acho que você vai gostar dela.
Mike sorri fraco. Encontro a deixa que venho tentando ter desde a festa de sábado.
— Eu esperava um sorriso mais animado.
— Eu não sei se quero conhecer garotas agora, Lisa.
— E por que não?
O táxi para. Nos sentamos no banco traseiro.
— Boa noite.
— Boa noite.
— Qual o destino?
— Brooklyn. Catorze com a nona.
O taxista confirma com um aceno de cabeça e arranca com o carro.
Mike evita contato visual comigo, enquanto eu o encaro fixamente, esperando por minha resposta.
— Garoto! — Cutuco suas costelas com a mão.
— Ai, Lisa! Qual é?
— Por que você não quer conhecer garotas? — Diminuo meu tom de voz.
— Por nada. Só não é minha prioridade agora.
— E qual é sua prioridade agora?
— Voltar para a escola e para o time.
— Ah, ótimo. Isso é realmente importante. — Afirmo. — Mas... Não era bem o que eu estava pensando.
— E o que você estava pensando?
— Que sua prioridade era uma pessoa.
— Pessoa?
Suspiro.
— Esquece. É coisa da minha cabeça.
Mike ergue uma sobrancelha.
— O que está rolando entre você e o Cody? — Disparo. — Ai, pronto. Perguntei.
Ele paralisa. Suas bochechas ruborizam tanto que posso sentir o calor emanando delas.
— Co... Como assim?
— Eu vi vocês dois na festa. E bem, vocês estavam... Como eu posso dizer? Em sintonia.
— Cody é um cara muito legal. Muito legal mesmo. — Ele sorri. — Mas... Não viaja, Lisa. Eu sou hétero, ok? Hétero!
— Ok. Desculpe. — Ergo as mãos. — Não está mais aqui quem falou.
O taxista estaciona em frente a casa de Alex, que está com as luzes acesas.
— A festa já começou. — Sorrio, enquanto pago pela corrida. — Obrigada!
— Feliz Dia de Ação de Graças.
— Para o senhor também.
O taxista agradece com um sorriso e se vai.
— Vamos? — Estendo a mão para Mike.
— Vamos. — Ele a segura e caminha ao meu lado até a porta de madeira mogno.
— Finalmente! — Alex abre a porta poucos segundos depois de tocarmos a campainha. — Achei que vocês não viriam mais.
— Saudades? — Abro um grande sorriso.
— Demais, pequena.
Alex me abraça forte, tirando meus pés do chão. Depois, se vira para Mike.
— E você, meu parceiro, como está?
— Tudo certo, Alex. — Os dois apertam as mãos.
— Ótimo. Entrem, as meninas estão animadinhas, esperando por vocês.
Lanço um olhar de canto para Mike, antes de entrar.
— Lisa! — Marlise abre os braços, amistosamente, logo que me vê. — Quanto tempo!
— Que saudades, Marlise!
— E de mim, ninguém sente saudades?
Madelaine faz bico e cruza os braços. Ela é a cópia da mãe, com cabelos castanhos em ondas caindo pelo meio das costas e olhos amendoados. Mas tem o mesmo sorriso largo de Alex, enfeitado por duas covinhas nas bochechas.
— Minha drama queen! — Puxo ela para um abraço apertado. — Que gata você está!
— Ela tem a quem puxar. — Alex pisca.
— Claro. Sua mãe.
Ele semicerra os olhos, enquanto as duas dão risada.
— Ei, quem é o gato? — Madelaine pousa os olhos em Mike, que ruboriza.
— Mike. Meu irmão postiço. — Abraço ele pela cintura.
— Como vai, Mike? — Marlise o cumprimenta com um abraço apertado, marca registrada da família Martínez.
— Estou bem e a senhora?
— Graças a Deus. E deixe de formalidades, me chame de Marlise.
Ele confirma com um sorriso e aceno de cabeça.
— Feliz Dia de Ação de Graças, Mike. — Madelaine também o abraça. — Seja muito bem vindo.
— Feliz Dia de Ação de Graças, Madelaine.
— Certo, irmãzinha. Você tem a noite toda para flertar com Mike. Agora, quem aceita uma taça de vinho?
Madelaine fuzila Alex com os olhos, e ele, por sua vez, sorri despreocupadamente.
— Eles são menores, não podem beber, Alex.
— Ótimo. Sobra mais pra mim. — Ele dá de ombros.
— Deixa de ser careta, mãe. Hoje é Ação de Graças!
Marlise reflete por alguns segundos e depois baixa os ombros, vencida.
— Tudo bem. Mas só uma taça para cada.
— Mamãe liberou o álcool, bebês. — Alex sorri, com a garrafa de vinho nas mãos. — Aproveitem!
— Babaca. — Madelaine e eu resmungamos em uníssono.
Enquanto Alex enche as taças na companhia de Mike, converso com Marlise e Madelaine sobre a receita de torta de abóbora de Eleanor.
Algum tempo depois, a campainha toca.
— Lisa, você pode atender a porta, por favor? — Marlise pede, enquanto tira o peru recém assado do forno. — Deve ser o vizinho.
Vejo Alex e Madelaine se entreolharem, com sorrisinhos. Mas ignoro isso e, dando de ombros, vou até a porta.
Quando a abro, meu coração quase para.
Mamãe e papai sorriem grandemente, parados, ainda do lado de fora.
— Feliz Dia de Ação de Graças, meu amor.
— Mãe! Pai!
Corro para os braços estendidos de minha mãe e logo sou cercada pelos de papai também. Minhas lágrimas se misturam ao gigantesco sorriso estampado em meu rosto e meu coração parece ser capaz de saltar do meu peito, de tanta felicidade.
Quando abro os olhos, ainda marejados, vejo ao fundo um sorriso conhecido.
O sorriso mais lindo de todo o mundo.
Tyler.
Ele pisca para mim, afastado alguns passos de onde estou.
E então, entendo tudo.
— Obrigada. — Sussurro por cima do ombro de minha mãe.
— Eu te amo. — Ele sussurra de volta.
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