doze | b r i g a
— Hora de acordar!
Algo me atinge bem no rosto.
— AI! O que...?
Abro os olhos e dou de cara com Alex sorrindo com um travesseiro nas mãos.
— Bom dia!
— Isso é jeito de me acordar, seu idiota? — Esfrego os olhos, nem um pouco feliz.
— É sim. Um jeito bem prático, por sinal.
Semicerro os olhos em sua direção e lhe atiro um travesseiro na cabeça.
— Ai! — Ele ri. — Às vezes eu me esqueço do seu mau humor matinal.
— Hoje é meu dia de folga, Alex!
— Certo, mas... E daí?
— E daí que eu deveria acordar só após o meio dia. E sem uma travesseirada na cara!
Alex ri.
— Quer mesmo perder metade do seu domingo livre dormindo?
— É, eu quero sim.
Puxo o edredom, cobrindo minha cabeça.
— Você é inacreditável, Elisa Hattaway.
— Obrigada. — Resmungo, ainda debaixo do edredom.
— Não foi um elogio. — Sua voz se afasta.
Fecho os olhos e tento voltar a dormir.
Não consigo.
Me descubro e encaro o teto por alguns segundos, até que um cheiro incrivelmente bom me alcança, fazendo meu estômago roncar.
— O que você está fazendo aí?
— Ovos com bacon. — Alex responde, da cozinha. — Ia preparar waffles, mas não tem leite nem farinha.
— E não tinha ovos nem bacon. — Me levanto e vou até a cozinha. — Onde você conseguiu?
— Peguei emprestado da cozinha dos magnatas. — Ele sorri.
— Eu não acredito que você teve essa cara de pau!
— Eu não tive. Fui apenas perguntar onde ficava o supermercado mais próximo, mas Victoria, muito gentil, insistiu para que eu pegasse o que precisasse.
— Você é inacreditável, Alexander Martínez.
— Obrigado.
— Não foi um elogio. — Sorrio torto e vou para o banheiro.
Minutos mais tarde, volto à cozinha vestida com minha camiseta preferida, jeans e all star.
— Que bonitinha. — Alex elogia. — Nem parece que ronca.
— Eu não ronco.
Alex gargalha.
— Imbecil.
Atiro o pano de pratos em seu peito e me sirvo.
— Você precisa ir ao supermercado, sabia? Não tem nada para comer aqui.
— Não mesmo. — Confirmo, enquanto como uma fatia de bacon. — Comi a última maçã na sexta.
— Como você sobrevive? — Alex me encara, quase indignado.
— Eu almoço e janto na mansão, esqueceu? Não havia motivos para eu comprar comida. Pelo menos, não até agora.
— Mas agora há. Um belo e atraente motivo. — Ele pisca.
Reviro os olhos.
— Queria ter só um por cento da sua autoestima.
— Para isso, você precisaria ter essa beleza aqui também. — Alex aponta para o próprio corpo.
— Eu desisto de você, Alex! É sério!
Espeto o último pedaço do ovo com o garfo e coloco o prato na pia.
Alex ri.
— Estou só brincando, pequena. Deixa de ser azeda!
Faço uma careta em resposta e vou até o quarto, pegar minha bolsa.
Quando volto, encontro Alex olhando pela janela.
— Vamos?
— Para onde? — Ele pergunta, sem desviar o olhar.
— Supermercado. Ei! — Estalo os dedos. — Está olhando o quê?
Vou até a janela.
Isabelle está entretida em uma séria conversa com Cody, no jardim.
— Você está mesmo interessado nela, não está?
— Talvez. Quem é aquele?
— Aquele? É o Cody, irmão dela.
— Quantos irmãos Izzy tem, afinal?
— Só dois. Vem.
Puxo Alex para fora e logo que chegamos ao jardim, nossa presença é notada por Isabelle.
— Bom dia! — Ela cumprimenta com um sorriso.
— Bom dia. — Respondo. — Oi, Cody.
— Oi Elisa. — Ele responde, sem se virar.
— Cody, está tudo bem. — Isabelle o encoraja a nos encarar.
Ele suspira e se vira.
Seu olho esquerdo está roxo e há um feio corte em seu lábio inferior.
— Caramba! O que houve com você?
— Cody se meteu em uma briga com Mike Baizen ontem, no jantar. Por isso ele e papai voltaram mais cedo.
— Desculpe por quase fazer vocês serem pegos. Se eu soubesse, teria tentado me controlar.
— Sermos pegos? — Olho nervosa para Isabelle.
— Eu contei a ele. Cody é de confiança.
— Não vou colocar nem você nem minha irmã em apuros, fique tranquila. Seu segredo está seguro.
— Obrigada, Cody.
Ele consente.
— O cara caprichou no soco, heim? — Alex analisa os ferimentos em seu rosto.
— Pois é. Ainda bem que roxo realça a cor dos meus olhos.
Alex sorri.
— Só me fala que você também fez algum estrago na cara dele.
— Um nariz quebrado serve? — Cody tenta sorrir, mas acaba fazendo uma careta de dor.
— Está à altura! — Alex estende a mão. — Prazer, sou Alex, amigo da Lisa.
— Cody, irmão da Izzy.
Eles trocam um aperto de mão.
— Vocês vão sair? — Isabelle me pergunta.
— Vamos ao supermercado, preciso comprar algumas coisas.
— Ah, que ótimo. Vamos com vocês!
— Nós vamos?
Isabelle olha para Cody, quase como quem implora.
— Está bem. — Ele se dá por vencido, de ombros baixos. — Isto é, se vocês não se importarem em andar por aí com alguém com essa cara.
— Você não está tão mal assim. — Elogio. — Sabe, eu já vi bem piores.
— Obrigado... — Ele dá um pequeno sorriso. — Eu acho.
— O Alex mesmo, uma vez...
— Ei, vamos andando? — Alex me interrompe. — E sem papo furado, de preferência.
Ergo minhas mãos, calando-me.
Seguimos os quatro até um grande supermercado a apenas algumas quadras de distância da mansão.
— Até o supermercado aqui é chique. — Alex analisa a fachada. — Gostei.
— Eleanor só faz compras aqui. — Cody comenta.
— Então as coisas devem custar os olhos da cara. — Lamento.
Pego um carrinho e vou andando pelos corredores juntamente com Isabelle, enquanto os meninos engatam uma animada conversa sobre futebol alguns passos atrás.
— Elisa, eu nem tive tempo de te agradecer por ontem...
— E nem precisa. — Interrompo-a. — Você gostou?
— Eu adorei!
— Então estamos quites.
— Como assim?
— Eu nunca te agradeci por ter me ajudado naquela tarefa de etiqueta. Se você não tivesse me apontado a taça certa, eu não teria passado sequer da primeira fase. Eu não fazia a mínima ideia de qual era a correta.
Isabelle sorri.
— Ei, o que é isso? — Pergunto, analisando uma lata branca disposta na prateleira.
— Ah, é uma espécie de pipoca premium. Ela é preparada com sal Laeso, o mais raro do mundo, e ouro comestível.
— Ouro comestível?
— Sim. É uma delícia.
— Duzentos e cinquenta dólares?! — Esganiço, vendo o preço na prateleira.
— E essa é a mais barata. A maior chega a custar mil dólares.
— O quê? Com mil dólares eu compro uma plantação inteira de milhos!
Isabelle ri.
Me afasto rapidamente da lata e volto a procurar os mantimentos que necessito.
Em menos de vinte minutos, já com tudo o que preciso no carrinho, me encaminho para o caixa e torço mentalmente para que meu cartão não seja negado.
— Transação aceita. Pode retirar o cartão.
Respiro, aliviada, e agradeço a atendente.
— Pode deixar, Elisa. — Cody se encarrega das sacolas, juntamente com Alex.
— Cody, está maluco? Você é meu patrão, não pode carregar minhas sacolas.
— Onde está escrito isso? É alguma nova lei?
Abro a boca para argumentar, mas desisto e acabo sorrindo para ele, que retribui piscando com o olho bom.
Quando estamos chegando próximos à mansão, nos deparamos com Tyler discutindo com um rapaz.
— O que o Ty está fazendo? — Isabelle pergunta, receosa.
Nesse mesmo instante, Tyler acerta um soco no rapaz, que cambaleia.
Cody deixa as sacolas e corre até os dois.
— O que você está fazendo? — Cody grita, afastando Tyler do rapaz.
— Defendendo sua honra! — Ele responde, tentando se desvencilhar. — Olha o que esse imbecil fez com você!
— Chamou o irmão para defender sua honra? — O rapaz, Mike, desdenha, com a mão sobre a boca. — Que gracinha.
— Cale essa boca, Mike, ou quebro seu nariz outra vez! — Cody rosna e se vira para encarar Tyler. — E eu não preciso que você me defenda, Ty! Eu posso muito bem fazer isso sozinho, e mesmo que eu não pudesse, é um pouco tarde para você bancar o irmão protetor, não acha?
Cody empurra Tyler e sai a passos firmes.
Isabelle sai correndo atrás de Cody e Tyler, irado, chuta uma lixeira próxima, espalhando todo o lixo pela rua.
— Ah, maravilha! — Mike grita, enquanto Tyler se afasta. — Encerrou com chave de ouro!
Assisto a tudo, chocada.
Alex solta um assobio longo e baixo.
— O que foi isso? — Abro a boca, chocada.
— Barraco. — Alex pega as sacolas do chão. — E eu achando que Manhattan era imune a esse tipo de coisa.
— Vamos? — Alex batuca em seu capacete.
— Sim. Vou só devolver os ovos que você pegou emprestado.
— Ah, de nada por isso.
Sorrio e vou até a mansão.
Paro à porta da cozinha, onde Tyler se encontra com um saco de gelo sobre o punho.
Pigarreio, chamando sua atenção.
Tyler se vira.
— Elisa? Entre.
— Com licença.
— Precisa de algo? — Tyler pergunta, incrivelmente entretido com o saco de gelo.
— Eu só vim devolver esses...
— Ovos e bacon?
— É.
Tyler sorri fraco.
— Certo. Pode deixar aí sobre o balcão.
Obedeço.
— Ahn, obrigada pelos... Enfim.
— De nada.
Consinto com a cabeça e me viro para sair.
— Você já fez algo que julgou certo e acabou só piorando uma situação?
Giro nos calcanhares e o encaro.
Por um segundo, me convenço de que tive uma alucinação.
Mas então, Tyler me olha, esperando por uma resposta.
— Já. E mais de uma vez, por sinal.
Ele suspira, olhando sua mão.
— E o que se pode fazer para consertar?
— Pedir desculpas é um bom começo.
Tyler faz uma careta.
— Eu sou péssimo nisso.
— Nem tanto.
Ele sorri.
— Acho que você foi a pessoa a quem eu mais pedi desculpas em toda minha vida.
— Uau. Devo me sentir lisonjeada?
— Talvez. — Ele meneia a cabeça.
Eu sorrio.
— Você deve me odiar, não é?
— Odiar é uma palavra muito forte.
— Então, você não me odeia?
— Tecnicamente, não.
— Certo. Obrigado por isso.
— De nada.
Contemplo meus sapatos em silêncio, até que Tyler dispara:
— Meu irmão acabou de dizer que me odeia.
— Nossa.
Tyler suspira.
— Ele deve só estar chateado, falou da boca pra fora. Ele não odeia você.
— Eu não o condenaria se me odiasse. Sou um péssimo irmão.
— Você não pode ser tão ruim assim.
Tyler ri pelo nariz.
— Vai dizer que não me acha um babaca?
Mordo meu lábio.
Tyler ri.
— Mas, sabe... Ainda dá tempo de mudar.
— Será?
— Sempre há esperança.
Tyler fita os sapatos.
— Desculpe por isso... Por te encher com meus problemas.
— Tudo bem. É bom conversar com você civilizadamente, para variar.
Tyler sorri.
— Como está a mão? — Aponto.
— Vai ficar boa. — Tyler a analisa.
— Que bom.
Ele abre a boca, mas desiste.
O silêncio toma o ambiente, até que decido quebrá-lo.
— Bom, eu preciso ir e...
— Ah, claro. Tudo bem.
— Então, até logo.
— Até. E obrigado por me ouvir, Elisa.
— Por nada, Tyler. Tchau.
— Tchau.
Deixo a mansão atordoada.
Eu acabei mesmo de ter uma conversa calma e sem um pingo de ironia ou provocações com Tyler?
— Que demora! — Alex reclama, sentado em sua moto. — Estava fazendo o quê?
— Eu estava só... É... Ah, vamos logo.
Coloco o capacete e subo na moto, evitando o olhar de Alex pelo retrovisor.
E em silêncio, partimos para o Brooklyn.
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