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cinco | p r o v o c a ç ã o

Vou ser demitida.

Esse é o único pensamento que tenho, enquanto limpo a sujeira que os copos de suco fizeram no chão.

— Moça, perdoe a péssima mira do meu amigo. — Um dos amigos de Tyler vem até mim e se abaixa para me ajudar.

— Imagina, está tudo bem. Pode deixar isso aí, você vai acabar se cortando.

— Acho que posso sobreviver a um corte feito por um caco de vidro.

Ele sorri, com nossas cabeças separadas por poucos centímetros.
Meus olhos param diretamente nos seus, notando a heterocromia que há neles. Um de seus olhos é de todo azul, enquanto o outro divide espaço com o castanho escuro, quase que perfeitamente.

O rapaz nota meu olhar curioso e quase fascinado, mas logo desvia seus olhos dos meus, continuando a pegar os cacos do chão.

— Ei Dan, deixe a garota fazer o seu trabalho. — Tyler diz com ar de superioridade, enquanto tira sua camisa molhada. — Ela é paga para isso.

— E você deveria ser pago por sua falta de compaixão. — O segundo amigo vem até nós. — Desculpe pela bolada...

— Elisa.

— Elisa. — Ele repete, como se meu nome fosse algo sagrado. — Belo nome.

— Obrigada.

Tyler ri pelo nariz, debochando.

— Agora que os dois cavalheiros já se apresentaram, podemos ir, por favor?

— Acha que pode terminar de limpar essa bagunça sozinha? — Dan pergunta.

— Claro. Obrigada pela ajuda.

— De nada, Elisa.

Dan se levanta sob o olhar irritado de Tyler e o abraça pelos ombros, caminhando para dentro da casa.

— Você precisa ser mais gentil, cara.

— E você precisa parar de bancar o bom samaritano.

— E eu preciso de mais uma dose de uísque.

— Você vai acabar se tornando a porra de um alcoólatra, Theo. — Dan se zanga com o cara de mira ruim.

— Uh! Estarei chegando ao nível do Ty neste dia.

— Vá se foder, Theo. — Tyler sorri torto.

E no momento em que vejo aquele sorriso, me lembro.

"Ô maluca, você não olha antes de atravessar, não?"

— Eu mandei o filho do patrão se foder, ótimo!

Vou até a área de serviço e pego um balde.

— E agora acabo de o derrubar dentro da piscina. — Continuo a me lamentar, enquanto limpo o chão. — Começamos com o pé direito, Elisa!

— Falando sozinha?

Dou um pequeno pulo de susto e me viro, ficando frente à Victoria.

— O que houve aqui, Elisa?

— Ah, droga! — Sussurro. — Levei uma bolada, derrubei os copos de suco no chão e Tyler na piscina. — Disparo. — Vou ser demitida, não é?

Victoria me encara por alguns segundos.

— Não. Você não vai.

— Não vou? — Suspiro, aliviada. — Ah, graças a Deus!

— Mas espero que esse infeliz episódio tenha sido o primeiro e último, ok? Não vou ficar tolerando incidentes tolos como esse.

— Não vai acontecer novamente, Victoria. Eu prometo.

— Assim espero.

Victoria sai a passos calmos, me deixando com o coração prestes a sair pela boca.

Termino de limpar a sujeira e volto para a cozinha, onde Eleanor está sentada, anotando algo.

— O que houve lá fora?

— Uma tragédia. Derrubei o filho do patrão dentro da piscina.

Eleanor abafa uma risada.

— Tyler?

Consinto, infeliz.

— Ele bem que mereceu. O garoto tem o rei na barriga, sabe? Sempre cheio de comentários ácidos e sarcásticos. — Ela suspira, voltando às suas anotações. — Um mergulho pela manhã lhe caiu muito bem.

— Ele parece ter uma personalidade terrível.

Eleanor meneia a cabeça.

— Tyler é inconsequente, arrogante e diria que um pouco alheio à sentimentos. Mas gosto de acreditar que há algo de muito bom dentro dele. Só precisa ser trazido à tona.

Suspiro, erguendo minhas sobrancelhas.

— Pronto, terminei.

— O que?

— Lista de compras. — Ergue o papel no ar e se levanta. — Vou precisar ir ao mercado. Mas fique tranquila, — completa, ao ver minha expressão de desespero — não devo demorar.

— Então... O que eu faço, enquanto isso?

— Dê uma olhada no cardápio que faremos hoje.

Pego a folha de sua mão e passo os olhos pelo cardápio.

— Molho de escargot? Você faz molho com caramujos?!

— Não ofenda o escargot dessa maneira, Elisa. — Eleanor sorri e deixa a cozinha.

Leio novamente o cardápio e logo me sinto entediada. Resolvo então, dar uma volta pela cozinha, procurando os locais onde são guardados os talheres, louças e panelas.

— Oi.

Viro-me e vejo Isabelle.

— Olá.

— Eu soube do que houve agora à pouco... O incidente com meu irmão e seus amigos. Vim pedir desculpa por eles.

— Quem deve desculpas sou eu. Afinal, eu joguei seu irmão em uma piscina de água gelada às oito da manhã.

— A piscina é aquecida, te garanto que ele não sofreu.

— Ah, sério? — Respiro aliviada. — Menos mal.

Isabelle sorri.

— Bom, só passei mesmo para pedir desculpas pelo péssimo comportamento dos rapazes. Você deve estar cheia de coisas para fazer e eu não quero te trazer mais problemas logo em seu primeiro dia de trabalho.

— Na verdade, eu estou bem entediada. Eleanor foi às compras e me deixou aqui, sozinha com um cardápio.

— Hum, e o que teremos para hoje? — Isabelle se debruça sobre a bancada.

— Lagosta grelhada com molho de escargot. — Leio. — É sério que vocês comem isso? Me desculpe, eu sei que é super chique e caro, mas escargot é um pouco nojento, não acha?

Isabelle ri.

— Eu meio que já me acostumei. Mas troco fácil esse "prato super chique" por um belo hambúrguer.

— Gosta de hambúrgueres?

— Muito!

— Eu trabalhava em uma lanchonete até ontem, sabe? E vou te falar, o hambúrguer de lá é, sem dúvidas, o melhor de todo o Brooklyn!

— Sério?

— Sério! E não estou fazendo média, afinal nem ganho mais para isso. Você precisa provar os hambúrgueres do Alex, são divinos! Se você quiser, posso te levar até lá um dia desses.

— Ah, eu adoraria, mas...

— Tem medo de atravessar a ponte? — Pergunto, em tom de brincadeira.

— Não, eu realmente adoraria conhecer o Brooklyn.

— Espera, você nunca foi ao Brooklyn?

— Não que eu me lembre. Papai não me deixa ir muito longe, ele é do tipo super protetor.

— Com ênfase no super.

Isabelle suspira, concordando.

— Mas aqui em Manhattan você sai, certo?

— Apenas acompanhada pelos seguranças.

— Isso parece ser bem chato. Por que ele não te deixa sair sozinha?

— Não sei, na verdade. Ele apenas diz que é para me proteger.

— A não ser que tenha um psicopata com verdadeira fixação em você solto por aí, a justificativa do seu pai é sem fundamento.

Isabelle suspira, baixando os ombros.

— Quantos anos você tem, Isabelle?

— Acabei de completar dezesseis.

— Ah, que saudades eu sinto dos meus dezesseis... — Sorrio, nostálgica. — Colégio, nenhuma conta para pagar. Bons tempos.

— Você gostava do colégio?

— Do colégio, sim. De estudar, — meneio a cabeça — nem tanto. Mas, espere... Ao colégio você vai, certo?

Isabelle nega.

— Estudo em casa.

— Caramba! Você é a verdadeira versão da princesa presa na torre mais alta do castelo.

— Pois é.

— Eu não consigo me imaginar vivendo assim, presa e vigiada. É deprimente.

— Seus pais são do tipo "liberais"?

— Eles sempre me deixaram muito à vontade para fazer minhas próprias escolhas.

— Já eu tenho sempre alguém que faz todas as escolhas por mim.

— Qual é a queixa do dia, irmãzinha? — Tyler surge na cozinha, com seu já conhecido sorriso torto estampado nos lábios.

— Não enche, Ty.

— Vejo que já fez amizade com a nova funcionária. Você gosta mesmo da criadagem, não é Izzy?

— Melhor do que você, que é cercado de pessoas fúteis e vazias. Quanto você paga a eles para inflarem seu ego mesmo?

Tyler vacila por um instante, mas logo seu irritante sorriso volta.

— O suficiente para não precisar de gente como sua amiga.

Tyler pisca e gira nos calcanhares, deixando a cozinha.

— Não ligue para ele, Elisa. Meu irmão gosta de provocar.

— Ele é um tremendo idiota!

— Realmente, é. Mas, conhecendo-o como eu o conheço, diria que toda essa cena foi resultado de um curioso interesse.

— Interesse em quê?

— Em quem. Você.

— Interessado em mim? A única coisa que ele fez foi me insultar!

— Meu irmão tem o péssimo hábito de afastar as pessoas. Mas vai por mim, ele não perderia seu tempo vindo até aqui apenas para nos provocar.

Isabelle faz uma pausa e logo conclui:

— Elisa, você está na mira de Tyler Abrams!

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