Capítulo 2
"O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você."
Vincent ouviu as batidas na porta da sala de reuniões e franziu a testa, pois deixara ordens expressas para não ser interrompido.
— Cuide disso, por favor. — Disse em voz baixa à secretária que mal respondeu.
A jovem saiu depressa e fechou as portas duplas com cuidado, mas retornou em seguida. Lutando para conter o riso, ela sugeriu.
— Acho melhor você mesmo ir cuidar disso.
— Mas que... — Irritado com a aparente incompetência da secretária, ele levantou-se e dirigiu-se à porta. — Parece que temos problemas, senhores. Por favor, continuem sem mim. Eu volto logo.
Assim que passou pelas portas duplas Vincent parou e, atônito, examinou a cena que tinha diante de si. Toda a área da recepção estava coberta por cartazes escritos com tinta vermelha sobre cartolina amarela. Os cartazes diziam: Não! No! Nyet! Nein! Non! De jeito nenhum! Esqueça! Desista! E vá direto pro inferno!!!
Uma pequena multidão ria enquanto um mensageiro uniformizado colocava mais pôsteres nas paredes e até nos móveis.
— O que pensa que está fazendo? — Gritou Vincent, aproximando-se do mensageiro com ar ameaçador.
— Entregando uma encomenda, senhor. Por acaso é Vincent Perlman?
— Sim. Por quê?
O garoto apanhou um envelope e disse.
— Isso também é para o senhor. Assine aqui, por favor.
Vincent rabiscou sua assinatura no aviso de recebimento e abriu o envelope com movimentos exasperados. Não sem antes dar uma nota de cinco doláres ao garoto que ficou abismado com a generosidade do empresário.
— Muito obrigdo mesmo, senhor, eu nem sei o que dizer...
— Tudo bem garoto, eu sei que está apenas prestanto um serviço. Afirmou Vincent sem tirar os olhos do jovem e tentando esquecer o passado mais uma vez.
A mensagem que encontrou dentro dele também estava escrita em vermelho.
"Como eu sou capaz de recusar? Posso enumerar milhares de maneiras..."
A mensagem não estava assinada. E nem era necessário.
— É o que vamos ver, Linda Chandler! Pois o jogo está apenas começando!... — Disse ele ao terminar de ler o bilhete.
— Não sou homem de aceitar um não como resposta, seja em que idioma for!
Então olhou para os cartazes que forravam as paredes da recepção e não pode conter o riso.
— Vai ser uma luta interessante... A muito tempo não me desafiam assim! Vou adorar cada segundo disso!...
Linda andava pelo escritório e roía as unhas.
— Já devia ter acontecido alguma coisa não acham?... — Disse a Jeany. — Não acha que ele teve tempo suficiente? Como acha que reagiu aos meus recados?
— Fique aqui e espere, se quiser. Eu vou embora agora mesmo isso sim.
— Covarde!
— É só uma retirada estratégica minha querida. Além disso, não tenho idade para bater de frente com um homem daqueles, por isso, faça bom proveito. Fui!... — Riu ela, abrindo a porta do escritório. — Opa! Tarde demais... acho que esse cavalheiro quer falar com você.
Linda sentiu o coração disparar. O que devia dizer a ele? Como devia reagir?
Ou melhor, o que ele diria? Com mãos trêmulas, ajeitou rapidamente os cachos castanhos e mordeu os lábios para que ficassem mais corados. Depois respirou fundo e preparou-se para a batalha.
Segundos depois lutava com a decepção, recebendo o mensageiro que trazia uma grande caixa branca com um laço de fita vermelha. Sem saber o que esperar, desfez o laço e levantou a tampa da caixa... que continha duas dúzias de rosas amarelas.
— Ele não brinca em serviço, não é mesmo? — Suspirou embriagada pelo perfumes das rosas, apanhando as flores e sentindo seu perfume. Ainda estava com o buquê de rosas nas mãos quando notou que havia uma segunda caixa, bem menor que a primeira, embrulhada em papel de seda amarelo. E preso ao papel havia um cartão com a inscrição: A prova de fogo.
Linda abriu a segunda caixa e encontrou apenas um bilhete: Viu só? Você já está interessada! Sabia que você não era indiferente ao meu charme!
Linda passou a semana toda lutando com a imagem de Vincent Parlman. Não conseguia sequer ler um livro sem imaginá-lo no papel de herói! Herói? Mas ele devia ser o vilão!
Olhou para a caixa que ainda estava sobre sua mesa. A prova de fogo. Um comentário bem adequado, considerando a maneira como ardia de raiva.
— Já chega! — Gritou em voz alta. — Tenho de tirar esse sujeito da minha cabeça, ou vou acabar maluca!
Nesse momento Jeany entrou no escritório e anunciou:
— Linda, eu esqueci de avisar. Você tem uma entrevista às dez da manhã com Weenny, autora da série Dreamy.
— Ela disse qual é o assunto?
— Não, mas trata-se de uma das autoras de romance de banca mais sólida da atualidade. Talvez queiram encomendar brindes para suas leitoras.
— Tudo bem, me avise quando ela chegar. Seria bom se ela decidisse que faríamos algumas impressões de seus romances.
Pouco tempo depois, Weenny entrava no escritório. Era uma mulher alta e ruiva, cujo corpo curvilíneo atraía os olhares de todos. O sorriso exagerado sugeria falsidade. Gambém tantos anos no mercado e com os novos tempos com certeza sentia o seu reinado sendo ameaçdo por novos roamnces.
— Olá, srta. Chandler. Deve estar imaginando que tipo de assunto me trouxe até aqui.
— Presumi que quisesse tratar de negócios.
— E quero mesmo. Meu novo sócio tem um lugar perfeito para a sua relocação. — Abriu uma pasta, de onde retirou alguns papéis. — Eu trouxe uma planta para que pudesse ter uma ideia melhor. — Como pode ver, a área é espaçosa e bem construída, e o estacionamento vai facilitar a vida de seus clientes. A localização é ideal e o prédio é totalmente comercial, o que proporciona uma infra-estrutura que...
— Ei, espere um pouco! Do que está falando?
— Da sua mudança é claro. Com toda essa publicidade eu imaginei que...
— Imaginou errado, srta. Weenny. Eu não tenho a menor intenção de sair deste prédio.
— Está dizendo que vai prejudicar a reurbanização de um quarteirão inteiro? Seu egoísmo é mesmo gritante, ou seria preguiça de tentar algo novo?...
Linda devolveu a planta que Weenny havia levado e pensou no tom de voz que ela usara. Estava sendo acusada de atrapalhar o progresso por uma autora renomada? Por que, se nenhum dos proprietários da área a procurara para discutir o assunto?
Só tomara conhecimento do tal projeto de reurbanização há duas semanas, através da proposta da OVP e de uma entrevista de televisão. Ninguém a procurara para explicar o que pretendiam fazer no quarteirão.
— Pelo que sei, srta. Weenny, estou prejudicando apenas os planos de um empresário ambicioso. — E o olhar surpreso de Weenny confirmou suas suspeitas. — A título de curiosidade, quem você realmente está representando?
— Ainda não posso divulgar essa informação.
Linda levantou-se, se sentindo confusa e sozinha, foi até a porta e abriu-a num gesto veemente.
— Eu posso imaginar quem seja. Pois diga a seu cliente que pode poupar seus mensageiros atuais. Minha decisão já está tomada. E o avise que eu não me vendo assim tão facilmente.
— Se mudar de ideia, poderá me encontrar nesse telefone. — Disse Weenny, aproximando-se da porta e entregando seu cartão.
Linda apanhou o cartão, examinou-o com ar crítico e respondeu.
— Não é dos nossos. Quando quiser um trabalho de qualidade, pode nos procurar. Até logo, srta. Weenny. — E completou para si mesma, vendo a ruiva insinuante sair do prédio. — A arrogância do sujeito é impressionante! Ele acabou de comprar uma das autoras mais famosas dessa cidade.
— Que sujeito? — Perguntou Jeany, erguendo os olhos de seu computador.
— Vincent Parlman! Quem mais? Eu odeio isso, Jeany!
— Odeia o quê?
— Pressão. Parlman pensa que só precisa acabar com meu sossego para conseguir o que quer. Tio Sérgio morreu, mas não desistiu. E eu também não vou ceder! Meu pai também confia em mim para levar o negócio da família em frente.
— Linda, seu tio morreu de um ataque cardíaco por excesso de trabalho. e seu pai seguia a carreira na marinha naval. Que negócio da família está tentando proteger mesmo?
— Excesso de trabalho e de pressão, porque não quis vender a gráfica para uma companhia duas vezes maior que a nossa.
Linda limpou uma lágrima de raiva ao lembrar do que tivera de suportar depois da morte de seu tio. E da falata de interesse de seu pai em cuidar da gráfica.
— Você conseguiu lidar com aqueles empresários no passado muito bem. — Lembrou Jeany. — Eles desistiram quando você ameaçou processá-los por... o que mesmo?
— Interferência prejudicial. Eu descobri que estavam interferindo em nossos contratos com novos clientes. E eles devem ter ficado realmente assustados quando eu disse que procuraria a imprensa para falar sobre as práticas desonestas daqueles abutres britânicos. A ideia da publicidade negativa deve ter aborrecido o presidente geral deles, se me recordo bem Salazar Mittchel morreu de medo de eu abrir o bico para imprensa como tanto quanto a possibilidade de um processo.
Funcionara daquela vez, mas Vincent Parlman não desistiria tão fácil. Desde o primeiro encontro que tivera com o incorporador, Linda nunca mais tivera paz. Só gostaria de saber se o afetava da mesma maneira.
Provavelmente não. Ele devia estar mais preocupado em descobrir uma forma de convencê-la a vender o prédio. Pois teria uma grande surpresa, porque ela não cederia nunca. Seria divertido vê-lo perder tempo com suas tentativas frustradas.
— Por acaso está sorrindo? — Perguntou Jeany. — Sabe aquele sorriso psicótico igual a Arlequina faz quando tem uma ideia maluca.
— Eu não gosto de alimentar mau humor.
— Eu sei. E essa é uma das razões pelas quais Dean e eu decidimos permanecer na gráfica. Se você fosse uma pessoa azeda, nós já teríamos nos aposentado. E eu teria enlouquecido com aquele velho maluco andando pela casa.
Sabendo o quanto Dean e Jeany se amavam, mesmo depois de um casamento de quarenta anos, Linda conteve a vontade de rir. Olhando para o relógio, estalou os dedos e disse.
— Como dizia tio Sérgio, tempo é dinheiro. Vou ver se as máquinas estão produzindo como devem.
Estranhamente alegre, Linda cantarolava enquanto cuidava de uma das impressoras. Estava tão concentrada, que sobressaltou-se quando uma mão masculina tocou-a no ombro.
Não precisou virar-se para saber a quem pertencia aquela mão. Seu corpo reagiu imediatamente e a área onde ele a tocava começou a queimar, como se os dedos fossem línguas de fogo.
1733 Palavras
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