"O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você."

Voltaram para casa envoltos numa atmosfera de tranquilidade. Linda fechou os olhos e recostou-se, ouvindo a música agradável produzida pela rádio local.

Quando Vincent estacionou o carro, ela permaneceu na mesma posição. Ele aproveitou para estudar os traços delicados, e a cada segundo o desejo tornava-se maior e mais intenso. Quanto mais lutava, mais os sentimentos ganhavam força, deixando-o com a inquietante sensação de que não seria capaz de vencê-los.

Finalmente, quando sentiu que não podia mais conter-se, Vincent desligou o som do carro.

Linda abriu os olhos, espreguiçou-se e sorriu.

— Já estamos em casa?

— Sãos e salvos como pode ver. — Respondeu ele, acariciando seu rosto com delicadeza.

Encararam-se por alguns segundos e os olhos transmitiram mensagens nas quais nenhum deles atrevia-se a acreditar. Com um suspiro fundo, Vincent desceu do automóvel e foi abrir a porta para ela.

Ele ficou em silêncio por algum tempo, pensativo na verdade.

Vincent em sua adolescente sonhará em viver um grande amor, encontrar uma mulher que o desse uma família numerosa. Sentia a necessidade disso, mas o tempo foi passando e quando percebeu que não há encontrava desistiu. As mulheres que cruzavam o seu caminho vinham não para lhe trazer conforto, paz ou mesmo felicidade. Elas queriam na verdade o seu status e principalmente o seu dinheiro.

Ele acreditava também que subindo na vida seria mais fácil de encontrar a bendita felicidade, mas até isso pareceu um sonho ilusório. Vincent acabou aprendendo que o status e o dinheiro só serviriam para ele realizar alguns desejos momentâneos.

E isso até onde ele vi não era tão ruim assim!

Mas Linda era diferente, tudo nela lhe indicava que Linda Chandler era a mulher mais que perfeita para ele.

Mas e ela o via como o homem perfeito para ela?

Linda também aceitaria o seu passado?

Suas dores, receios e principalmente a verdade sobre a sua origem.

Ao aproximarem-se da entrada do prédio, Linda perguntou.

— Não quer subir para um café?

— Um convite realmente tentador!— Disse ele, seguindo-a através da escada. — E hoje eu

estou disposto a ceder à tentação. Você também devia tentar algum dia.

— Algum dia, mas não hoje.

— Tem certeza? — O tom de voz era tão sedutor quanto os lábios que encontraram os dela.

Incapaz de resistir, Linda o abraçou e correspondeu ao beijo provocante.

— Ainda quer aquele café? — Perguntou, quando conseguiu falar.

— Não. Eu quero você. Desde que a vi pela primeira vez, foi isso que desejei. Confessou a beijando novamente. — Você está me fazendo perder a cabeça!

Um sinal de alarme soou em algum recanto secreto de sua mente. Teria coragem de aproveitar o momento e dar o passo final?

Linda encarou-o e estremeceu ao ver o desejo intenso estampado em seus olhos.

O corpo respondeu por ela, anulando sua capacidade de raciocínio. Agora só tinha consciência das mãos que a tocavam e da necessidade de senti-lo como parte de si mesma.

Com as pernas trêmulas, apoiou-se nele e deixou que Vincent guiasse seus passos.

Ele a levou para o quarto e, inebriada, Linda sentiu que deitava-se sobre a colcha acetinada de sua cama. Cravou os olhos no rosto dele e viu o reflexo de tudo que sentia: paixão, desejo e uma necessidade urgente de satisfazer as exigências de seu corpo.

Vincent traçava uma trilha de beijos ao longo de seu rosto, enquanto ela enterrava os dedos nos cabelos escuros e espessos que tanto quisera acariciar.

Movendo o corpo num convite ardente, Linda murmurou ofegante.

— Mmmmm...

O gemido transformou-se num grito e seus dedos deixaram de acariciá-lo para tentar agarrar-se à colcha acetinada. Um esforço inútil, porque os três terminaram no chão: Linda, Vincent e a colcha traidora e escorregadia.

Assustados, olharam-se por alguns segundos num total estado de confusão e depois explodiram em gargalhadas.

— Acho que alguém está tentando nos dizer alguma coisa. — Comentou ela, rindo da situação grotesca.

Com a respiração acelerada pelo riso e pelo desejo, Vincent olhou para ela, depois para a cama e em seguida para a porta.

— Acho melhor ir embora agora, enquanto ainda posso. Estamos indo muito depressa... Assim podemos acabar estragando algo de bom entre nos.

Linda podia sentir a tensão no corpo de Vincent. Sabia que ele não poderia resistir por muito mais tempo, porque experimentava a mesma urgência dentro de si.

— Acho que você está certo. É melhor ir embora. — Disse, tentando esconder o quanto estivera perto de pedir que ficasse.

De mãos dadas, saíram do quarto e caminharam até a porta de entrada do apartamento, onde Vincent fitou-a intensamente. Com as mãos em sua cintura, puxou-a para mais perto e beijou-a suavemente nos lábios.

Queria ficar, queria que ela soubesse o quanto o atraía, mas a melhor maneira de protegê-la naquele momento era retroceder.

— Detesto ter de ir embora! — Murmurou ele confessando o que sentia. — Mas essa ainda não é a hora certa. Não quero me precipitar e muito menos lhe machucar por causa do meu descontrole.

— Eu sei.

Relutante, Vincent abriu a porta e desapareceu na escada mal iluminada.

Foi a vez de Linda encostar-se ao batente. Uma parte dela queria chamá-lo de volta, mas sabia que, se o fizesse, os resultados provariam mais do que estava pronta a suportar. Com um sorriso, trancou a porta e foi para o quarto.

Sentou-se na cama e ficou olhando para o espaço vazio a seu lado. O calor desaparecera, e a ausência de Vincent deixara um grande vazio a ser preenchido. Amava Vincent Perlman. E a revelação súbita provocou uma onda de desespero.

Deitada, puxou os lençóis até o queixo e virou-se para contemplar os reflexos das luzes da rua no grande espelho da parede.

Jamais tivera tanta consciência de si mesma como mulher. Havia sido uma criança adormecida, até Vincent surgir em sua vida.

Mas também sabia que a descoberta do amor traria muita dor e sofrimento. O projeto de reurbanização permanecia entre eles como um abismo, e se insistisse em não vender o prédio, talvez ele nunca mais quisesse vê-la.

Linda sentiu um nó na garganta e experimentou o sabor salgado das lágrimas.

Algum dia poderiam ter certeza de que a hora certa havia chegado para ambos?

Além disso, algo em sua intuição feminina lhe dizia que Vincent lhe ocultava algo?

Ela via uma sombra pairando em seus olhos, e em alguns momentos seus olhos demostravam uma grande dor e tristeza.

Como ela gostaria que Vincent se abrisse e contasse o que tanto o fazia sofrer assim.

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