Capítulo 28:
Liz:
Por que a solidão nos faz refletir? Por que quando estamos sozinhos é que vemos a importância da presença de alguém? Seria a solidão a resposta concreta e a certeza de que é essencial termos alguém a nossa volta? E que esse alguém cuide e nos ame?
Bem, faz poucas horas que o João saiu e algo diferente se instalou dentro de mim.
Seria saudade?
A manhã passou a passos de tartaruga, principalmente quando eu estava na aula. Por mais que o professor fosse bom e o conteúdo fácil de dominar, não consegui focar. Foram horas e horas em que o professor falou sobre as atividades lúdicas e a diversas metodologias que nós pedagogos temos que conhecer, mas simplesmente não entrava na minha cabeça.
... é para o meu artigo!
— Liz!
Alguém me chamou e eu despertei dos meus devaneios.
— Oi! — Não precisei de resposta, o professor estava parado olhando fixamente para mim.
Fudeu!
— Dona Elizabete Campos! — Ele mencionou meu nome completo. Ódio! — Se eu fosse fazer meu artigo com base em atividades lúdicas para com a educação infantil, me diga o nome de um autor que eu poderia citar.
Pensa rápido, Liz!
— Bom, você poderia mencionar Piaget, Vygotsky ou também Wallon. — Te peguei, professor. — Esses são alguns dos autores clássicos que defendem essa tese, mas há muitos outros.
Receba, professor! Não Falei apenas um, mas sim três.
— Muito bem, dona Elizabete! Vejo que andou fazendo a lição de casa.
Ah, professor, essa eu venci (há, há)
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Almocei na casa da minha mãe, já estava com saudades de sua comida e de estar em família.
— E você Lucas, está se comportando bem?
Ele sorriu e veio até mim.
— Tirando a parte dos meus amigos ainda me chamarem de burro, o restante está tudo certo.
Me irrita isso, essa forma de bullying por parte das outras crianças.Óbvio que tenho a consciência de que isso é um fato normal em um âmbito estudantil; são várias mentes. No entanto, percebe-se que nossas crianças não recebem a educação adequada em casa e isso reflete muito dentro da escola.
— Não permita que eles falem isso de você, maninho! — Estávamos na sala.
— Devo fazer o quê? Bater? — Ele me questionou com um olhar de súplica.
— Nunca! — Exclamei. — Está me ouvindo? Nunca revide com agressões, isso não vai ser bom para você.
— O meu amigo Igor me defende, mas...
— Mas o quê?
— Ele talvez não esteja comigo sempre para me defender.
É um assunto delicado. Na verdade, educar uma criança não é fácil. Há pais que simplesmente põem seus filhos no mundo e não se preocupam com sua educação de fato. É lamentável.
— Por isso que eu estou lhe falando, meu bem. Não deixem eles insultarem você, sempre ponha um ponto final.
— Eu queria que você fosse minha professora, assim você ia me proteger e eles me deixariam em paz. — Ele falou cabisbaixo.
Sorri com a inocência dele.
— Mas eu não seria só sua professora, mas sim de todos. — Ergui seu rosto.
Ele me olhou por alguns segundos e continuou.
— Então você não faria nada?
— Claro que sim, meu amor! — O abracei. — Mas da mesma forma que eu seria sua professora, também seria deles. Então eu conversaria com eles e explicaria que isso não é legal e que machuca os amiguinhos.
— Sinto saudades de quando você morava aqui.
— Eu também, meu amor. — Depositei um beijo em sua cabeça. — A maninha agora tem que ir.
— Volta quando aqui de novo. — Ele se desprendeu do meu abraço.
— Prometo que não demoro mais a vim aqui.
Lucas sorriu e assentiu.
— Ele sente muito a sua falta. — Minha comentou enquanto eu organizava .eu material.
Parei um instante. Lucas havia saído.
— Eu também sinto muita falta dele. — Tornei. — E da senhora também.
Caminhei até minha mãe e a abracei.
— Filha, eu compreendo que você estar casada e que tem que construí sua vida ao lado do seu esposo, mas o Lucas, não. Ele ainda não tem esse entendimento.
Só me restava concordar.
— Farei de tudo para vim aqui mais vezes. — Assegurei-lhe.
Dei um beijo nela e saí.
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— Amiga, não me canso de admirar a sua casa. — Júlia como sempre falando besteiras. — Linda demais.
— Para com isso e vamos jantar.
Fizemos uma saladinha com maionese, frango desfiado e arroz. Um jantar simples, mas saboroso.
— E o João volta quando? — Ela questionou levando o garfo a boca.
— Ele falou que seria no máximo em três dias, mas não duvido que regresse amanhã.
— Que amor louco esse de vocês!
Revirei os olhos com o comentário dela.
— Nem revire os olhos, Dona Liz!
— Me poupe, Júlia.
— Acho que vocês deveriam se perdoar e tentarem ser felizes.
Tomei um gole do meu suco de laranja.
— Eu estou sendo sincera.
— Eu sei! — Limpei minha boca. — Mas quando eu penso em perdoá-lo, aparece uma mentira do João e muda meus pensamentos.
Júlia gesticulou a cabeça em negativo.
— Vocês dois vão acabar se matando.
Ela levantou-se e caminhou até a pia.
— O pior nisso tudo, é que eu o amo. — Confessei.
Júlia virou-se para mim abrupta.
— Amiga, e esse amor todo que está aí dentro, não é capaz de perdoá-lo?
Me peguei a refletir por alguns minutos.
Será que não consigo perdoar o João?
— Sinceramente eu não sei, Júlia.
Me levantei e fui a pia.
— Mudando de assunto, estava com saudades de ficar com a minha best friend forever.
— Tão juvenil! — Comentei sorrindo.
Júlia caiu na gargalhada. A gente estava lavando a louça suja.
— Bons tempos aquele do ensino médio.
— Também tenho saudades. — Concordei.
— A gente era o alvo fácil de piadas. — Só de lembrar, voltei a rir.
— O motivo era você! — Rebati.
Júlia jogou um pouco de água em mim.
— Muito linda que você era, fofa!
Ambas caímos na gargalhada.
Na época do ensino médio, os garotos não queriam a gente, e sempre colocavámos a culpa uma na outra. Eu dizia que Júlia era a feia da dupla e vice-versa. No fim, nós tínhamos a certeza que éramos pouca areia para o caminhão dos meninos. Autoestima zero.
— Agora voltando ao assunto João, eu gostaria muito que vocês ficassem bem.
A gente caminhou rumo a sala e lá nos sentamos ao sofá.
— Tem algo que eu preciso te falar.
— Tem algo mais grave nisso tudo? — Questionou.
— Eu acho que estou grávida!
Júlia ficou boquiaberta e me olhou estarrecida por alguns segundos.
— É só uma suspeita. — Me levantei e caminhei pelo espaço ali.
— Mas há alguma evidência? — Júlia se levantou também. — Tipo, algum sintoma?
— Minha menstruação está atrasada e senti alguns enjoos dias atrás.
— Vem cá! — Júlia me chamou. — Já falou para o João.
De cabeça baixa, gesticulei em sinal de negativo. Júlia me abraçou forte.
— Amiga, você deve contar a ele.
— Farei isso, mas quando tiver certeza. — Fui sincera.
— Eu não sei o que dizer. — Minha amiga me soltou. — Dentro de mim há um misto de alegria e preocupação.
Sorri com o comentário dela.
— Não está me ajudando muito.
Júlia estava um pouco emocionada.
— Fica tranquilo bebê, a madrinha está aqui para ajudar a mamãe. — Ela mencionou isso acariciando minha barriga.
Sorri novamente e a abracei de novo.
— Olha só, duas bobas aqui chorando.
Caímos na gargalhada.
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Antes de me deitar, João ligou para mim e não posso negar, ouvir sua voz e saber que ele estava bem foi a melhor coisa que me aconteceu neste dia exaustivo. No entanto, me mantive seria e dura em relação a ele.
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— Muito obrigado por ter ido dormir lá em casa. — Abracei minha amiga.
— Foi maravilhoso. — Ela devolveu.
Júlia seguiu para o lado da sua sala e eu fui para a minha. Hoje é dia de aula de estágio.
A aula foi tranquila e hoje me concentrei na mesma. Ao término, fui para à casa da minha cunhada. Mais cedo ela me enviou uma mensagem e me convidou para almoçar lá.
— Havia muito tempo que eu não comia bife acebolado. — Comentei após provar da comida.
Havia arroz, salada, farofinha e suco de uva.
— Eu também amo, Liz. — Jéssica confessou. — Não há ninguém nesse mundo que faça um bife melhor que Olívia.
Olívia sorriu no outro extremo da mesa.
— Bondade sua, menina.
— Não é, não, Olívia! Tenho que concordar com Jéssica.
— Então vou te convidar mais vezes para vim almoçar comigo, Liz. — Jéssica falou e eu apenas sorri.
— E o João? — Olívia comentou. — Volta hoje?
— Falei com ele ontem...
— Se depender da Isabela e dos pais dela, acho que o João não volta tão cedo. — Jéssica nos interrompeu.
Como assim a Isabela e os pais dela?
— Isabela? — Questionei.
— Sim! A Isabela foi com o João. — Olívia respondeu.
— Ele não te disse? — Rebateu Jéssica.
Então João estava se divertindo com a amiguinha dele.
— Não! — Tentei não demonstrar raiva. — Deve ter esquecido.
Depois disso, o clima não continuou igual. Ao término do almoço, agradeci ao convite e regressei para minha casa.
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— Maldito! — Exclamei jogando meu material no sofá.
Como o João pode fazer isso comigo? Como ele pode ir para outra cidade com outra mulher?
Mas o que você queria, Liz? O João é homem e tem necessidades, necessidades que eu não satisfaço, convenhamos.
Quando percebi, as lágrimas já rolavam por meu rosto. Eu amo o João e saber disso me matou por dentro.
Tenho que me controlar, como futura pedagoga, sei que isso não faz bem ao bebê e isso refletirá na vida dela quando adulto. É essencial que o ambiente esteja bem, o neném sente tudo o que a gente passa: dores, angústias e alegrias.
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Na parte da tarde me deitei um pouquinho no sofá, o dia havia sido bastante corrido e meu corpo clamava por descanso.
Ouvi bater na porta e fui atender.
— Dona Liz. — Era Antônio, o nosso porteiro. — Tem um rapaz lá fora e ele deseja falar com você.
— Quem é? — Questionei.
— Marcos!
Ah! O que ele quer aqui?
— Pode mandar ele entrar, mas você fique sempre por perto.
Antônio assentiu e saiu.
Fiquei na porta a esperar e Marcos apareceu.
— Queria falar com você.
— Com base no nosso último encontro, creio que não temos nada para falar.
— Liz... eu sei, eu só... posso entrar? — Pediu.
Abri espaço e ele entrou.
— Diga logo o que você quer e vá embora. — Deixei a porta aberta e continuei de pé.
— O que ele tem que eu não tenho? O que ele te deu que eu não podia te dar.
Pergunta infantil.
— Ainda esse papo.
Caminhei para o outro lado da sala.
— A gente namorou um bom tempo e eu nem podia te tocar. — Marcos se aproximou. — Esse babaca apareceu e você já foi logo trepando com ele.
— Meça suas palavras! — Exclamei.
Saí de sua frente, mas ele me segurou.
— O que ele te deu eu poderia te dar muito mais.
— Me solta e vai embora. — Me desvencilhei dele, mas fui pega novamente.
— É por que ele tem mais dinheiro que eu?
Que absurdo!
— Eu vou gritar se você não me soltar.
— Grita sua vadia! — Marcos balançou meu corpo forte. Ele estava descontrolado.
Gritei alto, o mais alto que pude.
Tive meus olhos desviados para a porta, João havia chegado e não parecia nada feliz.
— Solta ela! — João gritou e em questão de segundos já estava próximo a nós.
Marcos me soltou e encarou João.
— Sai daqui antes que eu arrebente a tua cara. — João vociferou.
— Eu não tenho medo de ti, imbecil.
João jogou a parte de cima do termo e a pasta que trazia no sofá e sem delongas deu um soco em Marcos.
— Filho da puta! — Marcos esbravejou e partiu para cima de João, mas meu marido lhe acertou novamente.
Corri para a porta e gritei por Antônio.
Marcos finalmente acertou João e conseguiu fazê-lo sangrar. Antônio finalmente chegou.
— Tira esse desgraçado daqui! — João ordenou.
— Eu te odeio, Liz. — Ele proferiu quando passou por mim.
Depois que Marcos foi retirado, João não me olhou. No canto esquerdo de sua boca escorria sangue.
— João...
— O que esse cara queria aqui? — Ele empertigou-se.
— Eu não sei... ele...
— Antônio! — João gritou.
Ficamos alguns segundos nos olhando, até Antônio chegar.
— Quem deixou aquele cara entrar?
— Senhor, ele queria falar com a Dona Liz, então perguntei se ela o receberia e com o seu sim, permiti sua entrada.
João olhou para mim com cara de poucos amigos.
— Na próxima vez que aquele imbecil vier até aqui, não deixe que passe do portão.
— Sim, senhor!
— Pode ir!
— João...
— A quanto tempo ele vem aqui sem eu está em casa?
— O quê?
— Você ouviu bem!
— Essa foi a primeira vez, João. — Me aproximei dele. — Ele falou várias besteiras e...
— Você ainda gosta dele?
O quê?
Dei um passo atrás, chocada com aquela pergunta.
— Já que você não me ama, talvez ame ele.
— Deixa de falar besteira. — Me aproximei novamente. — Você está sagrando.
— Não toque em mim. — Ele esbravejou, quando estiquei minha mão.
— Não sei para quê todo esse auê! — Me virei de costas.
— Como você é hipócrita, Liz! Eu chego de viagem e o teu ex estar aqui contigo...
— E você, João! — O confrontei. — Foi bom o passeio com a amiguinha de infância.
O nocautiei.
— Apenas dei uma carrona para ela.
— E você quer que eu acredite?
— O problema é seu. — Ele exclamou tirando sua camisa branca.
— É muita hipocrisia.
— Sinceramente eu não aguento mais. — Ele gritou e subiu as escadas.
Fui atrás dele.
— Dormiu na casa dela, no quarto dela, na cama dela ou...
— Para! — João vociferou e me prendeu entre a parede e o seu corpo.
Meus batimentos aceleraram e meus olhos não se desprendiam do seu.
— Quer saber a verdade?
Senti uma pontada no peito, talvez o que ele fosse me dizer não me agradaria.
— Que você me traiu com ela? — O fitei.
Sua respiração era tão intensa quanto a minha. Suas mãos estavam na parede, de forma que me prendia e seu corpo estava colado ao meu. Minhas mãos tocavam em seu corpo como forma de empurrá-lo, mas falhavam miseravelmente.
— Qual o problema nisso, não é você que diz que não somos marido e mulher?
Aquilo doeu. Sei que muitas vezes falei isso, mas eu o amo e não suporto a ideia de ele ter estado com outra. De fazer amor com outra. De ser de outra.
— Me solta! — Me rebati para saí, mas ele não permitiu.
— Você não queria saber, pois bem, agora vou lhe contar o que aconteceu e você vai ouvir, Liz. — Falou meu nome rangendo os dentes.
Mesmo com raiva dele, meu desejo era tocar seu corpo, mas de forma carinhosa. Era limpar sua boca ainda suja com sangue e fazer amor com ele.
— Isabela tomou um pouco de bebida a mais. — Ele sussurrou ao meu ouvido. — Veio até o meu quarto e se declarou para mim. Falou que me ama, que sou bonito e ...
— Para! — Me Rebati novamente.
— Você sabe o quanto é difícil resistir a uma mulher bonita que quer ir para a cama com você, Liz? — João me olhou bem fixo nos olhos.
Eles transaram!
— Me responde! — Ordenou.
Meus olharam começaram a marejar.
— Você sabe o que faz um homem não ir para a cama com outra mulher, Liz? — Ele me fitou novamente.
Minha respiração estava descompassada.
— Responde! — Ordenou de novo e novamente eu fiquei calada.
— Você sabe a resposta. — Ele sussurrou. — Podem ser vários os motivos, mas no meu caso foi o meu amor por você. Evitei, fui firme e não cedi. Depois de tudo, fiz um café para ela e ficamos a conversar.
João me soltou e caminhou para seu quarto.
— Ah! — Ele parou na porta, segurando a maçaneta. — Eu tenho muitos defeitos, mas infiel não é um deles.
Ele entrou e fechou a porta. Ouvir isso me acalmou. Foi um alívio enorme. Essa cena, a forma como ele sussurrava, me deixou estranhamente excitada.
Mais um capítulo!
Espero que gostem.
Boa leitura!
Obs: Capítulo não revisado.
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