Capítulo 22:
João:
Acordei aturdido naquela manhã de domingo, tive esperanças que tudo o que havia acontecido na noite anterior após meu casamento fosse apenas um pesadelo, mas tive a certeza que havia sido real quando percebi que estava no sofá da sala.
— Que belo dia! — Murmurei.
Estava de barraca armada na sala da minha própria casa. Homens vão me entender, a gente acorda assim, bem ativo.
Esperei um pouco até meu amigão baixar e subi as escadas, precisava tomar um banho. Lá no topo, encontro Liz. Ela usava uma saia curta e uma camiseta branca de alça fina. Extremamente perfeita e dei graças aos céus por minha ereção ter baixado.
— Bom dia! — Falei.
— Ótimo dia! — Retornou sem sorri e sem se deter.
— Liz. — A puxei pelo braço. — Eu... eu... eu ia te contar.
— Quando? — Me fitou. — Quando Maomé desistisse de ir a montanha, quando o mar secasse ou...
— Liz!
— João eu não quero discutir. Tudo o que eu tinha para falar com você já disse ontem.
— Mas a gente vai morar na mesma casa e...
— Quanto a isso não se preocupe. — Liz se afastou. — Não irei dirigir a palavra a você e espero que faça a mesma coisa.
Liz desceu e eu entrei no quarto que estavam minhas coisas e fui tomar um banho. Depois que saí do banheiro, botei uma cueca boxer branca, um moletom cinza até os joelhos e uma camiseta amarela com estampas azuis.
Liz estava na cozinha sentada a mesa, peguei uma xícara e me sentei ali. Coloquei um pouco de café que estava bem fresquinho. Havia bolo, presunto, pão de forma, salada de frutas e suco, mas ignorei tudo e fiquei só no café.
— Precisamos conversar? — Quebrei o silêncio.
— Precisamos?
— Liz...
— Qual a parte para “não me dirigir a palavra” que você não entendeu?
Liz se levantou e foi até a pia lavar sua xícara.
— Liz. — Me levantei. — Deixa eu te explicar.
Liz estava com suas mãos sobre a pia e de cabeça baixa.
— Eu planejei sim me aproximar de você, de me vingar de sua mãe, tenho raiva dela e desejei ver vocês na sarjeta. — Confessei.
Ela virou-se para mim e cruzou seus braços. Nunca vi tão linda, mesmo brava e chateada, ela é linda.
— Criei essa raiva dentro de mim, sempre odiei sua mãe por ela ter se envolvido com meu pai e por... — Não consegui completar minha fala.
— Sua mãe ter partido. — Liz completou.
Apenas gesticulei minha cabeça em positivo e ergui minha cabeça. Meus olhos começavam a lacrimejar.
— João, olha só, eu lamento sua perda, lamento de verdade. Sei que nada vai substituir o carinho e a dedicação que sua mãe e até mesmo seu pai lhe deram. — Ela falou tão serena. — Mas nada justifica o que você fez, sabe? Você me enganou, me fez te amar e tudo por causa de uma vingança que não me diz respeita e mais, nem a você.
Eu olhava fixamente para ela, estava com vergonha e raiva de mim. Eu queria sumir, evaporar e tentar esquecer esse fato, mas não dava, fui homem para criar essa situação, teria que ser para aguentar. Tantas foram às vezes que pensei em falar para ela, confessar e clamar seu perdão, mas fui fraco e covarde.
— Eu estou tão arrependido.
— Não estou pronta para perdoar. — Ela secou suas lágrimas e caminhou rumo a porta de saída.
— Porquê? — Perguntei vago.
Liz se deteve, fez um giro e me encarou. No entanto não falou nada.
— Porquê você aceitou ser minha esposa?
Ela veio até mim e ficou bem a minha frente. Eu já estava de pé.
— Eu nunca vou ser sua esposa, nunca mais você vai tocar em mim, eu não te amo mais e logo vou pedir o divórcio. — Ela soltou tudo isso sem pausa.
— Mas eu te amo!
— Amor é uma palavra, qualquer um pode falar. Já o sentimento em prática é diferente; protege, cuida e acima de tudo confia. — Essa última palavra ela falou tocando com o dedo em cheio em cima da marca de seu arranhão.
Me esquivei de seu toque por conta da dor e ela percebeu.
— Desculpa! — Ela se aproximou.
— Eu estou bem. — Falei chorando. — Eu suporto isso.
Terminei de falar e saí. O que doeu não foi o toque acima do meu peito, mas sim as palavras dela. Eu havia criado tudo aquilo e acabei caindo na minha própria armadilha. Não consigo descrever o que passa comigo neste exato momento, mas não me sinto forte. Eu quero correr, gritar e chorar para ver se alivia.
Entrei no meu escritório e mil coisas passavam em minha cabeça. Sinceramente eu não tenho a noção do que fazer, a única certeza que tenho é que tenho que ser forte e segui, pois, logo ela vai me pedir o divórcio e eu ficarei sozinho. Onde vou arranjar forças?
Olhei o ambiente ali e avaliei os diversos livros que eram do meu pai. Saí passando o dedo pelos livros e parei em um.
— O morro dos ventos uivantes! — Sussurrei.
Me lembrei do meu primeiro beijo com Liz, naquele momento meu peito doeu forte. Deixei o livro, me encostei na prateleira escorreguei lentamente até o chão. Não segurei mais e desmoronei em choro.
As lágrimas rolavam sem cessar, eu amo Liz e não me vejo sem ela. Fiquei ali por um bom tempo e acabei pegando no sono.
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Liz:
Aquele dia de domingo se arrastou com lentidão, desejei que ele terminasse mais rápido que a velocidade da luz, mas para o meu azar, não aconteceu como ansiei.
Oscilei do quarto para a sala, da sala para a piscina e da piscina para a cozinha. Foi o dia todo assim. Tentei ler um livro, mas minha cabeça girava e eu não consegui ler nem se quer uma palavra. No fundo estava preocupada, João estava naquele escritório desde manhã cedo e sem tomar café. Já se passava das 16:00 horas da tarde.
Eu deveria não me importar e ignorá-lo, mas não conseguia. Aquele sentimento no meu peito rugia como um leão feroz em busca da presa. Não podia simplesmente do dia para noite esquecê-lo, a vontade era grande, mas não conseguia. O que sinto por João é verdadeiro e é amor.
Depois de muito hesitar em frente à porta do escritório, abri lentamente e lá estava ele, próximo a estante e caído ao chão.
— João! — Gritei correndo para perto dele.
Ao tocar seu rosto, ele abriu os olhos aturdido. Havia uma marca no rosto, era devido o sono.
— O que foi? — Ele questionou confuso e se erguendo.
— Vi você aí no chão e...
— Eu estou bem, só adormeci aqui.
A expressão dele o entregava, realmente ele havia dormindo.
— Você precisa comer algo. — O alertei.
João bocejou e foi levantando-se. Acompanhei o seu ritmo. Eu não deveria estar ali, não me importar com ele, não demonstrar preocupação e deixá-lo. No entanto, me preocupo sim com João e não desejo o seu mal.
— Eu quero conversar com você.
— João, já ouvi o que você tinha para falar e...
— Aquele assalto que você presenciou... Foi planejado. — Me estarreci. — Eu criei aquela situação para poder me aproximar de você.
Não acredito! Quando estou quase esquecendo tudo, preocupando com ele e desejando superar tudo aquilo, João agora vem com essa.
— Eu tinha que me aproximar de você para poder...
— Começar sua vingança! — O cortei.
Me virei e coloquei meus braços esticados na mesa. Fiquei cabisbaixa.
— Então paguei aqueles caras e tudo deu certo, você me ajudou. No início pensei que não daria certo, mas te monitorei por alguns dias e soube todos os seus passos e naquele dia eu sabia que você iria ficar até a tarde.
Me virei e caminhei até ele.
— Que espécie de pessoa é você? — Questionei.
— Liz...
— Eu cogitei a ideia em te perdoar... em tentar arrumar essa bagunça...
— Mas a gente pode! — Ele me interrompeu.
— Não! — Gritei me afastando. — Um amor, uma relação não dura com mentiras e falhas.
Meu peito doía, não podia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Porquê comigo?
— A sua irmã, ela sabia? — Perguntei.
— Não! — Ele exclamou. — Ela só sabe que eu tenho vontade de me vingar de sua mãe, mas Jéssica não soube do plano e não imagina que você é filha da Elisa.
— Pelos menos alguém sensato aqui.
— Jéssica era pequena quando tudo ocorreu, então acho que ela não lembra da fisionomia de sua mãe.
Me mantive calada.
— O Adão também sabe. — Confessou. — Ele me aconselhou tanto a desistir disso, a te falar e lutar pelo seu perdão.
Enxuguei as lágrimas e caminhei rumo a saída. Parei ao chegar.
— Você deveria ter ouvido ele. — Falei de costas.
— Liz, eu te amo!
Me virei e João estava perto de mim.
— Meu sentimento não é recíproco. Pelo contrário, eu te odeio.
Soltei essas palavras pesadas e saí dali. Meu coração estava dilacerado.
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Segunda-feira havia chegado e eu tentava lutar com todas as minhas forças para me levantar, mas o ânimo era zero. Contudo, tinha muitas obrigações para fazer neste dia, eu relutei e saí da cama.
Depois que fiz minha higiene matinal, desci para a cozinha e a mesa estava posta. Tinha panquecas, bolo de laranja, suco de acerola, café e pão. Com a fome que eu estava, devorei boa parte.
Onde estava João?
Não o via desde o nosso último diálogo. De certa forma, me preocupava e ele não comeu nada ontem. No entanto, ao julgar pela aquela mesa, acredito que deva comido algo antes de ir ao escritório.
Cheguei na Universidade às 08:30, era hora de reabrir minha matricular e continuar meu curso. Me formarei e serei uma grande pedagoga.
Depois que saí da universidade, peguei um táxi rumo a casa da minha mãe, precisava esclarecer alguns pontos escusos e resolver algumas lacunas.
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— A senhora não podia ter me escondido uma coisa dessas, mãe! — Joguei minha bolsa no sofá.
— Primeiramente bom dia e segundo que agressividade é essa, menina?
— A senhora teve um caso com o pai do João. — Soltei de uma vez. — E para piorar ainda mais a situação, teve um filho dele.
Minha mãe deu um passo trás, o seu erro com certeza a incomodava.
— Ele te falou isso?
— Imagina que eu descobri da pior maneira, que a minha mãe e o homem que eu amava me esconderam isso.
Minha mãe suspirou alto e deu uma pequena volta na sala.
— Eu me apaixonei por ele, pelo pai do João e era recíproco. O casamento dele e da esposa não andava bem...
— Isso não justifica, mãe!
— Eu sei. — Ela sentou-se ao sofá. — Mas aconteceu, eu tentei lutar, mas foi mais forte que eu. Ele era gentil, atencioso e bonito.
— A mãe do João morreu por conta disso, você sabia?
— Imaginei que fosse por isso, embora ela aparentasse ser uma pessoa firme, no fim não era.
— O João queria ou quer se vingar da senhora, não sei mais. — Me virei.
— Quando você trouxe ele aqui, eu imaginei isso.
— Mas não vou permitir, mãe. — Virei de volta para ela.
— Ele não vai mais, filha. Está na cara que ele te ama.
Ficamos em silêncio por alguns minutos.
— Eu sei que o que eu fiz foi errado, filha, mas tente me entender, eu tinha vergonha do meu ato e por mais que eu lamentasse, não podia mais voltar atrás.
— Mãe...
— Me perdoa, filha!
Acima de tudo ela era minha mãe e eu tinha que tentar entendê-la, assim como também com o João. Mas este último creio que tardará um pouco.
— Precisamos conversar com o Lucas sobre isso e vou contar para o João sobre ele ter um irmão.
Sobre meu irmãozinho, minha mãe falou sobre o seu tratamento e de como as estratégias de intervenção estão funcionando e auxiliando ele na leitura, na visão e na escrita. É um processo gradativo, mas que com muito esforço e dedicação funciona perfeitamente.
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Já era 02:30 da tarde quando regressei para casa. Entrei e João estava deitado no sofá lendo um livro. Ele estava sem terno, de moletom azul claro, camiseta regata amarela e de meias. Perfeito!
— Que livro é? — Tentei criar um diálogo ao me sentar no braço do sofá.
— O retrato de Dorian Grey, do...
— Oscar Wilde! — Completei.
Ele sorriu, sem mostrar os dentes, mas foi tão inebriante que meu deu vontade de pular ali em cima dele e beijá-lo.
— Já leu? — Perguntou. — Que pergunta essa minha, qual livro você não leu, não é mesmo.
Agora era eu quem sorria.
— Li duas vezes. — Sai do braço do sofá e me sentei em um pequeno espaço do mesmo. — É um ótimo livro.
Ele se levanta e fica sentando com o livro entre aberto, seus dedos impedem de fechá-lo.
— Aonde você foi?
— Reabri minha matrícula e depois fui conversar com minha mãe. — Tirei meu salto que já começava a calejar meus pés.
João pegou um marcador de páginas que estava próximo a mesinha de centro e pôs no livro, por fim fechou-o.
— Tenho algo para te falar, mas não sei se vai gostar. — Falei.
— Pode falar. — Ele desviou seu olhar para mim.
— O Lucas meu irmão, ele... ele também é seu irmão. — João não esboçou nenhum espanto.
— Já imaginava isso. — Ele levantou-se. — Só não tinha certeza.
João era muito perfeito, fiquei contemplando ele caminhar, tinha um charme e uma classe que era dos deuses.
— E o que você acha sobre isso? — Fui atrás dele até a cozinha.
— Eu quero me aproximar do garoto.
Sorri com aquilo. O momento não era dos melhores, mas aquela nossa conversa era tranquila, havia paz, calma e sem agressões.
João pegou o molho de tomate para pôr no sanduíche mas acabou expirando em sua camiseta.
— Droga! — Ele esbravejou.
— Deixa eu te ajudar.
João levantou os braços tirando a camiseta, quando tirou, me deparei com seu peito nu e foquei meu olhar na marca do arranhão que eu havia deixado. Foi espontâneo, toquei aquele local com meus dedos, estava tão próxima dele que sentia sua respiração ofegante.
— Eu sinto muito. — Falei ainda com os dedos naquele local.
Desviei meu olhar para ele, mas João se mantinha olhando para meus dedos sobre sua pele.
— Eu daria tudo na vida para ficar bem com você. — João sussurrou e meu olhar se perdeu no seu que agora me encaravam.
Sua boca entre aberta era um convite para a minha.
— Eu quero te perdoar, sabe...
— Então! — Ele me cortou. — Quero te beijar, te tocar e fazer amor contigo.
Algo me chamou atenção, João ergueu suas mãos para me tocar, mas as conteve. Eu havia decretado que ele não tocaria mais em mim. Ah, como eu queria seu toque, suas mãos sobre meu corpo e poder beijá-lo.
— Mas não tenho sua permissão para fazer isso. — João se afastou do meu toque. — Quer sanduíche?
— Quero. — Falei contendo as lágrimas.
— Sábado vamos ao clube. — Disse aprontando para mais outro sanduíche.
— Algum motivo especial?
— Não, só merecemos um pouco de lazer mesmo.
Me desequilibrei e rapidamente me segurei em alguma coisa. Tudo parecia rodar.
— O que houve? — Ele veio rápido até mim.
— Foi só uma tontura. — Me recompus. — Já passou.
— Vou pegar uma água.
— Não precisa. — O segurei pela mão. — Deve ser a falta de alimento, vamos lanchar.
Sorri e recebi um sorriso de volta. Ficamos ali, os dois a lanchar. Eu poderia sim passar um pano por cima dessa história maluca do João e tentar ser feliz com ele. Acho que será bom para nós dois. Eu o amo!
Mais um capítulo!
Tudo bem com vocês?
Boa leitura.
Parece que nosso casal não vão brigar! Ou será que vão?
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