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ᴀ ʙᴇɪʀᴀ ᴅᴏ ʏɴᴏɪ

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— Onde Daio mora? — quebro o silêncio que reinava no carro após perceber que estamos saindo de Longcity.

— Em Ynoi. — é Jace quem responde, Baruc parece ocupado demais até pra me ouvir.

     Eu concordo voltando-me para a janela, Ynoi é uma ilha, mas também é o nome do lago que a cerca, da última vez que ouvi falar dela estava sendo leiloada por mais de vinte milhões de dólares.

     Encosto a lateral da minha testa no vidro do carro e deixo minha mente vagar por pensamentos conturbados, do lado de fora está escuro e eu sinto medo do que pode surgir das sombras, o som dos tiros ressoam nos meus ouvidos e eu suspiro com vontade de não poder ouvir o som louco da minha mente.

     No meu bolso meu celular vibra, mais uma vez e de novo, até que passa a vibrar incansavelmente.

     Me desencosto do vidro e ergo a lateral do meu corpo, pego o aparelho e atendo rápido quando leio já tela o nome do meu pai.

Hope!

     É impossível não reconhecer o alívio em sua voz.

Oi, pai.
Eu estou bem.

     Meus olhos lacrimejam e eu os aperto com os dedos, eu só quero estar no abraço dele agora.

O que aconteceu, minha filha?
Tem um monte de policiais na frente da sua casa, os vizinhos estão dando intrevistas...

E-eu...

     Não quero mentir pro meu pai, mas não vejo modos de lhe contar a verdade.

Foi um assalto, estava chegando em casa com Jace...

      Ele arfa e eu choro.

Aonde você está? me diz que eu vou te buscar.

Estou com Jace, vamos para um hotel, não precisa se preocupar, eu ainda tenho que trabalhar amanhã.

     O silêncio dele me atordoa e tudo que eu consigo fazer é tentar esconder meu choro.

Hope, minha filha, você tem certeza?
Eu sei que está abalada, sei que está chorando.

     Aperto minhas pálpebras e franzo o cenho, odeio mentir pro meu pai, ainda mais quando ele parece saber de tudo ou quando ele descobre tudo.

     Ergo meu rosto na direção de Jace quando a mão dele repousa no meu joelho e o aperta levemente, sinto seu companheirismo, sua força.

      Olho para frente, na direção do carro de Daio, mas meu celular apita indicando 5% de bateria, suspiro.

Foi só o susto, pai.
Já estamos chegando, eu estou bem, não precisa se preocupar tanto.

Tudo bem, espero que melhore, minha filha.
Mande um: "estou viva" pro seu irmão.

     Solto um riso involuntario e o ouço fazer o mesmo.

Ele deve estar preocupado.

Eu mandarei, papai.
Fique bem, sim?
Nos falamos depois.

Eu te amo, Hope.

Também te amo, pai.

     Quando meu pai desliga o telefone eh abaixo meu celular e o enfio entre as pernas, a mão de Jace já não está mais no meu joelho.

     Limpo meu rosto e respiro fundo.

— Vai ficar tudo bem, ele vai entender. — a voz de Jace soa calma e agora Baruc parece estar mais atento a mim.

— Eu odeio mentir pra ele. — massageio meu cenho e ele assente.

— Sei que sim, mas foi necessário. — crispo o lábio, mas sei que Jace tem razão, limpo meus olhos e fungo.

— Me empresta seu celular?

— Claro, tá no meu bolso. — aponta com a cabeça pro bolso lateral direita.

     Enfio a mão no bolso da calça jeans preta dele e tiro de lá o aparelho que há alguns meses atrás foi de última geração.

— Se quer ligar pro seu irmão o nome dele tá salvo como The Vamps.

      Franzo o cenho enquanto desço, desço a lista enorme de contatos dele, mas não digo nada.

— Hope, é só digitar o nome na barra de pesquisa. — alfineta Baruc e eu lhe mostro a língua.

      Quando consigo encontrar eu aperto pra chamar, o já conhecido "tuum" repercute pelos meus ouvidos e cérebros umas par de vezes.

Kaleb?

     Chamo assim que ele atende, ouço alguns segundos de silêncio, mas logo sua voz soa desconfiada.

Aconteceu alguma coisa com seu celular?

Está sem bateria.

     Kaleb está calmo demais, controlado demais pra saber de alguma coisa, com certeza ainda não ligou o jornal.

Você está bem?
Já bateu a saudade, irmãzinha?

     Eu sorrio, se estivesse morta o ridículo nem saberia.

Não, liguei pra saber de você e das meninas.

     Sinto olhos me encararem confusos, mas não pretendo contar à ele, se ele ainda não sabe talvez deva deixar assim.

Estão bem, Tessa está dormindo e Lissa e meu garoto estão aqui comigo na hidro.

     Franzo o cenho ao perceber o tamanho da preocupação do meu irmão para comigo, se tivesse pra morrer, morreria.

Tudo bem, talvez eu passe aí esse final de semana.
Mande um beijo pras meninas e pro meu príncipe, sim?

     Ouço barulho de água e espremo as sobrancelhas.

Tudo bem, estarei esperando.
E cobrarei, você sabe como funciona.

     A voz dele tá rouca e eu me sinto enjoada.

Pode deixar, eu sei como funciona.
Até mais irmão.

      Desligo o telefone sem ouvir uma resposta dele, Baruc cai em uma gargalhada alta e Jace ri junto.

— Má hora? — o olho tentando não pensar em muita coisa, mas é quase impossível.

— Uma péssima hora, que nojo. — descanso o celular no porta chaves enquanto ouço Baruc rir ainda mais.

     Eu acabo rindo dele rindo, mas meus olhos veem quando nos aproximamos da estrada lateral que nos levará até a grande casa branca colonial que fica no meio do lago.

     O segurança se acalmou com o tempo, voltara pro celular enquanto Jace não está mais tão tenso, apesar de ainda manter os olhos sérios.

     Nunca visitei a casa então é uma surpresa pra mim descobrir o quão iluminada é a estrada de asfalto que leva até a ponte de concreto que liga a estrada da rodovia a ilha.

— Que bonito... — arfo quando passamos pela ponte iluminada por grandes lamparinas suspensas em médios postes.

     A luz da lua reflete na água assim como as luzes alaranjadas.

—É bonito mesmo. — murmura o homem no banco de trás.

     Jace ao meu lado voltou a ficar tenso, e começo a achar que não seja apenas pelo que aconteceu em casa.

— Está tudo bem? — ele me olha por poucos segundos e assente sem hesitar.

     Olho pra Baruc que desvia seu olhar do meu e entendo, não, não está tudo bem.

     Agora, o que tem de errado? eu também queria saber.

     A ilha é inteiramente aberta e eu me preocupo com a segurança desse lugar, após atravessarmos a ponte seguimos por uma estrada de pedras brancas, não são pequenas e brilham contra a luz.

     Ao redor tudo é muito verde, há muitas árvores, claro que disso eu já sabia, de alguns pontos conseguimos ver a belíssima construção que se ergue em três andares.

     Enfiados no chão na beirada do longo caminho até o pátio principal, onde tem um carro estacionado, existem refletores que miram a luz para cima e deixam o lugar além de mais bonito mais iluminado também.

     Durante todo o percurso até o estacionamento a céu aberto admiro o quão grandioso e belo esse lugar é.

     Claramente a casa passou por reformas, ela está aqui desde a época da colonização e o fato de ser a beira do Ynoi não ajuda muito, a faixada é toda creme e tem alguns detalhes em marrom, as janelas são de vidro e eu perco a conta de quantas são.

     A porta de entrada é da mesma cor que os detalhes, um marrom bem escuro.

— Você vai ficar aí? — saio do transe e olho por cima do ombro, pra Baruc que já está com a porta aberta.

     Só agora eu percebo que já estamos estacionados e não tenho noção se faz pouco tempo ou não.

— Você não vem? — olho pra Jace quando a porta de trás é fechada.

     Ele olha pra mim e por um momento consigo ver dor em seus olhos, não entendo, mas me compadeço.

— Olha, se estiver mal pelo que aconteceu, a culpa não é sua. — aproximo minha mão da dele e o vejo sorrir fraco.

     Jsce abaixa os olhos e toma minha mão na sua, crispa os lábios e então entrelaça nossos dedos, não digo nada, apenas observo quando franze as sobrancelhas.

— Eu sei que não é. — sua voz soa fraca, debilitada. — O meu dever é manter você em segurança e eu estou falhando... — ele não me encara, mas me sinto incomodada.

— Não, não está. — desfaço os nós dos nossos dedos pra pegar seu rosto em minhas mãos.

     Jace tem os olhos tão lindos...

— Eu estou viva, não? — digo perto — Estou bem. — seus olhos me encaram e eu vejo ali a negação, mas consigo ser mais teimosa que a teimosia dele. — E isso é graças à você, por favor, Jace... — ele respira fundo, e então fecha os olhos.

     O homem está quente, quase febril e eu chego a pensar que ele não está bem, suas bochechas estão coradas e seu nariz avermelhado, como se ele tivesse chorado, porém estive com ele todo esse tempo e nenhuma lágrima caiu de seus olhos.

— Ei! — batem no vidro esquerdo — Não vão sair daí, não? — é Daio quem pergunta, eu o olho, assinto uma vez e ele se afasta um, dois passos antes de plantar guarda próximo a nós e enfiar as mãos nos bolsos.

     Como se nos vigiasse.

— Você quer me beijar? — sinto o hálito quente do homem ao meu lado bater em meu rosto, tem cheiro de halls preto.

     Volto meus olhos pra ele surpresa com a pergunta e pisco uma, duas, três vezes atordoada, então ele sorri, um sorriso nem um pouco divertido, um pouco maléfico e sexy, olho pros seus lábios e meu coração dispara.

     Eu quero o beijar?

— Está próxima, Hope. — parece sussurrar, ergo meus olhos para os dele e me sinto presa. — Temos plateia e eu sou tímido. — ergue suas mãos até as minhas e as segura.

     Ele pisca e eu pisco, minha garganta seca e eu estou me sentindo atraída.

— Você está falando sério? — deixo ele abaixar minhas mãos.

— Mas eu fiz a pergunta primeiro. — contesta e meus olhos correm para Daio que permanece com os dele indecifráveis em nós.

— Eu não queria beijar você... — me calo. — Bem, pelo menos não tinha pensado nisso até você dizer. — confesso e me remexo no banco incomodada.

     Jace ri, ergue a mão até meu cabelo e faz que coloca uma mecha atrás da minha orelha, mas não há mechas em seus dedos, tampouco mechas soltas.

— Eu também não queria beijar você, até você se aproximar desse jeito. — confessa e algo dentro de mim tamborila, talvez por que nunca ninguém me cantou descaradamente assim.

     Nem Sebastian foi tão incrivelmente atraente.

      Ele se estica, uma mão apoia no banco e ele se aproxima, mais e mais, eu não me movo, me sinto totalmente concentrada em seus olhos, não é como se estivesse hipnotizada, é como se ele estivesse...por mim.

     Jace para a centímetros do meu rosto e eu passo a língua nos lábios e suspiro ansiosa, faz tanto tempo desde a última vez que eu já poderia ser considerada uma BV de novo.

     Ouço um "clic" atrás de mim e logo depois um vento gélido bate nas minhas costas, olho rapidamente por cima do ombro, mas é como se ele me trouxesse pra realidade, Jace está sentado em seu banco e olha pra mim com seriedade.

     Pisco sem parar confusa com o que pode ou não ter acontecido, olho para fora pela janela de Jace e Daio ainda está ali, as mãos nos bolsos, mandíbula cerrada.

     Olho por cima dos ombros e engulo em seco quando vejo a porta levemente aberta, não espero mais para me ajeitar no banco e sair por ela.

— Tudo bem? — Baruc me alcança enquanto eu me afasto do carro e esfregando meus braços, só agora me dou conta de que dentro do carro estava muito mais quentinho. — Está com frio. — e eu sei que não foi uma pergunta, ele tira sua jaqueta de couro e passa ela para mim.

     Cristian também se aproxima, ele tem um sorriso nos lábios e eu sinceramente não sei explicar,com tudo o que está acontecendo, da onde ele tira um.

— Você precisa refazer esse curativo mais tarde. — ele assente, me encolho dentro do couro e olho na direção do carro, justo no momento que Jace sai.

     A sensação de quentura reverbera por todo meu corpo, mas logo passa, Jace não olha pra mim, na verdade ele não olha pra ninguém a não ser pra Daio Mollin.

     Os dois se encaram de frente e eu sinto que boa coisa não sairá disso.

— Gaja, queres conhecer a casa? — Cristian pergunta já me conduzindo a passos rápidos pelo pátio.

— Ei, ei... — reclamo tentando acompanhar seu ritmo, mas tropeço umas três vezes nos meus próprios pés.

     Baruc ri baixo, mas não nos segue, após olhar por cima do ombro vi que ele coloca as mãos nos bolsos e permanece aonde estava antes.

— Primeiro as damas. — me cede a passagem pela porta já aberta.

— Deixa disso, eu sei o que você tá fazendo, quer me contar logo o que tá acontecendo entre aqueles dois? — dou alguns passos pelo hall de entrada gigantesco que já dá pra sala de estar e jantar.

— O que estás a acontecer? — repete com um riso zombeteiro. — Não saberia dizer-te, desde que os conheço é que existe essa rixa entre aqueles dois maricas, isto é facto.  — caminha comigo até o meio das salas.  — Como podes ver, ali é a sala de jantar. — aponta — E aqui a de estar. — Cristian olha pra mim e sorri — Eu sempre fiquei em dúvida, se tiveres uma casa com conceito aberto e a cozinha ficar próxima a sala de estar, será que as almofadas ficarão cheirando comida? — eu rio.

     Não é possível, e o duro é que nem eu sei dessa.

— Não sei. — rio da careta que ele faz.

— Certo, eu posso conviver com isto. — fraze o cenho e depois ri enquanto eu olho ao redor.

— Aquilo são peixes? — aponto pra mesa de centro que também é um aquário. — Uau, que incrível. — observo os peixinhos nadarem tranquilamente pelo ambiente bem decorado. — Sabe como se chamam?

— Fred, Killi e Tob. — aponta para os peixes de água salgada — Estes são Flip, Flop, Flup. — nomeia os peixes palhaços.

     Franzo o cenho segurando o riso ao me perguntar se ele realmente sabe qual é qual ou se só aponta e fala os nomes aleatoriamente, bem, mais provável a última opção.

— Ora, pois, vamos que a casa é grande. — continua me guiando, sua mão nas minhas costas, próximo a nuca.

     Da onde estamos consigo ver a cozinha e ela tem um ar...antigo. Na verdade é uma mistura de velho com novo, os armários parecem originais, de madeira escura e brilhantes por causa do verniz, a pia é de pedra branca, a cuba reluz com a luz da lua que entra pela janela.

     Tem uma ilha no meio da cozinha e  nela fica um fogão cooktop preto, há bancos no outro lado do balcão, uma geladeira grande.

— Aquela é a cozinha. — o loiro aponta e eu cruzo os braços. — Aquela porta ali... — espera eu olhar. — É a dispensa, agora aquela dali... — aponta pra outra que fica quase escondida debaixo escada também de madeira.

     O paraíso dos cupins, meu pai.

— A lavanderia, o escritório do Mollin e a sala de reunião.

— Sala de reunião? — o olho com cenho franzido.

— Ya, Daio é um tanto...ocupado. — responde com incerteza, mas logo seu sorriso volta pro rosto. — Vamos subir? — chama já me arrastando.

     Virei boneca e não sabia.

— Aqui em cima ficam os quartos de hóspedes e os dos funcionários. — eu apenas o sigo de perto. — Aí... — resmunga baixinho, mas ergo meus olhos preocupados em direção à ele.

— Tudo bem aí?

— Penso que sim, são só esses pontos chatos que estão repuxando-se.

— Ei, espera aí. — puxo seu ombro bom pra mim o virando, crispo os lábios quando vejo sangue manchar a camiseta. — Tudo bem, temos que dar uma olhada nisso.

— Depois, terminaremos o tour. — me puxa pelo pulso e eu suspiro revirando os olhos com sua teimosia. — Dessa porta pra lá, são todos quartos dos funcionários, são oito, cada dois divide o quarto.

     Assinto me perguntando como raios eles podem se sentir confortáveis com isso, se eu já tenho dificuldade de dividir a minha sala.

— São grandes, se é isto que estás a pensar nesta cabecinha de testa franzida. — com o dedo indicador ele dá um leve toque no meu nariz.

     O que que é, o que é, que tem vinte e cinco anos e anda sendo tratada como criança?

    Olho ao redor, o hall do segundo andar é clean, não há móveis, apenas quadros nas paredes, inclusive um deles me chama atenção.

     Uma pintura vibrante, hipnotizante, bonita, um tanto ilusionista.

      O casal pintado naquele quadro é lindo, chega parecer exagero do artista que os pintou.

     Ilusionista exacerbado que chama? Leonardo da Vinci, Miquelângelo e Albrecht Dürere ficariam com inveja.

— São os pais do Daio. — a tonalidade de voz dele muda e eu o olho, Cristian encara a pintura com um misto de melancolia e saudade.

— Eles são lindos. — elogio verdadeira e ele sorri fraco, olha pra mim e logo desvia o olhar.

— Eram mesmo. — suspira e da as costas pro quadro, no instante seguinte o sorriso está de volta e não existe mais rastro de tristeza em seus olhos e nem na sua voz e a facilidade pra troca de humor dele me assusta, francamente. — Dessa porta pra lá... — aponta — São os quarto de hóspedes. — explica — Aquele lá é o seu. — caminhamos até a porta e ele a abre levemente, mas não me deixa entrar. — Lá em cima fica a biblioteca, a varanda e o quarto do Daio, queres ver?

— Aonde fica a enfermaria? — ele revira os olhos, mas eu insisto. — Estou falando sério, Cristian. — franzo o cenho quando o vejo sorrir largamente.

— Céus, como fica bonito meu nome na tua voz. — murmura pensativo. — Chama-me de novo. — pede com expectativa, porém me recuso.

— Vamos logo dar um jeito nisso. — rumo as escadas para o primeiro andar. — Em que lugar da cozinha fica a caixa dos primeiros socorros?

— Na verdade fica na casa de banho.

— E porque não disse logo? — resmungo com raiva voltando a subir os nove degraus que já tinha descido.

     Ele solta um riso baixo.

— Não perguntaste. — bufo, quantos anos esse cara deve ter?

      Sento Cristian na privada com a tampa abaixada e refaço o curativo com o que tinha dentro da maleta.

     Primeiro limpo com algodão e soro, depois seco e coloco gaze e esparadrapo.

— Novinho em folha. — murmurio e ele suspira.

     Cristian esteve calado desde que o mandei se calar após atingir o meu limite de paciência.

— Está pensando na sua filha?

— Tento não preocupar-me, Jace e Jason estão a buscá-la, mas é quase impossível, sinto-a dentro do meu peito e sei que ela está com medo.

— Seria estranho se não fosse assim. — me encosto na parede após guardar a caixa e olho pra ele. — Você é pai, Alicie é uma parte de você, claro que irá se preocupar.

     Ele abaixa seus olhos pro chão e sorri.

— Aceitas mais um gajo em tua lista de pretendentes? — franzo o cenho e ele ri. — Obrigado por ajudar-me Hope, de verdade. — ele se levanta e meu rosto se ergue conforme eu fico pequena perto dele.

— Não precisa me agradecer, quando a encontrarmos, vamos tomar um sorvete todos juntos. — ele sorri ladinho e concorda. — Eu acho que vou me deitar, posso?

— Claro, se quiseres tem uma casa de banho no seu quarto. — mostra a saída do banheiro e vem logo atrás de mim. — Vou buscar tua mala no carro.

— Pode trazer meu notebook também, por favor? — paro em frente a última porta do corredor e vejo ele concordar já se afastando. — Obrigada!

     Quando Cristian some escada abaixo eu suspiro e empurro a porta do quarto que permanecera entre-aberta.

     Finalmente sozinha respiro fundo e encaro o nada por alguns segundos, suspiro. Olho ao redor, tem duas portas de material branco uma do lado da outra, sigo até elas e as abro, a do lado esquerdo é o closet e a do lado direito o banheiro.

     Ele é um pouco maior que o lá de casa, as torneiras são douradas, a pedra da bancada da pia é de mármore assim como o piso e a banheira é oval, coisa linda.

     O box do chuveiro é de vidro fosco e tem um banco do lado de dentro. Há toalhas limpas nas prateleiras abaixo do espelho quadrado.

      Eu achava que minha vó era rica, mas depois de entrar nessa casa eu já não tenho certeza.

     Olho por cima do ombro quando ouço batidas na porta, permito a entrada com um grito e saio do banheiro fechando a porta atrás de mim.

— Oi. — Mollin saúda fechando a passagem atrás de si, nas mãos ele carrega minha mala e debaixo do braço meu notebook.

— Deixa eu te ajudar. — me apresso em socorrer meu filho que corre risco de vida e o vejo o homem caminhar até a cama e colocar as malas em cima dela.

— Cristian foi um bom guia turístico? — vira-se pra mim e eu me pergunto se essas pessoas tem problema de cabeça ou eu estou ficando biruta, como elas conseguem fazer cena e fingir que nada aconteceu minutos depois?

— Ele é um ótimo chato. — resmungo arrancando uma risada do homem enquanto caminho até a mesa de cabeceira para colocar meu notebook.

— Ele é. — dessa vez sou eu que rio. — Se quiser posso apresentar de novo.

— Não, eu já me senti pobre o suficiente por hoje, obrigada.  — brinco me enconstando na parede e me mantendo o mais longe possível.

     Estou com medo dessas pessoas terem alguma doença mental, e pior de tudo, já pensou se é transmissível?

     Daio sorri e os minutos seguintes ele usa pra me ensinar como abrir e fechar as persianas do quarto, me dá o nome do aplicativo que controla as persianas e me passa a senha do wi-fi.

     Fala sério, cara.

— Você é traficante? — pergunto enquanto coloco meu celular pra carregar, Mollin gargalha.

Endireito meu corpo e olho pra ele esperando a resposta que eu já sei qual é.

— Não.— nega sorrindo — Eu apenas trabalho bastante. — dá de ombros pegando o próprio celular e então as janelas de vidro se abrem e um ar fresco entra no cômodo. — E coloca bastante nisso. — reafirma guardando o aparelho e então se vira pra mim, olho pra fora da janela, pra noite que pinta o horizonte de azul escuro. — Fica a vontade, apesar de toda essa confusão a qual eu sinto muito que tenha se envolvido, espero que se sinta confortável e segura aqui.

     Cruzo meus braços na frente do peito e sorrio.

— Não vou entrar em detalhes sobre nosso sistema de segurança pra não te fazer pensar que somos da máfia. — sinto seu tom de brincadeira.

— Eu já penso. — tiro meus olhos da janela e rodo pelo lugar antes de olhar pra ele que sorri debochado.

— Enfim... — revira os olhos com um sorriso — Espero que fique à vontade, qualquer coisa estaremos lá embaixo, muito provavelmente no meu escritório. — franze o cenho. — Pode sair pra conhecer se quiser, é seguro. — reafirma e eu assinto — E os funcionários também são legais, provavelmente você vai conhecê-los somente amanhã, mas são ótimas pessoas. — eu apenas assinto de novo. — Certo... — sorri calmo e esconde as mãos nos bolsos, me dá as costas e o vejo sair.

     Quando penso que já poderia me jogar naquela cama enorme e com cara de macia ele se vira pra mim novamente.

— Hope, obrigado por ajudar Cristian, ele foi tudo o que me sobrou. — sua fala soa tão verdadeira que sinto em meus próprios ossos.

     Eu assinto uma vez sem saber como responder, ele sorri levemente e se retira fechando a porta atrás de si, meus braços caem ao lado do meu corpo e eu posso finalmente respirar sem parecer que a cada segundo Daio fosse sugar meu ar.

Merd... — me calei assim que a porta foi aberta de novo.

— Eu esqueci, Saly trará um chá pra você, camomila, gosta? — eu assinto com a mão contra o peito e ele concorda, fecha a porta mais uma vez atrás de si e dessa vez espero uns minutos antes de fazer qualquer coisa, então me jogo, finalmente, na cama.

     Ela é bem bonita, e muito mais aconchegante do que eu pensei, tinha um estilo rustderno, uma mistura de rústico com moderno por causa das cortinas estilo dossel.

     O pano é branco, mas fino e translúcido, achei cafona, mas fofo.

     Além disso no quarto tem duas mesas de cabeceira, as pernas são trançadas em um X, sem gavetas. Aqui há também algumas poltronas próximas a janela, e um puff para os pés, é bem bonito, como tudo na casa.

     As janelas são um exagero, pela casa toda na verdade, elas pegam quase que a parede toda e ainda abrem feito porta de correr.

     Acho chique!

     De todos os lados tenho vista pra uma paisagem banhada pela escuridão, queria ter uma máquina fotográfica, mas as fotos com certeza ficariam tremidas.

     Sou péssima com essas coisas, tanto que quase nunca tiro fotos próprias, coitados dos meus seguidores das redes, vão morrer esperando por uma boa relação minha com as plataformas.

      Ainda na cama ouço meu celular tocar, penso em ignorar, mas me lembro que minha casa está cercada pela polícia e por repórteres e então não tenho escapatória.

     Me estico na cama antes de levantar e ir até meu celular, me sento no chão e cruzo as pernas no estilo índio.

Alô?

Por que você não me disse, Hope?
Poxa, você ligou pra mim, disse que estava tudo bem e quando eu abro o Google a primeira notícia que salta aos meus olhos é sua casa cercada pela polícia.

— Gente, no Google? mas já? — murmuro pra mim mesma, mas ele ouve.

Eu não estou brincando, não faça mais isso.

Ei, senhorita histeria, eu estou bem, ok?

     É impossível conter o sorriso.

Além de que você parecia estar bem ocupado, não queria atrapalhar.

Hope!!!

O que, Kaleb?
Vamos combinar que você estava ocupado, sim? além de que Jace estava comigo, e agora está tudo bem.

Aonde você está?

     Ouço seu suspiro irritado e olho pra porta antes de responder.

Na casa de um conhecido, não vou ficar por muito tempo. Ouvi Jace falar que vamos pra um hotel em Longcity, amanhã eu preciso trabalhar.

Você está segura aí?

Bem, acho que sim.

Hope...

Estou, tenho certeza que tenho uns par de olhos em cima de mim. Nem sou a criminosa, mas pareço.

     Ele finalmente ri e sei que está mais relaxado.

Falou com o papai?

Antes de ligar pra você.

Tá...
Sabe que pode vir pra casa se precisar, não é?

Eu sei irmão, obrigada por isso, mas preciso ficar perto de casa, do trabalho.

Tudo bem.
Me ligue se precisar de algo.
Fique bem irmã.

Ficarei, fique bem também.
Cuide das meninas e do meu príncipe.

Sempre.

     Ele desliga e encaro a tela por alguns minutos, mas suspiro quando outra ligação desperta o toque do aparelho.

Eu estou bem!

     Digo rápido assim que atendo a ligação de Margot.

Vai me contar o que houve nesse instante mesmo.

Não é essa semana que você comparecerá a um funeral.

Hope Valente.

Foi um assalto, nada demais.

Nada demais? tá brincado? tem cinquenta policiais na frente da sua casa.

Não exagera também.

Hope.

Foi um assalto, meus seguranças reagiram e me tiraram de lá viva.

Cinco pessoas morreram.

     Uou, cinco pessoa...O QUE?
     Escondo a surpresa, apesar de me sentir péssima ao saber disso.

O que eu posso dizer?
Deu ruim pra elas.

     Margot ri e eu comemoro por conseguir manter ela longe da histeria.

Você está bem com isso?

Claro que não, na hora eu fiquei apavorada, se pensar bem até agora, o som dos tiros ainda ressoam pela minha mente.

     Conto enquanto pareço voltar a cena de mais cedo, então sinto a sensação de atropelar alguém de novo e meu corpo se arrepia.

Eles só me defenderam.

     Me sinto péssima em mentir pra eles, mas até que eu saiba aonde eu me meti não arriscarei colocar mais ninguém no meio.

Você está em um lugar seguro?

Estou, mas sinceramente Margot, eu queria estar abraçada no meu pai.
Ultimamente eu tenho andando com a cabeça em marte, fui ao médico hoje e os resultados não foram os melhores.

     Passo mais de meia hora com minha amiga no telefone, conto a ela quase tudo cortando apenas o ocorrido com Jace no carro, não sei se quero falar sobre isso em voz alta com alguém, pensar nisso só eu comigo mesma já é complicado.

     Desligo o chuveiro e me enrolo na toalha, saio do box e puxo a porta de vidro.

     Me seco em cima do tapete e me troco ali também, ajeito meu cabelo olhando pro espelho e calco um chinelo.

     Fucei em todas as gavetas, encontrei desodorante neutro, escovas de dentes em embalagens fechadas, caixas de creme dental, lenços umidecidos, buchas e papel higiênicos.

ATCHIIIM. — meu corpo se chacoalha e eu esfrego o nariz enquanto apago a luz e deixo o banheiro.

— Saúde — sobressaltada varro o quarto com o olhar e encontro o dono da voz sentado na poltrona. — Achei que tivesse descido pelo ralo.

Caramba. — reclamo olhando pra Jace. — Que susto, mania chata vocês tem de ficar vigiando as pessoas. — vou até minha mala de produtos de higiene e pego meu pente.

Apesar de não ter lavado o cabelo preciso desembaraça-lo.

— Que cheiro gostoso, qual sabonete você usa? — eu o olho.

     Jace está diferente, um pouco mais magro, com braços mais cumpridos e com anéis por todos os dedos e o cabelo também está diferente, franzo o cenho ao não me lembrar do homem com camisa de banda, nem com o piercing no lábio.

— Tá legal... — abaixo o pente e vou até onde ele estava sentado parando a apenas alguns metros. — Você não é o Jace. — ele sorri e covinhas se formam em suas bochechas.

— Só uns dias com ele e já sabe identificá-lo bem assim? — brinca, mas eu bem sei que facilmente eles são reconhecidos, não pelo rosto, até porque são aparentemente idênticos, mas pelo estilo. — Você que anda pondo meu irmão em zona de risco eminente? — se levanta e caminha na minha direção dando fim assim pro resto da distância.

      Ele fala como se eu sempre tivesse posto o irmão dele em risco, eu até poderia me zangar, mas ele estende a mão amigavelmente para mim então entendo que era apenas o jeito dele de ser simpático.

— Eu sou o gêmeo mais novo por oito minutos, muito prazer, meu nome é Jason.

     Eu aceito a mão dele que chacoalha três vezes pra cima e pra baixo então ele se afasta.

— Prazer Jason, o meu é... — sou interrompida pela porta que se abre e nós dois olhamos pro homem que me chama pelo nome.

     Meu estômago revira e é impossível não relembrar a cena do carro, do seu semblante duro como uma pedra e depois derretido como uma manteiga, o que anda acontecendo com as pessoas? e comigo?

— Vocês já se conheceram... — o desgosto inunda seu timbre e noto seu olhar de reprovação pro irmão.

     Atrás dele está uma senhora de sessenta e poucos anos e uma outra mulher, essa é jovem, com longas pernas e com o cabelo preso em um rabo de cavalo.

     Ela veste uma calça moletom e uma blusa de algodão azul vibrante que combina com seus fios dourados.

— Hope, essa é Serena, a governanta. — apresenta a loira que me oferece um sorriso educado. — E a Sra. Goulart. — a mulher que tinha uma bandeja na mão nega com um sorriso gentil.

— Nada de senhora, pode me chamar de Saly. — coloca dois cubos de açúcar na xícara que fumega sob a bandeja que ela apoiou na mesa de centro. — E eu trouxe seu chá.

     — É um prazer conhecê-las. — cumprimento e caminho na direção das poltronas, Jason se junta ao irmão.

— Vamos deixar você a vontade, qualquer coisa Saly poderá ajudar. — eu concordo com um acenar de cabeça leve.

     Jason é o primeiro que sai do quarto após acenar pra mim, depois foi Serena e por fim o homem.

     Suspiro quando a porta se fecha, mas abro um sorriso de agradecimento à Saly que me serve.

— Daqui alguns minutos trarei seu jantar. — sua voz é calma e eu me ponho a imaginar que seria bom tê-la como avó. — Eu sinto muito pelo que aconteceu com você, mas agradeço por ter salvado o menino Cristian.

— Não precisa me agradecer. — deposito a xícara na mesa e peço pra que ela se sente. — Eu fiz o que todo cidadão deveria fazer. — recosto minhas costas na poltrona e descanso meus antebraços nos braços do sofá.

— Há quanto tempo conhece Cristian?

— Há muitos, perdi até as contas. — seu sorriso é genuíno e meu pergunto se ainda tenho avós por parte de mãe porque sei que os pais do meu pai já faleceram. — Eu estava lá quando ele se casou. — olho no rosto dela e seus olhos parecem reviver algo.

     Quando Saly me encara acontece de novo, eu vejo, vejo uma mulher de branco, loira como a Alice no país das maravilhas, branca como o mais liso mármore e linda como uma obra de Picasso, ela caminha com um sorriso desenhado nos lábios vermelhos até o altar e então tudo some.

    Arfo.

— Você está bem? — ela percebeu, claro que sim. — Por um instante pensei que estava vendo coisas.

— O que aconteceu com a mãe da criança? — não faço questão de lhe responder até porque não sabia o que diria, apenas nego com a cabeça antes de fazer a pergunta e depois que a faço vejo o semblante dela murchar, é então que eu tenho a resposta.

— Ela morreu no parto. — sua fala soa fraca e vaga. — O menino Cristian cuidou sozinho de Alicie até o primeiro aniversário, mas então a avó pediu pra continuar a cuidar dela. — dá de ombros — Ele é um bom rapaz, um bom pai.

ᴜɪ, ᴜɪ, ᴜɪ, ᴇ ǫᴜᴇ ᴏs ᴊᴏɢᴏs ᴄᴏᴍᴇᴄᴇᴍ, ᴠᴀᴍᴏs ᴛᴇʀ ᴜᴍᴀs ʀᴇᴠᴇʟᴀçõᴇs ᴀǫᴜɪ, ᴜᴍᴀs ᴘɪsᴛᴀs ᴀʟɪ ᴇ ᴇᴜ só ǫᴜᴇʀᴏ ᴠᴇʀ ᴏ ǫᴜᴇ ᴠᴏᴄês ᴠãᴏ ᴀᴄʜᴀʀ.

ᴄᴜʀᴛᴀᴍ ᴇ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴇᴍ ʜᴜᴍᴀɴᴏs.
ᴠᴇʟᴇᴜᴜ!

ᴍúsɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: ʜᴜʀᴛ ᴘᴇᴏᴘʟᴇ - ᴛᴡᴏ ғᴇᴇᴛ 

ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇʟ ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ ᴘʀɪᴍᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ.


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