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ғᴏᴛᴏ ɴᴏ ᴘɪɴɢᴇɴᴛᴇ

— Espere um minuto. — paralizo minha mão na maçaneta com o pedido do homem e que sai do carro.

     Quando Jace chega na metade do caminho eu rio baixo ao entender o que ele pretendia.

— Não precisa fazer isso. — coloco meus pés pra fora após ele abrir a porta depois de ter entregue a chave do meu carro ao manobrista.

— Faço questão. — dá de ombros e bate a porta atrás de mim.

     Não digo nada, apenas caminho em sua compainha até entrada luxuosa do local.

     Jace empurra a porta para mim e então entro.

— Boa noite, os senhores tem reserva? — os olhos escuros da moça olham de mim pra Jace seguidas vezes.

— Estou na mesa de John Spencer. — seguro minha bolsa na frente do tronco e olho em volta procurando por meu pai.

— E o senhor?

— Uma mesa pra três, por favor. — olho por cima do ombro e vejo os dois homens se aproximarem, Zion é um deles.

     O cabelo branco está bagunçado e ele está vestido como Jace, se ele, o cacheado e Otelo não fossem tão diferentes poderiam ser chamados de gêmeos.

— Boa noite. — cumprimento  os dois e Otelo sorri.

— Boa noite. — retribui ele.

— Consigo encaixar vocês em uma mesa, me sigam por favor. — ela nos dá as costas e Jace me oferece a passagem.

     Sigo no encalço da moça que nos leva por mesa e mais mesas, atraímos alguns olhares, tenho quase certeza que foi por causa da beleza exótica de Zion, ou por causa da linda cor da pele de Otelo e o contrate que faz com seus olhos.

— Um garçom vira atendê-los em instantes. — a moça demora seus olhos sobre Otelo que sorri galanteador pra ela. — Senhorita, me acompanhe, por favor.

— Bom apetite, meninos. — me despeço educadamente e os deixo pra trás.

     Mais algumas mesas pra frente eu encontro meu pai, os olhos dele me veem e o vejo se levantar.

— Um garçom já virá tirar os vossos pedidos, com licença. — se despede e se afasta.

     Meu pai sorri para mim e se aproxima mais, nos cumprimentamos com dois beijos e ele puxa a cadeira.

— Como está linda, querida. — sorri voltando a se sentar. — Eu deveria ficar mais de olho em você. — brinca e eu rio baixo me ajeitando na cadeira, sei que os olhos dele escapam pra mesa mais a frente.

— Não acho que precisa se preocupar, pai. — seus olhos descem na direção do meu rosto e seus lábios se rasgam em um sorriso fofo, que demarcam as rugas perto de seus olhos. — Agora tenho cinco guarda costas, dá pra acreditar? — olho rapidamente por cima do meu ombro para os homens de preto, Otelo faz seu pedido ao garçom, Jace levanta a taça de vinho tinto aos lábios e Zion olha diretamente pra mim.

— Kaleb comentou. — franzo o cenho e ajeito minhas costas na cadeira, olho para ele.

— Por que é que eu sou sempre a última a saber das coisas? — seu riso nervoso me faz perceber o quanto o corpo dele está tenso e então eu me lembro do porquê estamos aqui. — Como está mama?

     Ele respira fundo e solta o ar com um leve suspiro, mas antes que possa dizer alguma coisa nosso garçom chega.

—  Com licença, posso pegar o pedido de vocês? — os cabelos loiros do homem estão presos em um coque médio e consigo perceber a presença do gel que mantém os fios no lugar.

— Primeiro as damas. — sorrio em agradecimento e olho pro homem que nos espera com um tablet na mão.

— De entrada eu quero uma salada com presunto parma e melão e para o prato principal nhoque ao creme de presto com burreta e presunto de parma. — peço o de sempre sob o olhar minucioso do meu pai.

     A sensação estranha de tensão que insiste em permanecer em meu corpo me irrita e de repente tudo que eh quero é saber logo duma vez o que raios meu pai tem pra contar.

— Para entrada quero cocktall de camarão com molho picante e de pesto principal Penne ao Curry com azeite de trufas brancas    — acrescenta.

— E o que irão beber? — seus olhos claros vão de mim pro meu pai e eu noto como sua barba bem cuidada é bonita.

Champagne, por favor. - falamos em sincronia.

      O garçom, chamado Taylor, pelo que diz na plaquinha grudada na sua camisa social, dá um pequeno sorriso, mas logo volta a seriedade.

     Ele nos garante que logo seremos servidos e então se retira.

— Não sabemos o que ela tem, mas fez alguns exames essa tarde, o médico pediu urgência, sairá amanhã. — retoma o assunto, mas sinto que não é apenas sobre ela que falaremos.

     Ergo minha mãe e a levo em direção a do meu pai, enlaço meus dedos nos seus e percebo o quanto sua mão está suada.

— Ela ficará bem, pai. — ele assente, crispa os lábios em uma linha reta e vejo seu pomo de adão descer e subir quando ele engole em seco. — Contudo, não é apenas isso que está te deixando angustiado, não é mesmo?

     Puxo minha mão de volta para meu colo e os olhos dele viajam para além de mim.

— Eu estou preocupado, Hope. — sua voz sai em um sussurro e seu olhar me evita, como se não quisesse ser pego escondendo algo. — Não posso perdê-la.

— Não vamos nos precipitar, a clínica do convênio é uma das melhores do país, tenho certeza que mama se recuperará com a ajuda dos médicos de lá. — me remexo na cadeira. — Manteremos pensamentos positivos, Flora é uma mulher forte e logo estará feliz ao nosso lado novamente.

— Você tem razão. — abana a frente do rosto uma única vez como se espantasse os pensamentos ruins e como se uma máscara fosse posta o vejo sorri. — Desculpe por sobrecarregar você com minhas preocupações, querida.

— Sabe que eu me sinto importante quando expõe seus sentimentos e medos assim, papa. — meu sorriso é verdadeiro e a minha fala também.

— E eu também, por isso vamos, conte-me, como vão as coisas em Longcity?

— Nada muda por lá pelo que parece, é a cidade dos bons hospitais e dos aposentados. — dou de ombros e ele ri — Tá explicado o porquê da quantidade de clínica médica. — sorrio com ele. — Mas ultimamente minha vida tem sido corrida, tenho liderado duas pesquisas.

Itch, né? eu fiquei sabendo. — junta as mãos em cima da mesa e enlaça seus dedos. — Estou preocupado com isso, em todo lugar só passa isso. — franze o cenho. — E apesar dos médicos e cientistas dizerem que não é transmissível de pessoa pra pessoa eu ainda sinto que ainda viveremos uma epidemia.

— Não sabemos o causador da doença ainda, então não podemos descartar essa possibilidade. — concordo. — O problema é que a Itch é uma doença nova, por isso não temos nada que se assemelhe a ela no nosso banco de dados, o que é estranho, pois tudo na verdade costuma ser uma evolução.

— Eu estava lendo o jornal, os cientistas disseram que os transmissores podem ser insetos. — nega com a cabeça — Já fiz uma reunião com os gerentes dos hotéis fazenda pra marcarem detetização por todo o perímetro e conferir se a vacinação dos animais estão em dia.

— É tudo o que podemos fazer por enquanto, pai. — me sinto estranha por também ser uma dessas cientistas, me sinto culpada. —  A ciência está avançada, creio que não demorará pra que descubramos a causa e,  consequentemente, a cura.

     O loiro de antes se aproxima com as nossas entradas e nos serve, abre a champagne e coloca nas taças dispostas na mesa.

— Bom apetite! — deseja antes de se afastar.

— Um pouco rude dizer, mas eu estou faminto. — eu sorrio para meu pai que desdobra o guardanapo e coloca sobre o colo.

— Não é rude, estamos em família. — asseguro também colocando o meu sobre minha calça verde.

     Deus me livre sujar.

— Sobre as pesquisas da Itch já estou informado, e a sobre a imortalidade? — eu mastigo a primeira garfada da salada com gosto de tempero de rico e engulo.

— Olha, pai... — sorrio ao pensar nas últimas descobertas que fiz, no que Margot me contou e como tudo parece uma loucura. — Tem hora que eu sei o que tô fazendo e em outros não tô entendendo mais nada. — rio com seu riso. — Porém, sei que vou chegar em algum resultado, positivo ou negativo. — mesmo que seja pra descobrir que talvez, é um talvez bem duvidoso, exista sobre humanos.

     Papai pega um camarão, mas não o leva a boca mantendo sobre a vasilha de vidro, que mais parece uma taça, espetado em um garfo que parece o de fondue que reflete sobre luz do lugar de tão polido.

— Eu sei que vai, sabe aquele ditado que diz que quem procura acha? pois então, você é inteligente e eu sempre acreditei em você. — abocanha o camarão com certa elegância e eu puxo minha taça em direção a minha boca.

     Sua frase ecoa por minha cabeça, eu sei que eu já entrei em muitas polêmicas ao defender e desenvolver minha pesquisa, porém eu não sei se estou preparada para descobrir se a imortalidade vai além de humanos imortais.

     Na verdade eu nem sei porque de repente estou considerando tudo isso se tudo não passou de um resultado d'um experimento, tudo bem que Margot é uma bióloga e uma cientista muito boa, porém sobrenaturais não existem, eu sempre soube.

— Obrigada, pai. — volto a pegar o garfo. — Eu tive alguns novos resultados ontem a noite e Margot também, o dela contrasta e diverge totalmente do meu, mas pode ser de alguma serventia.

— Margot. — limpa a boca com o pano de tecido fino. — Faz tempo que eu não a vejo, como está aquela criança?

     Eu solto um riso baixo, o lance é que somos amigas de infância, então meu pai a viu crescer, ela o chama de tio e ele a tem como uma filha.

— Bem, grande, pra início de conversa. — ele sorri e enfia mais um camarão na boca, eu não me espanto, ele ama. — Não temos nos visto tanto, apenas nos falado por mensagem e ligação. — dou de ombros. — Estamos sempre trabalhando, né? e além dela ser pesquisadora ainda é professora.

— É verdade. — concorda bebericando o champagne. — A vida se torna ainda mais corrida depois da faculdade, mas minha filha, não se esqueça de cuidar de você. — seus olhos expressivos estão em mim, enxergo seu cuidado e seu amor e por isso sorrio. — Seu irmão sente sua falta, vocês eram bastante próximos e esses últimos anos tem sido duro pra ele. — meu semblante fica sério aos poucos, eu entendo meu irmão e também me entristeço por não estar tão próxima como eu era.

— Eu sei, pai. — coloco a mão delicadamente na frente dos lábios, a boca não está cheia, mas mesmo assim me sinto incomodada. — Está corrido assim por causa das duas pesquisas que desenvolvo ao mesmo tempo, mas eu tenho certeza que isso logo vai acabar e ficará mais fácil de novo.

— Estava pensando em fazer uma viagem em família nessas férias. — o sorriso se espalha pelo rosto branco dele. — Faz tempo que não fazemos isso, fará dois anos desde a última vez.

— Eu adorei a ideia. — espeto mais da salada. — Pra onde o senhor está pensando em ir? — a levo a boca. 

— Ainda não tenho certeza, talvez Nova York. — sei que meus olhos brilham quando ouço o nome da cidade que sempre quis conhecer e ele sabe disso, pois o sorriso não sai dos seus lábios — Caribe, talvez. Ou então pro Rio de Janeiro.

— Mas aí você dificulta, né? — rio baixo — Acho que teremos que escolher entre as estações, nas nossas férias de verão é inverno no Brasil, claro que eu sei que o Rio é muito mais que as praias, mas seria um crime irmos lá e não entrar no mar.

— Não acho que tenha que se preocupar. — bebe mais um gole da champagne, o camarão já acabou. — Eu sei de alguns amigos que foram e disseram que mesmo sendo inverno o clima continuou agradável pra dar um mergulho.

— Bem, se for assim, eu permaneço dividida. — solto um riso fraco deixando meu braço esquerdo descansar sobre o colo enquanto o direito levanta a taça em direção aos meus lábios. — Vou levar bastante dinheiro só pra gastar com as famosas artes das praias.

     Meu pai ri, conheci uma brasileira na adolescência pelo Omigle, nos tornamos amigas com o tempo e ela vivia dizendo que se nada desse certo ela iria vender sua arte na praia, claro que eu não entendi, até ela me explicar.

     Clara, que é uma preta linda e baiana, será a primeira a saber se caso eu for pro Brasil, nem que eu tenha que pagar a passagem de avião dela pro Rio, mas irei conhecê-la pessoalmente.

— Estava pensando, lá tem tantos lugares lindos, talvez eu faça um mochilão por lá com Flora. — murmura pensante com a taça paralisada no ar e eu rio baixo.

— E eu nem sei porque você ainda não foi, pai. — retruco arrematando

— Com licença, posso retirar os pratos? — uma moça uniformizada pergunta educadamente e a olhar para cima veio ao longe o loiro vindo com nossos pratos principais.

— Obrigado. — papai lhe sorri e logo estamos sendo servidos pelo homem.

— Obrigada. — é a minha vez de agradecer e ele acena levemente com a cabeça, seus olhos claros não me fitam por muito tempo, mas vejo que quando ele se afasta procura pelo local o rosto de um moreno alto e então ergue as sobrancelhas e faz um biquinho engraçado.

     Eu sorrio da cena, mas então volto meus olhos pro meu pai que serve minha taça de mais bebida.

— Seu nhoque está com uma cara ótima. — pisca pra mim e eu rio.

— Quer experimentar? — lhe ofereço e seus olhos piscam umas duas vezes antes dele olhar pros lados e estender seu garfo na direção do meu prato.

     Eu faço o mesmo, espeto algumas das bolotinhas e levo-as a boca.

— Hum... — me delicio como toda vez— Eu nunca perguntei, mas tenho certeza que esse molho de tomate foi feito na hora, porque o gosto disso está divino. — meu pai concorda com uma careta satisfeita e eu sorrio.

— E Sebastian? — seus olhos se mantém no prato, mas os meus sobem pra ele.

— Kaleb te contou, não foi?

— Olha, quando eu me tornei pai eu sempre achei que você me contaria as cagadas e as fofocas do seu irmão, mas veja só, é totalmente o contrário. — eu sorrio.

— Ele puxou a veia fofoqueira da mãe dele. — cuspo as palavras e engulo o champagne.

— Não diga uma coisa dessas, Hope. — parece aflito, mas eu sei que ele apenas tenta não entrar no conflito que é falar sobre aquela...aquela mulher. — Kaleb é muito melhor que ela.

— Você está certo. — concordo enchendo minha boca, se eu estivesse em casa lamberia até o prato.

— Falando nele, dá pra acreditar que a Tessa está falando vovô pra tudo quanto é lado? — sua animação repentina me faz sorrir e me lembrar do meu pinguinho de gente.

— Eu vi, quase a apertei mais cedo. — faço uma careta. — Pai, ela te xinga e você baba.

— Hope, deixe disso. — ri comigo. — Mas me responda, o que houve com o fulano?

     Volto meu olhar pro meu prato, dou de ombros e suspiro.

— Nada de novo, na verdade. — bebo mais, não planejo ficar bêbada, pelo menos não aqui. — Ele foi ontem a noite lá em casa, eu chamei a polícia e eles resolveram, ele voltou hoje lá e quem cuidou dele foi Jace. — conto por cima me sentindo desconfortável com o assunto. — Jace disse que ele estava drogado.

— Era só essa mesmo que faltava pra terminar de estragar a pessoa dele diante dos meus olhos, quando foi que aquele rapaz bem educado e gentil se tornou um idiota desses? — e eu queria ter essa resposta pra dar primeiramente a mim.

     Logo após eu descobrir tudo me senti muito mal, acho que a sensação de não ser suficiente foi o que mais abalou as minhas estruturas, a terapia me ajudou a compreender que a culpa não foi minha e que a falha é no caráter dele.

— Eu não me preocupo mais em tentar descobrir, pai. — sou sincera e os olhos dele param em mim, de repente eu o vejo tão distante quanto o dia que eu amei meu ex.

     Meu pai ergue sua mão e a trás em direção a minha, ele aperta sua mão quente na minha e só então me dou conta, ele não parece mais tão nervoso quanto antes e talvez eu tenha me preocupado demais e a toa.

— Eu tenho certeza que um dia você encontrará uma pessoa que será incrível pra você. — seu lábios se curvam em um sorriso companheiro e eu aperto sua mão na minha a trazendo até meus lábios e beijo as costas de sua mão de veias grossas.

— Obrigada, pai. — descanso nossas mãos em cima da mesa de volta, os pensamentos voando até parar em um rosto novo e que me causa um frio na barriga de repente. — Mas eu já estou satisfeita com os homens que eu tenho na minha vida. — garante e ele franze o cenho, mas ainda sorri.

— Uma mulher, então? — eu rio, talvez um pouco alto demais.

— Pai. — repreendo. — Nem inventa, eu gosto de guarda chuvas na chuva. — brinco e quem ri dessa vez é ele.

— Eu devia ter arrumado a Flora mais cedo, olha as suas comparações. — resmunga entre risos.

— Floris foi uma das melhores coisas que aconteceu pra nós depois daquela louca ir embora de casa. — dou de ombros — Mas também foi divertido ser a única mulher numa casa com dois homens, graças a isso meu soco é bom pra cara...

— Hope... — eu rio com sua feição e tom de advertência, eu não xingo.

— Eu ia falar caramba, pai. — explico e ele nega com a cabeça, mas com um sorriso no rosto.

     O garçom tira os nossos pratos e nos oferece o cardápio das sobremesas, meu pai prefere não pedir, mas eu não nego o suflê de chocolate com sorvete de baunilha, divino, divino.

     Durante todo o jantar mantemos o clima agradável, na verdade, sempre é bom estar com meu pai, eu só não percebi quando ele voltou a ficar agitado.

— Hope. — chama minha atenção e eu o olho, mas franzo o cenho quando vejo uma sombra de preocupação em seus olhos. — Precisamos conversar. — as duas palavras repercutem pelo meu cérebro e eu sinto meu estômago embrulhar.

— Tudo bem. — deixo a colher de sobremesa descansar na parede branca do ramaquin e contenho a ansiedade que ameaça querer por pra fora tudo o que eu comi. — Pode falar. — engulo em seco, ele percebe e faz a mesma coisa.

— Eu... - hesita e seus olhos voam para longe de mim, de repente ele puxa um dos lados do terno e remexe no bolso interno a procura de algo.

     Claro que eu estou curiosa, até porque eu tenho uma suspeita do motivo pra ele estar assim.

— Eu... — segura firme o que tirou do bolso, mas não é visível para mim. — Sinto que errei com você, filha. — seus olhos fitam o que ele esconde atrás da mesa e eu contenho o impulso de me abaixar e olhar por debaixo dela.

     Permaneço em silêncio porque as palavras somem até da minha mente, pois é, eu acho que chegou o dia e eu não estou nem um pouco preparada pra isso.

— Tudo bem se você não aceitar isso tudo, eu vou entender se precisar de tempo para... — engole em seco e eu quase peço pra que ele fale logo, o que me agonia mais que a expectativa é vê-lo assim. — Para digerir o que eu vou te contar. — conclui e eu assinto um pouco robótica.

     De repente não sei se quero ouvir, talvez continuar na ignorância seja melhor.

     Alcanço minha taça pela metade e viro ela toda duma vez na boca, meu pai permanece em silêncio e seus olhos seguem minha mão quando eu descanso o cristal sobre a mesa.

— Pai, nada do que tenha acontecido entre você e minha mãe vai mudar o que sinto por você. — sinto minha boca amarga e o meu estômago borbulha.

     Seus olhos se arregalam levemente e eu tenho certeza, chegou o dia e eu nem tenho roupa pra esse evento.

— Hope... — ele puxa minha mão para si, a envolve nas dele e as enconsta na testa. — Tentei ser forte pra te contar isso antes, mas ao contrário disso eu fui fraco.

     Nunca foi surpresa para mim que Clarisse não era minha mãe, até porque eu não tenho nada, graças a Deus, que se assemelhe a sua aparência ou a sua personalidade, foi fácil deduzir que não éramos parentes e não pude deixar passar o fato d'eu ter um irmão dez meses mais novo que eu e de nacionalidade diferente.

— Quando eu tinha nove anos... — começo num sussurro e ele abre os olhos e abaixa nossas mãos. — teve uma noite de tempestade que você estava viajando. — conto sentindo o turbilhão de sentimentos confundir minha mente. — Eu fui até seu escritório para me sentir mais próxima à você, coloquei seu terno que estava pendurado nas costas da sua poltrona marrom e peguei o nosso quadro. — eu fito nossas mãos juntas, mas minha mente projeta as memórias daquela noite. — O envelope estava preso no porta retrato, caiu em meu colo. — olho pra ele. — E eu abri. — vejo lágrimas nos olhos do meu velho e meu coração se aperta.

     Eu sei porque ele está assim, imagino o porquê dele precisar de acompanhamento psicológico, eu sei que ela morreu.

— Mas eu não quero que se sinta culpado por isso, pai. — os meus próprios olhos ardem.

— Ah, Hope... — seu suspiro soa doloroso e uma parte de mim se rasga ao perceber que talvez ele a amava.

     Mas por que ele a deixou?

— Por favor, não chore. — peço sem conseguir conter minhas próprias lágrimas.

     É estranho pensar, mas até alguns minutos atrás eu me sentia feliz. Ele toma ar, não larga minhas mãos e nem olha pra mim.

— Aurora e eu nos conhecemos em uma viagem que eu fiz pra França. — espremo os lábios sentindo que hoje a noite vai terminar um tanto quanto melancólica e exclarecedora.

     Eu acabo de descobrir o nome da minha mãe, isso porque na carta ela assinou apenas com o sobrenome.

— Ela era a garota que estava descobrindo a vida e eu o jovem adulto sem muito juízo, foi apenas uma noite que me deu o maior presente da minha vida. — olha pra mim e uma lágrima escorre por meu rosto. — Você, filha. — ele sorri simples, mais lágrimas se acumulam em seus olhos.

      Eu não digo nada, até porque eu sei que não conseguiria.

— Eu voltei para casa, mas alguns meses depois ela me ligou, disse que estava grávida. — fecha os olhos com força — Eu assumi o bebê e contei para Clarisse, mas ela, compreensivamente, não aceitou bem a situação, porém não pediu o divórcio de imediato. — ainda bem que seus olhos permanecem fechados, pois eu revirei os meus.

     Claro que não, ela ainda não tinha extorquido meu pai o suficiente.

— Voltei pra Parcoul pra assistir seu ultrassom, descobrimos que você era menina naquele dia. — abre os olhos e um sorriso, parece nostálgico. — Sua mãe estava de quatro meses já. — encara nossas mãos unidas como se revivesse a história. — Entretanto, Aurora enfrentava alguns problemas na família, e foi por isso que ela fugiu, os Valentes eram e ainda são uma familia antiga, poderosa e bastante influente na cidade e quando descobriram a gravidez de Aurora não ficaram... — se cala — Digamos que eles não ficaram muito felizes. — me olha rapidamente, mas logo depois desvia a atenção de seus olhos. — A ameaçaram de morte e pra proteger vocês eu aluguei um apartamento em Paris e contratei seguranças, Aurora nem saia de casa. — eu ouço em silêncio e tudo que consigo pensar é que parece que estou escutando uma história literária.

     Meu pai franze o cenho e engole em seco, de novo.

— Quando você nasceu eu também estava lá, mas precisei voltar pra Paradise dois dias depois. — suspira claramente incomodado e entristecido. — Um mês depois Clarisse descobriu que estava grávida  e eu me vi dividido, mas não deixava de ir visitá-las. — as lágrimas que se acumulavam em seus olhos finalmente escorrem. — Mas quanto você estava com seis meses Aurora adoeceu, eu ofereci várias soluções, inclusive trazê-las para a América, porém ela negou como em todas as vezes anteriores. — ele funga e ao mesmo tempo nega com a cabeça. — Em uma manhã, um dia antes da minha viagem de volta pra casa, eu acordei e escutei ela cantando pra você, Hope. — sua feição me transmite dor e nem sei dizer se sinto alguma coisa ou se estou em um estado de consciência inconsciente. — Fui até seu quarto e Aurora estava arrumada.  — seus olhos me encaram, e eu juro que prefiro quando ele não o faz, seus olhos são pura dor que eu não quero sentir ou ver nunca na minha vida. — Naquele dia sua mãe  te entregou a mim, disse que você estaria segura comigo, teria uma vida estável e seria muito amada. — ele limpa as lágrimas com o dorso da mão — Ela estava com toda a papelada da sua guarda, e pediu para eu assinar... — sua voz some e ele engole em seco. — Eu assinei, passamos a tarde juntos e quando anoiteceu ela tomou o trem de volta pra Parcoul.

     Ele não me olha e também não diz mais nada, o silêncio reina sobre nós dois enquanto tudo que eu queria era não estar aqui.

— Eu não me arrependo Hope, não me arrependo de ter tido você, mas me arrependo de tê-la deixado ir. — o que virá depois disso eu sei o que é e a confirmação de uma suspeita dói muito mais que só a suspeita.

     Mas que droga.

— Aurora mandava cartas vez ou outra e eu as respondia com fotografias suas. — assente olhando pra mesa, parece longe e eu sei que ele está. — Mas aquela que você leu com nove anos... — sua voz falha mais uma vez e eu sinto quando meu coração se aperta dum tanto que eu realmente acho que ele vai explodir. — Foi a última carta dela para você e para mim. — conclui e eu me recordo das palavras de amor e carinho descritos naquele papel, era mesmo uma despedida.

     E o que eu sinto agora eu não desejo nem a Sebastian.

— Eles a deixaram morrer, Hope. — sua voz sai em um fio por causa do choro, eu mesma estou em um pranto silencioso. — Antes de ir Aurora jurou que sua família a ajudaria, mas eles a deixaram morrer. — seus soluços rasgam sua garganta.

— Pai, não foi culpa sua. — aperto suas mãos na minha, mas me parece que nada que eu faça ajuda ele se acalmar.

     Eu sei que eu não pude conhecê-la e saber que nunca poderei dói bastante, existe aquele ditado que diz que não sentimos falta do que nunca tivemos, mas eu a tive, em meus sonhos eu a abraçava, nos meus sonhos ela dizia que me amava, nos meus sonhos ela se orgulhava de mim.

     Eu a tive e de uma forma singular sinto a falta dela.

— Foi filha... — aperta firme minhas mãos e respira fundo, afasta uma mão sua para tirar um lenço do bolso do terno. — Eu deveria ter escutado, meu pai. — sussurra de olhos fechados — Eu deveria tê-la trago.

     Por mais que eu esteja quebrada com essa história e com o fato de que eu jamais conhecerei ela, eu me sinto triste por ele. Não sei o que se passou entre os dois, mas não costumamos sofrer assim por quem não amamos, não é?

— Escuta, pai... — chamo com tudo de mim. — Talvez se tivesse feito diferente as coisas teriam sido piores... — engulo em seco com a frase que diria a seguir, eu consigo sentir meu coração na garganta. — Aurora fez a escolha dela e você não podia forçá-la a aceitar a sua.

— Não, eu poderia ter insistido, filha. — seus olhos tristes e amargurados brilham pelas lágrimas. — Nós sabíamos que a família dela era ruim, eu deveria ter desconfiado que eles não queria ajudá-la. — cospe palavras de culpa e entendo o motivo das muitas e constantes idas a psicóloga e porque demorou para se abrir para alguém de verdade de novo. — Ela poderia estar viva, você poderia conhecê-la, você poderia ter tido uma mãe. — crispo os lábios em uma linha reta e sinto meu peito murchar.

     Mais uma vez ele solta minha mão e alcança o que escondia, embola em sua palma e a traz de volta à mim, o objeto gelado é colocado na minha mão e meu pai a fecha.

— Ele pertenceu a sua mãe. — suas palavras vem um tempo depois, mas ele permanece segurando minha mão enquanto minha curiosidade cresce. — Eu me lembro que antes de ir ela beijou sua testa, disse pra eu nunca deixar que o amor dela por você fosse esquecido... — sua voz falha e lágrimas escorrem por meu rosto. — Ela tirou esse colar e pediu pra que te entregasse quando contasse a nossa história. — finalmente olha pro meu rosto e com um suspiro solta minhas mãos.

      Eu hesito por um instante, mas puxo meus braços para mim, passei tanto tempo com eles na mesma posição que quando os flexiono sinto doer.

     Abro minhas mãos com cuidado, o que eu vejo é um colar de corrente de grossura fina e brilha como a luz do sol, o pingente é um círculo oval com flores e chamas desenhadas, atrás o sobrenome da minha mãe.

     Valente.

— Dentro do pingente tem uma foto de vocês. — olho pra ele então pro colar de novo e não espero mais pra procurar uma abertura, quando a acho e abro a caixa, perco o ar.

     Observo a fotografia antiga, eu era apenas um bebê, minha mãe sorria, ela tinha longos cabelos loiros e olhos verdes, sua pele era clara, muito clara o que a deixava mais linda.

— Ela era linda pai. — o sussurro sai tão involuntariamente que penso nem ter falado, mas meu pai concorda e então eu fecho meus lábios com força.

— Você me lembra ela. — meus olhos sobem em direção ao rosto dele e o vejo sorrir nostalgico. — Ainda mais depois que pintou o cabelo. — sua mão alcança a garrafa de champagne e ele nos serve. — Eu tenho um pedaço dela comigo.

     Sua fala faz meu coração bater acelerado e olho pra minha mãe de novo, droga, como eu queria tê-la conhecido e então tenho que segurar meu choro.

— Valente. — leio o sobrenome grafado no pingente e o acaricio. — Obrigada, pai. — aperto a joia na mão e a levando em direção ao meu coração.

     Meu pai estende seu braço, acaricia meu rosto e limpa uma lágrima atrasada.

— Eu te amo com tudo de mim, minha filha. — ergo a minha e a coloco sobre a dele ainda no meu rosto. — E se um dia você duvidar, ela te amou como eu te amo e talvez até mais. — assinto e beijo seus dedos, eu realmente não quero me entregar pro choro, porque se isso acontecer...

     Eu não costumava pensar na minha mãe com frequência, mas isso não quer dizer que eu não pensava. Pensei nela todas as vezes que eu ouvi minhas amigas contarem sobre as compras no shopping com as mães delas, pensei nela quando me vi apaixonada pela primeira vez, pensei nela quando eu tive que pedir pro meu pai comprar absorventes pra mim, pensei nela quando eu precisei de conselhos, pensei nela quando quis um ombro chorar após um término triste, não que meu pai não tenha cumprido com excelência todas essas coisas ou que Flora não tenha sido importante, Deus sabe como ela foi e é, mas todo filho carrega um pouco da mãe dentro de si, dos meses no útero, da voz dela, do cheiro na primeira vez que ela nos segura, da conexão da primeira mamada.

     Eu busquei por ela, mas eu era nova demais pra saber o que fazer e como fazer, além de que eu não queria deixar que meu pai soubesse, era uma fase complicada pra todos nós.

     A vida não será tão diferente agora, eu continuo sem ela, mas pelo menos sei que ela me ama, da onde estiver.

— Sua mãe tinha quatro irmãs. — sua voz soa de volta em meus ouvidos e sinto minha garganta seca, trago a taça aos lábios e dou um gole. — Amira veio atrás de mim a alguns dias atrás, quer conhecer você. — com a surpresa da notícia me engasgo com o líquido alcoólico. — Ei, ei... — se remexe alarmado. — Meu Deus filha, me desculpe. — pede se levantando para me acudir.

     O barulho da minha vergonha chama a atenção de algumas pessoas, mas sem olha-las tento me concentrar pra me recuperar. Prendo o ar e a tosse, com o guardanapo em frente a boca tusso quando não consigo evitar e quando meu pai se senta novamente eu sorrio envergonhada.

— Estou bem, já passou. — murmuro olhando rapidamente ao redor, encontro o olhar dos quatro homens em mim e semicerr os olhos ligeiramente para Jafe que limpa os lábios parecendo disfarçar um riso. — Me desculpa pela reação, pai. — volto meu olhar para ele que nega.

— Não se desculpe, eu te peguei desprevenida. — respira fundo. — Está bem mesmo?

— Estou, estou. — ajeito o guardanapo sobre a mesa e afasto o suflê de mim, já deu.  — Por que ela se importa? Por que ligou? depois de tanto tempo? ela deixou que eles a matassem? — o gosto amargo como ferro sobe pela minha garganta e eu engulo em seco. — Ela está em Paradise?

— Eu não tenho todas essas respostas, querida. — meu pai alcança minha mão mais uma vez e agora sinto a minha soar. — Mas ela está em Paris, ela ligou há alguns dias. — explica — Tudo bem se não quiser contato, minha filha. — seu semblante muda quando lê nos meus olhos a desconfiança e insegurança.

— É muita informação. — puxo minha mão para passar pelo meu rosto, maquiagem que lute. — Até algumas horas atrás eu não sabia o nome nem da minha mãe. — murmuro confusa. — Quantos anos ela tem?

— Ela é dez anos mais velha que você, quando Aurora te teve Amira tinha quinze anos, hoje tem trinta e cinco.

— Ela é 26 anos mais velha que você, quando Aurora te teve Amira tinha quinze anos, hoje tem quarenta anos. — ergo as sobrancelhas e assunto surpresa.

— Ela é nova. — observo e fico alguns minutos em silêncio analisando os prós e os contras.

     Não sei se quero vê-la, não agora, eu realmente acho que em 25 anos ela teve bastante tempo pra isso, por que agora? claro que existem aqueles parentes picaretas, não quero julgá-la, mas não consigo pensar em nada que explique sua busca repentina e tardia por mim.

— Pai, eu não sei se quero essa aproximação agora. — prefiro a sinceridade do que a falsidade. — Pode me dar um tempo pra pensar?

— É claro que sim, minha filha. — sorri compreensivo. — É totalmente válido a sua desconfiança, eu mesmo me pergunto o motivo disso depois de tanto tempo, mas não quero me meter entre vocês, ela é seu sangue e você t direito a conhecer sua família por parte de mãe.

— Eu estou com de descobrir mais coisas sobre eles, coisas desagradáveis. — confesso e ele assente. — Se eles deixaram ela morrer, o que mais podem fazer?

— Também temo pelo mesmo que você, mas não devemos julgar uma história tendo apenas um lado da história, e eu não sei de tudo. — aconselha.

     Da mesma forma que eu não conheci minha mãe meu pai também não conheceu a dele, sei que por isso ele entende muito bem o que eu estou passando e a confusão que está a minha mente, mas diferente de mim ele não teve quem buscou por ele.

— E se ela só estiver interessado no que eu posso oferecer?

— Nada impede, mas tente não fazer pré julgamentos.

      Não sei se era pra ser assim, mas existe dois lado nessa história, o bom e o rukm, o bom é que com o pedido de Amira meu pai me contou sobre minha mãe, porém o lado ruim é que agora eu me sinto diferente quanto a tudo e não tenho certeza se isso é algo construtivo.

— Me passe o número dela depois, por favor? eu vou ligar, quando estiver pronta. — peço olhando pra ele que parede satisfeito.

      Meu pai parece aliviado, teminamos a taça de champagne e ele chama o garçom com a conta, assim que me levanto não vejo mais nenhum dos meus seguranças na mesa, mas mesmo assim caminho com meu pai para fora do restaurante.

— Pai, obrigada pelo jantar e por tudo o resto. — sinto o calor da minha mão emanar na corrente de ouro do colar que ainda mantenho na mão fechada em punho.

— Não precisa me agradecer, querida. — ele beija minha testa em um gesto carinhoso que sempre o pertenceu. — Eu que agradeço pela sua paciência e por não me julgar. — segura meu ombro com uma de suas mãos e eu lhe sorrio, o meu carro se aproxima de nós e quem sai dele pra minha surpresa não é Jace. — Me perdoe por não ter lhe contado sobre sua mãe antes...

— Pai, eu entendo que você também precisou de um tempo para digerir tudo o que aconteceu. — toco seu rosto. — Eu não culpo você. — o puxo para um abraço de despedida. — Eu te amo pai, obrigada por hoje, por isso. — ele se afasta e beija minha testa.

     Eu me afasto caminhando em direção ao carro e Zion abre a porta para mim com um leve sorriso.

— Hope. — viro-me sobre meus calcanhares para olhar para meu pai.

     Seus olhos estão imersos em um mar de confusão e seus lábios crispados em uma linha reta, a mesma feição que ele mantinha antes de me contar sobre minha mãe.

— Eu te amo. — parece se contentar em dizer e por um segundo imagino se ele não tinha mais o que falar, porém no fim sorrio.

— Eu também te amo, pai. — afirmo antes de entrar no meu carro e o Zion fechar a porta.

     Ele entra do outro lado e logo arranca com o carro, enquanto o moço dirige em silêncio pelas ruas de EastVille eu penso em tudo o que ouvi e descobri hoje, o nome da minha mãe sem dúvidas foi o que mais me tocou, mas não posso afirmar que saber de toda a história não tenha sido importante.

— Você também acha que ele deixou de contar algo? — a pergunta sai de repente, se a minha voz não fosse quase um sussurro poderia dizer que Zion, distraído, teria se assustado.

     Mas ao contrário disso ele sorri e isso atrai a atenção dos meus olhos para seu rosto branco como papel.

— Todos nós escondemos algo uns dos outros, muitas vezes até de nós mesmos. — sua voz soa calma, tão calma que é como um chá de camomila pros meus nervos à flor da pele, como maracugina para minha ansiedade. — Seu pai deve ser um cara de muitos mistérios, não exija que ele conte-os todos de uma vez a você, isso talvez não vá funcionar. — dá de ombros e eu encosto minha cabeça no banco.

     Me sinto embriagada agora.

— O que há com a sua voz? — o semblante calmo do cara se esvai e ele fica sério como se tivesse falado a coisa mais absurda do mundo. — Aonde está o Jace? — mudo rápido o foco da pergunta, mas seu semblante não muda.

— Tivemos um imprevisto. — sua resposta soa vazia demais, mas decido esperar que ele termine. — Jace e Otelo tiveram que voltar pra LongCity pra resolver tudo antes que você voltasse.

— Sebastian? — pergunto fechando os olhos com o rosto virado pra janela.

— Sim. — eu suspiro.

     Quando isso vai acabar e poderei ser finalmente livre?

— Você não terá que lidar com ele mais, fique sussegada, estamos aqui pra isso. — parece ler meus pensamentos, eu franzo o cenho, mas decido ignorar.

— Pode passar em uma loja de conveniência? — permaneço de olhos fechados, a escuridão do meus olhos trancados é mais confortável do que a verdade que brilha sobre a luz do luar, mesmo que estar encoberta pela escuridão me cerque de mentiras e ilusões.

— Alguma em especial?

— Não, qualquer uma. — se Sebastian está em casa eu que não quero chegar lá tão rápido.

     Zion olha para a janela da sua porta   e então avisa aos outros aonde estamos indo, parece receber alguns comandos porque concorda, logo depois solta um riso debochado e então me olha rapidamente.

— Fofocar sobre uma pessoa é feio, agora fofocar sobre uma pessoa estando ao lado dela é pior ainda. — ele solta mais um riso contido e começo a pensar que esse cara não ri de verdade com frequência.

— Não estávamos fofocado sobre você. — maneia a cabeça e logo seus olhos se erguem pro retrovisor, quase que automaticamente eu faço o mesmo, mas não vejo nada suspeito. — Ainda sente medo?

— Medo? — olho pra ele confusa com a pergunta e ele assente. — Medo...ah. — compreendo e suspiro. — Olha, eu sou mulher e eu nunca estive segura estando sozinha em lugar nenhum, isso não deveria ser assim, mas vivemos em um mundo mal. — sinto meus ombros baixo e a respiração calma, o cheiro de Zion é bom uma mistura de odores cítricos e suaves e que também parecem me acalmar. — Mas depois da pesquisa isso ficou ainda mais evidente, tenho que tomar cuidado aonde piso porque as pessoas me reconhecem e dependendo do nível de sanidade dela eu tenho que fugir como uma presa quase que imediatamente. — eu já me enraiveci demais pensando na cultura ruim que ainda temos, mas é difícil ver mudança quando ainda somos poucos contra todo um sistema. — Então sim, eu tenho medo.

     Ele concorda e fica em silêncio, sei que agora estamos em uma área mais cheia da cidade, isso porque o nível social desse bairro é média baixa, eu não me importa, pois apesar de nascer filha de um empresário eu sempre me conectei socialmente com o povão, alguns ricos, sem generalizar, são sinônimos de frescura e eu não tenho paciência não.

     — Pode ser aquela dali? — aponta com a cabeça para uma construção de dois andares, em cima uma sacada com estética francesa e em baixo um portas de francesas com vidro escuro fechadas, flores em vasos suspensos e grandes por toda entrada, uma mesa com quatro cadeiras de metal e de cor  marrom bem escura contrasta com as paredes marrom clara e combinam com os detalhes também em marrom escuro.

     A fachada é um grande arabesco lustrado e o nome, Épecerie Le Village, é iluminada por LEDs brancas diria que estava fechada, mas uma placa acesa em neon pisca a palavra OPEN em vermelho.

— Pode. — concordo e já tiro meu sinto enquanto ele estaciona na frente do empório.

     Desço primeiro e caminho para a calçada enquanto, mais uma vez, Zion  passa informações para os colegas. Segurando minha bolsa entre as mãos observo como ele é bonito e como seus gestos são minunciosos.

— Eu sei que você gostou de mim, mas não precisa ficar encarando. — levanta do banco de couro, eu faço careta, mas sinto meu rosto corar. — Ou continue, eu não ligo. — dá de ombros e eu solto um riso irônico.

— Olha, sua auto estima é alta mesmo, em? — caminho ao lado dele em direção às portas.

— Nada disso, eu só acostumei estar sob o olhar das pessoas, sei que sou...diferente. — dá de ombros e eu concordo.

— Quer beber comigo? — o sino da porta denuncia novos clientes e ouço o riso quase silencioso do albino.

— Isso é um convite pra um encontro? — vejo o sorriso convencido em seu rosto mais uma vez e reviro os olhos.

— Não é por nada não, mas eu não estou na melhor fase pra ter encontros, quero só uma companhia pra encher o caco mesmo.

— Tem certeza? amanhã é segunda. —  sua voz continua divertida enquanto cainhamos pelos corredores em busca das câmaras frias.

— Eu acabei de descobrir que a minha mãe foi morta, acabei de descobrir que minha tia achou minha localização depois de 25 anos, é claro que eu tenho certeza. — abro a porta da geladeira com certa brutalidade. —  Vai querer ou não?

— Estou dirigindo, Hope. — crispo os lábios com a sensação estranha de intimidade que eu sei que não temos, mas foi eu quem pediu pra que me chamassem pelo nome. — Mas faço companhia.

     Dou as costas para ele e pego quatro cervejas, duas com cada mão. Zion não fala nada, mas solta mais um de seus risinhos baixos e que me irrita profundamente.

      Caminho em direção ao caixa e o homem levanta levemente as sobrancelhas ao me reconhecer.

— Ei, doutora. — me cumprimenta e eu não sorrio. — Eu te conheço da TV e das bancas de jornais científicos.

— Olá, é um prazer. — tento sorrir, mas a pressão dos meus pensamentos parecem pesar na minha alma a cada instante que eu penso nela.

— Caramba, você é ainda mais bonita pessoalmente. — elogia enquanto passa minhas compras. — Eu poderia me candidatar pra te fazer companhia essa noite, mas estou trabalhando e...

— Cala a boca, cara. — Zion chia se colocando ao meu lado e eu suspiro.

— É o namorado novo? bem, finalmente, né? a Internet já estava pensando que você tinha virado a casaca. — franzo o cenho sentindo nojo da cara do sujeito e se não fosse pegar ruim eu lhe daria um soco bem agora.

— Que desnecessário. — apenas resmungo empurrando uma nota de cem dólares pelo balcão e pegando meu saco de cervejas. — Fica com o troco, não quero encostar em mais nada que vem de você. — não espero por Zion quando volto a me afastar, mas antes de passar pelas portas francesas ouço alguém arfar de dor e sei que o albino não é.

      O carro é destravado de lá de dentro e eu entro abrindo uma das garrafas com os dentes, não espero muito pra dar o primeiro longo gole.

      A cerveja desce amarga e eu franzo o cenho, faz muito tempo que não tomo uma e parece que me desacostumado com o gosto amargo dela.

     Fecho meus olhos sentindo o sabor fermentado da cevada no meu organismo e penso no rosto da minha mãe, em como ela era linda e como seu sorriso brilhava como a luz de um farol no meio da neblina de um mar enfurecido.

      Em pensar que a mesma família que foi feita pra amar a matou, eu não consigo compreender como foram capazes e não quero imaginar como ela sofreu nas mãos deles.

     Na verdade, não sei quando a primeira lágrima desce, só sei que viro mais uma vez a boca da garrafa na minha e engulo um longo gole.

      É engraçado como a vida é cruel e cauculista, quando tudo está bem demais ela arruma formas pra te jogar lá em baixo só pra te ver subir e em seguida te ver cair de novo.

     Tudo começou com Sebastian e agora com essa história da minha mãe, com o fato dela ter sido morta e então Amira.

— Minha mãe foi morta. — me ouço dizer a Zion assim que ele entra no carro, ainda estou de olhos fechados, mas o reconheço pelo cheiro calmante do seu perfume. — Você acha que seria burrice ir atrás de quem matou ela?

— Não se você acreditar que é o certo a se fazer. — o ronco do meu carro me arrepia a pele e logo estamos em movimento. — Eu sinto muito pela sua mãe. — sorrio, não de felicidade, as lágrimas que escorrem dizem isso por mim.

     O silêncio é confortável, só é interrompido uma vez ou outra pelas minhas fungadas melancólicas.

— Não quero voltar pra casa agora. — abro meus olhos e pisco várias vezes.

— Tudo bem, posso te levar pra onde quiser. — me olha rápido, mas mantenho meu rosto virado pra janela, sei que linha maquiagem está borrada e que talvez esteja parecendo uma personagem de filme de terror.

— Eu não sei pra onde quero ir. — limpo meu nariz com as costas das mãos e ele assente.

— Certo, vou te apresentar a um lugar então. — dá ceta pra esquerda e vira logo em seguida.

     Eu continuo bebendo, o redemoinho de sentimentos só parece aumentar mais e as lágrimas não param de escorrer pelo meu rosto.

     Paramos em frente a um prédio grande, na lateral tem sacadas e escadas, me lembra os prédios do Brooklyn.

— Você mora aqui? — observo o lugar com cuidado, não é miserável, mas também não tem nada de exuberante.

     A tinta cinza do prédio descasca e por mais que ele pareça estar desocupado as luzes acesas dentro dos apartamentos me levam crer que não está.

— Morava. — olha pra mesma direção que eu. — Quando eu era moleque, meu pai era entregador de pizza e minha mãe trabalhava como recepcionista em uma clínica odontológica, éramos felizes, mas ela foi embora com outra mulher. — solta tudo de uma vez e eu solto um riso amargurado. — Eu tenho boas lembranças daqui apesar de tudo, o meu lugar preferido era lá em cima, fugia pra lá sempre que eles começavam a brigar. — a penumbra de nostalgia se instala em seu rosto e ele suspira.

— Sua mãe nunca voltou pra falar com você? — pergunto e ele nega.

— Minha mãe morreu... — me olha rapidamente, logo depois desvia o olhar. — Há alguns anos e meu pai um dia depois da partida dela, ele se matou. — abre a porta e sai por ela me deixando em choque com sua história.

     A porta se fecha com um leve empurrão, percebendo a minha demora Zion da a volta e vem até mim.

— Vamos, eu ainda quero te levar lá em cima antes que Jace perceba nossa demora. — estende a mão para mim após abrir a passagem e eu sinto o vento gelado que entra dentro do carro.

— Lá em cima? — me sinto hesitar, mas o vejo sorrir me tranquilizando.

— Prometo não te deixar cair. — remexe a mão me convidando e eu a pego, ele fecha a dele na minha e me puxa pra fora. — Tenta controlar seus sentimentos, nervosismo demais atrai acontecimentos ruins. — deixa minha mãe e me guia até a primeira sacada.

     Zion puxa a escadinha e me oferece a passagem primeiro.

— Se formos pegos...

— Só seremos pegos se você não falar baixo e não ir logo. — interrompe sorrindo.

     Eu assinto e então olho pra cima, seguro as barras da escada, mas antes de subir o primeiro degrau eu nego.

— Eu não vou conseguir subir com isso. — ergo uma perna e apoio o pé na barra de metal pra desabotoar a sandália de salto, repito o mesmo processo no outro e então entrego elas para Zion que ruma o carro. — Pegue as cervejas. — peço no mais alto nível do sussurro e ele ergue o dedão pra mim em confirmação.

     Olho pra escada de novo e então seguro firme, sujo o primeiro, o segundo e continuo até estar na segunda sacada de dez andares. Sem que pudesse me conter observo o interior do apartamento, as portas de vidro permitem a ampla visão da sala em reformas.

     Há plásticos por todo o carpete e fita adesiva nos cantos da parede que está pintada até a metade de um bege bem clarinho, a luz está apagada, mas eu consigo ver os potes de tintas e os rolos no chão.

     O apartamento não parece ser moderno porque a sala é fechada por paredes, estou tão acostumada com o tal do conceito aberto que essa disposição de cômodos me causa estranhamento.

— É feio ficar sondando a casa dos outros. — olho pra baixo, pra Zion que sobe com as garrafas de cerveja que tilintam ao esbarrarem umas nas outras.

— Está vazio, feio seria se tivesse alguém pouco vestido ou um casal. — resmungo e olho pras minhas mãos.

     Sinto uma imensa vontade de olhar para a foto do colar mais uma vez, mad eh o deixei no carro e teria que descer tudo o que subi para ir até ele, vou ter que esperar.

— Faz cinco anos que esse apartamento está do mesmo jeito, aposto que as tintas dentro desses tambores estão secas. — olho mais uma vez para dentro do apartamento e me pergunto o porquê. — Vamos, as damas continuam sendo as primeiras.  — volto minha atenção pra escada que ele desceu e me preparo para subir, é quando ouvimos um grito irritado e uma série de xingamentos. — Anda, continue.

     Eu sigo firme escada acima e durante toda a escalada escuto a briga do casal que discute por causa de um cheiro diferente na camisa do homem.

     Meu estômago embrulha e de repente eu me vejo no lugar dela, naquela noite de verão que deveríamos estar jantando a luz de velas comemorando nosso segundo ano de noivado.

      Ele não foi, ligou desmanchando em cima da hora dizendo que o chefe pediu pra que ele ficasse até mais tarde na empresa, como eu não desconfiei?

— Hope, ande rápido, antes que eles venham pra sala. — aconselha Zion ainda no segundo andar.

     Apresso minha subida e quando chego na terceira sacada olho pra baixo, meu corpo arrepia e meu estômago gira.

     Me afasto da beirada me encostando na parede, não costumo ter medo de altura, mas eu me sinto levemente leve por causa das duas cervejas que já tomei.

— Vamos, ainda faltam mais sete andares. — abaixa a outra e eu respiro fundo.

— Se não valer a pena eu faço você engolir a tampinha dessa garrafa. — rosno segurando firme nas barras e subindo o primeiro degrau.

     E depois mais um e mais um, antes de subir na sacada de metal meu cérebro dá pane e meu labirinto congela me fazendo perde o equilíbrio.

— Ei, ei, Hope. — sinto a mão de Zion empurrar minhas costas contra a escada e eu então consigo fechar meus punhos na escada. — Tudo bem, aí?

     Eu assinto, mas só consigo me perguntar se bebi tanto assim e desde quando Zion estava tão próximo.

     Subo na quarta sacada e na sala as costinas estão fechadas, a TV ligada transmite Friends pra quem está sentado no sofá com a luz apagada.

— Fique aonde ele não possa ver sua sombra. — cochicha Zion enquanto tenta descer a escada mais silenciosamente possível e eu concordo.

     Me concentro em subir rápido para o quinto andar, mas meu cenho franze quando vejo na sala um casal se beijar.

— Ah, que romântico. — Zion zomba quando chega ao andar e para não atrapalhar subimos rapidamente para o sexto.

     Nesse andar a sala está vazia, mas pelo chão há alguns brinquedos de bebê e no canto um carrinho cinza e rosa.

      Não é difícil pensar em minha mãe e na foto que ela me segura em seus braços e sorri.

— Não se distraia, Hope. — instrui Zion me dando passagem. — Só falta mais quatro. — encoraja e eu suspiro.

— Estou cansada, quando pedi pra me levar em algum lugar não pensei que seria tão trabalhoso. — resmungo enquanto subo mais degraus e dessa vez assusto quando um cachorro raivoso avança sobre o vidro com seus olhos arregalados e dentes a mostra. — Credo, desce essa escada logo, Zion.

     Quando finalmente chegamos eu estou ofegante, coloco a mão sobre meus joelho e puxo o ar com força, o prendo por alguns segundos e solto tentando regularizar a respiração rápida.

     O homem se aproxima da beirada e se senta ali, coloca as pernas pra fora do terraço e eu solto um riso cético, mas o acompanho.

     Minha calça depois de hoje não será mais verde, me sento ao lado dele e jogo minhas pernas para o lado de fora, olho para o horizonte e suspiro vendo o quão bonito é as estrelas urbanas que colorem a vista com várias cores.

— Bonito, não é? — me olha rápido e eu assinto. — Aqui. — me estende a cerveja e eu pego o saco. — Não, eu realmente não quero por nossas vidas em risco. — nega a que eu ofereço à ele.

— Sabe, eu não costumo beber. — digo entre um gole ou outro.

     Continuo olhando pro horizonte, mesmo quando ele sorri.

— Você não precisa se justificar pra mim.

— Talvez eu esteja me justificando mais pra mim mesma do que pra você. — ergo a garrafa de vidro de novo depois de soltar um suspiro. — Estou esperando pela próxima surpresa da vida. — assinto olhando pra nada específico. — Não sei por que, mas eu sinto que meu pai não me contou tudo, sinto que agora estou andando sobre ovos e viver em apreensão não é nada bom. — me calo no mesmo instante que os braços de Zion me seguram.

— Vem, vamos nos sentar em um lugar seguro. — volta suas pernas para dentro e se levanta, me pega pelos ombros e me ajuda fazer o mesmo.

     Me sento no chão e encaro a antena  de televisão.

— Por que não podemos saber a verdade sobre quem somos e sobre as nossas histórias? — coloco a garrafa de vidro no chão e empurro pra longe a folha seca que era trazida pelo vento para mim.

— Porque nem sempre somos maduros o suficiente pra saber a verdade. — meus olhos se voltam pra ele e o vejo deitar sobre o chão de cimento.

— Mas a verdade liberta, o mundo seria melhor se não existissem mentiras, ou se as pessoas não a ocultasse. — rebato matando mais uma garrafa ao virá-la na boca.

— Mas a verdade também pode matar, a verdade pode ferir, a verdade pode nos transformar em pessoas que não queríamos ser, ela nos marca e então nunca mais somos como antes.

— E isso não é bom? — viro meu rosto  na direção dele.

— Depende. — franzo o cenho.

— Do quê?

— Depende do que ela despertar em você. — me olha nos olhos e então toda calma que eu sentia ao lado dele se transforma em um instante de temor, seus olhos vermelhos parecem brilhar a luz do luar e me causam arrepios por todo corpo.

     Ele desvia os olhos quando lê minha feição e o sentimento em meus olhos, mas eu não me afasto, estou curiosa.

— O que ela despertou em você? — abocanho a tampa da última garrafa de cerveja e quando a tampa sai minha cabeça recua com o impulso, sinto tudo girar e por isso espalmo uma mão não chão para me amparar.

— Muitas coisas. — seus olhos, agora com a mesma calmaria de antes, me avaliam com cuidado, deve perceber que mais alguns goles e eu estarei no ponto para pular desse prédio sem que insista muito. — Muitas das quais eu não gosto de lembrar. — olha pra frente de novo e eu aceito seu silêncio.

Muitas vezes escondemos algo uns dos outros, as vezes até de nós mesmos.

     Eu me tornei uma pessoa desconfiada depois da noite que encontrei uma mensagem no celular de Sebastian, eu não achei que deveria me preocupar e nem desconfiar dele, mas alguns meses depois eu descobri que deveria ter desconfiado.

     Eu sinto que algo ainda está encoberto, sei que vou descobrir um dia e depois de hoje, talvez eu não queira saber.

ᴜᴍ sᴜsᴘᴇɴsᴇ ɴãᴏ ᴍᴀᴛᴀ ɴɪɴɢᴜéᴍ, ᴇɴᴛãᴏ...

ᴇsᴘᴇʀᴏ ǫᴜᴇ ᴇsᴛᴇᴊᴀᴍ sᴇ ᴀᴍᴀʀʀᴀɴᴅᴏ ᴀ ʜɪsᴛóʀɪᴀ, ʟᴏɢᴏ ɴós ᴛᴏᴅᴏs ᴇsᴛᴀʀᴇᴍᴏs ᴛãᴏ ᴘʀᴇsᴏs ᴀ ᴇʟᴀ, sᴇ ᴊá ɴãᴏ ᴇsᴛᴀᴍᴏs, ǫᴜᴇ ɴãᴏ ᴛᴇʀá ᴍᴀɪs ᴠᴏʟᴛᴀ.

ɴãᴏ ᴇsǫᴜᴇçᴀᴍ ᴅᴇ ᴄʟɪᴄᴀʀ ɴᴀ ᴇsᴛʀᴇʟɪɴʜᴀ ᴘʀᴀ ᴅᴏᴜᴛᴏʀᴀ ʟɪᴛᴇʀáʀɪᴀ ᴀǫᴜɪ.

ᴍúsɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: ʜᴏᴍᴇ - ɢᴀʙʀɪᴇʟʟᴇ ᴀᴘʟɪɴ

ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇʟ ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ sᴇɢᴜɴᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ. 

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