ʟóʀɪᴏɴ
Depois uma hora em um helicóptero chegamos ao nosso destino e pousamos em uma clareira que ficava entre montanhas, eu estava com o estômago embrulhado e quando senti o chão embaixo dos meus pés quis beijá-lo.
Estava achando estranho tudo aquilo, sinceramente, eu nem sabia mais o que pensar, era apavorante pensar que o que eu mais desmentida era real e eu mesma fazia parte dela, mas ao mesmo tempo não me arrependo de ter concordado com essa loucura pra encontrar minha mãe.
O clima estava frio e agradeci pelo tipo de vestimenta, após alguns minutos em solo o helicóptero levantou voo e desapareceu no céu nublado e no meio das árvores gigantes, agora era eu, Michel e Rick cercados por montanhas e mato.
Ótimo lugar pra se estar acompanhada de vampiros, não?
— Vamos ficar por aqui? Lórion é por perto? — Michel sorri, mas não responde nenhuma das minhas perguntas.
— Apenas me siga. — comanda e começamos a atravessar a clareira em direção ao pé de uma montanha próxima.
Ele ia escalar aquilo ali? Lórion era do outro lado?
Por que com esses loucos tudo tem que funcionar com tanta intensidade e mistério?
Paramos alguns passos de distância da Rocha e olhei pro vampiro tatoado confusa, eu o vi erguer a mão esquerda, a que tinha um anel grande e com uma pedra no centro, ele fechou os olhos e abaixou a cabeça.
— Syn ciemności woła, otwórz się. Mocą stuleci, siłą krwi i plutonów. — falou em uma língua esquisita, eu não conhecia.
De braços cruzados observava a cena com ar de zombaria, o vampiro repetia as mesma palavras pela terceira vez e para minha completa surpresa quando a última palavra foi proferida uma abertura surgiu na montanha.
Sobressaltada hesitei um passo para tras, Michel olhou para mim com um sorriso macabro no rosto enquanto a abertura na rocha aumentava ainda mais.
Quando tudo parou, o som, e a pedra, ele pediu pra que eu entrasse primeiro, sem poder me conter gargalhei.
— Não sou suicida, pode ir primeiro. — recuso, porém seu sorriso cresce ainda mais.
— Se tornou suicida no momento em que entrou no meu restaurante Srt. Valente, estarei bem atrás de você. — insiste e suspiro olhando pra Rick, sem ter pra onde correr descruzei os braços e caminhei para dentro da montanha.
Era um pouco escuro, só não era um breu completo por causa das tochas medievais que haviam nas paredes do que agora parecia ser uma caverna, caminhamos por alguns minutos por um corredor com algumas curvas e findava-se em um círculo pequeno, que tinha no centro o desenho de uma estrela e o lugar estava aparentemente vazio.
Michel ficou a minha frente e então como mágica um vulto apareceu nas sombras e caminhou em direção a nós.
— Meu senhor. — ouvi a voz assim que ela se colocou a frente do vampiro.
Ela se curvou perante ele e logo após beijou suas mãos.
Eu acharia patético se isso não tivesse me deixado tão surpresa, por que ela está fazendo isso?
— Madri, abra o portal. — ordenou e a mulher assentiu se levantando.
Pude ver seu rosto e ela era muito bonita, cabelos brilhosos e escudos como a noite que iam até a cintura, pele clara que parecia seda, seus olhos eram negros e seu corpo escultural.
Assim como Michel fez a poucos minutos a mulher ergueu as duas mãos, fechou os olhos e abaixou a cabeça, sua voz foi se tornando potente enquanto ela proferida e repetia as palavras desconhecidas por mim.
Das suas mãos começaram a sair uma fumaça roxa, um pouco preta, era bizarro e estava me assustando.
Permaneci atrás de Michem desviando meus olhos da mulher, seria melhor se eu não visse, mas quando o lugar se iluminou com a claridade que o portal aberto lançou foi impossível não tremer.
Michel foi primeiro, logo depois Rick, eu sabia que seria a próxima, mas antes de entrar olhei pra mulher que permanecia de olhos fechados e ainda repetia as mesmas palavras.
Com um suspiro eu olhei novamente para o portal a minha frente e entrei, senti como se tivesse aberto e fechado os olhos, foi como se eu fosse expelida de algo, mas ainda estávamos dentro de uma montanha.
Michel e Rick me encaravam sérios, olhei pros lados e me assustei quando encontrei a mesma mulher novamente de frente a parede da montanha.
Ela olhou pra nós e perdi completamente o chão, como podia ser?
Era ela, eu sabia que sim, seu tamanho e seu cabelo não negavam, mas seu rosto agora estava deformado, lhe faltava um olho o qual não se preocupava em esconder a ausência, sem contar na enorme cicatriz que iniciava na testa e ia até o lábio.
— Posso senhor? — pergunta a Michel que mantinha as mãos em frente ao tronco.
— Sim!
Os olhos dele estavam fixamente em mim e apesar de me sentir incomodada eu só conseguia me perguntar se havia feito algo errado.
Madri virou-se mais uma vez para a parede e repetiu mais uma vez sequências de palavras que eu não conhecia.
A montanha se abriu como a primeira vez e sem olhar para a mulher caminhei logo atrás de Michel, eu mal podia acreditar naquilo, olho pra trás e não vejo montanha, somente árvores.
Aquela mulher era o que? Uma bruxa?
— O que houve com ela? — é a primeira coisa que consigo falar.
Estávamos novamente em uma clareira.
— Quando estávamos com os portais fechados, Órion recrutava seres das trevas que estavam dispostos a se converter para não morrer de fome, mas quando matamos Bill Mollin isso mudou e agora temos controle dos portais. — meu coração para quando ouço o sobrenome e imediatamente o relaciono com Daio.
Quem é Bill Mollin?
— Mesmo assim Madri quis se converter a religião dos santificados. — ele estava de costas, e quando se virou pude ver o alerta em seus olhos. — Eu então lhe mostrei onde era o verdadeiro lugar dela, trabalhando eternamente para mim, a alma dela me pertence.
Enguli a bile que se formou com força e tentei ignorar o arrepiou que subiu por minha espinha, respiro fundo e um riso baixo chama minha atenção.
Olho pra Rick que mantinha um olhar zombeteiro sobre mim, até que não demorou pra eu descobrir um feito maldoso dele.
— Bem vinda a Lórion, por aqui costumamos ser nós mesmo, Valente. — seu sorriso me amedronta, mas tento não demonstrar. — Fazemos tudo ao nosso modo, se é que me entende
— solta um riso sádico e eu me lembro da velocidade de Daio. — Mas como você é humana mandei trazer um carro para nós dois. — diz calmo e eu assinto sentindo a áurea pesada do lugar.
Passamos a caminhar na direção dele quando ele chamou, mas um uivo alto o para e consequentemente a mim também.
É isso mesmo que estou pensando?
— Pensei que lobos e vampiros não conviviam juntos. - comento olhando ao redor tentando descobrir de qual direção vinha o som.
Michel, me deixando em total alarme, se aproxima de mim de forma protetora.
— Não convivemos, apesar de que nem tudo que as lendas sobre nós do seu mundo contam são verídicas, mas a questão é que estamos em guerra, então nos juntamos pra derrubar Daio Mollin e sua tropa de convertidos patéticos. — sinto meu corpo arrepiar com o nome que ele fala.
Volto a olhar em volta e arregalo meus olhos quando encontro um homem que sai do meio das moitas, ele estava nu e a luz da lua banhava sua pele aparentemente saudável.
— Trouxe o jantar Michel? — se aproxima com passos cuidadosos, como um verdadeiro predador.
Ele não parece temer Michel, o que me leva crer que lidar com ele e com os seus seja desafiador.
O jeito como ele me olha me enoja e de repente eu me vejo falando:
— Meu nome é Evangeline e não, não sou o jantar. — o cara sorri de uma forma esquisita e no instante seguinte ele está a centímetros de mim.
Lobos podem fazer isso também?
— Ela fala. — observa dando voltas ao meu arredor, como se eu fosse uma presa.
Olho pra Michel, mas ele não parece inclinado a me ajudar em nada, então respiro fundo pronta pra me defender.
— Você é tapado, surdo ou otário? — o faço parar a minha frente de novo e sorrio — Acho que todos juntos. — encaro seus olhos amarelos — Eu não sou o jantar de Michel e muito menos o seu. — tento o empurrar com meu dedo indicador enquanto encaro seus olhos e o vejo rosnar para mim.
Se eu estou com medo?
Não, medo é pros fracos, eu estava apavorada, que é pros condenados a morte.
— Afaste-se Alan. — manda Michel e abaixo minha mão, mas o homem a minha frente não move um músculo, era impossível por estar petrificada. — Eu mandei se afastar — gritou o tatuado se aproximando como raio e o pegando pelo pescoço e o jogando longe.
Alan caiu em posição, um joelho apoiado flexionado, enquanto a mão e o pé desenhavam uma linha na terra conforme deslizava por ela com o punho fechado e então finalmente parou.
CRick se colocou ao meu outro lado e o olhei discreta, o lobo olhou para nós e enxerguei os dentes em sua boca e os olhos amarelos, eram os maiores que eu já tinha visto na vida.
Essas também foram as únicas coisas que mudou em sua fisionomia após a retalhação, eu o vi se levantar com superioridade então sorriu com escárnio.
— Isso a cada dia vai ficando mais divertido. — confessa com desdém — Primeiro a garota original convertida e agora uma humana atrevida. — me encara. — Sua carne é tão boa quanto o seu cheiro loirinha? — pergunta ainda sorrindo maquiavélico.
— Eu acho melhor você ir Alan, com ela você não pode mexer. — avisa Rick e eu sorrio ao ouvi-lo dizer isso.
O lobo rosnou para nós e nos encarou por alguns minutos antes de se transformar bem na nossa frente e se retirar
Meu Deus do céu, eu estaria surtando se não estivesse em choque demais, deixo os dois vampiros para trás e sigo em direção ao carro.
Michel não demorou muito prar vir atrás de mim, ele permaneceu em silêncio até começarmos o trajeto pela floresta escura e densa.
— Você precisará se conter para não entrar em pé de guerra com meus homens, eu nem sempre estarei presente pra acalmar os ânimos Evangeline. Mesmo que seja divertido assistir uma humana desacatar um vampiro e ele não poder fazer nada, eu preciso que segure sua língua na boca. - fala com um sorriso. — Afinal estamos em um mundo na qual você é a estrangeira, aonde não existe leis que a proteja, aonde é o jantar...— conclui e o olho com raiva.
— Certo, eu irei tentar. — prometo assentindo e olhando para fora da janela, não via nada além do breu sombriamente sobrenatural daquela floresta.
— Evangeline... — sua voz soa estranho, um sussurro rouco e por isso o olho — Preciso do seu sangue. — ele respira fundo e gira o pescoço, com isso vejo as veias por baixo das tatuagens de seu pescoço, estavam altas.
Meu coração automaticamente acelerou e minhas mãos tremeram, vi Michel tirar o terno e desabotoar os dois primeiros botões da camisa social.
— O que? Agora? — me remexo nervosa e ele me olha.
— Está com medo de mim Evangeline? — se aproxima de mim de forma que meu corpo fica prensado contra a porta do carro.
Que pergunta mais ridícula, é claro que sim!
— Não, mas acho que ficaria um pouco desconfortáveis visto que estamos dentro do carro.
— Corta essa, no carro tudo fica mais gostoso sempre. — ele está curvado na minha direção agora, em seus lábios um sorriso perverso.
Michel alcança minha mão e a acaricia. Não sei se a intenção era me tranquilizar, mas se sim falhou lindamente. Seria impossível eu ficar tranquila sabendo que estava nos braços da morte, sendo tragada aos poucos por ela, ou seria possível?
— Você é muito parecida com sua mãe. — comenta olhando pros meus olhos enquanto se ajeita no bando levando minha mão direita com ele, e ao ouvir sua declaração subo a outra pro colar em meu pescoço. — Mas puxou a cor do cabelo pro pai. — franzo o cenho.
Quanto ele deve saber sobre mim?
— Precisará mesmo dar um jeito no seu cabelo e urgente, porque assim parece a própria Aurora. — conclui e eu não acho isso ruim.
Respiro fundo quando ele volta a afagar minha mão.
— Elogios e carinho não parecem fazer parte do script sobre quem você é. — afasto minha mão da sua.
O homem permanece calado e então viro-me para ele encontrando seus olhos em mim.
Me pergunte qual parte do corpo dele é limpa e eu te responderei que é muito provável não haver, talvez fosse igual sua alma, toda marcada.
— O que você sabe de mim? — e de repente ele está ríspido e próximo demais
Minha respiração me trai quando sou pega de surpresa, o ar escapa pela minha boca como em forma de um suspiro assustado fazendo com que Michel desça seus olhos para meus lábios.
Droga, droga!
— O que seus olhos me dizem. — respondo depois de hesitar por alguns minutos.
Michel pisca e em segundos, e com um puxão, estou no colo dele, quando percebo solto um riso cético revirando os olhos, tento sair, mas ele me segura ali.
Eu disse que não iria pra cama com ele e se ele está tentando me seduzir não vai dar certo.
— Eu não quero isso, disse que não dormiria com você. — relembro quando suas mãos pressionaram ainda mais minha cintura, minhas mãos foram pra seus ombros o empurrando em recusa.
— Não quero seu corpo, quero seu sangue, Valente. — murmura em um tom fraco apertando em seguida um botão que faz subir o vidro preto que separava os bancos trazeiros dos da frente.
Olho por cima do ombro e arrepio, eu estou dentro de um carro com um vampiro, no meio de uma floresta infestada por lobos humanos, num mundo paralelo, e sem o que fazer se ele decidir me matar nesse momento.
Michel segura meu rosto com suas mãos firmes, e então olha pra dentro dos meus olhos.
— Dois avisos, quando eu terminar você beberá o meu também e depois disso estaremos ligados.
— Ligados? — me sinto confusa, mas também aflita.
— Ligados. — o homem sorri se aproximando novamente, cravo meus dedos em seus ombros tentando me convencer que eu poderia controlar aquilo.
Ele me puxa para ele e senti um arrepiu quando Michel subiu seu nariz pelo meu pescoço, me xinguei mentalmente quando me peguei aprovando aquela sensação, mas mesmo lutando contra não consegui resistir.
Michel beija minha mandíbula e eu involuntariamente levo minhas mãos a seu pescoço e cabelo, sua mão fez uma trilha pelas minhas costas intensificando os arrepios, era louca a sensação.
Ele continuou espalhando beijos, mas então se afastou.
— O que foi? — pergunto confusa e quase que inebrida pela sensação.
— Eu quero adrenalina, sinto seu coração acelerado, mas não sinto o cheiro dela. — eu rio desacreditada.
— Como assim adrenalina?
— É isso que torna mais gostoso o sangue dos humanos que eu caço. — dá de ombros — É aquela coisa de luta e fuga, mas com você isso não vai funcionar. — parece pensativo.
Mais uma vez ele não mede velocidade e num piscar de olhos Michel cola nossas bocas, tento afasta-lo, mas vejo seu aviso silencioso quando o mesmo morde meu lábio.
O sinto rasgar minimamente e Michel o chupa, ouço ele soltar um gemido contra meus lábios e sua mão puxar meus cabelos.
Eu então retribuo o beijo me sentindo invadida pela sensação, eu certamente me arrependeria depois, mas no depois eu iria pensar depois.
Aliás, nem pensando eu tava direito mais.
O beijo tinha gosto de sangue e de perigo, Michel libertou meus lábios apenas para fazer uma trilha de beijos até meu pescoço novamente.
Desci minhas mãos de seus cabelos para seus ombros e os pressionei quando o senti me lamber, ele então segurou meu rabo de cavalo com um pouco de agressividade e abriu a boca pressionando suas presas sobre a pele lisa do meu pescoço.
— Aah... — gemi com a dor fina e nada agradável cravando as unhas em seus ombros.
A outra mão de Michel segurava minha cintura me mantendo imóvel.
Aos poucos a dor das presas foi substituída por uma sensação de pressão apenas e dormência, sentia como se estrelas explodissem dentro de mim causando um certo incômodo misturado com cócegas.
Porém essa sensação também passou quando me senti tonta e ao abrir os olhos vi tudo embaralhado, nesse mesmo instante Michel parou de sugar e então se afastou milímetros.
Afrouxei meu aperto em seus ombros e o senti folgar sua mão no meu cabelo, ainda próximo ele lambeu a ferida.
Encontrei com seus olhos no minuto seguinte ainda me sentindo tonta, suas pupilas estavam vermelhas como uma maçã.
— Eu sei o que está sentindo e irá passar. — garantiu, mas eu não me senti confortada.
Vi ele desprender a abotoadeira da camisa e puxar a manga até o cotovelo, assisti quando mordeu o próprio pulso e me ofereceu.
Os furos expeliam sangue, bastante.
— Não te fará mal, apenas te ajudará a se recuperar e ofuscará o cheiro do seu sangue. — explicou, mas ainda estava ali o aviso implícito de que se eu negasse eu estaria em maus lençóis.
— Eu não vou ser transformada? — estava realmente preocupada com esse detalhe importantíssimo.
Estava escuro, mas pude sentir que ele revirou os olhos.
— Não, você precisaria estar só com 10% do seu sangue no corpo para ser tranformada pelo meu. — explica impaciente, seu sangue mancha a camisa clara e então hesitante seguro seu braço.
Sob o olhar penetrante dele me aproximei de seu braço, já que era pra tomar eu ia tomar, lambi o rastro do sangue em seu braço e ouvi o suspiro do vampiro, o gosto era fantástico, me afastei para olhá-lo e o vi sorrir, sem separar mais colei meus lábios nos furos e não fui nada delicada.
Posso dizer com toda certeza que em toda a minha vida eu jamais provei algo tão...tão bom.
Não sei quanto chupei, mas quanto mais eu bebia mais eu queria, era um gosto doce e quase nada ferroso.
Lembro-me que após alguns minutos ele me afastou e assim que fez isso eu desmaiei.
O quarto estava escuro como a noite e como a alma dos moradores dessa cidade, foi isso que notei quando me sentei na cama de lençol marrom.
Sentei-me devagar, respirei fundo, e levei a mão até meu pescoço lembrando da noite passada, mas não encontrei vestígios dos caninos de Michel.
Tirei o lençol de cima de mim e me levantei, caminhei até a janela e abri as grossas cortinas fazendo com que o sol invadisse o quarto e eu pudesse contempla-lo melhor.
Grande, chique e ao mesmo tempo gótico, tinha algumas velas acesas e não demorei a ir até elas para as apagar.
O cheiro que elas soltavam estava me enjoando.
Olho para mim e noto estar apenas de calcinha e a blusa que vesti em Vancouver, meu sangue ferve e sinto vontade de enfiar uma estaca no peito de Michel.
Se ele fez o que eu estou achando que ele fez...
Nesse mesmo instante a porta se abre e olho em sua direção, uma mulher esguia, mas definida, entra no quarto, não precisei perguntar para saber o que ela era.
— Quem é você? — questionei cruzando os braços enquanto fechava novamente a porta.
— Me chamo Sara e sou eu que vou te ajudar a sobreviver por aqui. — ela não tem nenhuma expressão facial e isso me incomoda.
Como se tivessem humaninadade para ajudar, penso.
Me assusto quando ela solta uma gargalhada alta e como o flash vem até mim.
Com sua proximidade sou incurralada na parede, ela sobe seus olhos por mim e fixa-os nos meus.
— Huuuu — espalmo minhas mãos na paredes quando sinto o ar sumir dos meus pulmões.
Eu sabia que corria o risco de morrer, mas não sabia que seria tão rápido.
— Olha humana, eu obedeço ordens, mas não pisa na bola não. — diz calmamente enquanto eu agonizo. — Aqui tudo conta pra se estar vivo ou morto, até os murmúrios e pensamentos altos. — por mais alguns segundos seus olhos continuam tão escuros como a mais escura noite e seu rosto assustadoramente assustador.
Quando começo a desfalecer Sara deita a cabeça no ar e sorri.
— Tenho certeza que vamos nos dar muito bem. — e com mais um chiado sugo todo ar que era possível levando automaticamente minhas mãos para meu pescoço.
Curvo-me sobre minhas pernas, mas ainda instável escorrego até estar sentada no chão.
— Está escrito nos seus olhos. — deixo minha cabeça cair para frente enquanto apoio meu corpo sentado com as mãos espalmadas no chão frio.
— Michel está fissurado em você. — seu sussurra mais como uma observação pessoal do que um apontamento, olho pra ela ainda ofegante. — Humaninha, você vai virar a cabeça dele. — cantarola se aproximando de novo.
Sara agacha bem na minha frente e se inclina na minha direção, afasto meu corpo o quanto consigo, mas então sinto a parede atrás de mim.
Ela inspira bem próxima a meu rosto, sinto alguns fios do meu cabelo bagunçado acompanharem o ar que ela puxava para si.
Em uma velocidade anormal ela está em pé novamente e um pouco afastada de mim.
— Seu cheiro é mesmo muito bom — confessa me fazendo ficar em alerta — Mas estou a procura de uma aliada.
Nego uma vez com a cabeça e me forço a levantar de vagar.
— Espera que eu seja ela?
— Tem grande potencial. — concorda observando meus movimentos com um olhar astuto — Mas antes acho melhor você se vestir. — com seu comentário olho automaticamente para baixo.
Droga.
— Você sabe quem me despiu ontem? — coço meu cabelo que ainda estava preso em um rabo de cavalo, mas com alguns fios rebeldes soltos, desconcertada.
— Foi eu, vocês humanos usam umas roupas que podem prender a circulação. — faz careta como se desprezasse nossa falta de consciência — Então eu tirei sua calça e a jaqueta.
Sara é uma figura e tanto, tão bonita e escultural que eu, que nunca tive problemas com minha aparência, estou constrangida.
— Obrigada. — agradeço sincera.
Melhor ela me despindo do que um homem.
Olho pra ela quando a ouço soltar um riso divertido.
— Você precisa parar de pensar alto. — avisa e eu arregalo os olhos, eu fiz de novo? — Vai ser divertido ter uma humana por perto por bastante tempo. — e eu me pego pensando quanto tempo humanos costumam durar por aqui.
Quinze minutos? Uma hora? Um dia? Acho que dois já é muito.
— Não precisa agradecer por isso, venha vou te mostrar o banheiro e o seu closet. — ela mal falou e já estava dentro de um cômodo.
Será que eu me acostumarei com isso?
— Dei um jeito de arrumar umas roupas mais esportivas por causa do seu treino, que aliás começa hoje. — diz quando eu entro no amplo cômodo, ela tem um cabide na mão.
Olho ao redor um pouco sobressaltada, meu closet não era grande assim, mas tinha bastante roupa. O que me choca é o estilo de roupa, eu deveria ter feito a minha malinha antes de vir pra cá.
— Aqui não repitimos as peças. — coloca a peça gótica no lugar e me olha — Se não gostar dessas peças podemos comprar outras, temos lojas de alto escalão em Lórion e também nada impede de irmos a Milão as compras por um dia. — agora sim estou surpresa.
Não sei porque, mas quando pensei sobre esse lugar e pensei sobre os moradores dele, imaginei uma cidade sem vida, completamente monótono e sem graça, mas segundo Sara aqui tem até loja de alto escalão.
— Seus treinos serão todos os dias da manhã até o entardecer, aqui também não existe finais de semana. — ela abre uma gavetas e tudo que eu vejo são pilhas e pilhas de um macacão com o tecido parecendo elástico.
— Você será minha treinadora? — aceito a roupa que ela me entrega.
— Não, eu sou uma oficial da guarda dos Platon's. — explica calmamente, para uma sanguinária ela parecia legal e simpática demais. —Mas fui designada pra ficar de olho em você de agora em diante, ou seja, serei sua segurança. — Vem comigo, vou te mostrar o banheiro.
Eu a sigo em silêncio, terei mesmo que visitar uma dessas lojas que ela falou ou ir ao primeiro plano.
— Faça sua higiene e se troque, estarei de volta em minutos. — ela segura a maçaneta bronze da porta preta. — Levarei você para tomar café e então te apresentarei ao seu treinador.
Eu assinto e ela fecha a porta, mas volta a abri-la segundos depois.
— Ah, hoje te demos um desconto para que pudesse recuperar a vitalidade, mas a partir de amanhã é as seis. — sem esperar por uma resposta ela fecha a porta atrás de si e eu respiro fundo olhando para a roupa que ainda seguro.
Faço minhas necessidades e depois tomo banho, não molhei meu cabelo apenas o ajeitei no rabo de cavalo, sai do box me enrolando na toalha e decidi me trocar no closet, mesmo após me secar tive dificuldade para pôr as roupas que insistiam em grudar em minha pele.
Odeio roupas esportivas.
Guardei o colar de minha mãe na gaveta da penteadeira e me sento para calçar o coturno que era preto e que tinha um acabamento diferente, mais aparentemente resistente e confortável.
Eu me levanto e me encaro em frente ao grande espelho do closet.
— Está pronta? — Sara perguntou surgindo do nada e nem é brincadeira.
— Meu Deus! — arfo com o susto depois de me colocar em pé depressa.
Sara ri e eu fecho a cara.
— Não faça mais isso.
— Eu sinto muito por isso, não foi de propósito.
Eu suspiro e volto a me sentar pra terminar de amarrar o cadarço do coturno, logo depois me ponho em pé e olho pro espelho me contemplando novamente, estranha, eu me sinto estranha, entretanto meu corpo nunca tinha ficado tão bem definido em uma roupa.
Olho pra Sara pelo reflexo e assinto, ela então concorda e me mostra a porta.
— Vamos.
Enquanto caminhávamos pelo quarto o cruzando eu penso que faria isso pela minha mãe, primeiramente por ela.
ᴍᴜɪᴛᴀs ᴄᴏɪsᴀs ᴘʀᴀ ᴀssɪᴍɪʟᴀʀ,
ᴀʟɢᴜᴍᴀs ᴅᴇsᴄᴏʙᴇʀᴛᴀs
ᴇ ᴏᴜᴛʀᴀs ᴍᴀɪs ᴠɪʀãᴏ.
ᴏ ǫᴜᴇ ᴠɪʀá ᴀ sᴇɢᴜɪʀ,
ᴏ ǫᴜᴇ ᴘᴏᴅᴇᴍᴏs ᴇsᴘᴇʀᴀʀ?
ᴠᴏᴛᴇᴍ ᴇ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴇᴍ.
ᴠᴀʟᴇᴜ ɢᴀʟᴇʀᴀ.
ᴍúsɪᴄᴀs ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: ʜᴇᴀᴠᴇɴ - ᴊᴜʟɪᴀ ᴍɪᴄʜᴀᴇʟs & ɪ ᴘᴜᴛ ɪɴ ᴏɴ ᴍᴇ - ᴍᴀᴛᴛ ᴍᴀᴇsᴏɴ
ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇɪs ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ ᴘʀɪᴍᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ.
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