ɴᴏᴠᴀ ʏᴏʀᴋ - ᴘᴀʀᴛᴇ 2
Acordo com uma enorme dor de cabeça, me sento e olho em volta.
Estava na cama, e não havia ninguém mais ali, olhei para a porta da sacada que estava fechada e o que pareciam ser os últimos raios de sol entravam pelo vidro.
Tiro de sobre as pernas o lençol e coloco os pés no chão, mas quando fui me levantar me senti tonta e involuntariamente voltei a me sentar.
Filho da mais desgraçada mãe, ele tentou me matar?
Ele quase me matou.
Olhei para a porta e então em um impulso corro até ela, tento abri-la, mas foi impossível.
Deveria abrir, era pra abrir, mas com certeza isso tinha um dedo do maníaco.
Sinto a raiva e a frustração tomar conta de mim, vou me afastando devagar, corro até as portas de vidro da área aberta e era outra que estava trancada.
Com a respiração descompassado encosto na parede, enquanto olhando pra porta de madeira branca e desejando sumir vou deslizando devagar até encontrar o chão, abraço meus joelhos buscando meios pra fugir dali, daquela situação.
Eu havia achava que poderíamos conviver enfim, havia achado que ele não me machucaria mais por causa da minha transformação.
Não.
Minha maior decepção não era com Michel, porque eu sabia do seu caráter de merda, mas sim comigo.
Quem eu estava querendo enganar?
Prometi salvar Alicie, mas nem a mim mesma eu conseguia salvar.
Olho ao redor sentindo-me claustrofobica, nunca tive problemas com lugares pequenos e fechados, mas esse aqui que não era nada pequeno parecia diminuir mais a cada segundo.
Sinto minha respiração acelerar e o ar falhar, eu precisava fazer algo ou me daria um treco.
Ouço meu celular vibrar e então corro até ele, eu ainda tinha um celular...
"Seu pai e seu irmão estão vindo pra Nova York, não faça nada que me obrigaria drená-los, Valente"
"As sete estarei aí pra irmos jantar com eles, não se atrase e se comporte!"
Leio a mensagem com ódio crescente no meu peito, pego o vaso que tinha na cabeceira e com um grito o jogo na parede.
- MALDITO, CRETINO DESGRAÇADO!!! - profiro com lágrimas nos olhos e dentes cerrados.
Minha vontade era quebrar o quarto todo nele, mas o desgraçado nem aqui estava.
Me sentia formigar, caminho rápido para o banheiro, tirando a roupa pelo caminho, ele iria me pagar por tudo o que estava me fazendo passar.
Me olho no espelho observando cada pedaço de mim, analiso meu pescoço que estava cicatrizado, com um grunhido de raiva soco o mármore caro da pia e em seguida arranco o anel de noivado e o outro.
Eu me sentia com muita raiva
- Você não vai deixar ele pisar em você. - digo a mim mesma - VOCÊ NÃO VAI DEIXAR, HOPE!!! - grito alto e meus olhos se tornam violetas.
Com dificuldade tento controlar minha respiração, me enfio debaixo do chuveiro e me permito chorar, não de tristeza, mas sim de raiva.
Na minha cabeça as imagens do meu sonho retornavam como flashs que eu tentava parar.
Eu sou mais forte que isso, eu sou muito mais forte que isso, sempre fui, eu sou e sempre serei.
Me tornarei pior, ameace a mim, mas não a minha família, irei enfrentar quem for pra mantê-la segura. Irei caçar quem nos caça, irei colocá-los debaixo dos meus pés e reinarei sobre suas cabeças.
Eu sou uma Valente afinal.
Permaneci imóvel em baixo da água corrente e morna até me acalmar, até sentir minha respiração normalizar e só depois lavo meu cabelo e em seguida me ensaboo, me enxaguo e então desligo o chuveiro saindo do box.
Encaro meu reflexo mais uma vez encontrando meus olhos com a coloração normal, com um suspiro asseguro:
- Me pagarão com juros.
Me enrolo na toalha que havia ali e saio logo em seguida, do lado de fora tudo parecia o mesmo, também não me importei se Michel estaria ou não ali.
De frente a mala separo uma lingerie, mas sentia meus pensamentos instáveis, eu estava calma, mas ainda pensante, distante, porém isso não me impediu de sentir um vento gélido quando ele soprou por mim.
Ergo meus olhos e avisto a sacada ainda fechada, que merda significava isso?
Volto minha atenção para a mala me sentindo apreensiva pois agora sentia uma presença, sabia que não era Michel, eu sabia, era uma áurea mais poderosa e menos pesada.
Mesmo com aquela sensação estranha volto a separar as roupas, mas assim que ergo uma calça jogger sinto meu corpo inteiro se arrepiar.
Abaixo a calça devagar, em um segundo meu corpo inteiro estava dormente novamente, porém entre todos os sentimentos que havia em mim o medo não era um deles.
Não espero muito para me virar, e ao fazê-lo encontro dois pares de olhos que me encaravam, seus cabelos loiros balançavam suavemente sob influência de um vento inexistente, e ela levitava.
Amélia estava bem na minha frente, no entanto ela parecia mais um espírito do que uma vampira.
Eu achei engraçado a forma em que se apresentou, parecia cena de filme sobrenatural clichê.
Sorrio debochada dando as costas achando uma grande bobagem tudo aquilo, fala sério.
- Hope... - me chama.
Eu não estava interessada em saber o que raios ela estava fazendo aqui, então ignoro e separo uma blusa cavada, pego a calça e caminho de volta para o banheiro.
Me troco calmamente colocando a parte de cima por dentro da calça com bolsos.
Saio novamente para pegar minha necessaire e esperava que ela tivesse se retirado, porém eu a encontro no mesmo lugar de antes só que agora em sua forma normal.
- Hope, eu sei que você provavelmente não irá querer me escutar, mas mesmo assim eu preciso tentar. - fala calmamente, como se não tivesse pressa e eu não esboço reação. - Michel não é uma boa companhia, ele destruirá você, preciso que acredite em mim e venha comigo. - eu a fito com um sorriso debochado.
Ela me pediu duas coisas impossíveis em menos de cinco minutos, qual é o problema dessas pessoas?
- Ir com você? - pergunto e ela apenas me encara - Espera, eu te conheço? - franzo o cenho.
Por alguns segundos ela se mantém calada e quando tenta falar nenhum som sai de sua boca.
Eu sabia, com isso tento dar as costas, mas ela me impede.
- Hope, eu sinto muito, eu sinto muito por não tê-la procurado antes, mas eu não podia...
- Conta outra. - rio desgostosa. - Quem te impedia, meu pai? - não consigo evitar as más respostas - Esperou vinte cinco anos pra enfim lembrar que eu existia, esperou vinte cinco anos pra ir atrás de mim, eu fiquei vinte cinco anos imersa em hipóteses e mais hipóteses sobre quem ela foi, de como ela era, se eu tinha tias, primas ou primos, de como seria minha família por parte dela. - desabafo finalmente.
- Hop... - eu a interrompo.
- Eu ainda não acabei. - não consigo conter a raiva, por todos esses anos eu não pude deixar de pensar e sentir que fui abandonada por eles depois que conclui que mamãe havia morrido - Uma parte da minha infância e adolescência eu passei com uma carta, era tudo o que eu tinha dela, era só o que eu tinha dela. - sinto as lágrimas nos olhos - E você esperou vinte cinco anos pra vir até mim, pra dizer que sente muito? Guarde seus sentimentos egoístas pra você e vai se ferrar. - estou alterada e isso talvez não seja nada bom.
Amélia não teve reação e manteve a mesma expressão de antes.
- Sabe como foi que eu descobri sobre vocês? - pergunto sem esperar que ela respondesse - Dentro de um carro com um sanguinário que eu nunca nem tinha visto, então não me venha falar que eu preciso confiar e ir com você porque se não se importou em vinte e cinco anos, por que se importaria agora? - permaneço com a voz alterada. - Aliás quem não é digna da minha confiança é você.
Olho pra porta da sacada soltando o ar que eu nem percebi que segurava.
- Você sabia que minha mãe está viva? - pergunto a olhando, seu rosto não muda, mas seus olhos fervem. - Sabia... - murmuro perdendo o fôlego. - Você sabia e não fez nada pra ajudá-la? - tranco os dentes sentindo cada vez mais raiva e indignação. - VOCÊ SABIA, DROGA. - grito indo até o outro vaso do outro lado da cama e jogando nela.
A mulher apenas olhou para o objeto que se estilhaça antes mesmo de chegar perto dela.
Não me deixo abater, não quero papo.
- Eu quero que vá embora, não quero olhar pra sua cara, não quero ouvir a sua voz. - digo agora sem olhá-la.
- Hope... - me chama novamente, mas com um suspiro deixo ela no quarto partindo para o banheiro mais uma vez.
Eu não queria escutar, não queria.
Ela não foi capaz de ajudar nem a irmã, o que iria querer comigo? Suas palavras soam vazias e suas promessas mentirosas assim como as do meu avô à minha mãe anos atrás.
- Não temos nada para conversar, pode voltar de onde veio. - digo a ela que aparece no reflexo do espelho.
Prendo meu cabelo espalhando creme por meu rosto, logo depois o primer e então comecei a me maquiar.
- Não posso deixar que você se case com ele. - fala de novo e reviro os olhos rindo.
- Quem é você pra deixar ou não eu fazer algo? - pergunto com desdém.
Eu sentia raiva, pura e simples raiva.
- Hope, não faça isso. - pede e eu soco o mármore virando-me para ela.
- Dá pra parar de falar meu nome, eu já disse que não temos nada pra conversar, quero você longe daqui, longe de mim. - grunhi.
Ela não se move, não demonstra nenhuma reação, mulher sem graça, se eu fosse ela pelo menos um soco teria me dado.
- Eu quero te mostrar algo. - diz simples e eu nego.
- Não quero ver. - respondo sem hesitar.
- Por favor. Hope... - pede e eu lhe dou as costas, terminando de espalhar a base. - Eu não irei sair daqui se não me deixar mostrar... - eu a interrompo.
- Sem problemas, Michel gostará da sua visita.
- Não, ele não irá gostar. - afirma e eu suspiro.
- Irá embora depois disso? - apoio minhas mãos na bancada da pia e a vejo assentir calma, respiro fundo pensando nos prós e nos contras, engolindo em seco em seguida. - Tudo bem. - me viro para ela.
Ela me encara por alguns segundos antes de falar:
- Nossa avó, nossa mãe e duas de nossas tias foram mortas por se oporem ao que Zenon e Darien estabeleceram - começa - Eu e Aurora éramos muito próximas, mas nos afastamos quando ela resolveu se tornar uma regenerada, meu pai iria matá-la quando descobrisse e eu não queria presenciar. - conta encarando-me. - Permaneci em Lórion, mas ela retornou a Parcoul. - sorriu minimamente - Aurora não seguia ordens, gostava de fazer tudo conforme ela queria e quando ela engravidou... - seus olhos parecem se perder nos meus - Eu não pude fazer nada Hope, meu pai, como ancião, decretou a sentença dela, eu não pude nem me aproximar dela, de você. - explica - Quando eu tentei ajudá-la a fugir de Leopoldo eu quase fui morta.
Encarava ela sem conseguir desviar meus olhos, não tinha o que falar, eu nem conseguia pensar em algo coerente.
Eram muitas informações de uma só vez novamente e ela nem esperou eu digerir tudo quando fechou os olhos e ergueu as mãos, delas começaram a sair uma fumaça translúcida e eu hesitei.
Mas o que era isso?
Aquilo começou a se espalhar e a me envolver, tinha um cheiro um pouco doce, me senti embriagada e ao mesmo tempo temerosa.
Também me senti um pouco sufocada, confesso, mas depois foi como se estivesse nas nuvens, era fresco, me lembrou o dia em que voei com Fred, contive um sorriso e quando voltei a olhá-la vi seus olhos violetas assim como os meus.
- Deus do céu... - murmurei impressionada com a forma em que eles brilhavam feito tinta neon no escuro.
Ao encará-la senti meu corpo formigar por completo, e então como se eu fosse teletransportada não vi mais os olhos da minha tia, nem fumaça, via um cômodo pequeno, não entrava luz solar, mas era um pouco iluminado pelas velas espalhadas por ali.
Não tinha nenhum móvel perto das paredes, mas no centro havia duas pequenas camas japonesas aonde estavam deitados dois meninos semi-nus, em cada lado dos irmãos tinha duas pessoas ajoelhadas.
Minha mãe era uma delas, meu coração batia forte ao reconhecê-la e por alguns minutos não consegui tirar meus olhos dela, todos estavam de olhos fechados enquanto uma mulher preta parecia fazer uma oração.
O casal de joelhos na outra extremidade estavam abraçados e a mulher chorava, foi então que assisti a mulher que tinha turbantes na cabeça abrir os olhos lentamente e senti um arrepio passar por meu corpo.
- O que eles estão fazendo? - pergunto a minha tia - Quem são eles? - estou confusa e assustada.
Era um ritual de sacrifício aquilo?
- Sua mãe e os pais de Jace fizeram um pacto. - a ouço de perto, mas não a vejo - A saúde dos garotos em troca da sua segurança, aquela é Liandra, uma das bruxas mais poderosas do nosso mundo. - explica enquanto eu assisto ela fazer um fino corte na barriga, pouco aparente, da minha mãe e em seguida no dedo de um dos meninos.
Jace.
- Ele foi destinado a você. - eu frazo o cenho.
- Eu devo me casar com ele? - a pergunta soa quase desesperada, consigo ouvir as altas palavras que são lançada pela bruxa.
Lembro-me de uma discussão que tivemos, ele parecia gostar de mim, é por isso?
- Não, suas vidas estão conectadas. - nao me sinto aliviada, isso não parecia ser menos preocupante e sério - Seus batimentos estão conectados, suas respirações estão conectadas, seus sentimentos estão conectados. - explica enquanto meus olhos observam as chamas das velas aumentarem mais. - Menos os pensamentos.
Graças a Deus, pelo menos isso.
- Ele sabe aonde estou agora?
- Somente se você estiver sem o anel e sem estar envolta a magia.
- O que ele é?
- Jace e Jason são o que chamamos de humanos benzidos. - franzo as sobrancelhas. - Humanos com poderes, com saúde eterna, imortais.
- Então não são humanos, não faz sentido chamá-los assim.
- Não tente mudar como as coisas são por não fazer sentido, é assim e ponto. - ouço sua voz séria, mas não a vejo.
Minha visão começa a ficar turva, a imagem começa a mudar.
- O que está acontecendo? - pergunto a ela me sentindo novamente inebriada pelo cheiro bom da fumaça.
- Você verá. - fala no mesmo instante em que me vejo em um corredor também pouco iluminado, a luz estava apagada, mas era dia.
Pessoalzinho que gosta de um ar gótico, né?
Ouvi murmúrios, e em seguida uma voz que fez todo o meu corpo reagir, memórias invadiram minha mente.
Eu olhando pro rosto dela, pro seu sorriso e olhos lacrimejados.
Sem consentimento minhas pernas caminham por aquele lugar como se soubessem de onde vinha a voz cantante, como se conhecessem o ambiente.
Dobrei o corredor encontrando duas portas, no minuto seguinte eu terminava de abrir uma que estava entreaberta.
Meu coração errou as batidas quando eu a vi, estava de costas para mim agora ninando a mim em seu colo, senti lágrimas nos olhos quando meu coração esquentou, era como se eu sentisse o amor dela dentro de mim.
- Porque está me mostrando isso? - limpo o rosto enquanto minha mãe virava-se de frente para nós ainda olhando a bebê e balançando-a carinhosamente.
Eu queria tanto abraçá-la.
- Porque eu não pude impedi-los de pegá-la, não pude impedi-los de machucá-la, mas você pode. - olho pra Amélia quando ela aparece ao meu lado - Mas também pode finalmente destruí-la, e ele quer você para isso.
- Ele quem? - questiono sentindo lágrimas escorrerem de meus olhos, só que essas agora eram de raiva.
Vi quando Amélia ergueu as mãos, olhei pra minha mãe quando a imagem foi ficando nublada, ela aos poucos foi sumindo e então olhei para minha tia.
- Não, eu quero continuar aqui com ela, não me tira daqui... - peço, mas sem escolha sinto a fumaça me envolver.
O cenário muda, agora estávamos em uma sala de estar gigantesca, estilo medieval, ou seja, escura.
Eu não soube dizer se estava de dia ou de noite, no centro havia dois sofás e três corpos assentados nele, ao fundo vi mais um em pé, mas não consegui ver seu rosto.
Assentados identifiquei Zenon, Darien e Leopoldo Lee.
Não ouvi o que conversaram pois logo eles se levantaram e a porta se abriu revelando minha mãe com as mãos amarradas, as vestes com muitas manchas de sujeira e de sangue.
- Pai, por favor, eu lhe suplico... - ouvi sua voz e minha alma se contorce dentro de mim - Perdoe-me - pedia aos prantos.
- Podem levá-la. - Darien diz sem olhá-la.
- Não pai, NÃO. - mamãe grita em desespero e sinto raiva ao presenciar aquilo.
O cenário muda rapidamente pra uma casa grande, eu era conduzida dentro dela por Amélia.
Era tudo muito medieval, escuro e confuso parecia que havíamos voltado a séculos e séculos atrás e isso foi há apenas 25 anos.
Paralisei quando ouvi um grito aterrorizante, seguido de mais um e mais um, olhei para Amélia que tinha os olhos violetas mais fortes e semblante de raiva.
- O que verá agora não é nem o terço do que Aurora passou. - murmura com um tom de voz tão frio que me assustou - Eles só não a mataram porque precisavam e ainda precisam de você. - ouço com atenção enquanto decíamos uma longa escadaria, estava escuro e a única coisa que não me deixava cair era a luminescência dos olhos de Amélia.
Ela era a merda de uma bruxa também?
- Eu não quero ver isso. - digo séria sentindo meu coração aos pulos. - O que eles iriam querer comigo? Até alguns dias atrás eu era uma humana comum.
- Você nunca foi uma humana comum. - as batidas do meu coração estão confusas, eu já não sei mais se batem rápido ou devagar demais - Existe muita coisa que você ainda não sabe sobre você e sobre o que é, pode descobrir se ficar com Michel, mas a sua existência estará em risco, o mundo estará em risco. - se cala quando uma porta é aberta há alguns metros de nós.
Meus olhos se arregalam quando vejo Michel sair dela ao lado de um jovem de cabelos brancos, eles sorriam enquanto suas mãos, rosto e roupas estavam sujos de sangue.
O que...?
- Eles estão a sua espera duas décadas e meia, eles te acharam, não irão parar agora porque se tornou noiva desse traidor. - olho por cima do ombro quando Michel passa por nós, ele se afasta cada vez mais a cada degrau que sobe junto com o platinado - Isso apenas facilitou o plano dos dois.
- O que eu sou? - me viro pra ela com água nos olhos.
- O que eu posso te dizer é que você é uma Valente, dentro de você há metade de nós, você é metade de nós. - ela tem a voz calma, mas fria como iceberg e olhos arrepiantes. - Mas você também é uma Spencer.
- O que eu sou? - pergunto novamente cansada de estar no escuro e não saber nem o que ou quem eu era.
- Hope eu sinto muito, mas não pode ser eu a contar a outra parte da história. - diz simples e então olha por sobre meus ombros.
Viro-me devagar ouvindo correntes, minha mãe implorando pra que não a levassem e xingamentos vindos de um homem.
Pela porta ela passa primeiro, estava com poucas roupas, na verdade apenas uma faixa que cobria os seios e outra que não cobria mais que um palmo das coxas.
Ela estava toda ensanguentada, seu cabelo longo e louro estava sujo de sangue, mas também estava enrolado na mão de quem a puxava.
Leopoldo Lee
Ela nem conseguia caminhar direito, quase se arrastava amparando-se nas paredes, enquanto aquele merda a puxava sem piedade.
- Vejo agora que sofreu pouco antes de morrer seu vampiro de merda, eu deveria ter dilacerado sua carne, arrancado seus olhos, picotado seu... - tentei me aproximar histérica, mas fui impedida pela mão de Amélia que apenas tocou meu ombro.
- Como?
Seus olhos exalavam curiosidade, satisfação contida, mas seu toque me anestesia, falar é difícil.
Quando percebe Amélia se afasta, porém seus olhos permanecem em mim pedindo uma explicação.
- Eu aceitei tudo isso pra descobrir quem a tinha matado, mas acabei descobrindo muitas merdas mais, eu me preparei pra vingar minha mãe, matei Leopoldo Lee com as minhas próprias mãos e agora eu vou salvá-la desses imundos. - digo sem hesitação.
Amélia assente e então a fumaça volta a me envolver, ela fecha os olhos e em menos de segundos estávamos de volta ao banheiro do hotel.
- Eu estou ao seu lado. - seus olhos voltam ao normal - Outrora fui impedida e quase morta, agora eu só paro se eu realmente morrer.
Não confio nela, apesar de tudo o que acabei de ver.
- Somos da mesma linhagem então podemos nos comunicar pelo sangue, Liandra selou isso quando nos conectou. - não sei aonde ela quer chegar, mas não me recuso a ouvir.
Amélia me mostrou muitas coisas importantes hoje, coisas que muda muita coisa, se não tudo.
- Eu não tenho mais tempo, Michel está no elevador, mas quero que saiba que quando isso acabar eu terei o maior prazer em responder todas as suas perguntas e tirar suas dúvidas. - eu sinto um nó na garganta. - Eu e sua mãe sempre amamos você Hope. - me pega de surpresa ao dizer isso, Amélia não se aproxima e de certa forma agradeço por isso. - Se precisar de mim, lembre-se do que falei sobre o sangue.
Não tive tempo de esboçar reação porque ela literalmente sumiu colada a mim.
Permaneci alguns segundos paralisada, mas ao ouvir passos eu me apressei em fechar a porta do banheiro e passar a chave, me sentia em choque e sabia que não conseguiria esconder minha cara de Michel.
Ele não poderia saber que eu sabia, nunca, jamais.
Para que ele queria minha mãe? Porque para matá-la ele precisaria de mim? Na verdade, porque ele queria matá-la?
Volto a fazer a maquiagem absorta em pensamentos, dou alguns tapinhas na bochecha pra voltar pra realidade e tento controlar minhas mãos que tremem.
Eu sabia demais, eu sabia demais...
- Eve? - o ouço me chamar batendo na porta.
- Oi, eu estou saindo, só um minuto. - murmuro tentando manter minha voz calma.
- Eu não tenho um minuto. - resmunga e então a porta se abre num clic baixo.
Reviro os olhos e olho pra ele pelo reflexo.
- O que, não posso mais ter minha privacidade? - pergunto cética - Não posso mais usar o banheiro com a porta fechada? Pensou que eu estava fazendo o que, ligando pra ONU vir me acudir? - viro-me de frente pra ele que estava apoiado no umbral da porta sem expressão no rosto. - Vai a merda. - digo antes de voltar a fechar a porta só que agora na cara dele.
Termino de fazer a maquiagem e respiro fundo enquanto ajeito meu cabelo ao redor do meu rosto para depois colocar os anéis de volta.
Destranco a porta e saio em seguida vendo o vampiro na sacada, com um suspiro volto a minha mala.
Esborrifei perfume, calcei meu salto e coloquei o colar que era da minha mãe e depois os brincos pequenos de ouro.
Penteava meus cabelos com os dedos quando sinto dedos gélidos ao redor do meu pulso.
Olho da minha mão para ele, dele para minha mão e em um movimento nada sutil arranco meu braço de seu aperto moderado.
Ridículo.
Ajunto minhas coisas as organizando dentro da mala, não gosto de bagunça, mas outra coisa que não gosto também é de ser observada.
- Uma foto durará mais, garanto. - sem paciência o encaro.
Ele estava bem ali, com um blazer preto assim como o restante das roupas.
Ele quase me matou hoje, quase me matou várias vezes e agora confirmo que ele pretende, sim, me matar e matar minha mãe também.
Que patético, doente do caramba.
- Sua família está nos esperando. - está calmo e eu maneio minha cabeça a deitando no ar.
- A minha família está me esperando. - corrijo e ele sorri se aproximando.
- Eu sou seu noivo querida, você querendo ou não terá que me apresentar, por isso eles estão nos esperando. - alisa meu rosto e me afasto deixando sua mão no ar.
- Não quero que encoste em mim. - lhe dou as costas.
Ele apenas ri enquanto caminho para sair do quarto, mas para minha infelizmente o elevador era um só e Michel já havia me alcançado.
- Se comporte bem, senão... - eu o corto.
- Eu já sei, rádio. - Michel não diz nada, mas trava a mandíbula irritado.
- Eu terei prazer em te matar quando não precisar mais de você.
- Vamos ver quem mata quem primeiro então. - provoco e seu sorriso some, vejo pela visão periférica.
- Você não seria capaz... - nego com a cabeça o interrompendo.
- O quanto você viveu com a minha família pra saber que pra um Valente tudo é possível? - questiono - Viveu o suficiente pra ver que eu não sou mais uma simples e frágil humaninha, algumas horas atrás seu coração estava na minha mão. - ergo ela a fechando com força, deveria tê-lo matado. - Não duvide de mim Michel e nem fique no meu caminho, porque no final o meu rosto pode ser a última coisa que você verá. - estou próxima a ele, os dentes cerrados e o peito aos pulos.
As portas se abrem e eu não espero muito para sair do cubículo pequeno, passo pela recepcionista que sorri para mim e eu de volta em cumprimento, mas quando meus olhos recaem nas portas de vidro meu sorriso some e paraliso ali mesmo.
- Que merda é essa? - lanço a pergunta retórica encarando angustiada o aglomerado de pessoas do lado de fora.
- São apenas repórteres amor, está com medo? - Michel ironiza enlaçando sua mão na minha. - É que você era uma celebridade e eu não sabia, ficou fora por um mês e agora está de volta com a mão erquerda na minha e com um anel de noivado na outra. - sorri sarcástico. - Vamos lá falar com seus fãs. - me dá um rápido beijo puxando-me em direção a saída.
Sentia tudo dentro de mim revirar, senti nojo do beijo dele e a bile subiu com força.
Caminhamos juntos com seguranças em nosso encalço até as portas que foram abertas por funcionários.
A barulheira já estava armada, muitas perguntas sendo feitas, ao mesmo tempo que flashs eram disparados contras nós e câmeras nos filmavam.
Era tudo o que eu precisava mesmo.
- Doutora, como foram as férias? - eu consegui ouvir perguntarem e sorri com a forma com que me chamaram.
A muito tempo não ouvia um "doutora Valente".
- Esse anel em sua mão é de compromisso?
- Voltou noiva doutora?
Perguntavam sem parar e por um minuto me sinto desnorteada, Michel então circula minha cintura com o braço e olho para ele que sorria grande.
- A doutora Valente, mais conhecida como a defensora da imortalidade voltou essa sexta feira de suas férias nas Ilhas Maldivas. - uma mulher gravava uma reportagem.
Passamos por ela que nos chamou, mas com a mão firme na de Michel não deixei que ele parasse, o que não adiantou muito pois ela nos seguia escadaria abaixo.
- Ela estava hospedada no hotel Drens desde o início da tarde e agora sai de mãos com o empresário Michel Platon, Hope Valente usa um anel que parece ser de compromisso. - dizia e eu me segurava pra não revirar meus olhos. - Estamos tentando alcançá-los pra ver se conseguimos algumas respostas. - disse no exato momento em que um moço moreno quase que pulou na nossa frente, nos obrigando a parar.
- Há quanto tempo estão juntos senhor Platon? - o homem alto e forte pergunta com um gravador na mão, a mulher o alcançou e se posicionou a nossa frente também.
- Boa noite Dra. Valente e Sr. Platon, gostaria que também pudesse nos responder. - sorrio forçado.
Todos os meus sensores de alerta estavam ativos, meus sentidos capturavam muito mais que suas vozes e ações, eu sentia corações, eu os ouvia, as respirações, os cheiros.
Estava ficando descontrolada e ao mesmo tempo estava confusa.
- Há alguns meses. - Michel responde por mim com um sorriso falsamente verdadeiro.
- Aonde se conheceram? - perguntou a mulher dessa vez levando o microfone até sua boca e depois o estendendo para nós de volta.
Eu tentava lidar com tudo aquilo, mas a única coisa que conseguia sentir era a pulsação dos repórteres a minha frente.
- Nos conhecemos em um dos eventos beneficentes que aconteceu em Paris no ano passado. - mente ele, mas como sabia que eu estava lá? - Me apaixonei instantaneamente, mas estava morando na Itália, já Hope aqui na América e por isso nada rolou. - continuou com naturalidade, e naquele momento eu o agradeci.
Mantinha um sorriso sutil no rosto apesar de querer fugir dali o mais rápido possível.
- Mas a alguns meses eu me mudei pra Paradise e nós reencontramos, retornamos a nos falar e a nos encontrar. - me olha com uma falsa ternura e com um sorriso que me dá repulsa. - E aconteceu. - eu concordo sorrindo pra câmera.
Realmente aconteceu, aconteceu muuuuuita coisa.
- Aonde foi o pedido?
Eu rio em desespero.
- Na ilha, foi algo íntimo, somente eu e ele, nós adoramos. - digo sentindo tudo piorar a cada segundo.
- Já tem data pro casamento? - perguntam novamente e dessa vez eu fecho a cara.
- Bem ainda estamos decidindo. - olho pra Michel - Entre 30 de fevereiro ou 32 de dezembro. - digo e meu noivo solta uma gargalhada forçada junto com os repórteres.
- É claro que ela está brincando, ainda não temos uma data, acabamos de ficar noivos, vamos curtir essa fase da nossa vida. - desconversa e eu bufo impaciente assentindo pras pessoas.
- Pretendem ter filhos? - pergunta uma moça e eu sinto vontade de matar todos.
Já chega, né?
Mal sabia eles que eu estava com fome, e provavelmente não era de comida.
- Pretendemos. - responde Michel, e o encaro furiosa.
Ele me olha de relance e então volto a olhar pras câmeras, agora, com meu melhor sorriso pras pessoas que nos assistirão, se isso não for ao vivo pra uma página de fofoca, né?
Oh Deus!!!
Meus olhos caíram no pescoço do homem a minha frente e vi perfeitamente sua artéria, e a pulsação do sangue que passava por ela, arregalei os olhos e olhei pra mulher, mas não foi diferente.
Senti com desespero uma vontade enorme de sair dali antes que fizesse algo da qual com certeza iria me arrepender no futuro.
- Sinto muito pessoal, mas temos um jantar agora e precisamos ir. - digo agarrando o braço de Michel o puxando em direção ao carro, que já nos esperava, com pressa.
Havia dois homens de Michel atrás de nós, um no banco da frente do carro e o que abria a porta.
- É rabugenta assim até com os humanos? - murmurava enquanto eu terminava de entrar, aperto o botão do vidro que dividia os bancos afim de mais privacidade. - Achei que fosse só comig... - eu o interrompo libertando de uma vez a razão do meu desespero.
Pego seu braço sem lhe pedir permissão, subo a manga da sua jaqueta e sem pensar muito mordo seu braço.
Insana, eu estava insana.
Michel ao meu lado não murmurou, não disse uma única palavra, ao contrário disso manteve a boca em um semicírculo surpreso, quando ergui meu tronco encontrei seus olhos que me encaravam sobressaltado e surpresos.
Me afasto devagar, limpo minha boca e então olho pro braço dele, dois pequenos furinhos.
- Maldição. - murmuro tapando a boca com as mãos.
- Você é uma de nós. - ele finalmente sorri.
Encaro seus olhos com armagura.
- Não, eu não sou uma de vocês. - digo firme - Eu me recuso a ser. - afirmo vendo seu sorriso sumir e ele puxar seu braço que já cicatrizava descendo a jaqueta em seguida.
- Eu não vou discutir isso com você, você é minha noiva, será como eu quiser que seja. - rosna e eu nego sentando-me direito.
- Eu sou sua noiva, mas não sou sua propriedade, eu escolho o que eu quero ser e se não estiver bom pra você... - sorrio e dou de ombros - Engula e me atura. - os olhos dele ficam vermelhos e ele me mostra suas presas, sem temer continuo sorrio deixando que os meus se tornassem violetas. - Se quiser lutar, teremos uma luta justa. - ele fecha a boca, escondendo seus caninos.
Michel recuar não foi uma surpresa, até porque ele me queria viva pra ter a mim e a mãe, não era?
Até que ponto saber quem eu sou é bom?
Olho pro anel no dedo, o que me desconectava de Jace, senti vontade arrancá-lo, mas seria declarar guerra contra o vampiro ao meu lado e isso seria precipitado e burro da minha parte.
Suspirei cansada daquilo tudo e encostei a cabeça na janela vendo prédios e mais prédios passarem por meus olhos, de repente Nova York havia perdido a graça.
Demoramos pra chegar no restaurante, e em todo o percurso ficamos calados, eu não ouvia nem a respiração do vampiro, não que eu me importasse.
Achei foi é bom.
Foi muito fácil me atacar quando eu não sabia lutar, não é? Agora quero ver se tem a mesma disposição, otário.
Quando chegamos a porta do carro foi aberta por um dos dele, saí sem hesitar e logo me encontrei com Michel que mais um vez tomou minha mão.
Olhei pra ele nada contente, mas a única coisa que o vampiro fez foi me ignorar.
Depois que tomei de seu sangue tudo parecia mais calmo, minha cabeça funcionava melhor e não estava agoniada como antes.
Me sentia bem, consegui até sorrir de verdade pra alguns repórteres que tiraram fotos nossas, sempre fora assim, com menos pessoas, mas sempre aconteceu.
Principalmente quando eu ia dar entrevistas sobre a evolução da pesquisa, essas fotos com certeza deveriam ser pra revistas de fococas ou algo assim.
Quando os deixamos pra trás meu peito voltou aquecer, a felicidade era tanta em poder encontrá-los de novo, saber notícias de todos, poder abraçá-los.
Procurava meu pai e Kaleb com os olhos enquanto Michel conversava com a recepcionista, ansiosa sentia meu coração bater rápido.
- Sigam-me. - ouço pela primeira vez a voz da mulher e olho pra ela.
Michel me guia enquanto a seguia, passamos por muitas mesas e por todo lugar podia-se ouvir corações, normalmente ritmados, o cheiro de humanos muito bem perfumados.
Apesar de ser estranho ouvir e sentir com nitidez as batidas era muito bom, eu estava em um lugar normal de novo, uma estranha em um lugar normal.
O que me reconfortava em Lórion era o fato de que eles não estavam mortos, os corações batiam, mas eram reduzidas e muito mais lentas que as de um humano.
Era louco, doido e até incrível.
Lembro-me da vez em que deitei-me no peito de Fred, contei as batidas por segundo do meu amigo e foi até engraçado porque quando deu cinco eu quase surtei.
Mutiplicando isso por seis pra descobrir a frequência cardíaca por minuto deu trinta. Em um humano sessenta bpm é considerado baixo, trinta então...
Papai foi o primeiro a nos ver, seu sorriso cresceu do tamanho do mundo, Kaleb olhou na nossa direção quando ele se levantou, levantando-se em seguida.
Sorri de volta e soltei a mão de Michel caminhando na frente, meu pai abriu os braços vindo na minha direção.
Parecia fazer mais de dois séculos que eu não os via.
- Pai. - murmurei ao abraçá-lo.
Seu perfume invadiu minhas narinas e eu me senti em casa, segura, me senti uma criança novamente.
- Minha filha, que saudade. - beija-me a testa.
- Eu também estava. - o abraço novamente.
- Você disse que foi a praia, mas parece mais branca do que quando saiu de Paradise. - implica Kaleb com um sorriso e eu sabia que era verdade.
- Deixa de ser chato, seu ogro. - resmungo o abraçando.
Kaleb me aperta em seus braços e sinto seu cheiro, o cheiro de seu sangue, diferente de todos os humanos ali e diferente do meu pai, mas igual ao de Fred, Sara, Michel.
Me afastei e olhei em seus olhos, ele me encarou, enxerguei a confusão ali, mas então eu assisti e o vi arregalar minimamente seus olhos e então sorri.
- Eu estava com saudade, irmão. - digo verdadeira e ele sorri de canto, voltando a me abraçar.
Senti a mandíbula dele se contrair e então me afastei.
- Como estão Lissa, Tessa e Gustav?
- Bem, Lissa ainda segue com o repouso, mas agora menos rigoroso. - eu assinto feliz soltando as mãos dele que ainda segurava. - Tessa está mais esperta a cada dia e Gutu crescendo. - eu sorrio com saudades.
- E Flora, pai? - pergunto o olhando.
- Bem, muito bem aliás. - sorri grande. - Queria vir conosco, mas pedi pra que ficasse com Lissa e com as crianças. - diz calmo. - Achávamos que íamos perdê-la, Flora estava muito fraca, e precisou de algumas bolsas de sangue. - conta - Graças a elas sua mãe conseguiu se recuperar. - conta e eu sorrio contente.
Não me importava que se referissem a Flora como minha mãe, na verdade era um prazer pra mim chamá-la assim, ela foi tudo o que eu tive durante a minha infância, ela realmente foi uma mãe pra mim e a maior parte do que eu sou hoje, devo a ela e ao amor que apostou em mim ao terminar de me criar.
- Amor? - ouço Michel e lutei pra que meu sorriso não desmanchasse.
Assim como os meus, os olhos do meu irmão e do meu pai foi em direção ao homem.
Eu não me sentia pronta pra apresenta-los e muito menos me sentia a vontade em expor minha família a ele.
- Ah, desculpa meu bem. - estendo uma mão que ele pega e o aproximo. - Pai, Kaleb, esse é Michel... - aponto e ele se aproxima estendendo a mão amigável.
Só que não.
- Mais é claro que eu sei quem é. - papai o cumprimenta com um abraço de lado e dois tapinhas nas costas - É um belo de um empresário, é um enorme prazer conhecê-lo Sr. Platon.
Kaleb, desconfiado, apenas sorri e aperta a mão do vampiro que sorri contido.
- Na verdade, o prazer é todo meu. - fala ele - Eu já ouvi falar muito do senhor pelo mundo. - e eu não duvido.
- Realmente, meu nome é como mel na boca do povo. - meu pai ri junto de Michel enquanto eu e Kaleb sorrimos amarelo.
Só papai parecia não ter sentindo o clima de tensão, vampiros identificam vampiros, certo?
Óbvio, Kaleb era um e tanto ele quanto Michel sabiam um do outro.
- Vamos nos sentar, sim? - digo me sentindo pesada.
- Claro. - papai confirma alegre. - Traga-nos uma champagne. - pede ao garçom que passava.
A conversa entre ele e meu pai continua como se fossem amigos a séculos, enquanto eu e Kabel trocávamos olhares.
Eu tinha tanto pra contar pra ele, e parece que ele também.
- Me conte minha filha, como você conheceu o Sr. Platon? - pergunta meu pai nos servindo da bebida cara e refinada.
- Ah. - murmuro olhando rapidamente de Michel ao meu lado pra meu irmão. - Em um evento beneficente em Paris. - decido seguir com a mesma desculpa bem estruturada do vampiro.
Eu me lembro como se fosse ontem de quando fui, muitas memórias boas o que estraga é que fui com Benjamin.
- Mas eu estava com Ben. - digo e sinto os olhos de Michel em mim. - Não mantivemos contanto também por causa da distância, mas a algum tempo atrás ele se mudou para cá e nos reencontramos. - olho pro homem ao meu lado e sorrio minimamente. - Decidimos nos permitir e então marcamos uma viagem juntos. - Kaleb franze o cenho.
Eu sabia que ele seria mais difícil de convencer, é cabeça dura e desconfiado assim como eu.
- Esse anel na sua mão Hop... - observa ele com as sobrancelhas erguidas.
- Sim. - ergo a mão a colocando em evidência. - Ele me pediu em casamento. - finjo felicidade quando por dentro eu me sentia remoer.
- Pediu? - murmura Kaleb enquanto meu pai sorria contente.
- Oh meu Deus, minha querida. - salta da cadeira esbanjando mais alegria que eu e vem me abraçar.
Levanto-me para receber seu abraço genuíno enquanto meu irmão ainda permaneceu sentando com um carranca confusa, o cenho franzido denunciava que minha mentira não o havia convencido em nada.
Meu pai também cumprimenta Michel, desejando as boas vindas à família.
Nesse momento eu me senti a pior ser humana e a pior vampira do mundo, não estava mentindo ao dizer que iria me casar, mas eu estava prestes a me casar com um ser que poria em risco a vida de todos eles.
Kaleb me abraçou também desejando, forçadamente, felicidades e cumprimentou Michel, não dizendo nada além de:
"Parabéns, você teve sorte, depois de Benjamin ela tinha virado um trem mais duro que pedra"
Tentei voltar ao bom humor, mas o máximo que consegui foi fingir, meu pai estava feliz, enquanto Kaleb parecia ter chupado limão.
A quase todo instante eu o pegava me observando, sorria pra ele e voltava a conversar, eu sabia que não seria fácil, mas eu tinha que convencê-lo de que estava tudo bem.
Fizemos os pedidos, me surpreendi ao ver Michel comendo, sanguinários não comem e por isso conclui que Kaleb não era um.
Conversamos bastante, meu pai me contou tudo o que estava acontecendo e o que tinha acontecido na cidade, em menos de uma hora eu já estava por dentro de tudo.
O vampiro se mostrou muito comunicativo e sociável, mal sabiam eles o ogro que esse cara era.
Estávamos no fim da segunda garrafa de champagne e eu sentia que o tempo com eles estava acabando.
- Vocês vão voltar pra Paradise? - pergunta meu velho e eu olho pra Michel.
- Não senhor, eu ainda tenho algumas coisas pra resolver na cidade e Hope quis permanecer. - diz e eu concordo.
- Sim, nunca estive em Nova York, queria curtir um pouco da cidade. - confirmo e meu pai assente.
Sempre quis vir aqui e eu sempre comentei sobre isso, então não seria algo difícil de acreditar.
- Estamos muito felizes por vocês, não é filho? - cutuca meu irmão que me encarava analítico.
- Hum? - murmura declarando estar longe. - Ah. - olha meu pai - Claro, claro, Hope sempre quis casar.. - concorda olhando de volta pra mim.
Ouço o riso baixo de Michel e olho pra ele.
- Ela me disse isso. - ele fala olhando pra mim e então, sem que eu esperasse, sela nossos lábios.
Me afasto gentilmente não querendo fazer parecer estranho e nem constranger minha família.
Após sorrir para ele desço meus olhos para o prato e volto a revirar a comida sem um pingo de fome.
- Vocês... - Keleb aponta pra nós com a faca - Já tem a data?
Eu sorrio simples e nego, bebendo mais um gole da minha bebida.
- Ainda não, estamos resolvendo. - olho pra Michel que assente.
- Temos que conciliar com meu trabalho e com o de Hope, está sendo uma missão impossível por enquanto. - diz e eu concordo.
- E acabamos de noivar, não acho que precisamos necessariamente definir a data rápido assim. - digo como se fosse algo banal.
- Verdade, Kaleb e Lissa noivaram e se casaram seis anos depois. - apoia meu pai e eu quase rio da careta que meu irmão faz.
- Não me mete nessa história. - diz claramente irritado e meu pai sobe as sobrancelhas sem entender seu mal humor.
- Não ligue pra ele, os dias tem sido estressantes no trabalho. - meu pai diz e Michel faz uma careta engraçada demonstrando ser o que não era. - O que te fez ir pra Paradise?
- Não se preocupe, senhor Spencer. - sorri calmo - Mas em relação a minha volta, o senhor deve conhecer meu pai. - ele diz juntando aos mãos. - Platon. - diz e papai assente assim como Kaleb.
- O cara do nome forte e fama obscura, claro. - meu irmão confirma olhando na minha direção com olhos incisivos.
É, meu noivado não havia descido de jeito nenhum.
- Conhecemos. - afirma meu pai após dar sua famosa pigarreada.
- Pois então, ele me mandou para lá para eu pegar experiência antes dele se aposentar. - explica com um sorriso. - Ontem foi a minha festa de posse sobre todas as empresas de meu pai, bom, sou o único herdeiro.
Sinto vontade de revirar os olhos, patético.
Michel é bonito, mas o que tem de beleza tem de maldade, pensando bem adoraria ser uma personagem de um daqueles livros de mafia que a mocinha era obrigada a casar com o herdeiro do chefe para formar alianças e seguir as ordens da famiglia, e então após algum tempo ela descobre que o cara tem um lado bom e no final os dois se apaixonam.
Porém, eu sabia que isso nunca seria possível, pois Michel é todo podre e eu não sou uma mocinha.
- Meus parabéns filho, que sua presidência seja tão próspera quanto a do seu pai foi. - diz meu pai e Michel sorri.
Enxerguei maldade ali, e não gostei daquilo, ele até poderia ser mal, mas não pensaria o mal pra minha família na minha frente achando que eu nada faria, descontente e irritada abaixei uma das mãos e a posicionei na perna dele e apertei.
Michel me olhou e murchou o sorriso gradativamente, abaixando os olhos raivosos pro prato.
Gostava dele assim, obediente.
Volto a olhar pro meu pai que comia e minha atenção é roubada pra Kaleb que me encarava.
Eu já estava ficando irritada com aquilo, eu sabia que ele estava desconfiado e preocupado, mas eu sabia me virar e afinal de contas eu era a irmã mais velha.
- Vamos pedir a sobremesa? - pergunto percebendo o silêncio que recaira sobre nós.
sᴇᴍ ᴍᴜɪᴛᴏ ᴏ ǫᴜᴇ ғᴀʟᴀʀ ʜᴜᴍᴀɴᴏs, ᴇsᴘᴇʀᴏ ǫᴜᴇ ᴇsᴛᴇᴊᴀᴍ ᴄᴜʀᴛɪɴᴅᴏ.
ᴀᴄʜᴏ ǫᴜᴇ ᴛᴇᴍ ᴘᴀʟᴀᴠʀᴀs ᴀᴛé ᴅᴇᴍᴀɪs, 7432 ᴘᴀʟᴀᴠʀᴀs ᴛɪʀᴀɴᴅᴏ ᴀs ᴅᴏs ᴀᴠɪsᴏs ᴀǫᴜɪ.
ᴇɴᴛãᴏ ᴀᴛé ᴏ ᴘʀóxɪᴍᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ. ᴅᴇɪxᴇᴍ sᴜᴀ ᴇsᴛʀᴇʟᴀ ᴇ ᴄᴏᴍᴇɴᴛÁʀɪᴏ.
ᴠᴀʟᴇᴜᴜᴜ.
ᴍúsɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: ᴘʀɪsᴏɴᴇʀ - ʀᴀᴘʜᴀᴇʟ ʟᴀᴋᴇ
ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇʟ ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ ᴘʀɪᴍᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ.
ᴇssᴀ é ᴀ ᴄᴏʀ ᴅᴏs ᴏʟʜᴏs ᴅᴀ ɴᴏssᴀ ᴍᴇsᴛɪçᴀ.
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