Olhos Abertos
— Antes de começarmos, tenho um anúncio.
Dan organizou o time na arquibancada, de alguma forma ele parecia tenso. Estava de braços cruzados e o rosto fechado, geralmente o treinador teria começado o dia com um sorriso sádico e anunciando todas as torturas para o treino.
— Parece sério, já que você está todo travado.
Meu irmão respirou fundo e abaixou a cabeça — É grande, de certa forma, mas não devemos nos sentir intimidados.
— Eu não sei o quanto você está falando a verdade ou atuando — Sora comentou.
— Dan é um péssimo ator — respondi —, parece ser algo sério.
— Não envolvendo pesos de perna, aceito qualquer coisa.
O treinador bateu uma palma para chamar a atenção novamente e então soltou os ombros — Parece que o trabalho que Makoto fez com as matérias chamou a atenção da comissão juvenil nacional. A escola vai receber a visita de alguns representantes, eles devem acompanhar o treino por um período inteiro.
— Parece bom, porque está preocupado? — questionou Emi.
— A visita é hoje — respondeu o treinador e então ele olhou para o relógio. — Inclusive, diretor e Hibiki devem estar com eles nesse instante.
— Precisava de tudo isso? É só mais um treino, vamos fazer o de sempre, a diferença é que tem mais gente olhando — disse —, diria que você está com mais medo que nós. Preocupado em ser reportado por maus tratos e perder o emprego?
— Para a sua informação capitã, Hibiki revisa todos os treinos, não é como se eu fizesse tudo sozinho.
— Não! — Kei levantou as mãos para cima dramaticamente, então as fechando em punho e batendo de leve degrau. — Hibiki-sensei, confiei em você para ser nossa salvação, nosso supervisor foi corrompido pelas forças do mal!
— Supera — Hana bateu em suas costas fazendo o som estalado ecoar pelo ginásio feminino. Fiz uma careta sentindo a dor, ainda que o alvo fosse Keiko.
— Vocês que participaram do nacional talvez já tenham visto alguns deles. De restante seguiremos com o que normalmente já fazemos. Podem começar a aquecer.
As garotas se levantaram, e Dan me puxou de canto.
— Você está bem? Como está sua condição hoje?
— Igual a de ontem — rebati —, porque está tão... Aflito. Geralmente não é assim, uma visita não te deixaria menos confiante.
Nossa conversa estava sendo feita em tons baixos, distante do restante do time, então vi nos olhos do meu irmãos suas barreiras se abaixando. Como treinador tem suas obrigações e deveres, mas também tem um humano por trás.
— É uma chance — confessou —, não é a que te roubaram, mas é uma nova chance.
Coloquei a mão em seu braço — Oportunidade chega para aqueles que continuam, se não for aqui, vão me ver me quadra ganhando o nacional, não se preocupe com isso treinador.
— Quando você cresceu tanto? — um riso escapou da sua boca.
Sorri e me afastei — Provavelmente enquanto você estava se pegando com a treinadora Atena.
— [Nome]! — gritou em retorno, mas nesse ponto eu já estava longe.
É mentira dizer que, hoje, a possibilidade de continuar profissionalmente não é uma vontade. Contudo, não é a maior delas. Se eu treinar pensando em ser vista, ou tendo em mente essa fama, não vou para frente. Minha competição é comigo, ser a cada dia alguém melhor que o anterior, e então passar por cima de tudo que vier. Com a mente forte, corpo preparado e espírito vivo.
Depois de algum tempo, Dan voltou a ser quem ele geralmente era, o tirano treinador Esparta.
— Uma boa defesa começa com posicionamento, posição de expectativa não é só um nome bonito. É o começo de um bom passe, joelhos flexionados e braços soltos.
Disse pegando uma bola de Chie e treinando na recepção. Foi mais ou menos nesse ponto que percebi as figuras aparecendo pelo canto do olho, mas seguindo o que foi dito mais cedo, a maioria de nós não ligou.
Saque e defesa era o tema dessa semana de treino, então os treinadores montaram um esquema especial pensando nesses dois atributos. Revezando entre o físico, e a mentalidade por trás dos ataques.
— O jogo acontece rapidamente, no meio de jogadas caóticas não tem espaço para pensamentos complicados. As reações precisam ser intuitivas e rápidas, o corpo precisa se mover em direção da bola antes de registrar o que você está fazendo. Apenas vá. — Chie explicou o esquema, enquanto Dan faria um corte para recepção, logo depois Chie jogava uma bola num lugar aleatório da quadra para ser salva.
— Não pensem se tem alguém para dar continuidade, apenas cheguem na bola — veio mais um direcionamento.
Me preparei para fazer a recepção, também tinha uma cesta a qual devíamos acertar no meio no processo, mas antes de sequer ela fazer o caminho dela Chie já fazia sua jogada esperando uma reação imediata. Na primeira me atrasei na reação e acabei não chegando na bola, mas nas próximas rodadas o exercício foi executado com perfeição.
Quando fizemos a primeira pausa, pensei que os visitantes seriam apresentados, porém, a sensação que eles me passaram foi de querer ver o treino na íntegra sem influenciar.
— Vocês podem pensar que o saque é o primeiro movimento da jogada, quando, na verdade, é a primeira oportunidade de pontuar. E se não for o objetivo primário, é quem começa a bagunçar o time adversário. A superfície de contato da é fundamental, por isso batemos a bola no chão antes do saque, para ajeitar a mão nessa superfície.
As bolas voavam de um lado para o outro da quadra, enquanto isso ambos treinadores passavam andando entre as jogadoras com dicas.
— Saque viagem é poderoso, mas tem outras maneiras de fazer isso, um saque na altura da faixa da rede é rápido e faz o time adversário também se misturar. Mantenham os olhos no centro da bola, se ela fica desviando é porque o movimento de jogar está torto, tentem manter ele o mais reto possível. — Dan parou ao lado de Hana — Seu guia é a linha do ombro do braço que vai acertar, puxe o braço antes do saque como se estivesse carregando o ataque.
Para mim o foco é a força, tanto para ataques quando saques, portanto tenho que criar uma memória muscular do movimento. Para cortadas, quadril, ombros e então o braço, começando sempre com o movimento aberto. Quando num saque o movimento é mais baseado no cotovelo e no pulso. No meu exercício tinha um quadrado de fita logo depois da linha, o qual eu devia acertar como movimento de jogar a bola. Meu saque com a mão esquerda tinha sua magia, mas não era tão forte quanto o da mão regente.
— Está errando o tempo do pulo — Chie me disse — ao invés de soltar a bola treine pegar ela no ar como um movimento de pinça. Mão direita na frente, ombro aberto e tentativa de ataque.
Girei o pescoço — Mais fácil falar do que fazer.
— Por isso se chama treino — bateu no meu ombro. — Mais uma vez.
O treino continuou tranquilamente, como o de costume, e enquanto quando Dan ele por finalizado. Finalmente recebemos uma palavra dos engravatados.
— Aquele é o técnico da seleção juvenil — Sora disse baixo apontando para alguém na ponta. — Estava no acampamento, se chama Zayasu.
Dei um resmungo em concordância e tomei o meu lugar na frente do time. O diretor se aproximou batendo palmas.
— Nosso time feminino, que alegria ver que estão aproveitando o novo ginásio ao máximo. Sob o comando do treinador Dan e a assistente técnica Chie, tenho certeza que veremos estrelas nascerem. — Um bom falador como sempre.
— Já estamos vendo — o tal técnico disse —, já reconheci alguns rostos por aqui.
Sora e aquelas que participaram do acampamento se curvaram levemente em reconhecimento.
— Quando li as matérias, realmente me perguntei o que poderia ter levado o time a ter tais resultados em pouco tempo de trabalho. Mas vendo ao vivo, consegui perceber a base sólida que construíram por aqui. Temos alguns projetos similares nascendo em algumas universidades, e começar no colegial pode trazer novas perspectivas. — Zayasu continuou falando. — Gostaria de ter uma conversa mais pontual com os treinadores, mas, além disso, se me permite fazer um convite, senhor diretor, professor Hibiki.
— Estou participando de um estudo na Nittaidai e adoraria ver uma partida acontecendo.
Nittaidai, abreviação para Universidade Japonesa de Ciências do Esporte, é uma das maiores instituições de ensino. Tida como uma das mais competitivas, tanto entre os esportes quando para entrar.
— É uma honra — Dan respondeu —, podemos com certeza arrumar uma data para um amistoso.
— Perfeito — o técnico sorriu. E então abaixou a cabeça levantando os olhos para mim, minhas mãos estavam cruzadas atrás das costas, instintivamente apertei meu pulso. Travando o rosto para não demonstrar reações.
— Estou ansioso para ver o que podem mostrar para mim em jogo. Já que só o treino já foi divertido.
Apesar da frase ter sido dita para o grupo, não foi o que senti. O que apareceu na minha cabeça foi uma provocação, amarrada com toda a fama que Makoto fez em cima de mim. Como que ele estivesse esperando uma prova de que eu realmente merecia todas aquelas palavras.
— Capitã — o diretor, que de acordo com Sora é meu maior fã, chamou. — Se importa em dar algumas palavras? Seus discursos criam chamas no coração dos alunos.
— O diretor me dá mais créditos do que realmente mereço — respondi com um sorriso. — Agradeço pelo interesse na equipe. O que o treinador viu, tanto com as participantes do acampamento nacional, quando no treino hoje, são os frutos de habilidades forjadas. Espero que continue observando a Fukurodani daqui para frente, para ver qual é nosso vôlei e que não nos chamam de espartanas, à toa.
— Diretor tem razão, sabe mesmo como usar as palavras. Nesse caso, capitã [Nome]...
O técnico Zayasu deu uma longa pausa — Vou deixar meus olhos bem abertos.
N/A: Vai que é sua [Nome]!!
Teremos um time-skip usando esse amistoso de desculpa, pra ter o encontro entre Fukurodani e Karasuno. Tudo alinhado, corvinhos mais próximos do que nunca. E capitão Coruja logo está de volta.
Obrigada por ler até aqui!!
Até mais, Xx!!
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