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Começo do Fim



O teto do meu quarto parecia mais interessante do que realmente era, a bola de vôlei que tinha nas mãos era jogada para cima e voltava na mesma direção silenciosamente. Parecia que aquele movimento simples e repetitivo podia livrar momentaneamente minha mente de todos os pensamentos confusos.

Num instante parecia estarmos caminhando para o topo do mundo, apenas para cair em escuridão logo em seguida.

Segurei a bola de vôlei apoiando ela na minha testa por alguns instantes, mantendo os olhos fechados. Depois de semanas de sol, o time feminino de vôlei foi derrubado por uma tempestade inesperada.

Começou com Misaki avisando que não iria mais participar dos jogos oficiais.

Foi depois de um treino, após ter garantido a vaga para o nacional intercolegial, que ela pediu para o time titular ficar em quadra para ouvir suas palavras.

Não podia dizer estar completamente surpresa, nos treinos a levantadora agia como sempre agiu. Inteligente, com um olhar preciso para ações, mas na hora de ir para um ginásio, o nervosismo tomava conta, mesmo sem estar jogando tinha os olhos aditados e olhava mais para a arquibancada do que para o jogo.

Emi foi quem mais sofreu com a decisão, já que estavam juntas bem antes do time nascer. Depois de uma longa conversa, Misa explicou que não quer sair do clube, que desejava continuar treinando, porém, perdeu a confiança para pisar numa quadra e ser observada por uma quantidade enorme de pessoas.

Em segredo, confiei meus pensamentos a Sora, de que essa decisão certamente veio de alguma bobagem que os pais dela disseram. Como um time nos resta apenas aceitar sua decisão e continuar treinando, no dia que ela estiver confortável o suficiente para voltar iremos a receber com os braços abertos.

Me sentei na cama olhando as malas de viagem arrumadas no chão do quarto, aquele foi apenas o começo.

Depois do primeiro jogo no intercolegial nacional, enquanto estávamos no alojamento da cidade sede do torneio. Veio a grande notícia que tirou o time do eixo.

O pai de Dan, que morava com a esposa e o filho na Inglaterra, sofreu um acidente. Nesse dia, ambos adultos faleceram e o meio-irmão dele Thomas ficou ferido. Sem ter familiares por perto, Dan teve que viajar a pressas para o exterior para cuidar das questões legais envolvendo o funeral.

Chie assumiu como treinadora interina, mas não foi o suficiente. Caímos no mesmo lugar do ano passado, permanecendo entre os oito melhores do país.

— Parece até uma maldição — murmurei para minhas paredes, levantando em seguida e soltando a bola na cama.

— Que bom que está de pé — meu pai apareceu na porta do quarto — Sora-chan veio te buscar.

Respirei fundo e abaixei para pegar uma das bolsas — Até que ela é mais pontual do que imaginava.

— Chie é uma boa garota, só que vamos nos sentir mais seguros em saber que está com uma amiga — comentou pegando a outra bolsa.

— Não precisa se explicar — dei uma última olhada no quarto para garantir que não estava me esquecendo de nada — acho que seria estranho se eu ficasse com Chie no apartamento de Dan, ou ela aqui. É melhor assim.

Quando desci as escadas da nossa casa, Sora estava na sala junto do pai. A presença dos dois preenchia o cômodo de uma maneira extraordinária.

— Sr. Matsumura obrigada por me abrigar — o cumprimentei.

Já havia o visto algumas vezes, mas não falhava em me impressionar saber que o homem era bem mais alto que Sora. Ele fora o principal responsável por inserir as gêmeas no basquete, já que é um ex-atleta e hoje trabalha como comentarista de jogos da liga profissional.

— Não se preocupe [Nome] — ele bagunçou os cabelos de Sora que se manteve de boca fechada —, qualquer amiga das minhas garotas são bem-vindas. Vai ser bom ver essa aqui sorrindo um pouco.

— Vamos organizar aquele jantar quando voltarmos Joji — meu pai apertou sua mão agradecendo.

— Só escolher o dia, Sora me disse que vai viajar ainda hoje para a Inglaterra — apontou.

— Sim, vou para o aeroporto logo em seguida. Minha esposa viajou junto de Daniel, vou levar os documentos que faltaram e mais roupas.

Joji puxou a manga do casaco para ver o relógio — Devemos ir então, não queremos que perca seu voo.

Saímos da casa, as malas foram colocadas no carro e eu me despedi do meu pai com a promessa de avisar caso acontecesse qualquer coisa. Dei um último aceno pela janela e parti com a família Matsumura logo em seguida.

Sora teria que me aguentar na casa dela por duas semanas inteiras.

Minha amiga se virou do banco do passageiro para poder me olhar — Como você está com tudo isso?

— É uma boa pergunta — respondi — menos decepcionada do que achei que ficaria, mas ainda confusa. Parece que não é real.

Sora fez um bico e se virou para frente cruzando os braços — Entendo o que quer dizer, só que não é como se as coisas alguma vez na nossa história fossem fáceis.

— Nisso concordo com você.

Joji resmungou apoiando a conversa — Se me permitem comentar, chegaram no mesmo lugar do torneio passado. O que significa que se mantiveram no nível, apesar de ter mais problemas pelo caminho. Tenho certeza que com todas as engrenagens entrosadas, vão ganhar o torneio de primavera.

— Até que faz sentido velho — Sora concordou —, quero dizer. Sem uma jogadora fundamental e sem o nosso técnico chegamos ao mesmo lugar. Com o time completo a única lógica é chegar mais longe.

— Está falando como uma vice-capitã — comentei sorrindo e desviando o olhar para a janela.

— Aprendi uma coisa ou outra com uma certa idiota do vôlei — rebateu. — Ah, e mais uma coisa, o que seu pai quis dizer com documentos?

— Tom não tem família com quem ficar na Inglaterra, Dan e minhã mãe estão trabalhando para um deles virar o guardião legal dele até atingir a maioridade — expliquei. Pelo menos esse é o plano original, e honestamente eu não sei se existe um segundo.

— Quer dizer que você vai ganhar um irmão?

— Praticamente isso.

Sora estava de boca aberta sem realmente ter o que comentar — Que reviravolta — disse por fim.

— Não é como tivesse muito para fazer — respondi —, lutar contra a situação não vai mudar muita coisa. Só precisamos respirar fundo e começar de novo.

— Diz sobre a sua família ou o time?

— Os dois.












N/A: Sim, esse corte seco na história foi proposital hahaha. Pra geral ficar 'WHAT'

Entramos na segunda parte, com esse capítulo de transição, agora que o fogo vai pegar.

Os Corvos estão chegando! Só torcer pra [Nome] sobreviver no fim dessas duas semanas ;)

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!


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