2 - Sonhos Part 1 - Xavier (Série Wandinha) Cute
Essa imagine não tem hot
Não existia lugar melhor para mim que a Escola Nunca Mais, um lugar onde eu podia ser a esquisita tímida que não consegue fazer amigos. Bem, eu não era tímida de verdade, só aprendi a ficar longe das pessoas para o bem delas.
Essa era minha esperança ao passar por Nunca Mais. E eu teria conseguido, se não tivesse conhecido ele. Xavuer Thorpe.
A primeira vez que o vi eu estava subindo para a torre alta que ficava meu dormitório, o único quarto não compartilhado de toda a escola, a escada que dava para ele era completamente escura além de muito estreita. Era assustador.
- Oi, novata.
- Ah, oi - me limitei a isso, pensando que ele ia apenas passar por mim.
- Está com problemas?
Olhei para ele pela primeira vez e se eu já estava sem palavras antes, depois de ver seu rosto quase fiz voto de silêncio.
- Você está bem? - ele me olhou com atenção tentando decifrar alguma coisa.
- Eu estou sim.
- É um pouco assustador, não acha? - ele apontou para a porta no alto da escada.
- Eu vou me acostumar.
- São suas malas? Eu posso te ajudar - não se importou em se abaixar e segurar duas malas pesadas pelas alças e subiu na frente. Não parecia achar tão assustador.
Subi atrás dele mantendo meus passos lentos e cuidadosos. Ele colocou as malas no centro e deu uma boa olhada em volta, parei ainda na porta e fiz o mesmo.
O quarto não era tão ruim por dentro, havia apenas uma cama, uma escrivaninha com cadeira e um armário, mas estava impecavelmente limpo.
- A janela é bonita, não acha?
Finalmente tive coragem de entrar, a janela era alta e com o topo arredondado, cheio de ladrilhos coloridos em vidro.
- É bonita sim.
- O sol bate aqui pela manhã, deve ficar bem bonito ao acordar. Talvez melhore o seu humor. A propósito, sou Xavier.
Ele estendeu a mão e a segurei com firmeza.
- Sn.
- Você não é de falar muito.
Bela observação, por dentro eu estava revirando os olhos. O que me incomodava não era ele ter feito uma colocação óbvia, mas perceber logo de cara que meu humor precisava ser melhorado.
- Eu não tenho muito costume de conversar.
- Entendo. Lá fora deve ser assustador para pessoas como nós, talvez aqui você se solte mais.
Xavier havia encostado na janela e ao terminar sua frase passou a mão pelo cabelo , o colocando para trás, desejei que fosse eu a mexer com as mechas dele, esfregar entre os dedos enquanto tomamos banho de sol, sua cabeça apoiada no meu colo.
Coisa que muitos adolescentes na minha antiga escola faziam.
- Acho que eles têm mais medo da gente que a gente tem deles - eu sorri pela primeira vez.
- O que você faz?
- Como assim o que eu faço?
Ele deu de ombros.
- Aqui nós temos sereias, lobisomens, vampiros, gárgulas. E você, o que é?
- Ocupada.
Fechei a cara e cruzei os braços. O momento relax havia passado, eu não estava pronta para me mostrar tão cedo.
Xavier saiu do quarto me deixando sozinha, era mais seguro assim.
Nos dias que se seguiram, Xavier me olhava de longe, mas se aproximava ao menor sinal de abertura que eu dava, mesmo de forma inconsciente.
Nunca Mais tinha algumas matérias obrigatórias estranhas, uma delas era a esgrima, pelo menos não tinha muito contato, eu teria fugido se soubesse o que iria acontecer.
Abaixei a máscara tentando esconder o rosto ao máximo, apertando bem o florete enquanto entrava na sala, no canto, esperando não ser vista, mas de novo, Xavier.
- Sn, vai ser minha parceira - ele anunciou com certeza, então cobriu o rosto e entrou em posição.
Me aproximei devagar, ele não sabia o que estava pedindo.
- Sabe como fazer?
- Sei, sim.
Apontei o florete, a adrenalina começou a correr pelas minhas veias aos montes, eu não devia me deixar levar. Mas quando começamos a lutar, passando as espadas para frente e para trás, entre nossos corpos, eu me senti livre. Habilidade e velocidade eram minhas características mais importantes. Xavier era bom, isso eu admito, embora eu fosse melhor.
Pela primeira vez em muito tempo eu estava me divertindo. Ele já tinha me acertado duas vezes e eu o tinha acertado duas vezes, o próximo ponto seria o da vitória para qualquer um.
- Com medo? - sua provocação me deu água na boca e muito mais garra.
Avancei dois passos e estiquei o braço, mais agressivo do que pretendia, o que fez meu pé torcer, caí sozinha e bati com a cabeça no chão.
Tudo ficou escuro e calmo por um tempo, então percebi que havia desmaiado e como sempre, comecei a sonhar. Não um sonho feliz, eles nunca eram sobre borboletas e fadas.
Ouvi Xavier chamando meu nome, sua voz veio misturada a um rugido, eu estava em uma floresta densa e sendo perseguida por alguma criatura, um grande felino negro e peludo, diferente de tudo o que já tinha visto.
Por mais que eu corresse entre as árvores, o felino sempre estava perto, eu já estava cansada, com medo e sabia o que estava acontecendo fora do meu pesadelo.
Enquanto corria, senti um espinho perfurar meu dedo indicador e acordei com um susto, pior que dormir era abrir os olhos e ver o rosto das pessoas a minha volta, os vidros da janela estourados, alunos machucados, marcas negras como carvão nas paredes brancas, garras de um gato gigantesco.
- Você está bem?
Só então percebi Xavier agachado do meu lado, segurando um brinco na mão. Não consegui responder, apenas me levantei e corri para o meu quarto, enfiando meu rosto no travesseiro, decidi que nunca mais ia sair dali.
Essa decisão durou apenas dois dias, no terceiro, fui informada que seria expulsa se não assistisse as aulas e apesar de ser exatamente isso que eu queria, não podia decepcionar minha mãe outra vez.
Para minha sorte eu ainda teria uma manhã de folga, isso porque a professora Thornhill decidiu que era uma boa ideia levarmos diferentes insetos para avaliar a alimentação e as preferencias de suas plantas carnívoras.
O melhor lugar para isso era a floresta, além de vazia seria mais fácil encontrar bichos estranhos, logo eu estaria no quarto.
Me sentei em um tronco e tirei uma pedra grande da frente, como eu esperava estava cheia de larvas e insetos rastejantes. Me perdi um por um momento, nem sei em que estava pensando ou se estava pensando em alguma coisa, quando me dei conta estava com o frasco de vidro na mão e havia uma lagarta nele, eu não me lembrava de ter feito aquilo.
Estava acordada desde o incidente na aula de esgrima, tão cansada que poderia ter dormido sentada que nem me daria conta. Comecei a ficar apreensiva, imaginando quando o monstro ia aparecer, no geral ele só se libertava do meu sonho quando eu olhava para ele, eu não ia ficar ali parada esperando que o gato ou o que quer que fosse destruísse tudo pelo caminho, na falta de alguém para me acordar.
Levantei e comecei a correr sem ao menos pegar minha mochila, uma chuva fina começou a cair e logo estava mais forte, a terra escorregava debaixo dos meus pés e eu nem sabia para onde ir ou se estava dormindo de verdade, eu só sentia medo, minhas pernas doíam me forçando a parar, quando vi um pequeno depósito de teto circular.
Corri para ele, o encontrando trancado e com correntes grossas segurando o cadeado.
- Não, por favor.
- Sn? - me virei e Xavier estava ali, parado com um guarda-chuva sobre sua cabeça - você está bem?
- Eu tô acordada? Eu tô acordada?
- Está, claro. Sentiria a chuva ou o frio se estivesse dormindo?
- Posso sentir bem mais que isso.
- Confie em mim, você está acordada. Deixe-me te ajudar.
Xavier parecia ter razão, além disso um sonho não o teria, seria impossível ele estar em um sonho e ainda ser um pesadelo.
Ele abriu o cadeado e empurrou a porta, me deixando entrar primeiro.
Era um estúdio de artes e tinha muitas telas lindas ali, diferentes estilos de pintura e desenho, experimentos de um artista habilidoso.
- Foi você quem pintou?
- Cada um deles.
- Você é talentoso.
- É como eu exorcizo muita coisa.
- Que tipo de coisa?
Ele não respondeu de imediato, estava ocupado desabotoando o terno do uniforme e o colocando em meus ombros.
- Eu tenho algumas visões, quase sempre em sonho e elas me atormentam, então eu venho aqui e as gravo, para me deixarem em paz.
- E funciona?
- É, funciona sim.
- Queria que fosse tão simples assim comigo - me afastei dele outra vez e me sentei sobre uma mesa de madeira.
- Então você tem sonhos que se tornam reais?
- Não, eles não são reais. Somem quando eu acordo.
- Percebi isso, quer me contar a história do gato? - ele veio se sentar ao meu lado, insistindo em ficar perto o que me fez sorrir.
- Eu tinha uns três anos, fui atacada por um gato. Bem, talvez ele só estivesse passando do meu lado, mas na minha cabeça foi um ataque horrível. Sonhei com ele naquela noite e isso aconteceu, ele saiu e acabou matando o meu pai.
- Sinto muito. Não consegue controlar?
- Não, só para quando acordo.
- Por sorte eu comecei a levar isso no bolso depois da última vez - ele me mostrou um pequeno alfinete.
Eu ri e Xavier inclinou um pouco mais para perto de mim, levantei o rosto e senti seus lábios nos meus, meu coração acelerou tanto que pensei que ia explodir, ele segurou minha mão enquanto passava sua língua pela minha em movimentos leves.
- Vai me ver na corrida de barcos? - Xavier perguntou sem afastar seu rosto.
- Eu não posso.
- Vai estar acordada. Só diz que vai - ele me deu mais um selinho longo.
- Eu vou pensar.
Xavier encostou o rosto no meu ombro, olhávamos suas pinturas como se fosse um filme, pela primeira vez eu estava ao lado de alguém que gostava de mim e me fazia sentir segura, apertei sua mão sentindo o pinicar do alfinete, apenas para ter certeza de que estava acordada.
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