O Fogo que Ilumina o Oceano (DC)
Capitulo Único.
Leitora/Arthur Curry.
N/a: Contém SPOILERS, mas a maior parte do filme eu ocultei, e alterei também alguns diálogos para as pessoas que insistirem em ler mesmo sem terem visto o filme.
Espero que gostem. Boa leitura ❤
***
O calor era extremo, mas eu não me incomodava com isso, muito menos com a fumaça que adentrava por minha narinas e davam um passeio em meu pulmão, mas ao contrário do que pode parecer, isso é como ar puro para mim.
Peguei impulso e me lançei contra uma porta trancada, sua fechadura havia derretido tornando quase impossível abri-la sem arromba-la.
Entrei correndo no apartamento tomado pelas chamas e atravessei as labaredas, eu procurava em meio ao fogo por qualquer coisa que de movesse... até ouvir o choro. Cruzei o cômodo velozmente em direção ao vulto e enquanto me aproximava já conseguia escutar o choro.
A criança estava escondida entre a pia e o armário, á sua frente havia um cãozinho, não sabia dizer a raça, mas ele mantinha guarda e latia para o fogo como se aquilo fosse intimidar as chamas e mantê-las afastadas. Eu corri até ambos.
— Ei, garoto, calma. Eu vim ajudar – Falei ao cachorrinho que passou a latir e rosnar para mim. – Você está machucada?
Perguntei acima do ruido para a menina que negou com a cabeça. A menina não chorava, parecia apenas assustada.
Eu me aproximei dela e me abaixei.
— Escute, eu vou tirar você daqui, mas não pode ser pelas escadas – Tentei explicar. O fogo estava consumindo tudo às minhas costas, eu poderia voltar sozinha, mas não com ela.– Qual o seu nome?
— Layla...
Respondeu baixo. Eu assenti com a cabeça.
— Tudo bem, Layla, eu vou tirar você pela janela. Você é corajosa, não é? Vai precisar confiar em mim agora.
Ela concordou com a cabeça. Eu respirei fundo e fiquei de pé, olhando a melhor rota de fuga mais segura para levar a menina e o cãozinho. A janela da cozinha é pequena demais, teríamos que voltar até a sala e usar a varanda.
— Vem, segura no meu pescoço – Falei pegando-a no colo.
— O Buddy... não... posso deixar ele aqui – Ela falou com dificuldade devido a fumaça.
— Ele vai vim também, calma. Tente não respirar fundo por enquanto – Pedi. Eu me abaixei e peguei o cachorro com o outro braço.
Eu tomei impulso e corri o mais rápido que podia, usando meu corpo como escudo para protegê-los das chamas. A porta da varanda estava fechada, segundos antes que meu corpo colidisse com o vidro, virei alguns centímetro de lado e arrebentei as portas com meu ombro. A queda era de nove andares, me preparei para aterrissagem, tentando amortecer o impacto para os dois passageiros precisei diminuir a velocidade e para isso me escorava na lateral do prédio. Caí de joelhos no chão.
Os bombeiros imediatamente interviram e pegaram a criança que chamou pela mãe, está que veio logo depois.
— Tem mais alguém lá? – Perguntei ao bombeiro.
— Não, ela era a última, o restante de edifício já foi evacuado.
— As fundações estão comprometidas, pode cair a qualquer momento, é melhor que evacuem os prédios em volta e tirem essas pessoas que estão na rua. O estrago vai ser grande.
Avisei.
— Vamos fazer isso – Ele concordou e em seguida bateu continência.– Obrigada, Atômica.
Eu sorri e imitei o movimento antes de saltar para um prédio do outro lado da rua e assim sumir de vista.
***
O cheiro de fuligem me incomodava mais que tudo. Assim que cheguei em apartamento, tratei de tomar um longo banho.
Já era bem tarde e eu estava pronta para dormir quando um tremor acima do normal balançou todos os móveis. Um terremoto? Corro até a janela e ao longo vejo a baía oscilar. Eu moro em Manhattan, um lugar cercado de água, qualquer tremor não pode ser coisa boa. Apertei mais os olhos e vi a uma forte onda vindo na direção da costa, ela ganhava cada vez mais força e altura conforme se aproximava.
— Mas que merda é essa?
Perguntei para mim mesma. Voltei até a sala onde havia deixado meu traje e o vesti. Aquele tsunami mataria muita gente se eu não fosse rápida.
Corri e saltei pela janela, pousando no telhado do prédio vizinho, a onda estava maior, engolia tudo e todos ao seu redor. Eu tentava tirar o máximo de pessoas do caminho, evitando que morressem afogadas.
Nunca fui a melhor das nadadoras e quando a água me atingiu, fui arremessada para longe, batendo contra a lateral de um prédio. A água continuou me atingindo, sem dar brecha para respirar. Tirei todas as forças que tinha para impulsionar minhas pernas para cima em direção a superfície.
Meu cérebro ja estava dando pani, o ar estava quase nulo e eu não conseguia mais enxergar direito. Quando achei que tudo estava perdido e meus pulmões queimavam, finalmente emergi.
O ar entrou em meus pulmões como um sopro de vida. Respirei fundo e nadei para o mais longe possível, só parando quando consegui sentir o solo embaixo de meus pés.
Rolei para fora da água e fiquei alí, deitada no asfalto, tossindo e cuspindo a água que havia entrado, engasgando com o ar.
— Merda!
Xinguei, meu peito queimava. Com certa dificuldade eu consegui ficar de pé, me segurando em muros próximos. O estrago foi grande. Prédios destruídos, casas derrubadas e pessoas desesperadas atrás de outras pessoas que desapareceram. Ótimo, mais trabalho.
***
Já estava amanhecendo quando cai no sofá da minha sala. Cansada, quebrada e molhada.
Eu não sabia o que tinha sido aquilo, aquela droga de onda havia feito um puta estrago. Apanhei o controle e liguei a TV em um canal de notícias qualquer. Os repórteres não paravam de falar da tal onda, mas descobri que o problema era bem maior do que eu imaginava.
Não foi apenas Manhattan que foi afetada, mas quase todas as cidades costeiras e ilhas em torno do mundo.
Praias e cidades de encostas foram soterradas por lixo vindos do oceano, como se as águas estivessem devolvendo as toneladas de poluição lançadas ao mar.
No entanto, uma única palavra dita em um dos vários noticiários chamou realmente minha atenção. Atlantis.
Era só o que me faltava. O descanso vai ter que ficar para depois.
***
Estacionei meu carro próximo ao farol e desci. Não sabia se esse era o lugar certo, mas Bruce disse que sim, então tentaria a sorte.
Cruzei alguns metros até avistar duas silhuetas ao longe, na praia. Quando estava perto o bastante, reconheci àquele que procurava, mas não a mulher de roupa brilhante que o fazia companhia.
— Arthur Curry? – Chamei quando me aproximei. Ele se virou para mim e suspirou.
— Maravilha, era tudo o que eu precisava agora.
— Eu estou dispensado o sarcasmo – Falei, cruzando os braços. – Mas não as explicações. O que tem a dizer sobre as ondas gigantes?
A mulher olhou para mim e depois para ele, retornando para mim em seguida.
— Não fomos apresentadas – Disse.– Sou Mera.
— S/n – Respondi. Encarei Arthur mais uma vez.– E ai, Homem-Peixe, o que tem para me dizer?
— Eu não tenho nada a ver com o que aconteceu.
Ergue as mãos.
— Sem essa, eu vi na TV. Estão dizendo que foram os Atlantis. Eu só conheço você com capacidade para fazer algo assim.
— Mas ele não é o único – Mera disse.– Foram os Atlantis que fizeram as ondas, nisso você está certa. Foi um aviso.
— Que tipo de aviso?
Perguntei.
— Que a guerra está próxima – Ela respondeu. Eu a encarei e em seguida olhei para Arthur.
Uma corrente de ar passou por nós, segurei a aba de meu boné de baseball, evitando que ele saísse voando. Ele desviou o olhar.
— Uma guerra?
Indaguei.
— Orm, o Rei de Atlântida e meio irmão de Arthur – Novamente foi Mera quem me respondeu.– Planeja uma Guerra contra o povo da superfície. Ele quer reunir tropas e então atacar. O que aconteceu essa noite foi um aviso, um presságio para toda a destruição que esta por vir se ele não for parado. A única forma de impedir é Arthur assumindo o trono de Atlântida que é dele por direito.
— Então parem ele! – Exclamei, gesticulando com os braços.– Por que você está aqui parado?
Diante de seu silêncio eu finalmente me irritei. Soquei o peito de Arthur, isso fez com que recuasse alguns passos e me olhasse cauteloso.
— S/n, é um aviso, não faça isso novamente...
— Ou o que? – Perguntei, nervosa.– Você viu o que aquele psicopata fez ou estava escondido aqui? Eu passei a madrugada desenterrando pessoas soterradas por prédios. Ele matou pessoas inocentes. Eu resgatei crianças que estavam morrendo afogadas!
— Eu não provoquei isso.
— Não quero saber quem provocou. Quero que termine.
Eu vocifero.
— Não sei como fazer.
— Então descubra! – Rosnei.
— Escute, eu já disse isso a ela e agora direi para você – Ele se aproximou de mim e olhou bem para meu rosto.– Eu não sou e não quero ser Rei.
— Então prefere ser um covarde? – Questionei também dando um passo em sua direção. Nossas respirações se misturavam, mas dentro de mim só havia raiva.
— Já salvei esse planeta uma vez, se bem se lembra.
Acho que nunca ficamos tão próximos antes, ergui mais minha cabeça para encarar seus olhos.
Ergui meu indicador e apontei para seu peito, sendo bem clara em minha palavras:
— Impessa essa maldita guerra, ou eu irei. E eu não estou ligando para quem terei de matar, eu protegerei meu povo. Eles me chamam de Atômica por uma razão, e eu garanto que não vão querer saber qual é. Ou eu juro que Atlântida ira queimar.
Com essas palavras eu recuei e retornei pelo mesmo caminho que trilhei até ali, sem olhar para trás eu entrei em meu carro e dei a partida.
***
Dois dias depois. Deserto do Saara.
Eu devo estar bem maluca de estar fazendo isso. O protótipo de nave desenvolvido pelas indústrias Wayne que eu pilotava voava tão alto que me deixava enjoada. Mesmo assim continuei a pilotar até meu GPS avisar que o lugar era aquele. Pousei encima de uma duna, no centro árido do deserto do Saara, exatamente no local das coordenadas enviadas por Arthur.
Assim que a poeira baixou pude ver os dois se aproximarem. Abri a cápsula e desci.
— Você esqueceu a vergonha no fundo do mar, né? – Perguntei, cruzando os braços.– Como ainda tem coragem de me pedir algum favor?
— Quer que eu me torne Rei e evite a guerra, não quer? Então tem que pelo menos me ajudar no processo – Ele falou e em seguida sorriu com deboche.
— Precisamos que nos leve até Sicília.
Mera falou e eu a encarei.
— Onde fica isso?
— Itália – Arthur respondeu.
— Me chamou aqui para ser o Uber de vocês? – Eu perguntei indignada.– Eu sou uma piada para você?
— Para de drama. A gente explica tudo no jatinho. Aliás, é bem legal, aonde conseguiu?
Arthur ia falando enquanto subia na nave. Respirei fundo, para evitar que acabasse socando a cara dele e subi outra vez na nave. Quando ela estava novamente no ar, questionei:
— O que têm lá?
— A próxima pista para o Tridente de Atlantis – Mera responde.– É o único jeito de Arthur provar ser o verdadeiro rei de Atlântida e destronar Orm.
— Um garfo gigante? – Indaguei.– Que inusitado.
— Não é um garfo – Mera rebateu, ofendida.– É uma das armas mais poderosas já forjada. Os deuses...
— É, é um garfo gigante. Mas um garfo muito importante – Arthur interferiu. Eu ri e balancei a cabeça.
— O que o fez mudar de ideia, Arthur?
Perguntei depois de uns minutos de silêncio.
— Mera, você, algumas coisas que vi por ai – Respondeu-me baixo.– Eu ainda não quero ser Rei, mas vou acabar com aquele babaca e evitar uma destruição em massa.
— Você está bem com tudo isso? Deve ser bem complicado... você sabe, estar indo contra seus conceitos.
— Não, eu não estou. Mas se não for eu, quem mais? Tenho que enfrentar isso por mais que minha vontade seja fingir que nada disso existe.
Eu sorri e desviei rapidamente o olhar da rota, encarando-o rapidamente.
— Por que está rindo?
Ele perguntou curioso. Eu mordi meu lábio inferior.
— Nada... – Tentei desconversar, mas não resisti.– Eu apenas estou me perguntando se você não está sentado no Laço da Verdade novamente.
Ele bufou.
— Eu falei para esquecer aquilo.
— Foi mal – Digo, rindo de sua expressão aborrecida. Não é novidade para mim o fato de achar Arthur extremamente atraente, e sua expressão nervosinha o torna ainda mais sexy. Algo que nunca esquecerei sobre aquele dia, foi quando "sem querer" ele admitiu ter me achado atraente. Desvio o olhar para não fazer nenhuma besteira e solto um pigarro.– Eu sinto muito por gritar com você. E te bater, e te xingar de covarde, de imbecil, desgraçado e cagão.
Ele franziu as sobrancelhas.
— Você não me chamou dessas coisas – Disse.
— Não na sua frente – Suspirei.– Eu estava nervosa.
— Sendo assim, lamento por chamar você de arrogante e insuportável.
Eu o olhei de esgueira.
— Você não me chamou disso.
— Não na sua frente.
— A sua sorte é que você é bonito, Homem-Peixe – Falei antes de me calar de vez e dar o assunto por encerrado.
***
Sicília, Itália.
Atravessavamos a cidade em direção a um tipo de Partenon ou templo, sei lá. Ficava no alto da cidade e continha diversas estátuas. No caminho, tivemos que lidar com Mira se maravilhando com tudo o que via. Um senhor entregou um pequeno buquê de flores para ela e ela simplesmente as colocou na boca e... comeu.
— Olha... isso não é comestível e eu tenho quase certeza de que pode ser venenoso – Comentei em dado momento. Voltamos a seguir nosso caminho e chegamos ao topo.
— As mãos de um verdadeiro Rei – Mera murmurou com um mapa nas mãos.
— Olhe dentro da garrafa...– Arthur resmungou. Eu estava totalmente avulsa naquela situação, me mantive calada e observando enquanto os dois trabalhavam. Arthur então apanhou uma garrafa e a colocou em frente aos olhos, soltou uma exclamação de empolgação.
— Isso!
Mera apanhou a garrafa e também olhou. Pareceu animada com o que viu. Eu continuei entendendo zero por cento do que acontecia alí.
— Um verdadeiro Rei...– Ele resmungou.
— Bem, talvez você possa tentar aquele cara bem alí – Apontei com o queixo a estátua de Rômulo, era a mais alta dentre as outras.
— Por que?
Mera indagou. Arthur sorriu para mim e correu até a estátua. Enquanto colocava a garrafa nas mãos da estátua e se posicionava atrás da mesma, eu explique para Mera:
— Aquele é Rômulo, o primeiro rei de Roma.
— Achei!
Arthur exclamou. Mera foi atrás e olhou através das costas oca da estátua.
— Encontramos! Aquele é o próximo passo.
Não tivemos muito mais tempo para comemorar, uma explosão de médio porte nos atingiu, arremessando um para cada lado. Eu rolei por cima das pedras, confusa e atordoada. Quando me sentei, vi algo parecido com um homem com cabeça mecânica de mosca usando um traje super tecnológico aproximar-se de Arthur. Consegui ouvir algo como... Arraia negra?
Ele fez um rápido movimento com o braço e uma longa espada surgiu, mas assim que deu um novo passo em direção a Arthur, eu ergui uma mão e disparei em sua direção. O jato de energia fumegante o atingiu em cheio e ele caiu metros atrás.
Junto com ele vários outros surgiram, usando armaduras brancas. Eles cercaram Mera e ela se pôs a lutar com todos eles. Corri ao seu socorro e entrei na luta.
O primeiro golpe eu desviei, desferi um chute na altura do pescoço, arrancando o capacete de um deles. Ele caiu no chão e começou a engasgar.
— Que coisas são essas?
Perguntei para Mera.
— São de Atlântida! Enviados do Rei Orm.
Acertei a cabeça de outro com um soco, quebrando o vidro e fazendo com que a água vazasse. Procurei por Arthur e pelo outro cara, mas eles haviam sumido de vista. Esse momento de distração me custou caro, um dos peixinhos me acertou no rosto e agarrou-me pelos ombros, me jogando contra uma parede. Rolei para o lado a tempo de escapar de uma espada que foi arremessado em minha direção.
— Minha vez...
Resmunguei ao ficar de pé e prepara uma esfera de calor, lançando contra um grupo de três e causando uma nova explosão.
A está altura já estava sozinha novamente. Sem sinal de Mera ou Arthur. Comecei a procura-los, correndo e saltando prédio em prédio. Vi uma grupo perseguir a princesa pelos telhados e me juntei a eles na corrida, atingindo-os por trás com jatos de calor.
Achei que iríamos nos safar, até que Mera despencou do telhado e sumiu de vista.
Eu fui atrás, mas antes que fizesse algo ela ja havia feito. Afogou todos os perseguidores em vinho com uma grande explosão.
Desci do telhado e encarei.
— Isso foi legal.
Comentei. Olhei para trás e percebi que Arthur precisava de ajuda, corri em sua direção e antes que o tal Arraia pudesse atacar novamente eu o atingi com uma coluna de fogo, arremessando-o para além da encosta, ele rolou penhasco abaixo.
Fui até Arthur que estava no chão e o segurei firme. Ele olhou para Mera as últimas palavras ditas por ele antes de desmaiar foram:
— Eles estão rastreando você.
Seus olhos foram até a pulseira dourada em seu pulso. Ela imediatamente a arrancou e quebrou contra o chão.
— Vem, vamos tirá-lo daquilo.
Falo para Mera, enquanto enrolo um dos braços dele em torno do meu pescoço e passo meu braço por seu tronco.
***
Descobri que a única coisa pior que voar em um protótipo de jato é navegar em alto mar. Minha única atividade até o momento era me concentrar em não vomitar.
Entrei na cabine da embarcação e me mantive quieta, observando o movimento de tudo ao lado de fora. Arthur acordou e não notou que eu estava na pequena cabine, passou direto e sentou-se na extremidade ao lado de Mera. Me pus a observar-los conversando, mas logo desviei o olhar. Não me sentia bem vendo-os tão próximos. Desde que conheci Arthur em um ataque que o planeta sofreu de uma cara chamado Lobo da Estepe, á uns meses atrás, tenho pensado nele. Na época da luta tínhamos coisas muito mais importantes para resolver e não tinha nem cabeça para flertar com ele. Agora, novamente estamos juntos e lidando com uma situação crítica, e mais uma vez não é o melhor momento para dizer que sinto algo a mais por ele... porém, dessa vez eu sinto que posso estar fazendo a escolha errada e correndo o risco de perder a oportunidade para sempre. Enquanto estava de costas, ouvi a porta da cabine abrir.
— Você está bem?
— Não me dei muito bem com seu habitat natural – Respondi fechando os olhos e respirando fundo.– Isso balança um pouco demais para mim.
Ele riu baixo.
— Esse não é seu elemento, não é? – Ele perguntou, segurando discretamente minha cintura e evitando que eu caísse devido ao balanço excessivo do barco.
— Não – Afirmei.– Se vivêssemos na Grécia antiga eu provavelmente seria filha de Hefesto. Meu lance é o fogo.
Arthur passou levemente a ponta de seu nariz pela minha bochecha, subindo levemente e me causando arrepios.
— Eu tinha percebido que o você é uma garota quente...
Ele parou, olhou para fora e xingou baixo. Havíamos entrado em uma grande tempestade. Arthur saiu rapidamente e quando retornou, comunicou:
— Mera disse que entramos na área do Fosso. Aqui é aonde eles entregam pessoas para sacrifícios.
— Deixa eu adivinhar...– Comecei.– É exatamente para onde estamos indo.
— Você é bem esperta – Resmungou sarcástico. Saímos da cabine e demos de cara com uma série de criaturas invadindo o barco. Eu não tenho a menor idéia de que coisas são essas, eu apenas comecei a bater.
— O quê são isso? – Arthur perguntou acima do estrondo da tempestade.
— São criaturas das profundezas do Fosso!
Mera gritou de volta. Nós lutamos incansavelmente contra essas coisas, mas eram muitas. Entramos na cabine e Arthur fechou tudo. Estava tão escuro que eu mal podia ver um palmo a minha frente, então iluminei uma de minhas mãos e a usei como lanterna. Imediatamente o mostro mais próximo da janela recuou.
— Eles são das profundezas – Arthur falou ao notar o que aconteceu.– A luz repele eles.
Eu sorri e iluminei todo o meu corpo, os monstros recuaram ainda mais, mas eram muito e não teríamos condições para enfrentar todos.
— Vamos saltar na água – Arthur anunciou. Eu o olhei de olhos arregalados.
— O que? Claro que não, eu não sobrevivo um minuto lá em baixo.
— Ela não é uma de nós, Arthur – Mera complementou.
— Nós é quem vamos morrer sem ela – Ele disse me olhando firme.– Você é a luz, S/n. Preciso de você.
Eu concordei com a cabeça, mas ainda não sabia o que fazer. Arthur olhou para Mera.
— Pode criar uma bolha de ar envolta da cabeça dela?
— Acredito que sim.
— Ótimo, vamos rápido!
Arthur agarrou minha mão e não me deu um segundo para assimilar seu plano maluco. Abriu a porta da cabine e correu os poucos metros que nos separavam do mar. Ele saltou e me levou consigo para as profundezas.
Mera criou a bolha e fiquei maravilhada com o fundo do oceano. A água era profundamente gelada, mas a chama dentro do meu peito nunca apagava e conforme Arthur me puxava para baixo, mais brilhante eu ficava. A água em volta fervia e se tornava vapor, as criaturas não se atreviam a se aproximar, apenas se amontoavam mais e mais a nossa volta.
— Alí! Uma luz no fim do túnel!! – Um dos dois exclamou. Eu estava tão atordoada que só me lembro de ter sido arrastada até lá, deixando os monstros para trás.
— É muito forte, seremos despedaçados – Mera falou quando no aproximamos da enorme turbulência na água.
Arthur agarrou sua mão também.
— Então não solte.
Mas não adiantou, assim que entramos no redemoinho fomos engolidos pela força da água. A bolha de oxigênio desapareceu e senti meu pulmão se encher de água. Tudo escureceu.
***
Eu não via ou ouvia nada. Meus sentidos pareciam estar completamente entorpecidos. Meu peito queimava e minha garganta estava apertada, de repente engasguei e meu pulmão pareceu se abrir, expulsando toda a água.
— S/n? S/n, me responde! Você precisa me ouvir. Por favor, me ouve. Você não pode ir assim!
Era voz de Arthur, estava preocupada. Eu engasgava, o ar parecia grosso demais para mim. Eu me sentei e abri os olhos, a primeira coisa que vi foram seus olhos claros, preocupados e focados em mim. Levantei uma mão trêmula e toquei seu rosto levemente.
— Eu não vou a lugar nenhum – Sussurrei, minha voz rouca. Já havia passado a hora de agir com relação ao que sinto por ele, até porquê se eu não fizer... outra vai tratar de fazer, fora que depois dessa experiência eu não sei se estarei viva amanhã para procrastinar mais. Arthur estava perto, muito perto e eu não precisei de muito para beija-lo. Ele retribuiu, sua mão grande envolveu meu rosto.
Cortamos o beijo pouco depois, não tínhamos muito tempo a perder. Eu me levantei e trêmula de frio abracei meu próprio corpo, foi só ai que percebi que tínhamos companhia.
— Uhn... S/n, essa é minha mãe – Arthur apresentou. Eu sorri e acenei timidamente para a mulher de cabelos prateados e olhos azuis bonitos que me observava atentamente.
— Rainha Atlanna... a senhora é linda – Comentei meio que sem saber o que dizer ou fazer. Aquilo deve ter quebrado o gelo porque ela riu.
— Você também, e é muito gentil.
Responde. Depois disso o clima voltou a ficar tenso outra vez. Arthur olha para a mãe.
— Foram vinte anos. Por que não voltou?
— Não tem como voltar, exceto se tiver o Tridente. Ele está ali, atrás da cachoeira protegido pelo monstro, e só o verdadeiro Rei pode passar por ele.
— Ótimo, Arthur pode fazer isso, ele é o Rei.
Mera afirmou.
— Não, eu não sou – Ele negou. Atlanna e Mera eram melhores com palavras do que eu jamais fui. Enquanto observava o discurso extremamente motivacional feito por ambas, pensei nas coisas que eu queria falar para ele e que talvez não ajudassem em nada, mas que com certeza queria que ele escutasse. Ele se levantou, estava prestes a atravessar a cachoeira.
— Arthur?
Eu o chamei sem folego. Ainda estava meio tonta pelo quase afogamento. Ele parou e se voltou em minha direção, eu aproximei.
— Não sou inspiradora e não sei fazer discursos – Comecei, ele sorriu de lado.– Mas o que posso dizer é que confio em você. Eu nunca me esqueci daquilo que você me falou antes de lutarmos contra o Lobo da Estepe. Eu estava apavorada, eu queria fugir... você do seu jeito torto disse que o que precisava para ter coragem naquele momento. Você, Arthur, falou como um verdeiro Rei, então vá lá, pegue o Tridente. Ele pertence a você, por mais que você não acredite em si mesmo, esse é o seu destino. Não negue ele.
Ele segurou meu queixo e me deu um outro beijo, muito breve. Arthur afastou-se balançou a cabeça.
— Foi um ótimo discurso.
Depois disso ele se afastou e cruzou a água.
***
Havia se passado alguns minutos desde que Arthur desapareceu atrás da cachoeira. Não sabiamos o que se passava lá e eu estava apreensiva. O silêncio reinava entre nós três, parecia bem constrangedor. Mera sentou-se ao meu lado.
— Como se sente?
— Com um pouco de frio, fora isso, bem – Respondo.– E você?
— Vou sobreviver.
Silêncio.
— Ele te escolheu.
Imediatamente soube do que ela falava. Arthur beijou a mim, mesmo tendo a oportunidade de beija-la no barco, ele me escolheu. Mera é como ele, e tem sangue real, não entendo como ele pôde me escolher e não ela.
— Eu não entendo o porquê – Respondi.– Você é muito mais compatível.
— Ele é só metade compatível comigo – ela me lembrou.– Acho que o lado terrestre dele falou mais alto. Você venceu.
— Nunca foi uma competição, Mera. Eu só... tinha medo de deixar o momento passar e me arrepender depois por não ter tentado.
Ela tocou meu ombro, mas não falou mais nada. Ficamos em silêncio, aguardando pela volta dele, torcendo para que tivesse conseguido o Tridente e finalmente fosse coroado Rei. Que derrotasse Orm e evitasse a guerra.
Os minutos se passaram eu só conseguia ficar cada vez mais nervosa. Sentia minha pele ficar mais e mais quente, eu estava praticamente em chamas, literalmente.
De repente, algo irrompeu da cachoeira, explanando água por toda parte. Me aproximei mais e vi, era Arthur. Usava um traje dourado e brilhante, em suas mãos havia um Tridente Dourado, que também brilhava. Um verdadeiro rei.
— Ele conseguiu – Eu sussurrei com um sorriso orgulhoso nos lábios.
Ele virou o rosto e olhou diretamente para mim, havia um grande sorriso em seus lábios também.
***
O plano estava armado. Mas eu não participaria dele. A luta deveria ser no fundo do mar, onde Arthur impediria que Orm conquistasse o último reino tornando-se assim o Mestre do Oceano, para no fim atacar o "povo da superfície".
Antes de saltar na água, Arthur veio até mim.
— Isso acaba hoje.
— Eu sinto muito por não poder estar com você lá embaixo – Falei. Arthur balançou a cabeça.
— Não é o seu elemento, eu entendo – Disse.
— Confio em você – Falei.– Você já é o Rei, só precisa deixar bem claro para todos eles.
Ele segurou em minha cintura e nos uniu pelo quadril, seus lábios tocaram os meus em um beijo lento e diferente dos outros que foram curtos, esse foi longo. Meus dedos envolveram os cabelos loiros dele e eu os puxei para mim. Quando nos afastamos, ele sorriu a sua maneira sarcástica.
— Tenho que ir agora, tem uma guerra para terminar é um reino para conquistar.
Eu mordi meu lábio e balancei a cabeça, rindo.
— Vai lá, Homem-Peixe – Concordei.– A sua garota quente te espera.
Ele me deu um último selinho e se afastou, ainda sorrindo. Arthur parou em frente ao píer e saltou.
Assim que o redemoinho causado pelo mergulho dele desapareceu, o mar voltou ao seu estado de calmaria anterior. Profundo e silencioso, aparentemente seguro. Mas eu sabia o que acontecia nas profundezas, eu sabia que lá no fundo uma batalha era travada.
Eu só contava que ela não chegasse a superfície.
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