Canto minha vida com orgulho

Na minha vida tudo acontece

Mas quanto mais a gente rala, mais a gente cresce

Hoje estou feliz porque eu sonhei com você

E amanhã posso chorar por não poder te ver

Mas o seu sorriso vale mais que um diamante

Se você vier comigo, aí nós vamos adiante

Com a cabeça erguida e mantendo a fé em Deus

O seu dia mais feliz vai ser o mesmo que o meu

A vida me ensinou a nunca desistir

Nem ganhar, nem perder mas procurar evoluir

Podem me tirar tudo que tenho

Só não podem me tirar as coisas boas que eu já fiz pra quem eu amo

E eu sou feliz e canto e o universo é uma canção

E eu vou que vou

História, nossas histórias

Dias de luta, dias de glória

História, nossas histórias

Dias de luta, dias de glória

História, nossas histórias

Dias de luta, dias...

(Dias de Luta, dias de glória - Charlie Brown Jr)

Depois de semanas rodando, pesquisando mercado e um lugar que agradasse a ambas decidiram por Jardim Camburi. O lugar era tranquilo, o prédio não era moderno, mas suas instalações eram boas, havia porteiro 24 horas por dia, um belo jardim, área de lazer e o apartamento de dois quartos, sala, banheiro, cozinha, área de serviço e varanda agradou muito as duas, então foi o escolhido.

Infelizmente não poderiam mudar de imediato, pois necessitava de pequenos reparos e mobília nova, o que elas tinham era tudo muito antigo e acabaria com a beleza do lugar, os móveis seriam comprados com o tempo, pois o dinheiro que Yasmin tinha deu apenas para pagar o apartamento, o que sobrou elas reservaram para pagar condomínio, água, luz, gás e as despesas da antiga casa. Ainda morariam nela por um tempo até comprar alguns móveis para que a casa ficasse habitável, precisavam de tudo novo e assim pouco a pouco foram montando sua nova casa da maneira como queriam. Um dos sonhos de Yasmin se realizaria e ela não pararia por ali.

Apesar de resistir inicialmente dona Luciane não cabia em si de tanta felicidade, seus vizinhos ao contrario do que ela pensava as incentivaram a mudar, também estavam cada dia mais temerosos de morarem em São Pedro. Todos diziam a mesma coisa, se tivesse condições também mudariam para bem longe dali. Na verdade, toda grande Vitória estava perigosa, havia moradores de rua, drogados, bêbados, o índice de marginalidade aumentava a cada dia.

Um mês e meio depois a reforma já havia acabado e alguns móveis estavam chegando, vários deles comprados a prestação, mas se não fosse assim não conseguiriam se mudar tão cedo.

As duas estavam radiantes, o caminho para o trabalho de dona Luciane seria um pouco mais longe, com isso precisava acordar mais cedo que antes, mas isso não seria problema. As duas acordavam juntas e enquanto Yasmin preparava o café da manhã sua mãe se arrumava para o trabalho, depois as duas comiam juntas, dona Luciane saia para o ponto de ônibus que ficava a poucos metros do prédio e Yasmin se apressava para deixar tudo arrumado e se aprontar para dar suas aulas. A rotina das duas era simples, apesar de dona Luciane insistir muito para que a filha aceitasse o convite das amigas para sair e se divertir aos fins de semana Yasmin preferia ficar em casa acompanhada de um bom livro ou series de tv, uma típica nerd.

Mas se tinha uma coisa que Yasmin gostava era de se exercitar, mesmo após o dia inteiro de pé dando aulas ela chegava em casa, se trocava e ia correr no calçadão, essa foi apenas uma das vantagens de morar próximo a praia, antes, com as ruas estreitas de São Pedro e Santo Antônio ela preferia nem se arriscar, vários foram os casos de atropelamento com vítimas fatais, os ônibus sempre lotados passavam em alta velocidade e as pessoas ao atravessarem a rua mesmo que na faixa de pedestres tinha que ser ágil.

Dona Luciane com sua simpatia logo fez amizade com as vizinhas e todo final de semana marcavam um almoço ou lanche da tarde na casa de alguma delas ou então iam bater papo na praça do bairro. Ela começou a organizar clubes de leitura para crianças e idosos, no início poucas pessoas compareceram, no entanto, a medida que as semanas passavam o público aumentava, não só idosos e crianças, adolescentes e adultos de todas as idades se interessaram. Em pouco tempo todos do bairro conheciam dona Luciane e consequentemente sua filha Yasmin.

A senhora já tinha certa idade e toda essa badalação junto ao seu trabalho na biblioteca a estavam cansando demais, Yasmin não queria tirar a alegria da mãe, ver o sorriso largo no rosto da mãe que ela tanto ama a fazia fechar os olhos para o cansaço que da mãe que já era visível. Depois de pensar em várias opções para dar a mãe sem tirar dela o prazer que tinha ao realizar as rodas de leitura resolveu sentar-se com a mãe e dizer a verdade.

— Mão, já estou preocupada com a senhora, seu cansaço está visível, se continuar nesse ritmo não irá conseguir conciliar seu trabalho com seus projetos aqui no bairro.

— Confesso que estou cansada filha, mas quando vejo a empolgação das pessoas com a leitura não há cansaço que me faça parar. Eu percebi que com a evolução da tecnologia os livros passaram a ser deixados de lado e ver tantas pessoas tomando gosto novamente pela leitura e sentindo prazer em ter um livro nas mãos, poder viajar sem sequer sair do lugar. Me diz minha querida, você conseguiria parar?

— Te entendo mãe, acho que também não conseguiria, tenho a mesma paixão pela literatura que a senhora e não me aguento de felicidade quando vejo alguém se interessando também, mas antes de decidir conversar com a senhora pensei bastante em várias possibilidades. A senhora sabe que em vários terminais de ônibus aqui na cidade temos pequenas bibliotecas onde as pessoas fazem um cadastro, pegam um livro emprestado e depois devolvem, porque não montamos uma pequena biblioteca como essas aqui na praça. Podemos pedir aos moradores que doem livros e conseguir alguns usados nas bibliotecas é só fazer uma pequena campanha, tenho certeza que todos irão compreender e adotar a ideia de bom grado.

— É uma boa ideia minha filha, não tinha pensado nessa possibilidade, poderíamos fazer uma reunião com todos e iniciar uma campanha para arrecadarmos livros.

A ideia de Yasmin logo foi aceita por dona Luciane e em pouco tempo uma pequena biblioteca foi adaptada na praça de Jardim Camburi. Uma banca de revistas foi decorada e pintada em várias cores, grafites relacionados a literatura e frases de grandes autores nacionais. O Cantinho da Tia Luh, como ficou conhecido teve a participação de toda comunidade.

Tia Luh, mesmo assim sempre fazia questão de organizar rodas de leitura na praça para quem quisesse comparecer e o publico era sempre maior que o esperado. A pequena banca biblioteca fez um enorme sucesso, a entrada e saída de livros tinha um fluxo muito maior que o previsto, os moradores do bairro passaram a se tornar leitores ávidos, cada um com seu estilo preferido e com isso a busca por novos livros era incessante.

Com o passar dos meses bairros vizinhos como Jardim da Penha começaram a convidá-la para vez ou outra realizar rodas de leitura, e como aconteceu em seu bairro, logo a população aderiu a ideia e assim outras bibliotecas independentes passaram a surgir.

Uma simples ação de uma velha senhora apaixonada pelos livros passou a influenciar e mudar vidas por toda Vitória.

Quase ninguém sabe, mas em Vitoria, capital do Espirito Santo, há muitas pessoas apaixonadas pela literatura, com isso formaram-se grupos que se reúnem sempre que possível para conversar, fazer brincadeiras, maratonas literárias ou apenas conhecer pessoas com a mesma paixão, os livros.

A literatura capixaba também tem grande papel nesses encontros, onde vários autores super talentosos lançam seus livros ou se reúnem para lançar antologias, no entanto é com pesar que digo que o incentivo a essas ações é quase inexistente, no entanto cada um faz o que pode, contribuindo sempre com alguma coisa, assim como dona Luciane, para não deixar a quinta arte morrer.

A história começa a tomar forma, espero que gostem do enredo. Ah a dona Luciane é uma fofa né, adoro pessoas que incentivam a leitura.
Logo, jogo teremos mais.
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