XXI Um verde que não é de vida
Aquela tarde parecia não ter fim, também não tinha como ser diferente, Vínia estava morta e Fly não atendia o celular, justo naquele dia. Justo naquele dia em Mack apareceu vestindo uma capa de super herói assombroso.
– Eu preciso dele. Eu preciso dele. – Marx repetia as palavras para se convencer de que Mack era a única opção que lhe restava. – Eu preciso dele, eu preciso da ajuda dele.
É estranha a repugnância que Marx sentia por Mack, algo que na verdade ela nunca soube explicar, mas algo do qual ela nunca quis se livrar.
Aquela tarde estava bastante angustiante para a menina que de súbito sentiu um frio lúgubre e uma solidão tumular. A tarde convalescia a medida que a terra parecia engolir cada vez mais o sol, quando Marx decidiu colher algumas flores para levá-las ao túmulo da amiga e depois passar da casa da Fly para uma conversa séria e pouco confortante. Naquele dia os empregados daquela casa tiveram a visão mais assustadora das suas vidas, assim pensaram: a senhora imaculada (eles chamavam-na assim em segredo) desceu do salto e foi ao jardim colher flores.
Marx nunca tocava em terra com as mãos, nunca colhia flores, sempre importunava um dos empregados para fazer isso, os empregados costumavam dizer que ela mal tocava o chão quando andava.
O jardim daquela casa era simplesmente celestial, belo quanto o Éden, talvez. O contraste entre as bétulas, camélias, flores-de-lis e outras flores cujos nomes fugiam aos mais leigos era simplesmente divino. O jardim era do tamanho de um parque de estacionamento, talvez maior, com pomares de diferentes frutas e plantas ornamentais vindas de todo o mundo, algumas pareciam vir até de outros mundos. Era um jardim fantástico.
Marx pegou numa grande tesoura e começou a colher algumas flores, para posteriormente formar um buquê colorido, digno da sua amiga. Quando se preparava para deixar o jardim viu algo que lhe chamou atenção. Um pouco mais ao fundo do jardim, perto da cerca da casa, crescia uma flor que parecia brilhar na presença do sol, uma flor que ela estava certa de ter visto em algum lugar, na Ilha Erha. Isso a fez lembrar dos momentos que ela passou com Fly e Vínia naquela ilha, como elas se divertiram, como Vínia pulou de um lado para o outro com as crianças daquela ilha.
– Eu não sabia que tinha uma destas aqui, vou levá-la junto, talvez isso alegre um pouco a alma dela.
A flor era muito pequena, não dava para cortar, o jeito seria removê-la toda do solo, assim também ela poderia plantar aquela flor no lugar de descanso da amiga, para isso, ela pegou numa das pás que estavam por perto e a enterrou no solo ao redor da flor, próximo o suficiente para destitui-la do solo e distante o suficiente para não cortar as raízes com a pá.
Ela conseguiu remover a flor com tanta proficiência que chegou a pensar; "Vínia me chamaria de super jardineira se me visse agora."
Logo, removeu-se dos seus pensamentos quando percebeu que a areia que estava no buraco que resultou da escavação da flor era de um verde arbóreo e vivo, assim como a areia que estava em volta das raízes da flor.
Marx caminhou para fora do jardim achando aquilo normal, talvez tenha pensado naquilo como algum tipo de adubo orgânico usado para acelerar o desenvolvimento das plantas. Quando deixou o jardim para trás, finalmente, viu a sua frente um carro que a aguardava.
– Leve-me ao cemitério Royal Valley.
– Vai visitar o túmulo da filha do Presidente, senhora?
– Não é da sua conta serviçal, conduza, não me faça perder tempo. Seu salário depende disso.
– Sim senhora. – Os empregados já estavam familiarizados com o humor da sua patroa.
Durante o pequeno percurso de carro, Marx ficou pensando em tudo que aconteceu durante as férias, seu coração outra vez submergiu em intolerável angústia, as lágrimas não foram tímidas e mostraram-se, realçando a tristeza daquela adolescente. O motorista ignorou aquilo, sabia qual seria a resposta da senhora imaculada se ele se mostrasse interessado naquela tristeza.
Chegando no cemitério, Marx ordenou que o motorista carregasse as flores e a seguisse. Caminharam até ao centro do Royal Valley, onde encontraram uma capelinha erguida para Vínia, onde eles entraram e depositaram as flores. O motorista foi encarregue de plantar aquela flor brilhante bem em frente de uma das janelinhas de caras com o sol, para que a mesma pudesse brilhar e confortar a alma de Vínia.
– Agora saia, me espere no carro.
– Sim senhora.
Depois daquela ordem o motorista deixou a capelinha e foi directamente para o carro, enquanto caminhava sacudiu das suas mãos e terno algo que parecia um tipo de arreia verde e grudenta.
Marx ficou ali dentro, conversando com a amiga.
– Olá comediante, como está o mundo do outro lado? – colocou a questão. – Eu sinto a sua falta Vin, todos nós sentimos. Mesmo os descerebrados dos seus pais devem sentir. Eu trouxe flores para você. Trouxe também a flor brilhante da Ilha e que passámos as últimas férias. A Fly não atende o celular. Ela deve estar aproveitando a ausência dos pais para ficar em paz e sozinha em casa. Passo de lá depois de sair daqui. Amo muito você Vin, é sério.
A conversa não se estendeu muito. Marx olhou para o túmulo da amiga e depois para a flor na janela, e depois partiu. O motorista a esperava com o motor ligado.
– Leve-me a casa dos Victori. – disse referindo-se a família de Fly.
– Sim senhora. – A voz do motorista parecia sonolenta agora, menos activa que o normal.
Marx percebeu, mas não se importou, ela nunca perdeu tempo com empregados, mal conhecia os nomes deles, porquê se importaria com a saúde ou sei lá o quê deles? Desde que eles façam o trabalho, para ela estava tudo bem. O motorista, notou sangue saindo da sua boca, mas limpou aquilo e manteve as mãos firmes no volante.
Finalmente chegaram à casa dos Victori, mas de longe dava para perceber que a casa estava vazia. Apenas se via um homem que amontoava folhas num canto para depois incinerá-las. Aquele era o avô de Fly, que de vez em quando ia a casa da sua filha para limpar o quintal e concertar as coisas, isto contra a vontade da filha e do genro, que diziam que ele devia parar de agir como se ainda fosse jovem e fosse morar com eles de uma vez por todas.
– Bom dia senhor Victori.
– Oh!! Bom dia Mash – A ausência de dentes naquela boca decrépita fazia o velho pronunciar mal algumas sílabas ou mesmo palavras inteiras. – Shente-she, eu ia agora mesmo tomar um chá.
– Não posso senhor, mas fico feliz em vê-lo teimoso como sempre. Marx gostava daquele senhor, achava graça o facto de ele pronunciar mal algumas palavras. – Se o senhor está a varrer as folhas significa que os donos da casa não estão.
– Shim, elej shairam todoj numa viagem e ainda não voltaram.
– Está certo vovó, não me posso demorar, até breve. Assim que eles voltarem, peço que diga a sua neta para ir ter comigo em minha casa.
– Shim querida, farei isho. Adeuj!
Marx deixou o velho e voltou para o carro sorrindo. De alguma forma, aquele velho sempre a fazia rir e espantava-lhe os temores. Ela entrou no carro e disse ao motorista pera prosseguir de volta à casa.
O velho ficou observando o carro à fugir-lhe da visão. Depois que o carro descreveu a curva que ia dar ao corredor rodoviário principal, o velho deixou a grande vassoura que segurava e caminhou em direcção ao interior da casa. Enquanto o velho caminhava, algo absurdo aconteceu. A pele do velho começou a separar-se da carne e derretia, formando poças de sangue, os olhos caíram-lhe, desconexos das cavidades oculares. Quando tudo aquilo aconteceu, viu-se alguém a abrir um armário, de onde saiu o corpo de um velho ensanguentado, parecia ter sido torturado e devorado por alguma coisa, raízes saiam da sua boca e narinas. Aquele velho era o verdadeiro Sr. Victori, que foi morto muito antes da chegada de Marx naquela casa, e depois disso, Mack assumiu a sua identidade, o imitando fielmente.
Continua...
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#Dark & #James_Nungo
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