ANOS ANTES

Lordickin sabia que voltar a cidade de Khedie seria mais que um suicídio, mas também sabia que se não fizesse nada a morte chegaria numa velocidade absurda e inopinadamente. Assim, sabia que a pessoa que lhes faria chegar até ao feiticeiro que lançou o feitiço era obviamente a Rosana, no entanto Rosana de certeza que não perderia o seu tempo para quebrar um feitiço que ela mesma permitiu que atingisse o seu amante.

Lordickin e a família não demoraram no "homem de Khedie", pois não tinham como quebrar o feitiço sem a presença da pessoa que lançou.

Um grande sofrimento havia sido plantado no homem e na sua família, pois a cada noite que estes passavam, mais terror atingia as suas mentes e por várias semanas procuraram ajuda, conversando com líderes religiosos que infelizmente não conseguiam quebrar o feitiço tão forte até que um dia Simon teve uma visão, a sua primeira visão de uma Ilha paradisíaca que se apresentava de um modo espetacular. O brilho em cada parte da mesma era surreal.

Simon nunca viajara ou vira uma ilha tão maravilhosa como a que apareceu na sua visão, algo que o deixou atónito e não demorou para contar aos seus pais, que também não viram nenhum elo com a situação em que estavam passando, mas Simon ficou com aquilo até que tornou-se adulto.

Na mesma visão ele viu uma montanha feita de fotos de diferentes pessoas, como adolescentes e alguns adultos. No topo de uma colina que existia ali havia uma construção que se aproximava de um castelo e perto do mesmo havia dois tipos de pássaros, uma coruja e um corvo, sendo que o corvo estava no lado esquerdo e a coruja no lado direito, os dois tinham olhos vermelhos. Às vezes conseguia ver uma grupo de adolescentes do seu lado esquerdo segurando a sua mão, e outro grupo era de adulto, do seu lado direito também segurando a sua mão. Além disso, via adultos chorarem sangue aos prantos, de joelhos.

A coisa que preocupou a criança foi a ausência do nome da Ilha, mas no tronco de uma das árvores estava escrito algo que não conseguiu ver com nitidez; satrus. O menino tentou deduzir que fosse o nome da Ilha, mas mesmo tendo investigado durante os anos de vida que somava como alguém especial, nunca havia encontrado uma resposta.

Algo marcante para o pequeno, que tem a ver com a visão, foi o fato de ter visto areia verde, sim areia verde, exatamente na superfície onde estava a árvore com a palavra estrambólica; satrus.

Aos poucos a depressão tomava conta do Lordickin e assim ele morria aos poucos, Simon e Loydina eram os espectadores da desgraça de um homem que acabou desistindo de tudo e mesmo da sua profissão. Ele era um escritor talentoso que só lançava uma obra a cada 5 anos, por conta do seu perfeccionismo quando o assunto era a escrita, no entanto eram obras de sucesso que consequentemente traziam lucros exorbitantes.

Como uma forma de salvar a sua família que juntamente com ele sofria, o homem decidiu se afastar dos dois e dar um tempo longe, pois quem carregava o feitiço era ele e não os outros. Loydina não concordou com a ideia, porém mesmo assim Lordickin se distanciou, os abandonando por algumas semanas que foi o tempo dos circunstantes sentirem paz, no verdadeiro sentido da palavra.

Durante esse tempo Simon teve uma visão que lhe perturbou desde criança e perdurou por muitos anos. Ele viu a morte do seu pai e em seguida da sua mãe, numa espécie de um resumo, o menino nada disse a mãe por não crer naquilo que a sua mente viu e fazia de tudo para não acreditar na sua própria visão, a mesma tenha sido bem intensa que depois dela, ele desmaiou e a sua mãe encontrou-o no chão sem sentidos.

Loydina vivia com preocupação e sempre buscava uma maneira de tirar o marido daquela situação, mas nada, nada mesmo resultava, a esperança estava morrendo de uma forma lenta e ninguém além de duas pessoas podiam mudar aquela realidade.

De supetão, numa noite de lua cheia Lordickin voltou para casa, mas o mesmo estava acabado literalmente. Bateu na porta pedindo licença e o seu filho com uma grande esperança depois de ter sido agredido pela saudade do pai, foi abrir a porta, assim se deparando com Lordickin, o pai sorrindo para ele com o seu cigarro nos lábios e o fumo subindo na direção dos céus.

Os lábios estavam pálidos e ressecados ao ponto de apresentarem rachaduras que sangravam e a sua pele escura estava mais escura. As suas vestes eram de alguém sem noção de higiene.

Os olhos de Simon brilharam quando ele viu o seu pai diante dele e nada mais importava.

– Meu amado filho. – disse Lordickin e seguida se abaixou para erguer o seu pequeno nos seus braços imundos.

O filho sorriu para ele e os dois se envolveram num grande abraço caloroso.

Loydina correu até a porta principal da sala onde viu o seu amado num estado preocupante e, as lágrimas lhe caíram das órbitas. As suas mãos foram a boca e nariz, petrificada ficou olhando para o estado do seu marido.

– Meu amor, eu estou aqui de volta. Amo-vos com todo o meu coração. – as palavras do homem soaram bem suaves e Loydina correu até o seu amado, assim lhe dando um abraço cheio de amor.

Nada mais importava além de ver o seu esposo de volta, para tentarem mais uma vez lutar com o mal e vencer. A esperança havia renascido depois de uma amargura que atingira até as vísceras dos pensamentos.

Aquela noite foi mais uma marcante, que fez parte do último mês de vida do casal, da mesma forma como o Simon viu na sua maldita visão e na mesma visão novamente vira a areia verde, que passaria a atormentar a sua mente anos futuros.

Loydina, com ajuda dos amigos e familiares conseguiu recuperar Lordickin que havia, praticamente perdido a sua sanidade mental.

Semanas foram passando até que se completou um mês, e quando achavam terem encontrado uma forma de quebrar o feitiço, o pior aconteceu.

Numa tarde, Lordickin estava sentado no seu escritório escrevendo algo para poder publicar no mês seguinte, com intuito de fazer uma boa renda para poder ajudar a família, pois o salário da Loydina não era suficiente, coisa que não acontecia quando os dois trabalhavam. O valor dos royalties dos dois livros publicados de Lordickin já não eram grande coisa, infelizmente.

Ele tirou o último cigarro do seu maço e colocou entre os seus lábios. Acendeu e puxou com muita força olhando para cima como se pedisse socorro ao altíssimo dos céus, no entanto em simultâneo sentia que a morte se aproximava porque excêntricamente escutava uma voz sussurrando nos seus ouvidos, com frequência, a voz era simplesmente demoníaca. Na verdade ele já havia passado pelas duas fazes do sofrimento, infestação e opressão agora faltava a coisa mais macabra que o menino Simon visualizou e por conta da mesma desmaiou.

Simon foi até ao escritório onde estava o pai para conversar com ele. Primeiro, olhou para o seu progenitor como se estivesse o admirando, olhando para o fumo que subia pelos ares e em seguida disse:

– O que sente quando fuma, pai?

O homem virou e olhou para o pequeno homem que olhava para ele com intensidade aguardando pela resposta.

– Me sinto livre de tudo que há de ruim nesta vida. – E não me olhe assim isto não é para crianças, fique bem longe disto. – Lordickin diz tirando dos seus lábios e cuspindo o fumo que sobe os degraus dos ares sempre indo ao topo.

– Eu sei pai, que não posso fumar. Minha professora disse que prejudica a saúde. Mas pai, porquê que não pára de fumar.

– Ainda vais entender. Talvez eu te conte quando completares 18 anos de idade.

– E porquê não me conta agora?– o menino diz se aproximando mais ainda do seu pai até que vê uma cadeira próxima da secretária do pai. – posso me sentar?

– Senta aí, mas não posso te contar porque não vais entender, ainda és uma criança.

– Eu já não sou criança, pai, você sabe que eu sou muito inteligente, vou entender tudinho o que me contar.

– Convencido. – disse Lordickin e puxou mais ainda o fumo do cigarro colocando uma pausa que convidou um silêncio que quase se tornou áspero.

Continua...
___________________________________________
#Dark & #James_Nungo

Deixe o seu comentário e não esqueça de chamar familiares e amigos para ler.