Epílogo & Ikigai
Música: What A Beautiful Name (なんて麗しい名) por Hillsong Japanese (Hillsong日本語)
No verão
Aurora colocou a escova de cabelo sobre a penteadeira e se levantou. Caminhou até a porta do quarto e deu um suspiro antes de empurrar a folha para sair. O vestido branco se estendia até o chão, arrastando uma curta cauda. Os braços estavam cobertos por uma fina renda até os pulsos, e um véu lhe descia da coroa de flores de cerejeira até o chão.
Frederic estendeu o braço para ela, que prontamente o segurou, apertando o tecido de seu terno e procurando controlar os tremores. Caminharam, juntos, até a porta dos fundos da cabana.
Assim que Frederic abriu a porta, a luz alaranjada do pôr-do-sol atingiu seus olhos, cegando-a por um ou dois segundos. Quando sua visão se ajustou, pôde ver todas as pessoas se levantando das cadeiras de madeira previamente arrumadas. Océane, Yuri, Made, Amadeus, Joana, François, Louciene, Marie Louise, Marie Claire, Beau e parte da congregação da pequena igreja de Paris.
Lá na frente, além de todo o caminho verde de grama, na frente de uma enorme cerejeira, Tadashi estava esperando. A pedido da noiva, usava um quimono vermelho. O vermelho vibrante no meio de todo aquele campo verde a fez sorrir. De fato, Tadashi sempre fora distinto. O cabelo longo havia sido preso no costumeiro rabo-de-cavalo, e o rosto se modificava em um crescente sorriso.
As pétalas das flores de cerejeira, as sakuras, que se desprendiam da árvore com o vento e vinham até ela, pareciam fazer um convite. Enquanto isso, o pôr-do-sol parecia anunciar o fim de uma jornada, mas o início de outra.
— Vá, minha filha — Frederic disse. — Seja feliz.
E, então, ela foi.
Foi em uma tarde de verão que Aurora e Tadashi pela primeira vez se viram, e também foi em uma tarde de verão que se casaram. Em 7 de julho de 1871, quando a guerra já era passado e tudo que havia era felicidade em um grande campo verde, Aurora, até então, Fontaine disse que iria amar alguém pelo o resto de sua vida.
E, então, ela amou. E o nome dele era Tadashi Sakurai. Ele era japonês, tinha uma irmã e um passado conturbado. Ele teve um encontro com Cristo e a luz invadiu sua vida, ainda que em meio à guerra. Ele tinha uma cicatriz no meio do rosto e olhos puxados. Ele tinha cabelos negros, longos e lisos. Ele tinha olhos tão escuros quanto os cabelos e podia ter um senso de humor sério demais, às vezes. E ele foi amado, muito, muito amado, por sua esposa, Aurora Sakurai.
Mas antes de tudo isso, Aurora uma vez esteve naquele cenário bucólico em 1871 e, nele, Tadashi estava no centro da visão dela. E aquela visão, ele parado, vestido de vermelho e embaixo de uma cerejeira florida em rosa, ela guardou para sempre em seu coração.
Aurora Sakurai amou Tadashi Sakurai como esposa até seu último suspiro. E, depois disso, amou-o como irmã para todo o sempre, pelos séculos dos séculos.
***
"Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia.
Portanto não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares.
Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza. (Selá.)
Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo.
Deus está no meio dela; não se abalará. Deus a ajudará, já ao romper da manhã"
— Salmos 46:1-5
Ikigai, "o objetivo da vida que lhe faz levantar todas as manhãs" é comumente associado a uma profissão ou um hobby. Tão inconstantes e volúveis são os sentimentos humanos que, para Aurora, aquilo nunca havia sido suficiente.
Para ela, o Ikigai seria uma pessoa. Mas não uma pessoa comum, uma pessoa tríade. Uma pessoa muito além de qualquer entendimento, muito além de qualquer profissão ou qualquer paixão. Além, também, de todas as outras pessoas.
Somente aquela pessoa daria um válido motivo de viver a alguém — todo o resto, ainda que somado, não seria suficiente, eventualmente. A Pessoa Tríade, contudo, bastaria por si só — ainda que todo o resto faltasse. E, dentro daquela Pessoa, não somente ela, mas todos poderiam encontrar um ikigai, um motivo de viver.
O motivo de viver, para ela, não poderia se resumir a uma ação específica, mas poderia se resumir àquela Pessoa, que comanda muitas ações. O motivo de viver dela era aquele Alguém. Então, ainda que as águas rugissem e os montes se abalassem, tudo ficaria bem.
Quem é o seu Ikigai?
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