Capítulo 18
"Eu disse:
— Por muito tempo, você vai esperar por mim. Durante esse tempo não se torne prostituta, nem se entregue a um amante. E eu também esperarei por você."
— Oseias 3:3
Por mais de uma hora, Aurora e Yuri esperaram na sala enquanto Louciene e Frederic atendiam Tadashi a portas fechadas. Não era surpresa que, em uma guerra, o hospital estivesse lotado e que ali, com um médico e uma enfermeira à disposição, poderia receber mais atenção.
O plano era: caso a situação não melhorasse, seria levado para o hospital, onde teria acesso a mais aparatos. Caso melhorasse, se recuperaria ali mesmo. O prazo era até a noite, quando a escala extraordinária de guerra do casal começaria.
Aurora permaneceu segurando o pequeno pedaço de papel que Tadashi deixara — naquela altura, estava amassado, borrado e até um pouco rasgado.
Quando Louciene finalmente parou de entrar e sair correndo do quarto com uma bacia metálica cheia de panos ensopados de sangue, de água ou limpos, e saiu devagar, deu a notícia:
— Por enquanto, ele vai ficar bem — sorriu para as moças. — Querem entrar?
Ambas assentiram, entrando no quarto para ver Frederic travando a maleta na qual carregava seus aparatos de ofício. Indicou com a mão para o rapaz com um sorriso, em sinal de que estava tudo bem. Contudo, falou para as moças que ele ainda estava inconsciente e logo em seguida se retirou, indo descansar para trabalhar à noite.
Elas deram a volta na cama, parando do lado do rapaz desacordado. Sobre seu rosto, algumas camadas de tecidos cobriam a pele machucada. Analisaram o samurai coberto pelo lençol até o peitoral por alguns minutos, antes de se afastarem um pouco. Aurora se sentou em uma poltrona próxima à cama, enquanto Yuri foi até a janela. A primeira novamente voltou a segurar o papel, alternando olhares entre o samurai e o bilhete.
— Ah, então é por isso — ouviu Yuri dizer atrás dela.
Imediatamente se virou, envolvendo o papel com as duas mãos e encarando-a em surpresa. A onna-bugeisha escorada no peitoril da janela e com os braços cruzados deu um pequeno sorriso que Aurora não pôde decifrar.
— O que?
— A mão dele — Yuri falou como se fosse óbvio.
Aurora voltou a encará-lo, finalmente prestando atenção nos braços sobre o lençol. No dedo mindinho da mão direita, uma listra vermelha. A moça prestou atenção para perceber que era uma fita. Uma fita vermelha amarrada no dedo mindinho. Mas um vermelho... sujo.
Aquela fita não era originalmente vermelha. Aquela era a fita branca que Aurora havia dito que ele precisaria devolver para ela. A fita outrora imaculada e reluzentemente branca de cetim esteve embebida de sangue do rapaz que estava deitado à sua frente — mas naquele momento, o sangue já havia secado. E aquela era a causa da nova cor da fita: vermelho sangria.
— Nesse papel está escrito akai ito — Yuri explicou. — Significa "fio vermelho". É uma lenda bem popular no Japão. É uma linha vermelha invisível que é amarrada em cada pessoa no seu nascimento. Cada uma das duas pontas da linha está amarrada no dedo mindinho de uma pessoa... e as duas estão destinadas a ficarem juntas. A linha pode se esticar, enrolar e dar nós com passar do tempo, mas as duas pessoas continuam conectadas. É essa a lenda. Algo parecido com o que vocês conhecem por alma gêmea ou essas coisas.
Por alguns instantes, ambas permaneceram em silêncio. Talvez ambas estivessem assimilando e digerindo aquela informação que veio em tal contexto. Aurora prostrou-se sobre as pernas, levando as mãos à testa e pensando nas palavras de François ditas anteriormente. Como iria explicar aquilo para Tadashi?
Somente então percebeu como aquela situação havia ficado fora de controle. Fora de controle, sim, porque se sentia culpada em contar para ele o que ouvira e provavelmente frear um sentimento. E, se tinha que frear, significava que algo estava em andamento — algo que nem deveria estar, para começo de conversa. Não sem a permissão de Deus, que claramente não havia sido requisitada antes de ser dada a partida.
— Nós passamos por muita coisa — Yuri voltou a soar, perante a reação da moça. — Não brinque com os sentimentos do meu irmão, certo?
Ela fechou os olhos em resposta, imaginando o que Yuri quis dizer com "brincar". Inicialmente pensou em se defender com "eu também passei por muita coisa" ou qualquer outra frase que não pareceu muito inteligente de dizer no momento. Por fim, concordou com um balançar de cabeça.
Soltou o ar pesadamente e se levantou da poltrona, saindo do quarto e fechando a porta atrás de si, dizendo para si mesma que os irmãos deveriam ficar sozinhos — na verdade, estava se sentindo sufocada pela culpa.
Seria possível que Tadashi já tivesse o entendimento necessário para ouvir a verdade e não pensar que Aurora o estaria dando uma desculpa qualquer para fugir dele sem assumir culpa pelas próprias ações?
Foi para o quarto de três camas onde as irmãs estavam e se jogou na cama, começando a ensaiar como falaria aquilo e prevendo possíveis respostas dele — e respostas para as respostas dele.
Não durou muito tempo até que ouvisse uma movimentação na sala. Pensando ser sobre Tadashi, ergueu-se da cama e partiu até o quarto em que o samurai jazia, encontrando Frederic fechando a porta do quarto.
— Ele acordou?
— Sim — Frederic respondeu. Quando a moça tentou o contornar para abrir a porta, o médico estendeu o braço em seu caminho, impedindo a passagem. — Filha, ele não quer que você entre.
Sentiu seu coração afundar dentro de si. Sentiu um vazio, como se um buraco tivesse se aberto entre o coração e o estômago, ao passo em que as pontas externas das sobrancelhas despencaram e os lábios se abriram em surpresa.
— Por quê? — Perguntou em um sussurro.
Frederic encolheu os ombros em sinal de quem não tinha aquela resposta. Com um olhar complacente, querendo magoá-la o mínimo possível, respondeu:
— Respeite a escolha dele — apertou os lábios enquanto respirava fundo. — Não está sendo fácil. Apenas dê o tempo que ele precisa, certo? Espere.
Quando Frederic se retirou, ela engoliu em seco de forma audível e ergueu os olhos para a madeira escura da porta, para a altura de Tadashi. Suspirou exasperado e desceu os olhos, encontrando a luz que passava por baixo da porta cortada pela sombra de alguém em pé do outro lado.
— Por quê? — Repetiu baixo, como que para si mesma, ainda que soubesse que ele estava ouvindo do outro lado. Uma parte dela implorou silenciosamente para que ele respondesse do outro lado, pois sabia que tinha ouvido.
Mas a sombra se mexeu e sumiu. Ele havia dado meia volta e a deixado sem resposta, quebrada, preocupada e culpada.
Ela apertou os punhos fortemente, sentindo as unhas contra a carne das palmas e mordeu a língua, reprimindo um choro impulsivo. Apertou os olhos com toda a força que tinha: não iria chorar. Não. Iria. Chorar.
"Espere".
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