Capítulo 11
Música: Set your eyes, por Jonathan e Emily Martin
"Ouvindo falar de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou na sua vestimenta. Porque dizia: Se tão somente tocar nas suas vestes, sararei."
— Marcos 5:27-28
— Esta passagem é sobre a mulher do fluxo de sangue. Para aqueles que não conhecem essa história, é o seguinte: havia uma mulher que há doze anos sofria de hemorragia. Essa mulher já havia visitado muitos e muitos médicos e gastado tudo o que tinha tentando se curar, mas de nada lhe adiantou — fez uma breve pausa. — Uma vez, um certo homem chamado Jesus estava passando por aquele lugar e aquela mulher ouviu que ele estava ali. Por onde esse homem passava, ele arrastava multidões inteiras, e naquele lugar não foi diferente. Jesus estava andando e todo mundo estava tentando chegar perto dele, tentando tocar nele. Então ela teve a ideia de fazer o mesmo: ir até ele. Ele curava, não curava? Não fazia milagres? E ela já não tinha mais saúde, já não tinha mais dinheiro, já não tinha mais nada. Então, desesperada, ela foi até esse homem. Ela saiu pelo meio da multidão, empurrando todo mundo... e toca na ponta da capa dele. — Frederic fez mais uma pausa, deixando nascer um leve sorriso em seu rosto. — Então ele se vira e pergunta "quem me tocou?". Bem, ela estava com problemas? — Perguntou à igreja, logo em seguida respondendo: — sim, ela estava com problemas. Está escrito em Levítico 15:19 que todo aquele que tocar em uma mulher com fluxo de sangue ficaria impuro até a tarde.
Frederic prosseguiu falando de quantas pessoas aquela mulher teria tocado para chegar até o (inacreditável) ápice de tocar uma pessoa santa. Para chegar a esse nível, alguém deveria estar com muita coragem ou muito desesperado. "Teria aquela mulher deixado Jesus impuro?" foi a pergunta de Frederic. A resposta foi não, porque não importa o quão sujo alguém esteja, jamais será sujo o suficiente para sujar Jesus. Ao contrário disso: quando ela o tocou, foi curada. Aconteceu o total contrário do esperado.
E então vinha a parte de Jesus ter se virado. Ele estava em uma multidão. Se alguém imaginar essa cena, claramente verá que Jesus anteriormente foi tocado várias vezes por outras pessoas, mas ele nada disse. Então ele sentiu um único toque. E se virou para perguntar; e ninguém respondeu nada. Porque até então, estavam todos tocando, apertando, chegando perto. Quando ele perguntou, parou e ficou olhando em volta, aguardando. E ninguém disse nada.
Mas quando a mulher o tocou, foi curada e ela sabia disso. Ela sabia que ele estava falando com ela. Então, com medo, ela admitiu ter sido quem tocou. Ela admitiu temendo e tremendo, porque sabia que não deveria tocar em ninguém. Agora, que finalmente havia sido curada, seria morta porque havia deixado O Cristo impuro?
Ela, então, se prostrou e contou toda a verdade. Que estava desesperada, que ouviu que ele estava passando por ali. Que ela já não tinha bens, saúde, nada a perder. E que o tocara. Nesse ponto, se a cena for imaginada, já se poderia ver os rostos da multidão se contorcendo para a mulher excluída, com roupas sujas, com corpo até então doente... que havia tocado Jesus. O Jesus. Aquele Jesus.
Então a pregação tomou um subtópico. Indo à Bíblia em Êxodo 33:7, Frederic explicou como se davam os encontros de Moisés com Deus: em uma tenda denominada Tenda do Encontro, fora do acampamento, Moisés entrava e conversava com Deus. Essa tenda se denominava tal. Mas não era a vontade de Deus que somente Moisés falasse com ele, mas todos: daí veio o talit. Talit é uma capa usada pelos homens judeus no momento de orarem. Usam ela jogando por cima de si como uma "tenda", para que não sejam atrapalhados, para que tenham tempo de qualidade com Deus.
Quando um homem estivesse sob seu talit, falando com o seu Deus, ninguém deveria atrapalhá-lo, ninguém... com uma única exceção: caso seu filhinho ou filhinha se achegasse e pedisse para que seu papai orasse por ele. Então ele poderia parar o que estava fazendo sem que seu filho fosse culpado de algo errado. E oraria por ele.
Aquela mulher tocou na ponta do talit.
E Jesus se utilizou da única exceção para salvar aquela mulher do que poderia acontecer com ela a seguir por o ter tocado: ele a chamou de filha. Ele disse "filha, a tua fé te salvou". Ele fez questão de chamá-la de filha. Ele não só a curou, como a salvou da culpa, da punição que lhe era, em tese, devida.
Salvou aquela que ninguém deveria tocar há doze anos. Salvou aquela que sempre estava suja, aquela que as pessoas queriam passar longe, aquela que nem poderia mais tocar em alguém ou em algo sem que trouxesse consequências negativas.
— Não existe algo como "sujo demais" para se aproximar de Jesus. Ele quer curar, sempre quis. Ele quer purificar. Filhos, se acheguem para serem curados. Não tenho medo! Você não quer ser julgado? Não será. Você não quer receber olhar de nojo ou desprezo? Você não receberá. O Mestre está aqui, o Mestre está aí. Corra para perto!
Tadashi abaixou o olhar, sentindo um tremor percorrer seu tronco. Um nó que surgiu em sua garganta o fez enrijecer a postura e apertar os punhos. Sem entender o que acontecia, tentou manter a respiração controlada enquanto evitava a todo custo piscar os olhos cada vez mais cheios, para que não transbordassem.
Por que não conseguia parar de tremer ou parar seus olhos de se encherem ainda mais? Por que seu corpo não parecia lhe obedecer?
— Não pense que você é um sujo no meio de perfeitos! — Frederic voltou a falar. — Se você tem vergonha de algo do seu passado, se você tem algo sobre si que não consegue falar por vergonha ou medo, se você acha que não merece o que tem... levante sua mão.
Tadashi observou os braços de toda a igreja se erguerem. Todas as pessoas à sua volta. Todas. Sentiu um arrepio em seu corpo pelo peso daquelas perguntas. Era possível que todos ali carregassem tamanha vergonha — como a dele?
Todos levantaram suas mãos, menos ele. Olhou para Yuri, à sua direita, que estava com olhar choroso e com a mão erguida. Olhou para a esquerda, para Aurora, que mordia os lábios prendendo as lágrimas e tinha sua mão levantada.
Tadashi tinha certeza que tinha mais vergonha, medo e arrependimento dentro de si do que as duas juntas. Perante si mesmo, ele já era mais que desprezível e já não serviria para nada, findada a guerra. Quem o iria querer para fazer algo? Não teria sido melhor se nem tivesse nascido, do que nascer para ter uma vida tão nojenta?
Estava desesperado e já não tinha o que perder.
Então, em um suave movimento, ergueu o punho à altura do ombro e lentamente esticou os dedos. Elevou o olhar até Frederic que, em cima do púlpito, olhou diretamente para ele e deu um pequeno suspiro e um leve sorriso com expressão emocionada ao rapaz.
— Você não está sozinho. E nem é sujo ou suja demais comparado a alguém... porque todos pecaram e precisam da graça de Jesus.
Tadashi desceu sua mão, repousando-a ao lado de seu corpo e deixando que Yuri entrelaçasse seus dedos nos dele, segurando firmemente sua mão.
Ele já não tinha pai ou mãe, já não tinha mais uma comunidade para o admirar e estava em uma terra desconhecida. O que tinha a perder?
E Jesus o aceitaria, Frederic disse. Jesus era gentil, Aurora disse. Ele estava em pedaços, Jesus o poderia... sarar.
Quando o culto acabou, Tadashi partiu em disparada para fora da igreja, deixando todos para trás sem entender nada. Assim que a luz da lua o atingiu, sua respiração se descontrolou. Levou as mãos à raiz dos cabelos, apertando e deixando que algumas lágrimas lhe escapassem.
Um assassino não mereceria tal perdão, certo? Paulo deveria ter sido uma única exceção porque ele faria grandes coisas. Mas não Tadashi. Não, dele não sairia nada que prestasse. Talvez devesse ir embora e parar de importunar pessoas tão boas. Talvez devesse fazer a Jesus um favor e deixar de ser uma de suas preocupações. Devia ser horrível amar Tadashi... ele parecia fazer coisas erradas uma atrás da outra. Não queria magoar Jesus. Não queria cansar Jesus. Não queria sujar Jesus.
Mas Frederic não acabara de dizer que Jesus não poderia ficar impuro? Que não poderia ser atingido pelos erros de Tadashi?
Sua mente estava em completo caos. Agachou-se ao lado da parede de pedras tentando entender o que estava acontecendo em sua cabeça. Aquela batalha ensurdecedora entre culpa e desespero parecia que iria lhe matar a qualquer segundo.
Em meio às lágrimas, ao caos e à batalha de sua mente, uma voz ressoou como um badalar de sino, puxando-o de seus pensamentos desesperadores e fazendo tudo silenciar. Fazendo com que ele erguesse os olhos procurando o emissor da voz:
— Filho!
Seus olhos pousaram em Frederic, que acabara de sair correndo da igreja. Em um segundo de coragem insana, impulsionou-se da parede e correu o mais rápido que pôde até o pastor. Assim que chegou, lançou-se em seus braços para um abraço apertado.
De sua boca saiu um choro alto enquanto suas pernas fraquejaram. Frederic deixou-se sentar lentamente na rua de pedras, trazendo Tadashi consigo. Em meio a soluços de um choro desenfreado e dor insuportável sendo trazida à tona, o guerreiro sentiu seu tronco aquecer, como se tivesse nascido, de uma explosão, um fogo em seu peito.
---
* Esta pregação foi originalmente feita pelo Rev. Steve Jones em 18/10/18 no Ministério Gileade sede, em Vila Velha - ES.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro