ATO 13
A bondade só existe de fato para quem nunca conheceu o mal
Ela sorria de uma forma única, cantarolando uma canção repetidas vezes enquanto colhia flores e guardava em uma sacola.
Um semblante que eu gostaria de ter o tempo todo. Algo que eu possa dizer com muito orgulho: Amanda é uma criança feliz de verdade. Eleonor me contou sua historia pouco depois de ter mostrado o quarto onde eu dormiria.
Criada por sua mãe, já com uma idade avançada, em um local humilde, haviam dias que sua ente querida deixava de comer para alimenta-la e os custos não eram baixos. O objetivo da senhora era pagar uma escola boa para ela, devido a sua deficiência. Mesmo com uma vida repleta de baixos, a garota mantinha o sorriso lado a lado contagiando e reconfortando todos em sua volta. Entretanto em um dia castigador, onde o inverno chegara na região de Berlim na Alemanha, a senhora falecera em meio a uma cantiga que cantava para Amanda antes de dormir. A questão é que Amanda nunca entendeu de fato, a morte da mãe e para ela a senhora foi dormir para tentar lembrar o resto da canção.
Dois dias depois, sua professora dera falta da garota nas aulas posteriores e foi até sua casa. A mulher percebeu a porta aberta e entrou, deparando com Amanda em seu quarto deitada e olhando para o chão atentamente, aguardando o despertar de sua mãe. A mulher registrou o ocorrido na policia. Encaminhada para um orfanato de Berlim, Amanda, apesar de nunca entender a perca que teve, continuava cantando a mesma canção todos os dias e dizia que quando sua mãe acordar ela finalmente descobriria o resto da letra, podendo assim canta-la por completo.
— Vou te mostrar o melhor lugar do mundo, Pandora, está preparada? — Disse Amanda saltitando enquanto me puxava pelo braço — É um lugar secreto que ninguém sabe que existe, você vai ser a primeira!
— Estou mesmo curiosa, vamos! — Naquela tarde, o sol já estava baixo e o vento quase inexistente. Caminhamos rumo a floresta sem avisar os demais. A garota estava determinada a ir comigo sem a permissão de ninguém — Joice deixa vocês caminharem por essa floresta?
— Ela me da muitos puxões de orelha quando faço isso, mas eu não consigo ficar nos jardins muito tempo, gosto de lugares com lagos. Você vai ver! Você vai ver! — Gargalhava ela.
Adentramos o matagal em linha reta. Olhando para trás ainda tínhamos a vista do sitio. Prestei muita atenção no caminho e joguei algumas pedras para marcar nossos passos caso nos perdêssemos. Mas pela confiança de Amanda, acredito que não teríamos esse problema. Passando por algumas arvores curvas e cheia de galhos finos, escutei um som forte de agua escorrendo. Passamos por moitas grandes e algumas poças de lama até chegar ao misterioso local.
De fato era uma área bem diferente das demais.
Uma cachoeira extensa jogava lá de cima uma água cristalina em cima de um lago azulado que refletia os fracos raios de sol daquele fim de tarde. Pude sentir o cheiro de terra molhada, junto de flores tão coloridas quanto as do jardim do sítio. O terreno circular era cercado pelas arvores, tornando-o parte da floresta e ao mesmo tempo não.
— Amanda, isso tudo é muito lindo...
— É mesmo! Eu é que planto essas flores aqui. Pego lá do jardim e as trago para cá, isso deixa esse lugar bem mais bonito, não é?
— Com certeza.
Amanda correu em direção as flores replantadas e do saco que segurava pegou mais delas e deixou ali, para serem colocadas mais tarde. A garota estava completamente radiante, orgulhosa de seu campo florido. O som da cachoeira, apesar de alto era confortável, extirpava todos os meus dilemas do momento. Me senti melhor ao ver uma criança como Amanda, alegre.
Quando perdi tudo, não consegui ficar desse jeito, tocar a vida para frente, sorrir. Ninguem deu uma segunda chance para Amanda, foi ela que se deu esta chance, assim como eu deveria ter me dado.
— "Quando a neve cessar e a lareira apagar
Veja o bolo que fiz e o amor que plantei
O jardim vai florir mais uma vez
Quando a chuva passar
Veja o céu a brilhar e as aves cantar
Olha os doces que fiz, permaneça feliz
Permaneça feliz, Permaneça feliz, Permaneça feliz "
— Uma canção tão bonita quando essas flores! — Respondi enquanto a observava.
— Obrigada, Pandora! Foi minha mamãe que fez. Joice me disse que quando mamãe acordar ela me avisará. Tem mais uma parte da canção, sabia? Mas eu não sei... — E naquela hora, Amanda deixou o sorriso de lado e olhou para mim frustrada.
— Eu acredito que você vai saber o resto, mas na hora certa! — respondi não muito confiante. Nunca tive experiência em reconfortar pessoas.
No momento em que paramos de conversar, prestei mais atenção no poderoso som da cachoeira cristalina, e olhei acima, onde a água escorria como um véu. Naquela hora algo muito rápido passou atrás de mim sorrateiramente. Um ar gélido penetrara por segundos minha pele e os calafrios chegaram em seguida.
Olhei de imediato o que poderia ser, mas não avistei nada. Amanda também parecia ter notado.
— O que foi isso? — perguntei a mim mesma.
— Pandora, é melhor voltarmos... — concluiu Amanda olhando para as profundezas da floresta, onde o vulto passara.
— Sim, vamos — estendi meu braço para que ela pudesse pegar minha mão e juntas refizemos o caminho para o sitio. Já era tarde de mais para meu sexto sentido, ele parecia apitar a cada passo que dávamos, um alarme interno dizendo: Alguém está observando vocês. Alguém distante, porém atento. Acelerei os passos. Amanda permaneceu em silencio.
— Não fique amedrontada. Todo fim de tarde eles aparecem.
— Eles... quem? — perguntei interrompendo a caminhada.
— Os animais selvagens! Nunca os vi de perto porque tenho medo, mas lembro de seus olhos brilhantes!
— Eles se pareciam com o que, exatamente?
— Não sei, são rápidos, não deixam serem vistos, mas nunca fizeram mal a ninguém. Devem ser os guardiões da floresta! Já pensou que incrível?
— Guardiões ou não, recomendo você não vir mais aqui sozinha, Amanda, pode ser perigoso.
— Mas... mas não posso contar a elas, Joice nunca mais vai deixar eu vir aqui...
— Não tem ninguém em que você possa confiar? Alguém que não contaria a Joice seu segredo?
— Diana... ela é a única que guarda segredos. Será que ela viria comigo nas próximas vezes?
— Posso perguntar, mas não volte para lá sozinha, pessoas como nós, não temos muita sorte. Coisas ruins podem acontecer a qualquer momento, então se cuide — Olhei para ela, soltando sua mão e sorrindo. Amanda retribuiu o sorriso e correu para os jardins, retomando sua colheita.
Analisando o casarão antigo, avistei no andar de cima, uma menina me observando da janela de um dos quarto, e ao lado da janela o desenho do garoto triste. Quando notou que eu fazia a mesma coisa, ela se retirou dali e desapareceu de vista.
Mesmo com minha linha de raciocínio ainda falha, é incontestável o fato de que este lar, apesar de pacifico era rodeado por algo estranho, nada que eu pudesse me aprofundar muito pois meu corpo continuava muito relaxado. Eu estava leve, e isso era mais estranho ainda, pois além deste sitio e desta floresta, existe uma senhora enferma, precisando de minha atenção. Também existem dois amigos desaparecidos que também precisam de ajuda e tudo o que consigo pensar no momento é em absolutamente nada. Uma névoa tomou posse da minha mente, grudou como um chiclete e tenho a impressão de que não vai mais sair.
O que está acontecendo, afinal?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro