Møįsißūrė
Lá estava eu, me arrumando em frente ao grande espelho. Me arrumava e me arrumava, penteava o cabelo e me arrumava. Eu tinha que estar lindo. Eu tinha que estar lindo. Eu tinha que escrever e ler e existir lindo.
As pessoas feias ao meu redor se arrastavam, com suas pernas gigantes em busca de perfeição. Nenhuma delas era como eu. Todas tinham bocas gigantescas e pernas e olhos finos.
Tinham dentes podres que eu podia ver moscas. Nenhuma delas se vestia. Eu não via seus corpos, apenas pernas e bocas. Se arrastavam e gemiam, e as moscas faziam barulho, tudo enquanto eu me arrumava.
Jogava perfume para ficar cheiroso, tomava banhos e mais banhos para ser lindo. Mas mas esse gemido na minha cabeça. Seguia seguia por eles quererem estar no meu lugar. Todos se arrastavam para tentar chegar na frente do espelho QUE EU ESTAVA USANDO E ISSO ME DEIXAVA INCRIVELMENTE NERVOSO TERRIVELMENTE NERVOSO...
Lá atrás, entre os gemidos, uma das pessoas feias conversava com sua boca gigantesca. Podre e cheirava muito mal. Atirei meu perfume para eles. Idiota, o perfume se despedaçou. Eles não vão poder se sentir bonitos como eu, por que não tem como... Eu sou lindo como um deus, lindo como nenhum outro ser jamais será.
"PAREM COM ISSO!" Eu gritei, esperando que saíssem de perto com esses gemidos e conversas nojentas. Todos eles do meu lado, ao meu redor, na minha frente. Chegando perto.
Eles querem a minha beleza, eles querem ser eu, o meu talento, eles querem ser eu! Ser um deus como eu, um ser de extrema perfeição.
Absoluto.
Malditos vermes. Vermes em suas bocas que saiam e caiam e saiam e caiam enquanto eles conversavam e se arrastavam. Suas peles engorduradas... Seus olhos finos. Olhando de um lado para o outro no meu lindo espelho, tentando vislumbrar um pouquinho da minha beleza resplandecente.
Os gemidos estavam cada vez mais perto. Sentia suas línguas nojentas, cheirando como vômito, em meu ouvido. Seu fedor me intoxicou. Feios, invejosos, burros. Os feios nada sabiam, eram ignorantes absolutos, não são como eu, que sou a perfeição absoluta. Quando finalmente terminei de me arrumar, os feios comemoraram.
Eu iria caminhar sobre eles, pisando em seus corpos nojentos e desprezíveis.
Era uma honra pra eles.
Ver eu, um deus, usando seus talentos.
Quando fui para frente, minha roupa se desfez. Meu penteado, minhas pernas, minha boca gigantesca e podre. Eu me arrastei, rastejando pelo chão.
Olhei para trás.
Alguém estava lindo na frente do grande espelho. Que maravilhoso... Ser supremo.
Absoluto.
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