2‐ Recaidas Em Momentos Errados
Como todas as vezes ao pisar dentro dessa casa novamente, aquela mesma e velha sensação me invadem brutalmente.
Mobília revisada, garrafas de bebidas espalhadas e o cheiro denso. Me fazem lembrar sempre, de todos aqueles dias nos quais me trancada no banheiro com medo e do outro lado da porta ouvia todo aquele terror acontecer. Minha mãe implorando enquanto chorava e sem forças alguma para revidar e os estrondos um atrás do outro. Vidros sendo quebrados e ele, bem eu ainda guardo em minha memória o barulho de seu punho atingindo a face de minha mãe. As ofensas que gritava alto e claro desde vagabunda a puta.
Assim como agora a diferença é que eu cresci e sai daqui, eu quis deixar tudo isso. Eu quis deixar as agressões para atrás, mas ainda sim sou arrastada para salvar ela aqui.
- Anne, por-favor chame alguém eu vou ir ver como está a situação. Está tudo muito quieto. Peça para que venham mais de duas pessoas e não demore por-favor, eu não quero que algo me aconteça também.- Eu dizia mesmo prevendo que algo poderia acontecer, mas estávamos sozinhas aqui e obviamente, ninguém da vizinhança faria algo já que todos estavam acostumados demais com essa situação que já virá rotina a anos.
- Eu vou ser rápida, só tire a sua mãe de lá se conseguir, caso ao contrário espere. Tenho certeza que a viatura ja está a caminho. Deixe a porta aberta.- Concordo e me afasto entrando na casa.
Estava a mesma bagunça do dia anterior, claramente não foi tocado em nada desde a confusão que me fez ir até a delegacia para prestar depoimento que claramente, não valeu para nada.
Eu entendo que apartir do momento que minha mãe nega ajuda e ainda acobertar a verdade. Para a justiça não há o que fazer, é decisão dela, mas sabemos qual o final disso. Eu queria poder fazer algo, eu tentei, juro que tentei, mesmo que ela não tenha sido a melhor mãe do mundo. Mesmo que ela tenha sido negligente comigo após a morte de meu pai, eu não queria que fosse assim e que muito menos terminasse com ela morta.
Ela só precisa de ajuda e assistência psicológica depois que meu pai faleceu. Claramente o medo de eu crescer sem uma figura paterna e acabarmos desamparadas era muito grande, mas também resultou no que eu vivi e vivemos ainda.
Conforme eu subia as facas me aproximando dos quartos eu conseguia ouvir um choro, obviamente vindo do quarto principal.
- Mãe?- A chamo empurrando a porta.
- Wendy saia daqui!- Sinto minha respiração falhar ao ve-lá naquele estado.
De canto encolhida no chão, com as mãos cobrindo o rosto, claro para não ser atingindo. Mas, seu corpo estava uma lástima hematomas nítidos e uma vermelhidão imensa. Cobriam sua pele. Marcas da violência e do espancamento e ainda sim, eu não posso fazer muito.
- Venha, você precisa sair daqui.- Tento ajudá-la a levantar.
- Wendy, vá isso não é problema seu!
- Eu quero te ajudar! Por que você se humilha tanto por ele? Você não tem nada a perder...- A mesma lutava contra mim me impedindo que eu pode-se aproximar.
- Não ouviu sua pirralha?- Sinto meu corpo perder o equilíbrio e sinto meus olhos pesarem.- Saia daqui!- Levanto ao ouvir seus passos vindo em minha direção.
- Se você tentar fazer alguma coisa comigo...
- Vai fazer o quê? Chamar a polícia? Vai chama...- Ele sorria de forma asquerosa, como se tudo aquilo fosse diversão. Como se sentisse prazer em ver o sofrimento de nós duas. Sádico.- Não me diga que veio até aqui para relembrar os nossos dias...
Havia movimentação ao lado de fora, haviam chegado finalmente. Dou alguns passos rápido em direção a porta, mas sinto suas mãos me agarraram por trás.
O cheiro de álcool estava empreguinado no mesmo, me causava náusea. Esse babaca, só tem cria coragem quando bebe. É sempre assim.
Me debato tentando sair de seus braços. Mas, mesmo bêbado parecia ganhar cada vez mais força.
- Shhhh...- Tampa minha boca me prençando contra a parede.- Quietinha...- Lágrimas grossas de desespero escorriam pelo o meu rosto, sinal físico de que aquilo me despertava as piores memórias possíveis.
Assim como quando mais nova, eu não podia ficar sem tentar nada. Mordo sua mão fazendo com que me solte por alguns poucos segundos o suficiente para que eu consiga me soltar do mesmo.
- Sua vadia!- Percebo que agora se formava uma mancha de sangue.
Ainda sim foi pouco.
Desço o mais rápido possível as escadas, enquanto conseguia ouvir os passos do meu agressor logo atrás de mim.
- Wendy!- Pude ouvir a voz de minha mãe no andar de cima, de voz embargada eu pude sentir.
Era uma casa imensa ainda sim. Haviam duas saídas, porém a principal estava muito distante e a mais próxima, era a que se localizava próxima a área de serviços.
Abro a porta desesperada e tremendo e corro passando pelo o jardim que um dia eu amei cuidar.
Passo pelas grades de limite, logo após ficava um bosque de área interditada por ser considerado um lugar denso e de difícil acesso.
Mas, não havua outra opção, já que ele continuava a me seguir.
- Se há algo que esteja sobre todos nós, por-favor me ajuda...- Sussurro enquanto corro sentindo minhas pernas serem cortadas pelos galhos.
Pôr um segundo sinto uma lágrima escorrer de dor, após tropeçar caindo sobre pedras e aquelas folhas caídas, mortas regadas pela a água da chuva.
- Você sabe por qual motivo eu estive com a sua mãe?- Ele estava me alcançando.- Era você desde o começo...
Me poupe universo dessa confissão, pedia lamentando tudo aquilo.
- Você sempre foi uma criança difícil, em todas as oportunidades que eu tive, de alguma forma você conseguiu estragar. Acho que eu deveria ter feito o que tinha que fazer antes de você abrir a boca para as pessoas. Você iria amar...
- Seu velho nojento! Eu te odeio!- Grito e levanto logo em seguida continuando a correr.
As árvores pareciam cada vez maiores e eu a essa altura mal conseguia respirar direito, mas sabia que não poderia parar.
Os carvalhos que ocupavam este eram muitas vezes engraçados, pareciam até mesmo retirados de um livro como as crônicas de Nárnia, mas principalmente uma que se encontrava com outra assim cobrindo até o chão com imensos musgos verdes.
Lembro-me de mil vezes dizer que leria esse livro para os meus futuros filhos.
Me cubro entrando no meio dos musgos, mesmo com medo de haver algum bicho ou inseto, mas nada era mais terrível e tenebroso do que Bob.
Por alguns instantes toda a floresta parecia está em um completo silêncio. Os pássaros haviam sumido, não tinha nenhum canto ou barulho dos pequenos animais que habitavam aqui. Quase como se todos também estivessem se escondendo de um monstro terrível.
- Wendy, vamos... Venha até aqui, eu juro que não irei fazer nada. Por-favor? Eu só quero voltar para casa, para a sua mãe...- Tampo minha boca com a mão ao conseguir ver entre a vegetação que ele estava por perto, enquanto eu me escondia entre aquele espaço escuro que as árvores foramaram com os musgos.- Eu vou mudar, eu sou uma pessoa louca, sei que te fiz muito mal...- Dou alguns passos para para atrás tentando não fazer barulho ao vê-lo mais perto ainda.- Eu sei que está aqui.- Acabo pisando em um galho me assustando e assim chamando sua atenção.- Aqui está você...
Ao vê-lo empurrar todos aqueles musgos, caminho de costas tentando me afastar e por breves segundos, meu corpo entra em choque não conseguindo haver nenhuma reação ao perceber que eu estava caindo e cada vez mais a claridade do bosque sumia aos poucos conforme eu caia naquele buraco...
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