07 | LUGAR SECRETO
*parando só para comentar que escrevi esse capítulo escutando algumas músicas bem específicas, uma delas é bindi in the dirt da mikayla pasterfield. então, na segunda parte do capítulo, depois da quebra entre um momento e outro, se vocês quiserem escutar a mesma música... vai fazer sentido.
Sentada à pequena mesa da cozinha em Nottingham Cottage, sinto que ela parece muito apertada e o espaço muito pequeno, mas estou apenas inquieta. Taylor está lá em cima. Posso ouvir o som fraco dela se movendo, talvez colocando as coisas em ordem antes de ir embora depois da última noite.
Há uma inquietação familiar no meu peito, do tipo que permanece quando você sabe que algo não está certo. Posso saber o que é. Joe está no Norte de Gales há mais de uma semana, e é estranho como ele ficou para trás de algum jeito. Assim como sinto falta dele de uma forma vaga, como um pensamento longe, do jeito que eu costumava sentir quando estávamos na escola.
Na última semana, Taylor e eu tivemos minha casa só para nós, e mesmo que não tenhamos falado sobre o que está acontecendo desde que nos beijamos novamente há um mês, o espaço entre nós parece diferente agora. Depois do beijo, é como se o mundo tivesse mudado um pouco em seu eixo. Não de uma forma que seja óbvia para qualquer um fora daqui, mas o suficiente para que eu possa sentir em cada pequena coisa que fazemos quando estamos em público. Ela ainda se senta ao meu lado quando estamos juntas, seu braço tocando o meu, casual e ainda assim intencional. Seus olhos permanecem em mim um pouco mais do que costumavam, e há essa suavidade maior na maneira como ela fala comigo agora, mesmo que as pessoas estejam observando, porque estamos compartilhando algo privado, algo que só nós duas entendemos.
Nós não falamos sobre isso, no entanto. Não realmente. Acho que nós duas temos muito medo de perturbar o delicado equilíbrio que de alguma forma conseguimos criar, por mais que isso me incomode bem no fundo. E, além disso, enquanto para ela há Joe, para mim sinto que ainda há Cata, mesmo que nada entre ela e eu seja realmente sério.
Eu falo com ela praticamente todos os dias. Ela liga ou manda mensagens, e se ela estiver na cidade, nos encontramos, mas nunca é mais do que isso. Não é um relacionamento, não em nenhum sentido real da palavra. Cata não quer nada sério, e se eu for honesta comigo mesma, como eu vejo e como fui com ela, eu também não. Não com ela. Mas há uma parte de mim que se sente culpada, como se eu estivesse errada em mantê-la por perto, porque agora Taylor está aqui também — de certa forma.
A verdade é que estou nisso muito mais do que gostaria de admitir. Eu gosto de Taylor. Eu sabia disso há um tempo, mesmo antes do segundo beijo, antes de tudo começar a parecer diferente. Anos atrás eu sabia. Nada realmente mudou. Às vezes é o jeito que ela olha para mim quando pensa que não estou prestando atenção, ou o jeito que sua risada me faz querer perder a cabeça, ou como ela ficou em Londres, mesmo que pudesse ter ido para o Norte de Gales com Joe, com a mudança completa. Ela ficou por mais uns dias porque tinha um compromisso — comigo.
Ela não precisava. A inauguração da fábrica em Milton Keynes na sexta-feira foi apenas uma desculpa, uma maneira de justificar continuar um pouco mais. Nós duas sabemos disso. E eu penso nisso o tempo todo, como ela me escolheu por um momento.
Há uma batida na porta lá em cima, o som de Taylor se movendo agora. Posso ouvir seus passos na escada, e ela aparece na porta da cozinha, vestindo uma camiseta simples e jeans, seu cabelo preso para trás. Ela se inclina contra o batente da porta, braços cruzados, e sorri para mim.
— Você está bem? — ela pergunta.
Eu aceno, embora não tenha certeza se isso é totalmente verdade.
— Sim. Só... pensando.
Ela levanta uma sobrancelha, entrando na sala e ocupando o espaço no meu colo. Suas mãos seguram meu rosto, e por mais que eu tente não focar em seus olhos, parece impossível.
— Pensando em quê?
Hesito por um momento, me perguntando se devo dizer alguma coisa. Sobre como estou um pouco desconfortável com tudo. Mas então me lembro de quão cuidadosas temos sido, como nenhuma de nós quer forçar demais, e decido guardar isso para mim por enquanto, porque quero ficar com ela.
— Só coisas — digo em vez disso, oferecendo a ela um pequeno sorriso. — Você sabe, a vida.
— Você é sempre tão vaga — Taylor ri suavemente, balançando a cabeça.
— É quase um talento — dou de ombros, tentando disfarçar com um tom quase divertido.
Há um breve silêncio, mas não é desconfortável. Somos boas em sentar em silêncio juntas. É uma das coisas que eu amo nisso — como é bom apenas estar com Taylor quando não penso muito mais sobre isso. Mas então ela se inclina um pouco para frente, sua expressão mais séria agora.
— Você tem essa expressão no rosto... eu não sei... — ela diz cuidadosamente. — Está tudo bem mesmo?
— Sim, estou bem. Só... muita coisa na minha cabeça, eu acho.
Ela não parece convencida de que seja algo que não nos envolva, mas ela não pergunta, não pressiona. Em vez disso, ela fecha o espaço entre nós e junta seus lábios contra os meus. É rápido, mas me dá um arrepio na espinha, e me pergunto se ela consegue sentir meu coração disparado de repente.
— Você sabe que pode falar comigo, certo? — ela diz suavemente enquanto se afasta. — Sobre qualquer coisa.
— Eu sei — concordo de novo.
— Ok... — ela pressiona minha mão gentilmente antes de soltá-la, se levantando. — Eu preciso ir. Nosso compromisso é em algumas horas, e eu ainda tenho um café com seu pai. Ele queria conversar comigo.
— Ele falou sobre o quê?
— Não — ela responde. — Mas vou descobrir em breve. Vejo você mais tarde?
— Sim, claro.
Ela fica um momento, seus olhos procurando os meus como se quisesse dizer mais alguma coisa, mas então ela apenas acena uma última vez e eu a vejo sumir em direção a porta.
*
Estar em Piccadilly Circus é como estar no centro do mundo, cercada por pessoas, barulho e muita luz. E ainda assim, de alguma forma, andar pelo lugar com Taylor foi sereno. A mão de Taylor se entrelaçou na minha enquanto andávamos pela multidão, e eu não pude deixar de sorrir com o absurdo daquilo quando saímos. Estávamos lá fora assim, juntas, escondidas atrás de óculos escuros no meio da noite, bonés e moletons, como se fosse o bastante para que ninguém nos olhasse. Parecia ser.
Em um momento, ela me puxou para uma pequena loja perto da Shaftesbury Avenue, vendendo objetos extravagantes e turísticos — canecas Union Jack, chaveiros em formato de Big Ben e todas essas coisas. Eu ri quando ela me entregou um cartão-postal, segurando-o em meu rosto.
E então, a peça no West End foi... outra coisa. A Streetcar Named Desire. Taylor sentou ao meu lado, seu braço descansando casualmente no encosto do meu assento, seus dedos ocasionalmente na minha pele. Eu não acho que ela veja, mas eu notei. Todas as vezes.
Quando a peça terminou, saímos sem realmente um plano, ainda em silêncio, e o resto da noite parecia suspenso no tempo. Andamos pela cidade entrando e saindo do barulho, ninguém nos notando, ninguém se importando. Paramos para tomar uma bebida num pub escondido na Regent Street, sentando em uma mesa de canto com nossas taças de vinho, rindo baixinho sobre qualquer besteira.
Só quando voltamos para o metrô, indo em direção a Kensington, é que o peso de tudo começou a afundar. A cidade do lado de fora das janelas passou borrada e senti um aperto estranho no peito. Eu não queria que a noite acabasse. Eu não queria voltar para o mundo real, onde tudo era complicado, bagunçado e cheio de coisas que eu não estava pronta para enfrentar.
Taylor estava sentada ao meu lado, seu joelho levemente contra o meu, sua cabeça apoiada no meu ombro. Ela parecia em paz, contente e, por um momento, me deixou imaginar como seria se as coisas fossem diferentes. Se pudéssemos fazer isso o tempo todo — fugir de tudo, só nós duas. Mas não é assim que a vida funciona. Eu sei disso. E a realidade começou a apertar quando meu celular vibrou no bolso do casaco.
Eu nem precisei verificar a mensagem para saber o que era quando vi o nome do contato. Mas eu verifiquei mesmo assim.
Sua viagem para o Afeganistão foi realmente antecipada. Confirmamos. Você partirá na última semana de agosto.
Devo ter ficado olhando para a tela por um momento, as palavras não me fizeram realmente sentido no começo, mas eu já tinha tido aquela conversa antes. Estava acontecendo mais cedo do que eu pensava. Um mês inteiro mais cedo. E não consegui ignorar a forma como não parecia certo, porque a mudança repentina estava tirando tudo do equilíbrio breve que eu tinha alcançado.
Taylor se mexeu ao meu lado, percebendo uma mudança na minha postura, e antes que eu pudesse bloquear a tela do celular e guardá-lo, ela deu uma olhada na tela. Foi como acabamos aqui.
Saímos do metrô em silêncio, caminhamos lado a lado, mas sem nos tocar mais. As luzes pelo caminho ainda eram fortes ao nosso redor enquanto voltamos para o apartamento 9 em Kensington, ainda passando por reformas, mas onde Taylor tem passado as noites. O ar entre nós parecia diferente e ainda agora parece diferente.
Assim que entramos, Taylor se virou para mim, braços cruzados sobre o peito e falando mil coisas ao mesmo tempo. Devo presumir que escutei muito mais do que dei respostas. E então, depois de tudo isso, agora, quando ela diz algo como "Você poderia vir comigo, sabia", eu finalmente abri a boca.
— O que você está falando?
— Para o Norte de Gales. Você poderia ficar comigo e Joe. Ajudar ele a fazer o trabalho de resgate. Você não precisa ir para o Afeganistão.
— Eu não posso simplesmente não ir — eu digo, balançando a cabeça. — Você sabe disso.
— Por que não? — ela diz. — Não é como se você estivesse sendo obrigada a fazer isso.
— Taylor... — eu olho para ela, sem saber se estou mais frustrada por ela ou por mim mesma. — Não é tão simples assim. Eu tenho um compromisso, ok? Estou me preparando para isso há meses. Eu sabia que aconteceria. Você sabia que aconteceria.
— Ok... — ela se aproxima, mas não o bastante. — Eu me importo com você. Você sabe disso, certo? É por isso que eu quero que você fique. Eu quero você por perto.
O jeito que ela diz isso faz meu coração se contorcer, porque é exatamente o que eu tenho evitado. Uma coisa que não dissemos em voz alta. Uma coisa que está apenas emparelhando entre a gente e que está na minha cabeça toda vez que penso em Joe.
— Isso — eu digo, minha voz mais baixa agora. — isso não é justo.
— Grace-
— Com ele — eu completo. — Com Joe. Eu nem deveria estar aqui, fazendo isso com você.
— Mesmo? — seu rosto cai um pouco, e eu posso ver o brilho de mágoa em seus olhos, mas ela rapidamente se esconde. — É assim que você se sente? Como se não devesse estar comigo?
— Não é sobre como eu sinto, Taylor. Apenas... não é certo.
— O que é certo... — ela murmura, dá um passo para trás, balançando a cabeça, seus braços caindo para os lados. — Grace, nós estivemos fazendo isso por semanas. Você não pode agir como se isso tivesse se tornado algo ruim em sua mente agora só porque é complicado.
— Não estou dizendo isso — eu argumento, minha voz aumentando um pouco. — Estou dizendo que é confuso, e não sei lidar com isso. Eu estou falando do meu irmão-
— Ele não precisa saber — ela interrompe, frustrada. Mas eu também estou e fico incomodada com a implicação diante do que ela diz. — Você não precisa se sentir culpada por ele. Isso não é com você... eu pedi que tentássemos.
— Eu me sinto culpada — eu digo, mais calma agora. — E não é algo que eu possa simplesmente desligar porque você disse que eu não preciso.
— Você... — Taylor solta um suspiro, passando a mão pelo cabelo, e eu vejo seus olhos brilhando. — Você acha que isso é fácil para mim? Como se eu não me sentisse mal também? Eu amo Joe, Grace — ela diz isso como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, como se justificasse tudo. E então, ela se aproxima de mim outra vez. — Mas eu gosto de estar com você. E isso é confuso o suficiente. Mas eu não... — ela para, procurando as palavras. — Eu não vejo de outra forma.
— Mas esse é o ponto. Não era para ser assim... dessa forma.
—Mas quem decide como deveria ser... estamos aqui, não estamos? Você está aqui comigo. Você não pode fingir que nada disso aconteceu.
— Eu não estou fingindo. Mas o que estamos fazendo, Taylor... vamos continuar com isso até que tudo termine do jeito errado? Porque é isso que vai acontecer, Taylor. Nós sabemos disso. Podemos ir só até certo ponto, e... honestamente, isso nem deveria ter acontecido.
Ela fica quieta por um momento, me observando, e eu posso vê-la lutando com algo dentro de si mesma. Talvez ela saiba que tenho certa razão. Talvez ela não seja importante. Ou talvez ela esteja tentando se convencer de que podemos mesmo descobrir uma maneira de lidar com isso. Mas eu não posso deixá-la pensar isso.
— Grace — ela diz finalmente, sua voz tão baixa que quase quebra. — Eu não quero que isso aconteça. Eu não sei o que fazer com... nós. Estou tentando descobrir, mas não quero perder você. O último mês-
— Isso não é justo, para nenhuma de nós. Para Joe. E eu... eu não quero ser a razão pela qual tudo entre você e ele acabe desmoronando.
— Você não está...
— Eu estou — eu a interrompo, balançando a cabeça. — Talvez isso não aconteça agora, mas se continuarmos, vai acontecer. Se isso continuar... se não paramos agora... vai doer muito mais. Sabe... estou com medo — eu admito. — Mas não é por isso. Não quero machucá-lo. E não posso... não posso continuar me machucando também. Acho que é o que está acontecendo desde que nos beijamos.
Ela não precisa que eu diga que estou falando da primeira vez e não do beijo de semanas atrás.
— Eu não queria que você se sentisse assim.
— Eu sei — digo. — E veja, eu não estou pedindo para você me escolher em vez do Joe. Eu não estou falando isso para que você se sinta como a errada, culpada, ou qualquer coisa entre isso. Mas eu preciso ser honesta comigo.
— Então é isso... acabamos?
Não respondo imediatamente. Não posso, porque é difícil dizer que acabamos algo que nem mesmo começamos. Em vez disso, deixo o silêncio se estender por um momento, pesado e espesso, antes de finalmente sussurrar: "Acho que é como as coisas tem que ser."
Ela não diz nada. Ela não precisa.
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