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Surtos

Brunna pode ser boa em tudo, menos em química. Justamente a matéria que eu sei absolutamente tudo.

Entro no quarto, vendo ela reclamar consigo mesma

-O que foi?

-Tô querendo me matar com essa matéria! que ódio.

Dou risada. -deixa eu ver, Bru..-eu sento atrás dela, pegando o caderno em seguida

Brunna se vira, ficando de lado. -Ei, isso tá fácil..-franzo o cenho

-Você entende?

-Uhum, afinal..já passei pelo 1° ano -eu a encaro

Não falamos mais nada, Brunna e eu ficamos nos encarando por alguns segundos

Ela até desceu o olhar pra minha boca, eu dei um sorrisinho malicioso

-Brunna? -me levanto

-Oi.. desculpa -ela sai do transe

-Eu te passo a lição, mas vamos pedir algo pra comer  -

Ela afirma

(...)

Eu pedi lanche e a bailarina pediu salada, não acreditei.

Eu peguei a comida e coloquei em cima do balcão, mas notei que a Brunna não estava aqui em baixo.

Então eu subi.

Vi a porta da minha sala de música aberta

Eu entrei

Ela está sentada na frente do piano, apenas observando

Me aproximo. -Ei? tudo bem?

Brunna me olha

-Sim.. só estava olhando -se levanta

-Relaxa, Bru! calma -

Ela respira fundo. -o que foi? -

Eu tento a encarar, mas ela abaixa a cabeça. 

-Brunna? -franzo o cenho

-Eu tocava piano com a minha avó, e depois que ela faleceu..eu parei -

-não chora, olha pra mim -

Brunna tampa o rosto com as mãos e eu puxo a mesma pra um abraço

-Por que parou? eu aposto que ela ficaria feliz em ver você tocando mesmo depois da morte dela -acaricio as suas costas

Ela não responde, só escuto alguns soluços por conta do choro

-tocar piano não é pra qualquer um..se você aprendeu, devia ter continuado -

-eu não consigo, me lembro dela sempre que vejo um. Eu nunca estive preparada pra perder a minha avó, eu sei que nunca estamos. Mas eu não tava pronta -ela me encara

Afirmo. -Eu sei, Bru...eu entendo -

Enxugo as lágrimas dela..-tá tudo bem, calma

Ela balança a cabeça em negação..-não tá?

-ela morreu um mês atrás e o meu avô..ficou doente por conta disso -fala baixinho

-Mas ele tá bem? -

-não, ele tá mal.. Muito mal. Tá internado -

Respiro fundo. 

-Ele foi internado duas semanas depois que a minha avó faleceu, eles sempre andaram muito juntos. Foi um amor muito verdadeiro...Ele não aguenta ficar sem ela -

-Se você quiser conversar sobre isso..a gente conversa -

Ela suspira. -eu tô com medo de perder ele também, Lud..

-posso perguntar o que ele tem?

-Ele ficou muito depressivo. As pessoas falam que depressão não mata, mas mata sim. Mata muitas pessoas, e esse número de mortos ninguém mostra, todos escondem. -

Afirmo

-É horrível se sentir sozinho, sem ninguém, achar que ninguém te ama..mesmo que alguém goste de você, tu não vai ser capaz de acreditar

-Bru..

-Falam que depressão é modinha. Porra, é modinha? tem alguns idiotas que usam isso pra se aparecer, claro que tem! e é por conta deles que ninguém acredita quando uma pessoa está realmente mal. Chegar ao ponto de se mutilar, não é brincadeira. 

-O meu avô não come, não queria tomar banho, não queria sair do quarto. Ele passou duas semanas nessa brincadeira e só comia porque o meu pai o obrigava -

Ela chora cada vez mais e eu já não sei o que fazer.

-Agora que ele está no hospital, o banho tá tomando..Mas mesmo assim, ele não come pela boca. Estão pensando em colocar sonda, mas eu não quero que façam isso com ele..Se você o visse, Lud..iria ver o quão triste ele tá

-Brunna, olha pra mim

Ela me encara, com os olhos inchados, o rosto vermelho de tanto chorar.

-Eu quero ver -

-hm?

-Eu quero ver o seu avô, pode? -

-é sério? -

-uhum, sério. Quero ir contigo..Mas não chora, tá bom? ele ainda está aqui, podemos tentar fazer algo por ele..-eu coloco o cabelo dela atrás da orelha

Brunna afirma, abaixando a cabeça novamente. -não chora, Brunna..-

Puxo ela pra um abraço, respirando fundo em seguida

Eu espero ela parar de chorar, demorou mais uns 3 minutos. Mas eu não me importei. Ela tá muito triste.

(...)

-é sério que salada te enche? -pergunto

Ela afirma

-mesmo???

-sim

-Não entendo bailarinas não. 

-vai julgar?

-Jamais!

Brunna dá risada.

-vamos continuar? -

-vamos..-eu respondo

O celular dela começa a tocar e eu pego, vendo que é o Lian

-toma -

-obrigada -diz

Brunna se afasta e eu respiro fundo

Ela volta em menos de 2 minutos.

-tudo bem?

-uhum, ele queria saber aonde eu tô -me encara

-se precisar ir...

-não, eu disse que tô em casa -

Arqueio uma sobrancelha. -por que?

-Ele não vai gostar de saber que tô na sua casa, ele te odeia..-

Sorrio..-nossa, quanto amor! -

-você obedece ele então?

-eu só tenho medo dele machucar as outras pessoas. Ele já machucou várias por ciúmes, não quero que você seja uma dessas.

-Brunna, não tenho medo do Lian. Pra mim ele é qualquer um -dou de ombros

Ela respira fundo. -mas tudo bem. Vamos continuar

(...)

{mais tarde}

-você entendeu? -Brunna me olha

Sorrio

-Oh Ludmilla..-

-É que eu tava prestando atenção nisso aqui -aponto pra bochecha dela

-o que? -

Eu pego um pouco de sorvete que estava comendo e passo na bochecha da Brunna

Ela fica boquiaberta e eu dou risada

-não, perai -

-Ó! eu não fiz nada, já estava aí! -tampo o meu rosto

A Brunna puxa as minhas mãos, vindo pra cima em seguida

Dou risada. -Para!

-olha aqui -

-BRUNNA -viro o rosto pro lado

Ela dá risada

Tiro as mãos do rosto, mas seguro as dela. -NÃO VALE -grita

-quero ver passar -sorrio

A porta abre, mas não nos importamos

-PARA -ela grita

Puxo a mesma pra cair do meu lado, mas ela só consegue cair em cima de mim. Fazendo eu deitar no chão

-O que tá acontecendo aqui? -Luane se aproxima

-Brunna tá me abusando -dou risada

-para! sua irmã que fica passando sorvete em mim, aí quando vou devolver! ela foge -ela senta no chão

Luane me encara, dou de ombros. Me levantando em seguida

-eu vou no banheiro -Brunna levanta também

Pego o copo de sorvete e vou até a cozinha, não preciso olhar pra trás pra saber que a minha irmã tá me acompanhando

-Ludmilla, se afasta das minhas amigas

-Por que?? -franzo o cenho

-Eu sei muito bem como você é! se afasta

-Calma, Luane? ela só veio me passar as lições -

-Não. Eu não me acalmo, ok? sua fama na escola é de putaria, você sabe muito bem. -

-E o que tem? você se incomoda?

-Muito! as pessoas acham que você é uma máquina de foder, por isso se aproximam! -

-Luane, fica quieta. -me aproximo dela

-Mas é a verdade! você só sabe foder bem, Ludmilla! não sabe amar. As minhas amigas não são assim, não quero você perto delas

-Olha o seu tamanho, depois vem me dar ordens. -

-Tanto faz! eu te avisei! Vou falar com a mãe -

-fale com quem você quiser -

Luane sai pisando firme e eu reviro os olhos

-o que aconteceu? -Brunna entra na cozinha

-nada...ela tá revoltada porque você tá aqui -suspiro

-Eu posso falar com ela?

-Claro, Bru..podemos acabar por aqui, obrigada pelas lições...-sorrio

-Calma aí, eu já volto -

-tudo bem

[...]








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