Único; Garotinho.
🍂
• ──────────────────────── •
I. BEM-VINDOS 🍂 !
— O universo de Shingeki no Kyojin não me pertence. Todos os créditos são direcionados para Haijme Isayama! Essa é uma fanfic escrita para a collab excepcional “The Anthology Collection”, inspirada no álbum da TS, The Tortured Poets Department, que tive o prazer de participar e interagir com pessoas incríveis <3 Todas as outras histórias podem ser encontradas através de uma lista de leituras no meu perfil!
II. AVISOS 🍂 !
— Prostituição, violência infantil, morte de personagens, gore e menção a genocídio.
III. LEMBRETE 🍂 !
— Essa fanfic é situada anos após a conclusão da história de SNK, mais precisamente quatro.
⋆ ✦ ✦ ✦ ⋆
2024 © FRANCHAELS.
❝━━━━ Eu tinha morrido a menor morte.
Eu espiei o problema em sua respiração,
Fora, fora, fora, fora, fora, fora.❞
I.
Não era um lugar adequado para crescer. Porém, fitando os outros estabelecimentos dos recônditos do subsolo, nenhum deles era. A sra. Bardot, uma velha enrugada e severa e responsável pelo espaço, nunca fez nenhuma objeção em tê-lo lá, no entanto, mesmo com as outras moças dizendo que Levi seria um empecilho.
Ele se lembra da sujeira. Ela estava por toda parte. A estalagem era miserável por si só, um prostíbulo que contava com andarilhos execráveis pulverizando suas botas sujas de terra no assoalho de madeira degradada, as paredes afundando-se em um mofo verde e feio que tornava o ar maledicente para trago.
Avaliaram que Kuchel morreu por hipotermia. Primeiro, os sintomas progrediram de calafrios e letargia à confusão — onde ela não sabia distinguir Levi — até que findou seu último suspiro. Não havia ninguém lamentando por ela, exceto por como seus bolsos enfraqueceriam com a ausência da venda de seu corpo. Disseram também que ele precisava tirá-la de lá. Mas Levi era muito fraco, escanzelado, e mal conseguiu ajustá-la na cama.
Quando o pânico cedeu, obrigou-se a envolver-se no choque e esperar para morrer com ela. A sensação de sofrimento aterradora, a pele dela de membros tão congelados que fora como se Kuchel nunca tivesse tido sangue esquentando suas veias. Via com clareza as silhuetas de seus ossos saltando da clavícula, em seus calcanhares...
Só sabiam reclamar de como o cadáver dela fedia, mas ninguém fez mais nada além disso. Muito menos a sra. Bardot. E Levi tinha medo de que ela o enredasse em sua teia cruel, com a ínfima possibilidade causando-lhe náuseas. Então a sepultura de sua mãe fora algo que ele cobiçou.
Levi pensa. Pensa muito, preso em uma vacuidade sempiterna e destrinchada de qualquer lacuna. Seu peito arfa com cada pendência agonizante que circunda sua mente, como se ele fosse o responsável pela catástrofe que o rodeia, por ainda respirar e ter como seu maior castigo protelar no mundo segmentado que Eren Yeager deixou. Desditoso era como sentia-se; como se estivesse respirando por tempo demais e seu lugar fosse em um túmulo cimentado por uma lápide desgastada, não identificando-o como alguém de grande relevância.
(E ele certamente tinha certeza que deveria ser algum tipo de castigo — embora estivesse longe de ser crédulo do divino — porque Levi, que apreciava tanto a vida, parecia cobiçar muito a morte nos últimos anos, mesmo que tenha lutado tanto contra ela e fosse detentor da alcunha de 'Soldado Mais Forte da Humanidade', uma fama que o perseguia como um algoz que ele não ambicionava.
— Tolo Levi, o garotinho magricelo de bochechas encovadas e ossos salientes que Kenny Ackerman encontrou no quarto fedendo ao cadáver pútrido de sua mãe. Não deu-se conta de que o livre arbítrio não lhe é concedido? — A voz murmurava perversamente em sua cabeça, enfurecendo-o por ser o espectro de algo que ele não poderia cortar tão facilmente com o gume de uma lâmina.
E Kenny. Com seu porte altivo, postura desprezível, cabelo preto e escorrido e sempre com uma expressão severa. Kenny a quem ele descobriu compartilhar sangue — o irmão de Kuchel, responsável por lhe dar tudo e nada ao mesmo tempo e que não fora capaz de tirá-la daquela vida — e quem não o permitiu tempo suficiente para que Levi pudesse esbravejar o quanto o odiava e era grato na mesma intensidade.)
Kenny não o ensinou a ler, não o ensinou a escrever; mas o ensinou a sobreviver em um mundo onde os humanos podiam ser mais cruéis do que a fome insaciável de um titã, alimentou-o e trouxe força ao seu organismo outra vez. Ele lembrava-se perfeitamente de quando lutava com os outros garotos órfãos, uma atração para homens com barriga de cerveja que regozijavam-se quando Levi lançava seu oponente no chão e o socava repetidamente, fomentando a sede pela trivialidade.
Ele ficava mais sujo. Seus dedos inchavam em um doente tom de roxo, as falanges leitosas espreitavam através da carne rosada e ele sentia-se cada vez mais imundo como no dia em que sua mãe findou o último suspiro. O solo pulverulento espiralava, coçando seus olhos, ardendo a laringe.
Kenny deu-lhe às costas, entranhando-se na multidão apetitosa e corrosiva enquanto ele lutava. Anos depois, Levi encontrou-o a céu aberto, olhando-o sob a luz do sol e o céu desanuviado com um sopro de corrupção abatendo-se perante eles.
Eles aceitaram facilmente que eram um fardo um para o outro, fantasmas e pessoas contentadas a viverem situações como elas de fato são; nuas e cruas.
❝━━━━ Paralisado por brilhos
dourado rosa,
Eles convidam seus amigos para
beber um bom vinho.❞
II.
Levi não sabia o que era ter amigos.
Ele sempre foi ensinando para a competitividade. Sobressair-se sobre os outros. Era o que Kenny dizia e cultuava como um louco.
"Ninguém vai te salvar se você estiver à beira da morte, garoto. Lute por si mesmo e esqueça os outros."
Ao que Levi retrucou:
"Foi isso que você empregou com a minha mãe?"
Kenny não respondeu, fitando-o demoradamente com uma expressão grave e severa, até ela tornar-se uma melancolia azeda. Batera na mesa, fazendo o ensopado de carne na tigela cilíndrica de Levi tilintar brevemente.
Kenny se levantou e foi embora — o que não fora uma grande surpresa.
Mas Levi estava bem em viver com isso, um fato prenunciado. Ninguém podia se dar ao luxo de confiar naqueles que viviam no subterrâneo, o lugar mais revoltoso para a população. Muitos desenvolviam doenças em decorrência da ausência da luz do sol e ou você roubava ou passava fome.
Conhecer Farlan certamente deixou-o intrigado com uma perceptiva contraposta. Eles absolutamente desgostaram-se no início, principalmente quando Levi descobriu que ele era responsável pela abordagem de bandidos estúpidos que cruzaram seu caminho; ele fez cada um cair, sentindo o estalo dos ossos sendo rompidos, os joelhos quebrando contra o chão duro e o sangue se coagulando acima da pressão de Levi na carne.
A aproximação deles motivou-se em virtude do interesse. Era a razão pela qual Farlan o enroscou, a princípio — testar sua força contra homens com um dobro de seu tamanho — pois Levi detinha uma reputação infame saltando entre os subúrbios e o que era motivado para tê-lo junto com sua gangue, acabou por Farlan arrastar-se à ele, não ao contrário. E Levi precisava de um subordinado, alguém que estivesse tão fissurado por seus talentos como observou nos olhos de Farlan.
Ele não soube discernir, no começo, quando acabaram tornando aquilo uma amizade sólida e resistente, ao invés de uma situação conivente.
E nem no meio, taciturnos e cautelosos o suficiente.
Mas havia a preocupação, a confidência, como ambos passaram a ter um empreendimento mútuo apenas por gestos habituais e olhadelas enviesadas.
A transparência de Isabel mudou tudo, certamente auxiliando suas personalidades enrustidas a habituaram-se naquela zona que fornecia apenas novas fraquezas.
Eles estavam trabalhando juntos há dois anos quando ela chegou. Brilhante e com língua afiada. Ela os fez perceber que os três eram uma frente unida e o que os tornara tão temidos fora seu vínculo e habilidades combinadas.
Levi sabia que não deveria ter se apegado, mas sentiu que tinha uma família.
Eles morreram poucos anos após isso, apenas por decidirem continuar seguindo-o cegamente. Levi deu às costas a eles, como Kenny fez tantos anos atrás — isso emboscou-os na mira de um titã anormal e ele não teve tempo para detê-lo.
Seus amigos estavam mortos rapidamente.
Quando capitão, seu esquadrão meticulosamente selecionado bebericava vinhos fornecidos por sabe-se lá quem, soltando gargalhadas após uma longa expedição e falando dele pelas costas acreditando que Levi não os ouvia. E ele tentou não se apegar a eles. Eles deveriam ser apenas seu Esquadrão de Operações Especiais, uma relação profissional estabelecida pela hierarquia de subalterno e superior — ao menos, Levi conseguiu fazê-los pensar que era assim, observando o respeito que cada um regia vigorosamente sobre sua figura.
Os melhores do Reconhecimento.
Mas falhou, porque em seu âmago, importou-se com eles.
"Obrigado por cuidar da minha filha."
Levi nunca esqueceu-se dessas palavras.
Petra era exageradamente doce e sua paixonite por ele o perturbava, de certa forma; no entanto, ela era apenas mais uma alma inocente que estava na hora errada, no lugar errado — o pescoço torcido para trás enquanto sangue carmesim engolfava ininterruptamente à frente de seu corpo lhe era uma memória viva.
Já o corpo de Eld havia sido decepado ao meio. Seu segundo no comando e talvez seu favorito; contido e conciso, poupando palavras desnecessárias e com um forte senso de dever.
Oluo, a quem estupidamente tentava recriar sua imagem na própria persona — mas um homem habilidoso, mesmo com a personalidade altiva. A Titã Fêmea — Anne Leonhart — esmagou-o em seu ato de bravura.
Gunther o lembrava de si mesmo. Levi escolheu-o não apenas por seu talento, mas porque ele era capaz de tomar a decisão mais cruel se fosse necessário, ignorando escrúpulos e a bússola moral. Não confiava tão facilmente nas pessoas; o que acontecia quando você vivenciava o inferno rastejante.
Ele pensou que Hange restaria. Com seus modos excêntricos e atos desavergonhados, sua forma de pensar — um amante letal dos titãs — fez Levi constatar que ele provavelmente era louco, tão afetado pelas criaturas propensas a algo semelhante ao canibalismo que resolveu admirá-las em vez de temê-las. Aparentemente funcionou, porque Hange enfrentou a morte com a iridescência refulgindo em seu olho e com a paixão que incendiava seu coração desde que Levi o conheceu.
E Levi sentia sua falta dolorosamente, embora desejasse perder um membro do que admitir isso em voz alta. As idiotices deram espaço para o fantasma que esboçava sorrisos gentis.
Ao menos, ele não falhou com todos de seu segundo esquadrão. Mas alguns, como Mikasa, mostraram-se tão agarrados ao passado quanto ele.
❝━━━━ Eu olho nas janelas das pessoas,
Caso você esteja na mesa deles,
E se seus olhos olhassem para cima e encontrassem os meus,
Mais uma vez.❞
III.
Ele fez uma promessa.
Imaginou que assassinar Zeke Yeager acabaria com os ecos dela em sua mente, sua própria penitência supersticiosa que o corroeu, uma mancha irreparável que o impedia de seguir sua vida até ser limpa.
Entretanto, a memória de seus joelhos flexionados contra a terra empobrecida de Shiganshina enquanto o Titã Bestial arremessava minérios robustos extraídos do solo continuava fresca, principalmente quando ao fechar os olhos, conseguia ver apenas olhos azuis que associaria ao intrínseco oceano tremendo através das pálpebras enrugadas com uma origem inconsciente e descontrolada.
O detentor desses olhos foi alguém a quem ele contorceu o nariz ao virem-se pela primeira vez. O sol queimando como ouro nos fartos cabelos loiros escovados perfeitamente enquanto tudo que Levi gostaria era socar a cara de Erwin copiosamente pela posição humilhante que o subjugou — mas as memórias se entrelaçavam ao cheiro dele penetrando e diluindo-o sob sua carne, entranhando-se tão profundamente como as raízes esguias de um pinheiro oriundo.
Levi olhava o rosto das pessoas comemorando o solstício através da janela borrada pela fuligem da fogueira perfulgente quando ouviu as batidas na porta. Deveria ser Grice — Gabi não tinha essa condescendência.
— Entre.
Falco irrompeu pelo patamar, a hesitação que detinha ao precípuo, nula.
— Senhor Levi! O jantar está pronto. — Informou timidamente, empoleirado na soleira do batente e com os dedos pressionados na maçaneta de bronze. Mas Levi não se virou; seu olho inteiramente preso à visão de casais dançando, com sorrisos ostensivos curvando seus rostos grandiosamente em uma roda-viva.
Eles pareciam tão felizes.
Levi os invejava puramente.
Após um instante duradouro em silêncio, onde ele não o respondeu, Falco acrescentou, com a vozinha baixa: — Senhor Levi?
Levi inalou tremulante antes de se virar, prensando mais a muleta contra sua axila. Falco abriu um sorriso gentil quando disse:
— Está tudo bem?
Estar bem. Fazia tanto anos que ele não sabia o que era se sentir bem. Ele experimentou uma epifania breve com Erwin que se foi junto com ele. O propósito pelo qual ele viveu não existia mais. Tentar ajudar outras pessoas soou como a única maneira de restaurar qualquer ganância por vida, seguir o mantra que sempre estipulou; não atrapalhe o ciclo e seja eficiente.
Era ingenuamente o que ele tentou crer. Mas Levi não era aquele mesmo rapaz; ele precisava se arrastar com uma muleta agarrada em si — após dois anos na cadeira de rodas — e havia perdido um olho. Alguns de seus dedos estavam mutilados.
Porém, Falco parecia finalmente ter conciliado os traumas que o assombravam. Levi não o ouvia mais gritando no meio da noite no quarto ao fundo, conforme Gabi vinha correndo para vê-lo. Ele tinha dezesseis anos agora. Sua mandíbula tornou-se mais afiada e seu rosto maduro. Ele tinha muito o que viver e não merecia a amargura de Levi em si — e não que o Capitão estivesse disposto a lhe falar, de qualquer maneira.
Levi seguia na busca para o encerramento das relações com seus entes que arrastavam-se junto a ele. Abandonar o território de Paradis não fora o suficiente, nem divergir-se em uma direção subsequente. O tormento não era fugaz, sempre roubando-lhe a respiração e prolongando-se interminavelmente. Levi olha na na mesa das pessoas e deseja que cada um deles esteja ali.
Mas ignorando a atmosfera nublada de hostilidade à espreita de seu corpo, Levi limitou-se a dizer:
— Espero que a Braun não tenha chegado perto da higienização dos legumes.
PUBLICADO DIA 19/06/2024.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro