
Capítulo 5
O tenente Elliott relatara ao conferir suas anotações que a festa de Harlan havia terminado por volta das onze e meia da noite.
Marta levou Harlan para o andar de cima com o objetivo de lhe dar os medicamentos que ele tomava diariamente.A escada fazia um estridente barulho quando alguém a usava,e por causa disso,era possível saber toda vez que alguém subira as escadas naquela noite.
A primeira delas foi Joni que,ao escutar uma batida no andar superior,ela ficou preocupada com Harlan e subiu para verificar,o que acordou Linda Drysdale,já que esta tinha sono leve.
Harlan se encontrava no estúdio do sótão com a Srta.Cabrera.Mas o falecido explicara que apenas tinha derrubado o tabuleiro de Go*,jogo que ele e Marta jogavam todas as noites.
Até onde se sabia,Harlan estava bem naquele momento e Joni voltou para seu quarto.
Então,dez minutos depois,Linda escutou o ruído pela segunda vez:era Marta descendo as escadas para ir embora.
Walt Thrombey estava na varanda com o filho(Jacob) enquanto fumava um charuto e a viu ir embora de carro por volta da meia noite.
A terceira e última vez em que Linda ouviu o mesmo barulho das escadas foi quando Harlan desceu os degraus para ir comer algo,Walt chegou a tentar o impedir.
Com isto,o legista determinara a hora da morte de Harlan entre meia noite e quinze e duas da manhã.
Walt terminou o charuto as duas e meia,foi quando Meg chegou em casa indo direto para cama.Ele e Jacob entraram logo após isso.
Perto das três da manhã,Meg acordou devidos ao latido dos cães do lado de fora da casa,mas a garota apenas foi ao banheiro e retornou a cama.
-...E é isso,entederam?A história de todos bate.Considerando cada momento-O tenente concluiu nada surpreso.
-E não tem outra escada para o quarto do Harlan?-Harriet indagou.
-Não,só a barulhenta-Elliott garantiu.
-Interessante. -Benoit resmungou consigo mesmo.
-Sabemos que não foi o Ramson porque ele não tava lá,Marta com certeza não,Harlan ainda tava vivo quando ela saiu.-Enumerou o soldado Wagner-A Meg!?Ela chegou em casa na hora da morte,não foi?
-A menos que tenha sido suicídio,Tá bom!?Harlan cortou a própria carótida,vimos isso por causa dos respingos que não foram interrompidos,ou seja,é quase impossível que alguém tenha estado perto dele no momento.-Elliott argumentou impaciente-Ele cortou a própria garganta,tá legal?Não sei porquê estamos aqui.
-Ah evidência física pode contar uma história clara disfarçada de mentira-Harriet divagou.
-O que?-Elliott perguntou.
-E como vimos hoje cedo,tenente,todo mundo pode mentir-A detetive sorriu inclinando a cabeça para o lado pensativa.-Bem...quase todo mundo.
Benoit logo notou o que a esposa pretendia e imitou seu sorriso.
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-Srta.Cabrera,deixamos você esperando a tarde inteira porque queríamos,Harriet e eu,escutá-la por último.-Benoit disse para a moça.
Lá estavam os policiais e o casal de detetives de volta ao que Harriet apelidou carinhosamente de "A Sala das Facas",para conversar com Marta Cabrera e entender o que houve na noite em que Harlan morreu sob o ponto de vista dela.
-Precisávamos de uma leitura completa da noite,todos da família contaram seu lado da história e seu papel nela está exatamente no centro,mas agora queremos ouvir de você.-A detetive acomodou-se na cadeira acolchoada ao lado do tenente Elliott ficando entre ele e o soldado Wagner.
Benoit permaneceu de pé.
Seu marido pegou o celular aberto no gravador de áudio depositando o aparelho sobre uma das coxas de Harriet que sorriu agradecendo.
-Então,por favor,não tenha pressa-Benoit pediu.-A senhorita levou o Sr.Thrombey para o quarto às onze e meia,e foi embora a meia noite.Pense com cuidado e,com o máximo de detalhes possível,diga-nos o que aconteceu nesse meia hora.
Marta repassou em sua mente tudo o que ocorrera naquela noite,cada segundo,incluindo as instruções dadas por Harlan antes de morrer.
Então ela finalmente respondeu:
-Levei ele lá para cima,jogamos a partida diária de GO...uma hora ele derrubou o tabuleiro e a Joni subiu para ver se tava tudo bem.-A moça se sentiu intimidada pela expressão de Harriet,uma expressão avaliadora e calculista.
Marta sabia que ela era cega,mas aquilo não parecia ser capaz de limitar suas habilidades.
E isso a fez engolir em seco antes de continuar:
-Dei o remédio de dor para ele...ele machucou o ombro semana passada e o deixei no estúdio.A meia noite,me despedi do Walt,e fui embora-Finalizou dando de ombros.
-Que tipo de medicamento deu para ele?-Harriet questionou.
-Eu dou 100 miligramas desde que ele machucou o ombro,via venosa de Toradol,é um analgésico sem opióide.E para ajudá-lo a dormir,três miligramas de Morfina.
-A família sabia disso?-Elliott perguntou enquanto o soldado Wagner anotava tudo no bloco de notas.
-Sim,é claro.
-Notou algo incomum no comportamento dele?-Harriet indagou se recostando mais a cadeira.
-Não. -A resposta de Marta saiu como um sussurro,contudo,os quatro foram capazes de ouvir.
-Acho que está tudo certo.Obrigado,Srta.Cabrera.-Benoit disse dando um sorriso gentil.
Marta assentiu e foi se retirou da sala.
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A noite, Elliott e Wagner partiram,mas o casal de detetives havia decidido ficar mais um pouco.
Os Thrombey estavam dentro da casa fazendo uma espécie de homenagem ao velho Harlan.
Marta estava se sentindo sufocada ali dentro,então saiu às pressas com destino ao pátio.
Pensando estar sozinha,ela se assustou com o pequeno ruído da bengala de Harriet contra o chão revelando sua presença e a de Benoit saindo da escuridão.
-Detetives -Marta os cumprimentou.-Ainda estão aqui?
o casal apenas assentiu em resposta.
-Conheciam o Harlan?
-Eu não,mas meu marido o conheceu,pelo menos não diretamente,certo,querido?
-Ele conhecia o meu pai que era investigador da polícia há muitos anos.Meu pai respeitava o Harlan,isso diz muita coisa.-Explicou brevemente.
-É por isso que estão aqui?
-Aqui agora!?Não.-Harriet respondeu dando uma risadinha.-Ficamos a pedido meu,Benoit não viu problema,queria falar mais um pouco com você.
-Tem algo acontecendo nessa história toda,nós sabemos,e acho que você também sabe disso.-Disse o detetive convicto.
-Então vão continuar investigando-Marts concluiu sentando na cadeira próxima.
-Os detetives do Harlan,eles investigam,cavam e remexem,eles são cães de caça.-Benoit narrava pensativo.
-Eu advinhei o final de O arco íris da gravidade quando Benoit leu a sinopse para mim.-Harriet sorriu com a lembrança de quando eles quase o compraram na livraria perto de casa.-Foi quando descobri que,mesmo não enxergando,eu podia observar.
-Arco íris da gravidade!? -Marta repetiu.
-É um livro.-Disse Benoit.
-Eu sei,mas ainda não li.
-Nós também não,ninguém leu.Mas eu gosto do título-O homem respondeu simplista.-Descreve a trajetória de um projétil determinado pela lei da natureza,e voilá,nosso método.Minha esposa e eu observamos os fatos,cada um a sua maneira claro,sem viés emocional ou intelectual.Determinamos a trajetória do arco até o seu final vagarosamente e a verdade cai aos nossos pés.
Harriet de repente levantou balançando a bengala de um lado para o outro até chegar próxima a Marta.
-O legista ia considerar isso nada mais que um suicídio,mas Elliott concordou deixar em aberto por quarenta e oito horas.Amanhã cedo,vamos vasculhar a casa e a propriedade,começar a investigação de fato.Meu marido e eu concordamos em chamá-la para estar conosco nisso.
-O quê!?-Marta não conseguia acreditar.
-Será nossos olhos e ouvidos.-Benoit acrescentou levantando.
-Espera,espera,por que eu?-Ele indagou levantando e fitou a mulher a sua frente.
-Confio em seu bom coração,Srta.Cabrera-Harriet lhe respondeu enigmática.-Além,claro,de que a senhorita é única que não ganharia nada com a morte do Harlan.
-O que me diz,Watson?-Benoit falou e sua esposa conteve o riso enquanto ele oferecia o braço para ela segurar e os dois saírem dali.
-Detetives -Marta chamou.-Se querem minha impressão sobre a família,nenhum deles é assassino...é a minha impressão.
-Mesmo assim,seja isso cruel ou reconfortante,esta máquina infalivelmente chega na verdade.É isso o que fazemos-O detetive respondeu sério.
-Sempre?-A moça tentou esconder seu pavor.
-Amanhã às oito.-Ele disse e o casal partiu.
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-Tem certeza do que está fazendo,meu amor?
A esposa de Benoit acariciou-lhe o rosto com carinho.
-Como eu disse à Srta.Cabrera:confio no bom coração dela.
*Go:jogo estratégico de soma zero e de informação perfeita para tabuleiro em que dois jogadores posicionam alternadamente pedras pretas e brancas. Sua origem remonta à antiga China, há cerca de 2,5 mil anos.
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