
Capítulo 4
-Vocês me falaram para chamar todo esse pessoal de volta para fazer perguntas de novo!?-Repetiu Elliott incrédulo.-Não entendo.
O quarteto havia parado na varanda da grande mansão para deliberar sobre como prosseguir com a investigação do suposto suicídio que Harlan cometera.
-Por que não?Quanto mais informações reunirmos melhor.-Harriet concluiu dando de ombros.
Benoit a guiou até uma das cadeiras perto da pequena e de cor escura(apesar de gasta)mesa de chá.
-Olha só,eu trabalho nessa região faz tempo e geralmente as pessoas são o que parecem ser por aqui.Não vamos achar um assassino nessa família-Disse Wagner.
-Essa é uma família normal com problemas comuns,mas sem motivo para um assassinato...Espera,aonde você vai?
De repente,através da vidraça com desenhos ao lado da porta de uma das entradas da casa,Benoit percebeu uma silhueta feminina que parecia estar ouvindo a deliberação deles.
Logo ele se aproximou espiando pelo vidro e viu a moça que presumiu ser Marta Cabrera,enfermeira de Harlan.
Ao perceber que havia sido pega em flagrante,a saltou para trás assustada.
O homem abriu a porta e ela saiu ficando a vista dos policiais.
-Quem é,querido?-Perguntou Harriet curiosa.
-A enfermeira de Harlan Thrombey,Marta...?-Ele tentou recordar o sobrenome.
-Cabrera.-Tanto Harriet quanto a própria Marta disseram em uníssono.
-Estava me perguntando quando iríamos finalmente conhecê-la. -A mulher falou lhe oferecendo um sorriso educado.
-Senhorita,pode esperar lá dentro?-Pediu o soldado Wagner-Nós vamos conversar e...-Benoit o interrompeu.
-Srta.Cabrera -Ele a chamou fechando a porta antes de olhá-la. -Já fiz algumas perguntas,foi contratada em regime de meio período como enfermeira profissional.
-É.Não trabalho com nenhum sindicato,o Harlan me contratou diretamente.
-Sente-se por favor.-Harriet pediu e Marta se acomodou no sofá que havia ali.(mídia)
A moça observou enquanto a detetive levantava arrastando a bengala de um lado para o outro até encontrar a cadeira acolchoada de frente para Marta.
Benoit tomou o lugar ao lado da esposa e segurou-lhe a mão livre instintivamente fazendo círculos imaginários em sua pele.
Harriet conteve o sorriso mediante ao gesto do marido.
Por um momento,Marta achou adorável o carinho natural dos dois mesmo que mantivessem a imparcialidade nas expressões faciais.
-E recebe o Piso Salarial por quantas horas semanais?-Benoit perguntou-lhe.
-Bom,eu comecei com quinze,daí ele...precisou de mais ajuda.
-Ajuda!?-Harriet repetiu com genuíno interesse-Ajuda médica?
-Ele precisava de um amigo.-Marta falou com pesar.
A moça era apegada a Harlan,o homem tinha sido bom para ela e sua família,ambos tinham uma ligação fraternal muito forte.
Uma amizade que infelizmente acabou devido a recente tragédia.
-E ter um bom coração faz de você uma boa enfermeira-Disse o detetive pensativo.
-Já chega,Blanc,isso já é...-Elliott tentou encerrar a conversa.
-Marta,estávamos falando sobre possíveis razões na família para causar a morte de Harlan Thrombey.Eu suspeito,e meu marido concorda,que Harlan te contou muitas verdades cruas sobre cada um deles.-Harriet tomou a frente da conversa.
-E um "passarinho verde" nos contou que,como posso dizer isso com delicadeza?-Benoit indagou para si mesmo.-Você tem uma reação regurgitativa a mentira.-Finalizou dando uma breve risadinha.
-Quem te falou isso?-Marta disse nervosa e envergonhada.
-È verdade?-Harriet questionou.
-É.É uma coisa que eu tenho desde pequena,é uma coisa física eu...só de pensar em mentira,me dá vontade de vomitar.
-Sério?-Benoit indagou com uma discreta incredulidade,ele nunca tinha ouvido falar de nada semelhante a isso.
Os dois policiais acharam meio engraçado alguém reagir dessa forma a mentira.
O silêncio de Marta foi uma confirmação para Harriet de que a moça ficara desconfortável.
-Srta.Cabrera,pode parecer estranho perguntar isso,mas...Richard está tendo um caso?-A detetive questionou séria.
Marta se sentiu encurralada,ela tentou disfarçar a apreensão devido aquela pergunta,seu estômago revirou só de pensar no que queria responder.
Mas ainda assim,ela disse:
-Richard?-O casal assentiu-Um caso?-Repetiu debilmente.
-Bem,um "sim" ou "não" é o suficiente.-Benoit respondeu dando uma risadinha.
-Nāo.
-óh!Certo.-Disse Harriet consciente notando a voz trêmula da jovem.
Não demorou mais do que quatro minutos para que Marta se lançasse sobre um vaso de barro que fazia parte da decoração da varanda e vomitasse dentro dele.
-Minha querida,desculpe,pensei que fosse no sentido figurado.-O detetive disse preocupado com o estado de Marta.
-Em momentos assim,não ver se torna uma vantagem -Disse Harriet e Benoit encarou a esposa com diversão antes de entregar o lenço que estava guardado no bolso da calça à Marta enquanto o tenente Elliott lhe ofereceu um copo d'água.
-Isto é fora do comum-Benoit disse para ninguém em especial.
-Mas obviamente comprova minha suspeita.-Harriet lembrou-Richard Drysdale está tendo um caso,o sogro descobriu e não hesitou em confrontá-lo.
-Tá,mesmo se tivesse sido isso...você está bem?-Elliott perguntou após Marta emitir um ruído como se fosse vomitar novamente.
A moça assentiu e ele continuou dirigindo-se aos detetives:
-Mesmo se tivesse sido isso,proteger uma relação é um motivo muito fraco,vocês sabem disso.
-Também tem a Joni.-Benoit sugeriu.
-Joni?A guru de estilo de vida?-Wagner disse incrédulo.-Não.Harlan ajudava a ela e a filha,isso é o oposto de um motivo.
-E quando essa ajuda foi ameaçada...Srta.Cabrera,um momento por favor-Benoit chamou-a quando a jovem estava prestes a entrar na casa.
-Eu só quero lavar a boca.-Ela se justificou.
-Srta.Cabrera,Harlan planejava cortar a ajuda financeira da Joni?-Harriet questionou se aproximando dela.
-Ai meu Deus!-Marta resmungou sentindo o estômago revirar.
-Tá bom,olha,não precisa nem responder se for vomitar de novo-Elliott disse fazendo careta com a possibilidade.
-Meg disse que ele pagava a escola diretamente,Joni disse que ele mandava dinheiro para ela.Duas verdades-Benoit enumerou inclinando levemente os ombros segurando o charuto entre o indicador e o polegar direito.-Ela embolsava o pagamento em dobro.Harlan descobriu e cortou até o último centavo.Não é?-Perguntou de forma retórica à Marta sem esperança de uma resposta.
-Ela matou ele por causa da herança?Ah fala sério!Já viu o Instagram dela?É uma influenciadora-Wagner retrucou.
-Nāo,a ajuda é o motivo?De novo:isso é muito fraco,vê para de jogar motivos fracos em mim-Elliott disse com tédio.
-Pode até ser.Mas ela mentiu para nós e esteve nervosa durante boa parte das perguntas,como já lhe disse,tenente:Eu raramente me engano acerca do comportamento das pessoas.Benoit é testemunha disso-A detetive cruzou os braços ainda perto de Marta.-Os três mentiram.
-Três?-Repetiu Elliott.
Benoit voltou a se sentar.
-Walter -Benoit mencionou e sua esposa sorriu discretamente orgulhosa por ele ter chegado a mesma conclusão.
-Eu tô vendo aonde você quer chegar-O tenente respondeu.
-O Harlan já tinha recusado outras propostas de fazer o filme do Walter.Mas naquela noite,algo que o Harlan disse acabou com ele,observe o padrão-O detetive apontou.
-Harlan estava,como posso dizer...?"Limpando a casa"-Harriet completou irônica.-E com razão.-Voltou a atenção para a Srta.Cabrera-Ele planejava despedir o Walter?
-Posso esperar lá dentro?Eu sinto que não devia estar aqui.-Ela disse nervosa.
-Sim,por favor.Espera lá dentro e não some,tá bom?-Elliott permitiu.
-Aqui,vai te ajudar com o mal estar-Harriet estendeu a cartela de comprimidos.-Eu geralmente os tomo antes de viajar.
Por um instante,Marta sorriu minimamente com o bom gesto da mulher.
-Obrigada.-Dizendo isso,rapidamente Marta entrou na casa deixando o quarteto ali.
-Você está sendo muito paciente,meu amigo -Benoit disse à Elliott.-Sim,você tem razão,nenhum desses álibis fracos e brigas domésticas respondem sua pergunta.Por que Harriet e Benoit Blanc estão aqui? Agora eu vou te falar o porquê:Estamos aqui porque hoje cedo alguém evitou uma pergunta muito importante.
-Quem?-Elliott quis saber.
-Nós dois.-Harriet se aproximou guiada pelas vozes dos presentes repousando as mãos nos ombros do marido sentado na cadeira a sua frente.-Linda perguntou quem nos contratou.
-E quem te contratou?
Benoit tirou o charuto da boca.
-Eu juro que não sei.-Ele foi sincero-Um envelope com dinheiro apareceu em nossa casa ontem com um recorte da notícia da morte do Thrombey.
-Um envelope,só isso?-Elliott indagou confuso.
-Um envelope com dinheiro-Benoit ressaltou.-Então alguém suspeita de assassinato e passa por todo esse teatrinho para nos contratar para ficar anônimo.Isso não faz sentido nenhum!-Ele expôs sua frustração.-Mas me deixa empolgado.-Concluiu calmo retornando o charuto para a boca.
-Benoit,o que combinamos a respeito dos charutos?
-Um por mês,minha rosa.-Ele respondeu puxando-a para sentar em sua coxa.
-Este já é o segundo em um dia.-A voz da mulher,apesar de suave,tinha um toque de repreensão.
-Como ela sabe?-O soldado Wagner perguntou surpreso.
-O cheiro de nicotina e alcatrão contidos no charuto está...-Ela calculou por alguns segundos- 14.5% mais forte.O número aumentaria se ele o fumasse por inteiro-Ela explicou paciente-Chega de charutos pelos próximos dois meses-Ela carinhosamente retirou o objeto dos lábios do marido.
-Sempre cuidando de mim.-Benoit admirou-a com amor.
-Que tipo de esposa eu seria se não o fizesse?-Disse ela brincalhona roçando seus narizes um no outro.
Elliott e Wagner tiveram a decência de desviar o olhar para o "momento de casal" dos dois detetives e fingir que nada estava acontecendo.
-Como sou sortudo por ter você.
-Digo o mesmo sobre você.-Ela o beijou na bochecha demoradamente,o que fez o detetive sorrir.
Logo os policiais pigarrearam interrompendo.
-Óh sim,desculpe-Benoit retomou a postura e Harriet mudou-se para a cadeira ao lado.
-Nos fale sobre o paradeiro de todos no momento da morte.
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