A guerra tinha acabado.

E, de uma certa forma, eles tinham vencido. Mesmo que para isso tivessem perdido pessoas no processo. Mesmo que talvez tivessem perdido um pouco de si mesmos também, naquela guerra maldita. Asterin certamente sabia que demoraria muito, muito tempo para curar aquele buraco deixado em sua alma, mas não era aquilo que Travis ia querer, ver sua Rainha sofrer e sofrer. Então, ela seguiria em frente por ele e faria tudo dar certo.

Estavam todos bem;

Mesmo a partir da cozinha, ela podia ouvir todos eles.

O tilintar do que era certamente a garrafa mais antiga de licor que Rhys possuía, em seguida, o tilintar dos
copos de cristal igualmente antigos uns contra os outros. Então um riso.

-Vai ficar aí parada a noite toda, é?- Conan provocou, se encostando no batente da porta e cruzando os braços, olhando para Asterin com atenção. Ela apenas deu de ombros, olhando o jardim de Elain pela janela.

Às vezes, Asterin não sabia se estava viva realmente ou se aquilo era apenas um sonho. Às vezes, ela acordava desesperada no meio da noite e demorava horas até se lembrar que estava ali, que estava viva, que o Caldeirão não a tinha levado. Conan pareceu perceber o que se passava na mente dela, pois sua expressão ficou dura como uma rocha.

-Você está aqui.- ele disse para ela, agarrando sua mão, olhando no fundo dos olhos de sua Rainha. -Está aqui, então não se perca dentro de si mesma, está bem?

Asterin apenas assentiu para Conan antes de o abraçar com força. A Rainha riu, o empurrando de leve.

-E você vai decidir casar quando, hein?- ela zombou e Conan revirou os olhos.

-Primeiro de tudo, Tori nem quem casar nessa porra.- ele disse cruzando os braços. -E segundo, depois de todo o trauma de Feyre com casamentos, vamos deixar essa história pra lá, né?

-Covarde.- ela disse o empurrando de leve e Conan revirou os olhos.

-Cala essa boca.- ele resmungou. -Quero ver como você vai dar um jeito de governar dois lugares diferentes.

-Sou foda pra um caralho. Eu dou conta.- ela disse e Conan riu. Não pela prepotência de Asterin, mas sim por saber que ela estava certa. Afinal, se tinha alguém capaz de governar dois lugares diferentes sem endoidar de vez, essa pessoas era Asterin.

-Nós vencemos.- ele suspirou e Asterin assentiu, olhando novamente para as flores. Então porque ela se sentia tão vazia, afinal?

Você vai passar por isso. O vento sussurrou e Asterin riu. Ele estava certo; afinal, Asterin tinha passado por muita coisa, aquela seria apenas mais uma para sua extensa lista.

-Aley, porque você sempre tem que ficar parada quieta como uma esquisita?- Conan disse antes de lentamente se virar para a bruxa que os olhava. Ela apenas deu de ombros, se colocando ao lado de Asterin. Tocando o braço de Asterin.

Asterin sentiu como se parte daquela dor dela fosse completamente drenada para fora. Ela apenas olhou Aleyenor e sorriu em agradecimento. A bruxa deu de ombros, afastando sua mão.

-Então, Lucien decidiu o que vai fazer?- Asterin perguntou arqueando a sobrancelha. Aleyenor revirou os olhos.

-Ele é um imbecil. - ela resmungou. -Mas pelo menos escolheu Nilfheim como casa. Mesmo que esteja inclinado a ir morar por um tempo com Jurian e Vassa. Olha, sinceramente, eu realmente não sei o que se passa na cabeça dele.

-Talvez ele esteja ocupado demais pensando na desgraça que é a vida dele e ser parceiro de Elain pra piorar. - Conan soltou sem nem mesmo pensar duas vezes e Aleyenor o lançou um olhar cortante enquanto Asterin o dava um tapa no ombro. Conan fez uma careta.

-Não seja um desgraçado, Conan. - Asterin disse com uma risada e ele revirou os olhos. -Você está amargurado porque sua parceira tá puta com você.

-Quer saber, eu odeio você. Vou ir falar com Alibia que eu ganho mais.- o macho disse antes de dar as costas para elas, as deixando para trás. Asterin apenas deu risada antes de se voltar para Aleyenor, pegando a mão da bruxa na sua.

Por um tempo, Asterin apenas se manteve em silêncio, incapaz de formular uma frase sequer. Então, ela apenas suspirou.

-Seu chamado. Acabou, não é?- Asterin perguntou, os olhos cravando nos da bruxa. Aleyenor apenas assentiu em confirmação. -Você vai embora, então? Voltar para seu povo, sua casa?

Aleyenor sequer ponderou sobre o assuntou.

-Minha casa é aqui.- ela disse, segurando a mão de Asterin com força na sua. -Onde vocês estiverem, eu estarei. Vocês são meu povo e minha família. E eu não pretendo ir embora.

Asterin deu um suspiro aliviado antes de abraçar Aleyenor com força. Durante todos aqueles séculos que a conhecia, o maior medo de Asterin era que, no final, tivessem que seguir caminhos diferentes. Estava grata por Aleyenor ter decidido ficar.

-E eu acho que ainda tenho umas coisas para resolver. - Aleyenor disse, olhando para a direção da sala. Onde Lucien conversava com Feyre, tentando evitar toda a tensão com Elain.

-Porque não conta pra ele?- Asterin perguntou, atraindo a atenção da bruxa. -Sobre ele ser... Você sabe.

Aleyenor torceu o nariz.

-Não vejo o como isso ia mudar alguma coisa...- ela disse antes de balançar a cabeça. -Não. Isso não importa. É algo que só importa para meu clã e mais ninguém.

-Está enganada. E eu apenas espero que possa perceber isso.- Asterin disse. Aleyenor pareceu inclinada a retrucar, mas Lucien entrou na cozinha, dando um sorriso provocativo para Aleyenor.

-Porque tá sempre se escondendo, bruxinha?- ele zombou. Aleyenor semicerrou os olhos para o macho e Asterin riu antes de se afastar dos dois, os deixando conversarem em paz.

Rhysand estava no telhado, as estrelas brilhantes e baixas, as telhas sob os pés descalços de Asterin ainda eram quentes do sol do dia. Ele se sentou em uma pequena cadeira de ferro, sem luz, sem garrafa de licor, só ele, as estrelas e luz da cidade.

Asterin deslizou para o colo de Rhysand, abraçando o pescoço de seu marido enquanto ele abraçava a cintura dela com força, como se Asterin pudesse desaparecer a qualquer instante.

Eles apenas se olharam por um instante, um mundo de palavras não ditas ali, nos olhos de Rhys.

-Eu ouvi você. - Ela disse suavemente. -Quando morri, ouvi você me implorando para ficar.

Rhys ficou tenso, o terror ainda muito recente para ele. Ainda haviam noites que ele acordava pior que Asterin, pensando tê-la perdido novamente, e a dor daquilo tudo às vezes ameaçava destruir Asterin completamente.

Ela acariciou a bochecha de seu marido de leve, olhando naqueles olhos salpicados de estrelas que ela tanto amava.

-Aqueles minutos. - Ele disse com calma, a garganta subindo e descendo. -Nunca mais quero sentir isso novamente.

-E você não vai, Rhys. Nunca vou deixar o seu lado.- ela disse, encostando a testa na dele e fechando os olhos por um instante. Rhys apenas assentiu.

-Quando for a hora de ir para lá, vamos juntos.- Rhys murmurou. Asterin olhou para o fundo dos olhos dele.

-Eu gostaria disso, mas... É egoísta. - ela disse e Rhys piscou os olhos, franzindo o cenho. -Com nosso povo. E... Com nossos futuros filhos.

Por um tempo, ele apenas ficou silencioso. Então, a olhou intensamente.

-O que quer me dizer com isso, querida?- ele murmurou e Asterin sorriu.

-Que eu quero aumentar nossa família, Rhys.- ela disse num sussurro. -Esperamos por quinhentos anos, e quase nos separamos mais uma vez. Eu não quero mais esperar. E se você quiser também, eu...

Rhys não a deixou terminar de falar antes de grudar a boca na de Asterin. Um beijo suave e, ao mesmo tempo, nem tão suave assim.

Ela envolveu as mãos nos cabelos negros de Rhysand enquanto ele apertava sua coxa, deslizava a mão pelas asas dela. E a beijava, a beijava, a beijava, a língua envolvendo a de Asterin, dando a ela toda a resposta que ela precisava.

-Você vai vir comigo nessa?- ela perguntou com um sorriso e Rhys se inclinou, a beijando suavemente.

-Sempre.

As estrelas pareceram queimar mais brilhante em resposta, cada vez mais apertadas para assistir. As asas de Rhys farfalharam quando ele os moveu na cadeira e aprofundou o beijo até estarem sem fôlego.

E então estavam voando.

Rhys a apertou em seus braços, os lançou alto para a noite estrelada, a cidade reluzindo abaixo. Música
voava para fora dos cafés frente a borda do rio. As pessoas riam enquanto caminhavam de braços dados pelas ruas e através das pontes sobre o Sidra. Manchas escuras ainda tingindo alguns dos trechos cintilantes, edifícios em pilhas de escombros e ruínas, mas mesmo alguns daqueles tinham sido iluminados com pequenas luzes. Velas. Desafiando contra a escuridão.

Um caminho para um novo mundo.

Mas, por agora, neste momento, com a cidade abaixo de deles, Asterin apenas aproveitou aquele momento, sua mão entrelaçada a de Rhysand enquanto voavam pela noite estrelada.

E ela sabia que não importava o que viesse amanhã. Ela poderia enfrentar o que fosse. Porque estaria bem ao lado dele. E isso era o que importava.

E é isso meu povo, chegamos ao fim :')
Ainda vou postar um capítulo especial e AFINS, mas esse é o final, e espero que tenham gostado!

Obrigada a todo mundo que acompanhou essa "short fic" até aqui KAKAKAKA
S2

AH, JÁ TAVA ESQUECENDO, vou começar a fanfic da Aleyenor hoje, mas quando começar eu volto aqui pra avisar rsrsrs
~Ana

Data: 22/12/21