Sem Misericórdia, Lembra?
Conan parecia à beira de um ataque enquanto Asterin, lentamente, se preparava para aquela batalha, enfaixando suas mãos com precisão. Conan enfiou as mãos nos cabelos escuros, os puxando com força e chutando a primeira coisa que viu na frente. Asterin revirou os olhos com intensidade. Talvez ela devesse dar um surra nele também, para aquecer, já que Conan parecia doido para apanhar como os outros cinco machos illyrianos olhando para Asterin com sorrisos maliciosos, entre eles Dalibor, Hawise e Marley. Mesmo depois de tanto séculos, ali estavam eles, vivos e sedentos para acabarem de vez com Asterin.
Quando fechava os olhos, ela ainda sentia a dor de cada soco, cada chute, cada corte. Toda a dor que eles causaram a Asterin, e ela provaria que nada daquilo a tinha quebrado, mas sim, a feito mais forte. Bem, bem mais forte.
Naquele dia, ela colocaria, para sempre, um ponto final naquela história manchada de sangue e dor. Por tudo o que tinham feito com ela, por cada humilhação gerada, Asterin destruiria aqueles três. E nem mesmo a própria Mãe seria capaz de parar aquela Rainha no instante em que sua espada cortasse o vento na direção deles.
-Caralho, Asterin! Caralho! - Conan estava sibilando com irritação, andando de um lado para o outro, fedendo a ansiedade e fazendo Asterin torcer o nariz. -Isso foi tão burro e egoísta! Não pensa na sua família, na porra do seu povo?
Asterin se irritou dessa vez. Agarrou Conan pelas roupas, o puxando com força, o rosto ficando tão próximo do dele que ela era capaz de sentir a respiração entre cortada do serafim contra seu rosto. Os olhos de Asterin faiscavam de uma fúria gélida que nem mesmo Conan era capaz de entender completamente de onde vinha e o que resultaria, mas Asterin sabia; sabia muito, muito bem.
-É justamente por pensar no meu povo, Conan, que estou fazendo isso. - ela rosnou, os olhos cravados nos dele. -E você não tem o menor direito de me julgar por fazer o que eu acho melhor. Como meu amigo e braço direito e alma gêmea, deveria me apoiar, não ficar contra mim.
-Não estou contra você!- ele rosnou com irritação. -Mas é justamente por eu te amar que essa merda não me agrada em nada. É uma batalha até a morte! Como pode ser tão estúpida ao ponto de concordar com isso, Asterin?
-Precisamos deles.- ela disse, simplesmente, largando Conan. -E eu não tenho tempo para gastar com tentativas falhas de os persuadir. Isso, pelo menos, eu sei que funciona. Eles apenas respondem a violência. Então, use violência.
-Asterin, você realmente acha que...- Conan começou, mas se calou assim que os olhos de Asterin se fixaram nos olhos dele com ainda mais intensidade. Conan estremeceu ao ver o que tinha ali dentro: um fogo que destruiria tudo o que tocasse, que seria capaz de dizimar toda aquela Corte se Asterin assim desejasse. -Tome cuidado, Asterin.
Mas ela não precisava que Conan dissesse isso para ela. Asterin era um illyriana; ela sabia como lutavam, sabia quais táticas usavam, mas muito mais que isso: ela conhecia Dalibor, e conhecia Marley, e conhecia Hawise. E sabia exatamente o como eles lutavam.
-Chega de enrolar, Grã Senhora. - Devlon gritou. -Vamos logo com isso!
Asterin apenas olhou uma última vez para Conan antes de dar as costas para ele e caminhar na direção daqueles machos sedentos pelo sangue de Asterin.
A Rainha de Nilfheim olhou para cada um daqueles machos antes de pisar dentro do círculo delimitado por Devlon, o local onde ela lutaria. Ela sentiu o escudo os cercando; impedindo que eles saíssem dali ou que alguém interferisse naquela luta. Asterin não podia se importar menos com aquilo.
-Vamos logo com isso, que tal?- a illyriana provocou, um sorriso crescendo nos lábios enquanto girava uma lâmina illyriana média em suas mãos.
Os machos a cercaram no meio, impedindo que Asterin saísse dali. Inteligente e, ao mesmo tempo, burro. Aquilo fez a Rainha rir, e ela ainda estava rindo quando o primeiro macho investiu contra ela.
Uma adaga passou cantando pelo ouvido de Asterin, que desviou por muito pouco, se movendo para o lado com graciosidade.
Lutar é como dançar, Asterin. É você que deve conduzir essa dança.
Ela virou na direção do macho, seu joelho atingindo com força o estômago dele. O macho ofegou e se curvou o suficiente para que ela acertasse o cabo de sua adaga na nuca dele. Ela ergueu sua lâmina, preparada para enfiá-la na garganta do macho, mas apenas teve tempo de abaixar antes que outra lâmina a atingisse em cheio.
O segundo macho grunhiu com frustração, mas não teve tempo de se recuperar antes que Asterin batesse as asas com força o suficiente para o mandar para longe dela, fazendo o macho piscar chocado.
Séculos; Asterin teve séculos para deixar suas asas mais fortes, séculos de evolução. Eles estavam cometendo um tremendo erro ao subestimá-la, e logo se dariam conta disso.
A lâmina do primeiro macho rasgou a lateral da bochecha de Asterin antes que ela pudesse desviar completamente e ela grunhiu, levando a mão até o machucado.
-Vai se arrepender disso. - ela cantarolou com um sorriso.
O macho illyriano fervilhou de raiva, e esse foi o maior erro dele: abriu brecha o suficiente para que Asterin o desarmasse com um único movimento e, sem dar chances para que o outro macho se recuperasse e tentasse impedi-la, Asterin agarrou aquele primeiro macho pelo pescoço e o torceu até escutar o som de osso estalando. O macho caiu ao seus pés, morto;
Asterin olhou na direção de Devlon, um sorriso viperino cruzando os lábios da Rainha.
-Esses são seus melhores guerreiros, Devlon?- ela gritou. -Mas que puta piada!
-Cala boca, sua puta! - o segundo macho gritou, correndo até Asterin. Ele nem mesmo conseguiu se aproximar o suficiente, pois o pé de Asterin se chocou com força contra a bochecha dele, o fazendo cambalear para trás.
A illyriana não o deu tempo para se recuperar, batendo sua asa com força contra o macho, o fazendo cair de costas contra a areia. Asterin levantou a perna antes de chocar sua bota contra o nariz do macho, o fazendo gritar quando osso se partiu. Ela o agarrou pelos cabelos, ignorando a pontada de dor que a atingiu quando o punho dele chocou contra suas costelas com força. Asterin cuspiu no rosto ensanguentado do macho antes de descer o joelho em seu maxilar, puxando sua adaga da cintura e a enfiando com força na garganta do macho, o sangue dele deixando suas mãos pegajosas.
Asterin se afastou lentamente, limpando sua lâmina contra sua calça de couro, os olhos percorrendo os três machos ainda parados no lugar, a analisando.
Lentamente, Asterin abriu um sorriso para eles; claro que eles haviam deixado que ela cuidasse dos dois primeiros, apenas para terem ela inteira só para eles.
A Rainha se manteve na posição de defesa, ciente de Marley a sua esquerda, Hawise se aproximando por trás e claro que Dalibor estaria bem a sua frente. Ele abriu um sorriso para Asterin, aquele mesmo sorriso que vinha antes das surras, que vinha antes que ele ordenasse que partissem os ossos de Asterin, que vinha antes dele tentar a destruir.
Mas ela era a Rainha de Nilfheim e Grã Senhora da Corte Noturna. Ninguém podia quebrar Asterin, muito menos Dalibor.
Hawise foi o primeiro a atacar, a espada zunindo na direção de Asterin. Ela rolou para o lado, desviando por apenas alguns milímetros de um corte que seria fatal. Hawise grunhiu, puxando a espada, mas lento demais; Asterin pressionou o pé em um ponto da coxa de Hawise que o fez gritar e perder o sustento, o suficiente para que ela tentasse uma investida contra ele. Mas Asterin foi impedida pelo ataque de Marley.
A Grã Senhora grunhiu quando Marley enfiou a adaga em sua coxa, a afundando com força ali. Asterin jamais gritaria, não importava o quanto aquilo doesse; não era a primeira vez que Marley a torturava, e ela o conhecia bem o suficiente para saber que antes de aplicar um golpe mortal, ele brincaria com ela. Então, ela também brincaria com ele.
Ela deu um giro, chutando o maxilar de Marley com a perna que estava boa, e mesmo que não tivesse sido um golpe perfeito por causa do ferimento, foi o suficiente para fazer Marley cambalear para longe. Asterin arrancou a adaga de sua coxa, segurando sua ponta e a lançando na direção de Marley, um tiro perfeito que fez o macho gritar quando a lâmina se alojou em seu ombro esquerdo.
-Sua vadia do caralho! Eu vou acabar com você!- ele cuspiu, cheio de raiva. Asterin apenas deu risada.
-Vá se foder, Marley. - ela cantarolou, erguendo para ele o dedo do meio.
Os cabelos de Asterin foram puxados com força, fazendo com que a Rainha caísse contra a areia do chão, uma dor terrível a invadindo por ter caído sobre as próprias asas. Hawise não esperou que Asterin se recuperasse antes de se sentar sobre ela, jogando todo o seu peso em Asterin para imobilizá-la.
-Rostinho bonito, Aste. Pena que vou destruir cada parte sua. Talvez eu mande de presente para o seu amado Grão Senhor esses seus olhos.- Hawise riu, erguendo a lâmina e a descendo na direção do rosto dela. Asterin conseguiu bloquear antes que a ponta da adaga atingisse seu olho, e fez força para mantê-la afastada enquanto Hawise continuava tentando descer aquela adaga contra Asterin. Ele riu de forma maliciosa para Asterin. -Ou talvez eu mande sua cabeça. Isso traz lembranças, não?
Uma raiva que ela não era capaz de descrever tomou conta da illyriana, uma raiva forte o suficiente para fazer com que ela conseguisse arrancar aquela lâmina de Hawise. Ela a fincou contra a coxa dele, girando com força o metal lá dentro e o fazendo gritar. Asterin pegou um punhado de areia e atirou contra os olhos de Hawise antes de o chutar para longe dela.
-Nem mesmo ouse falar sobre Amália e Zya!- Asterin gritou, sua bota se chocando contra o estômago de Hawise e o desestabilizando, o fazendo cair de boca no chão. Marley e Dalibor arregalaram os olhos, sentindo o que estava prestes a acontecer, motivo pelo qual começaram a correr.
Tarde demais para isso; Asterin chocou suas asas contra ambos, os empurrando para longe com força. E a Grã Senhora não deu a Hawise uma segunda chance antes de puxar a espada presa em suas costas.
Barulho de carne e osso ecoou no ar e por alguns segundos parecia como se todos no acampamento tivessem parado de respirar quando a cabeça de Hawise rolou e sangue espirrou para todos os lados. Asterin respirou, ofegante, passado e presente se misturando por um instante.
Hawise tinha feito da vida dela um inferno.
E agora, ela tinha o matado.
E ainda faltavam dois.
O grito de Dalibor foi o que a trouxe de volta à realidade, a dor presente ali pela morte de seu irmão. Não que Asterin se importasse com o que Dalibor sentia; eles todos tinham deixado a irmã dela morrer, eles todos tinham compactuado com a morte de Samantha, assim como tinham destruído uma parte de Asterin. E Asterin jamais se esqueceria disso.
Dalibor caiu de joelhos diante do irmão morto, em verdadeiro choque. Marley se recuperou mais rápido; no instante seguinte, tinha puxado a própria espada e investido contra Asterin.
Metal se chocou contra metal, e ela teve que fixar com força os pés no chão para não cair tamanha era a intensidade que Marley a atacava.
Por minutos, tudo o que ela conseguiu fazer foi se defender e bloquear, impedindo que Marley a matasse ali e agora. Ele não estava mais brincando com ela; queria Asterin morta quase tanto quanto ela o queria morto.
Asterin viu vermelho por um instante quando a ponta da espada entrou dentro de seu abdômen. Marley fez força para atravessar a lâmina pelo corpo dela, mas Asterin agarrou o metal frio em suas mãos, o apertando mesmo que cortasse sua palma, impedindo que Marley acabasse com ela. Asterin rosnou para ele.
-Você é uma puta vagabunda. Some por quinhentos anos e depois acha que tem algum direito sobre nós. - ele cuspiu. -Uma vingancinha de merda. Se sua irmã está morta hoje, a culpa é toda sua!
Palavras erradas;
Asterin largou sua espada, segurando a espada de Marley com as duas mãos e a tirando de dentro de si, o que o fez arregalar os olhos. Se fosse ser sincera, a illyriana não sabia de onde havia tirado forças para puxar Marley em sua direção e nem mesmo como conseguiu fechar sua mandíbula com toda sua força no pescoço do macho.
Gosto de sangue explodiu na boca de Asterin enquanto ela usava os próprios dentes para rasgar o pescoço de Marley de fora a fora. Ele engasgou com o próprio sangue à medida que caía nos pés dela e Asterin cuspiu.
-Eu me culpei pela morte de Sammy por muitos anos. Mas percebi que o meu único erro foi nunca ter acabado com você três. - Asterin cuspiu vendo o brilho nos olhos de Marley se apagar. -Vocês se acham tão superiores, tão fortes, mas olhe só pra vocês! Acabou, Dalibor. Seus cachorros estão mortos, mortos pelas minhas mãos, a fêmea que vocês surravam até quase morrer! Ainda acha que pode fazer isso, ainda acha que sou a mesma Asterin de cinco séculos atrás?
A dor estava insuportável e o sangue de Asterin escorria rápido demais. Ela não sabia quanto tempo aguentaria aquilo, e nem sabia se tinha forças o suficiente para enfrentar Dalibor, ainda mais com tantos ferimentos pelo seu corpo.
Mas você precisa fazer isso. O vento sussurrou contra seu rosto. Pelo seu reino e sua corte. Não é hora de desistir.
Dalibor se levantou lentamente, os olhos cravando em Asterin.
-Eu vou te matar.- ele disse. Asterin apenas suspirou.
-Vocês, machos, e seus discursos óbvios e vazios. Mas vá em frente e tente. - ela disse.
E ele atacou.
Dalibor a empurrou com sua asa, fazendo Asterin se chocar com força contra o escudo que os mantinham presos ali. Ele ergueu a adaga contra o coração dela, mas Asterin se protegeu com sua asa, soltando o primeiro grito de dor quando Dalibor a rasgou.
Ele riu com malícia, girando lentamente a adaga ali e fazendo Asterin gritar ainda mais.
-Eu disse que eu destroçaria essa suas asas, não é mesmo?- ele cantarolou.
Ela piscou os olhos com força, tentando ver algo além da própria dor.
Não é hora de desistir, Asterin, então se levante e lute. Aquela voz brigando com ela... Ah, sim, Asterin conhecia aquela voz. Havia sentido falta dela por todos esses cinco séculos, e jamais seria capaz de esquecer o como era a voz de Amália.
Asterin estava cansada, exausta; tudo seria mais fácil se ela apenas desistisse e deixasse que Dalibor a matasse ali e agora.
Mas essa não era ela;
Ela era Rainha;
Ela era Grã Senhora;
E faria cada illyriano daquele acampamento se arrepender por a ter subestimado um dia.
Asterin colocou a mão na frente da lâmina quando Dalibor a desceu contra o local onde acabaria com os movimentos das asas dela caso cortasse. Não; aquilo ela não toleraria, nunca, jamais. Ninguém tiraria seu direito de voar, de ser livre. Muito menos Dalibor.
A lâmina atravessou a mão da illyriana, mas ela sequer sentia mais dor. Asterin, em um movimento rápido e cheio de precisão, envolveu as pernas ao redor do pescoço de Dalibor, o tombando no chão. Ela apertou com força e ele engasgou, começando a soca-la em busca de ar, mas ela não cedeu.
Asterin envolveu os dedos nos cabelos de Dalibor, os puxando com toda sua força, enquanto com sua mão boa, pegava a lâmina e a fincava contra a asa estendida no chão do macho.
Um grito engasgado saiu pela garganta dele, mas ela não podia se importar menos enquanto descia de forma lenta e bruta a lâmina pela asa direita de Dalibor, toda sua raiva contida em um único ataque.
Asterin o largou e Dalibor se arrastou para longe dela, a asa completamente destroçada. Ele gritava de dor enquanto Asterin tentava se manter em pé e estancar o sangramento pelo seu corpo. Ela pressionou o ferimento em seu abdômen, apertando o cabo de sua lâmina illyriana com a mão livre e avançando, mesmo que mancando, na direção de Dalibor para acabar com isso.
-Chega!- ele gritou, ajoelhando diante dela e choramingando de dor. -Você é um demônio. Já chega, eu desisto!
-Que vergonha de guerreiro você é.- ela disse, estalando a língua e olhando para Devlon. Não havia nem mesmo cor no rosto do macho e Asterin sorriu de forma sarcástica para ele.
-Você já ganhou, Grã Senhora. - Devlon disse num murmúrio assombrado. Asterin riu.
-Sem misericórdia, lembra?
Asterin agarrou o rosto de Dalibor com força em sua mão gelada e ele gritou, como se o toque dela queimasse. Não; o toque dela, de fato, queimava, porque estava congelando a pele do macho, o gelo se alastrando pelo rosto de Dalibor que gritava, gritava e gritava.
Ainda assim, por mais horror que tivesse sentido, Asterin não tirou sua mão dele até que todo o corpo de Dalibor não passasse de uma pedra de gelo.
O escudo ao redor deles caiu; cinco machos estavam ali, mortos no chão, aos pés de Asterin.
-Vocês vão me respeitar. Quer queiram, quer não. - Asterin rosnou.
Devlon, lentamente, se ajoelhou diante dela, abaixando sua cabeça em sinal de respeito. Lentamente, cada macho daquele acampamento se ajoelhou, mesmo que a contragosto, diante de sua Grã Senhora.
Asterin sorriu diante daquilo.
Ela tinha finalmente vencido.
E esse foi o último pensamento dela antes de tudo ficar preto e ela desabar nos braços de Conan.
Boa noite meu povo! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Juro, foi satisfatório escrever esse capítulo, e eu realmente gostei dele, amo escrever a Asterin dando porrada nos outros hihihi
Tava precisando da vingança, acerto de contar, né não?
Espero que tenham gostado!
Vejo vocês no próximo capítulo!
~Ana
Data: 15/12/21
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