Não Há Tempo Para Considerar
As duas rainhas olhavam boquiabertas para o tapete, como se pudessem ver a cidade ali. Mor pigarreou. A rainha dourada, como se Mor tivesse latido, se assustou e soltou um lenço decorado no chão. Asterin apenas torceu o nariz, incapaz de se conter. Mas a idosa ergueu o olhar para eles.
-Sua confiança é... valorizada.
Seus rostos ficaram severos, insensíveis. E Asterin quis socar a cara da velha quando ela disse:
-Vamos considerar.
-Não há tempo para considerar.- Asterin rosnou. -Cada dia perdido é mais um que Hybern se aproxima de destruir a muralha.
-Discutiremos entre nossas companheiras e os informaremos quando nos aprouver.
-Não entendem os riscos que estão tomando ao fazer isso? -perguntou Rhys,sem um pingo de condescendência. Apenas, talvez, choque. -Precisa dessa aliança tanto quanto nós.
A rainha idosa fez um gesto com os ombros frágeis.
-Achou que ficaríamos comovidas com sua carta, sua súplica? - A mulher
indicou o guarda mais próximo com o queixo, e ele levou a mão à armadura para tirar de dentro dela uma carta dobrada. A idosa leu: -Escrevo não como Grão-Senhor, mas como um
macho apaixonado por uma fêmea que travou batalhas e sofreu na mão de pessoas tão ruins quanto as que vem de Hybern. Escrevo como parceiro de uma fêmea que um dia já foi humana. Escrevo para implorar que aja rapidamente. Que salve seu povo, que ajude a salvar o meu. Escrevo para que um dia possamos encontrar a verdadeira paz. Para que eu possa, um dia, conseguir viver em um mundo no qual a minha parceira possa visitar a família sem medo de ódio e reprimendas. Um mundo onde a fêmea que amo possa deixar de lado tudo que a prende ao passado. Um mundo melhor.
Asterin sequer podia processar direito aquelas palavras. Rhys tinha escrito aquela carta semanas antes, semanas antes de ela e ele sequer se acertarem. Ela apenas o olhou, por um segundo.
Mas, então, a idosa disse:
-Quem sabe isso não é tudo alguma grande manipulação?
-O quê? - disparou Mor.
A rainha dourada assentiu em concordância e ousou dizer a Morrigan:
-Muitas coisas mudaram desde a Guerra. Desde suas supostas amizades com nossas ancestrais. Talvez não sejam quem dizem ser. Talvez o Grão Senhor tenha entrado em suas mentes para nos fazer crer que você é a Morrigan.
Rhys ficou em silêncio; todos ficaram em silêncio, Asterin considerando tirar o ar do pulmão daquelas mulheres e apenas mata-las ali, sem nem mesmo precisar se mover.
E, então, Nestha Archeron disse, baixinho:
-Essa é a conversa de mulheres loucas. De tolas arrogantes e estúpidas.
Elain tentou pegar a mão de Nestha para silenciá-la. Mas Nestha deu um passo adiante, com o rosto branco de ódio. E Asterin gostou de ver todo aquele ódio ali.
-Dê o Livro a eles.- aquele comando, puro e direto, ordens de uma verdadeira rainha.
As rainhas piscaram, enrijecendo o corpo. Como se sequer pudessem acreditar na ousadia daquela mulher mortal. Nem mesmo Asterin podia, mas iria aproveitar cada segundo.
Ela disparou de novo:
-Dê o Livro a eles.
E a rainha mais velha sibilou:
-Não.
A palavra ecoou dentro de Asterin, a raiva da illyriana crescendo como fogo. Mas Nestha continuou e estendeu o braço, para indicar eles, indicar a sala, o mundo.
-Há pessoas inocentes aqui. Nestas terras. Se não querem arriscar as vidas contra.as forças que nos ameaçam, então conceda a essas pessoas uma chance de lutar. Dê o Livro a minha irmã.
A velha emitiu um suspiro agudo pelo nariz. Asterin se questionou o quão ruim ficaria se ela quebrasse o nariz da velja.
-Uma evacuação pode ser possível...
-Você precisaria de dez mil navios.- disse Nestha, a voz falhando. -Precisaria de uma armada. Fiz os cálculos. E, se estiver se preparando para a guerra, não enviará seus navios para nós. Estamos abandonados aqui.
A idosa segurou os braços polidos da poltrona quando se inclinou um pouco à frente.
-Então, sugiro pedir que um de seus machos alados a carregue pelo mar, garota.
Nestha engoliu em seco. Conan deu um passo a frente, mas Asterin o puxou. Não antes do serafim disparar:
-Então vá se fuder, sua velha do caralho.- Asterin enfiou o cotovelo na costela dele. Pela Mãe, Conan estava colérico, e ela nunca o tinha visto agir daquela forma. Ele, o mais razoável entre eles. O que nunca perdia o controle em situações como aquela.
Mas a rainha apenas sorriu com divertimento para Conan, se deliciando com a raiva estampada no rosto do serafim.
-Por favor. - a voz de Nestha ecoou, e todos pareceram parar de respirar. -Por favor, não nos abandone para enfrentar isso sozinhos.
A rainha mais velha permaneceu imóvel. Eles tinham mostrado tudo a elas e, no final, não tinha válido a pena.
Mas, então, Cassian caminhou até Nestha, e os guardas enrijeceram o corpo quando o illyriano passou por eles como se fossem talos de trigo em um campo.
Cassian observou Nestha por um longo momento. Ela ainda encarava as rainhas com raiva, os olhos cheios de lágrimas. Lágrimas de ódio e desespero, daquele fogo que queimava tão violentamente por dentro da mulher. Quando Nestha finalmente reparou em Cassian, ergueu o olhar para ele.
A voz de Cassian estava rouca quando ele falou:
-Há quinhentos anos, lutei em campos de batalha não muito longe desta casa.
Lutei ao lado de humanos e feéricos, sangrei ao lado deles. Ficarei de pé naquele campo de batalha de novo, Nestha Archeron, para proteger esta casa, seu povo. E não consigo pensar em forma melhor de encerrar minha existência que defender aqueles que mais precisam.
Asterin sabia que era verdade. Cassian e sua honra e bravura que, um dia, o fariam ser morto. Asterin apenas observou enquanto uma lagrima escorria pela bochecha de Nestha. E observou Cassian estender a mão para limpá-la.
Ah, Asterin sabia. Assim como Mor, de olhos arregalados, também deveria saber. Daquela vez, não seria Asterin a dizer o óbvio: eles eram parceiros também.
Sem aviso, as duas mulheres se levantaram. Mor indagou, também de pé:
-É uma quantia que querem? Digam seu preço, então.
A rainha dourada deu um riso de escárnio quando seus guardas as cercaram.
-Temos todas as riquezas de que precisamos. Agora voltaremos a nosso palácio para deliberar com nossas irmãs.
-Vocês já vão dizer que não.- insistiu Mor.
A rainha dourada deu um risinho.
-Talvez. - Ela segurou a mão enrugada da idosa. A rainha idosa ergueu o queixo.
-Agradecemos o gesto de sua confiança.
-Guarde o que digo, suas vacas mal amadas. - Asterin disse, sem erguer o tom de voz. As duas a encararam e Asterin apenas sorriu. -Não importa quanto tempo demore. Se ousarem fazer algo contra nós, irei caçar cada uma de vocês e fazer de exemplo. Não importa que isso me torne tão ruim nessa história quanto vocês. Querem me fazer a vilã, rainha má? Então me façam ser seu pesadelo.
Elas olharam com assombro para Asterin, absorvendo aquela ameaça. Então, elas se foram.
Mor xingou. Conan xingou, xingou tanto e tão alto que Feyre enfiou a mão em sua cara para que calasse a boca. E Asterin olhou para Rhys, seu coração se partindo, prestes a indagar por
que não insistira, por que não dissera mais... E talvez se arrependendo das próprias palavras.
Mas os olhos de Rhys estavam na poltrona na qual a rainha dourada estivera sentada. Abaixo dela, de alguma forma escondida pela volumosa saia enquanto a mulher estava sentada, havia uma caixa.
Uma caixa que ela devia ter removido de onde quer que a estivesse escondendo quando se abaixou para pegar o lenço.
Rhys se dera conta. Tinha parado de falar para tirar as mulheres dali o mais rápido possível. Como e onde ela contrabandeara aquela caixa de chumbo era a menor das preocupações.
Feyre parecia assombrada, e Asterin não queria saber que tipo de coisas aquele Livro sussurrava no ouvido da grã feérica.
Rhys suavemente pegou a caixa e a colocou na poltrona da rainha dourada. Ele não precisou do poder de Feyre para abri-la, porque o feitiço de nenhum Grão-Senhor estava preso a ela.
Rhys abriu a tampa e um bilhete estava sobre o metal dourado do livro.
Li sua carta. Sobre a mulher que ama. Sobre a fêmea voraz. Acredito em você. E acredito em paz. Acredito em um mundo melhor. Se alguém perguntar, você roubou isto durante a reunião. Não confie nas outras. A sexta rainha não estava doente.
Eles ficaram em um silêncio tenso e horrível. E então, Conan disse, massageando a bochecha onde Feyre o tinha socado:
-Bem, acho que eu poderia ter xingado mais aquela velha maldita então.
Asterin e Conan sem papas na língua KKKK ai ai eu amo meus filhos
Provavelmente esse é o último do dia porque tenho aula presencial e definitivamente vou voltar morta :') e tarde
Vejo vocês no próximo capítulo!
~Ana
Data: 16/06/21
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