A cabeça de Asterin latejava quando ela abriu os olhos. Tinha sangue seco em sua testa e em seu nariz, e Asterin tinha bastante certeza que o osso do seu rosto no lado esquerdo tinha se partido com o impacto.

A garganta da illyriana estava seca e ela não conseguia enxergar onde estava. O lugar era escuro; terrivelmente escuro e apertado. As mãos, pernas e asas de Asterin estavam amarradas com força naquelas correntes malditas e tinha uma mordaça em sua boca. Ela não podia gritar, não podia se mexer; não podia escapar.

E o que tinha acontecido com Eris? O que Beron faria com ele? Ela não podia aceitar a possibilidade de perde-lo. Era simplesmente demais. Então se apegou a tola esperança de que Eris estaria bem, que teria pressentido que tudo estava prestes a ruir e dado o fora da Corte Outonal. Tudo o que ela podia fazer era rezar por isso.

E Asterin não seria prisioneira de ninguém, não mais. Não depois de Marlow e muito menos naquela corte, não novamente. Ela morreria primeiro. Encontraria sua morte de bom grado, apenas para não ser mantida nas garras de outro macho que achava que tinha algum tipo de poder sobre ela.

Beron pagaria caro por aquilo; ela era uma Rainha, afinal. Ele sofreria, ainda que Asterin morresse, seus amigos se certificariam de que Beron sofresse. Rhys a vingaria. O que era daquele Grão Senhor estava guardado, e ele era nada comparado a Asterin. Ela era a Rainha de Nilfheim. E não se curvaria diante de ninguém.

Onde quer que ela estivesse, nem mesmo o vento chegava até ela. Os olhos de Asterin queimaram de raiva, o coração doeu sentindo a falta da única coisa que a reconfortava em momentos como aquele. Ela não sentia a presença do vento, que sempre havia a acolhido, mesmo quando ela estava zerada de magia. Não estava ali.

O que ele fez comigo? O que ele fez comigo? O que ele fez comigo?

Um ranger de porta foi o suficiente para deixar Asterin completamente alerta, a fúria da illyriana incapaz de ser contida. A claridade que entrou na sala onde ela estava fez Asterin piscar três vezes, tentando se acostumar com o brilho daquela chama. Apenas para se deparar com o mesmo sorriso arrogante e malicioso do irmão de Eris, o segundo filho mais velho de Beron. Asterin rosnou, apesar da mordaça em sua boca.

Ele se aproximou dela e se agachou na frente da Rainha de Nilfheim, estalando a língua e balançando a cabeça.

-Você até que é bonita. Uma pena que vá morrer pelo que fez com a gente naquele lago congelado.- ele disse e riu. -E pela ameaçazinha.

O macho esticou a mão para tocar a bochecha de Asterin, mas a illyriana bateu sua cabeça contra o nariz dele com força, o fazendo sibilar e se afastar. Tinha sangue escorrendo agora, o que deixou Asterin satisfeita.

-Sua vadia!- ele cuspiu. -Vai pagar caro por isso.

Um puxão forte no braço de Asterin e ela estava de pé. O macho começou a arrastar a illyriana para fora daquela sala escura, com raiva e pressa, o que não facilitava as coisas para Asterin, que estava toda amarrada. 

O grão feérico parou apenas quando chegaram diante de grandes portas duplas. O macho deu um sorriso perverso para Asterin antes de abri-las e a empurrar para dentro. Em direção ao trono, ela percebeu, onde Beron estava sentado, os olhos em chamas.

-Traga ela até aqui.- Beron rosnou e o macho o fez, empurrando e chutando Asterin até que ela estivesse diante de Beron. Uma pancada forte na coluna de Asterin foi o suficiente para fazer com que ela caisse diante de Beron. -Tire a mordaça. Quero ouvir o que ela tem a dizer. 

Ela tentou morder a mão do macho ruivo que a segurava quando ele retirou o pano de sua boca, mas ele já devia estar esperando por isso, pois puxou os cabelos dela com tanta força que lágrimas surgiram nos olhos da illyriana. Beron torceu o nariz com desgosto.

-Então, garota. Diga quem é você.- Beron mandou. Asterin deu risada.

-Você sabe quem eu sou.- ela cantarolou. -Caso contrário, não estaria me mantendo tão amarrada assim. Com medinho, Beron? 

O macho atrás dela rosnou, mas Beron deu uma risada áspera e os olhos brilharam de pura maldade. Asterin cerrou os dentes. 

-A Rainha de Nilfheim, hun?- Beron disse e estalou a língua. -Mas aqui, em Prythian, você é nada, garota.

-Você vai ver quem é nada quando minhas forças estiverem indo pra cima de você por ter sequestrado a Rainha.- ela disse, sorrindo com o mesmo tipo de crueldade gélida. Beron teve o bom senso de parecer assustado, ou no mínimo incomodado.

-Qual seu relacionamento com meu filho?- ele disse, por fim. Asterin torceu o nariz.

-Além da vontade de mata-lo? Não tenho nada com seus filhos, nenhum deles.- Asterin riu. -Eles são tão nojentos quanto você. Lucien foi o esperto, escapou de você.

Ela sentiu o impacto de algo se chocando contra suas costas novamente e ofegou. Beron estava exibindo os dentes pra ela agora.

-Não mencione esse merdinha na minha casa.- Beron rosnou. Asterin deu um sorriso provocativo para ele. -Vamos ver se o que você diz é verdade.

Ela estava preparada para dizer a ele que podia ir para o inferno quando as portas se abriram novamente e o macho ruivo ao lado de Asterin a puxou para que ela se virasse. E ai, ela o viu.

Eris.

Pelo menos ele não demostrou o horror que sentiu de ver ela ali, nas garras de Beron. Eris a analisou, como se vendo uma coisinha insignificante, mas na verdade procurando por ferimentos nela. Em seguida, olhou para Beron e arqueou uma sobrancelha.

-Porque trouxe a escória das terras de gelo pra casa?- Eris perguntou. Beron deu um sorriso sarcástico para o filho.

-Escória? Achei que fossem bons e velhos amigos.- Beron disse. Eris não demonstrou nada, novamente; apenas cruzou os braços.

-Não faço a menor ideia do que está falando.- Eris disse tranquilamente. Beron deu uma risada.

-Não? Então podemos nos livrar dela já que não significa nada pra você, não é?- Beron disse, procurando por uma falha, um vacilo, vindo de Eris. Mas ele sequer piscou, sequer olhou na direção de Asterin. Permaneceu olhando para Beron, os braços cruzados, a sobrancelha arqueada.

Não tem como escapar, mas pelo menos ele pode, pensou Asterin. Ela ficaria bem com isso. Se Eris ficasse vivo, estaria tudo bem. 

-Faça o que quiser com ela, não me importo. - Eris disse sorrindo.

-Ótimo.- Beron disse, sorrindo de volta.

E, no segundo seguinte, o irmão de Eris que segurava Asterin puxou uma adaga da manga do casaco e a direcionou para o coração de Asterin. Levantou o braço e o desceu. E ela se preparou para o impacto, para a morte.

Mas aquilo não aconteceu, porque aquela adaga nunca chegou ao coração de Asterin, mas a apenas alguns centimetros dela. Eris tinha cruzado até eles e segurado com força a mão do irmão, raiva brilhando nos olhos.

Ele chutou o irmão e o empurrou para longe de Asterin, em seguida a puxando para perto de si, para trás de si. Beron sibilou de raiva.

-Traidor.- cuspiu o Grão Senhor.

-Você não vai tocar nela.- Eris sibilou. -Só por cima do meu cadáver.

-Então se prepare para morrer junto com ela!- Beron cuspiu de volta.

E Eris gritou quando as chamas de Beron o encontraram. Quando o poder de Beron o colocou de joelhos, a dor evidente em seus olhos.

-Pare com isso!- Asterin rugiu, tentando chegar ao Grão Senhor. Mas o irmão de Eris a puxou pelas correntes e Asterin caiu ao lado de Eris.

-Tranquem os dois enquanto eu vou decidir o que fazer com a Rainhazinha e o traidor.

E tudo ficou escuro novamente.

Boa tarde meu povo! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

Acharam que esse cap já seria Asterin resolvendo os problemas? Pois não porque eu amo o caos sim! Lembram da Alynia em Warriors passando uns 5 capítulos (e praticamente 2 meses) sendo torturada pela Clythia? Então né rsrsrs
Ai credo, não vou ser tão cruel dessa vez, prometo!

Vejo vocês no próximo capítulo!
~Ana

Data: 22/07/21