A aliança entre eles, apesar das horas conversando, não começou bem. As brigas, idas e voltas continuaram pelas horas que permaneceram ali. E com Tamlin ali, ninguém ousaria declarar seus números, armas e fraquezas.

À medida que a tarde caia e a noite entrava, Thesan empurrou a cadeira para trás.

-Vocês são bem-vindos para passar a noite e retomar a discussão pela manhã. A menos que desejem retornar às suas casas para noite.- Thesan anunciou, olhando para todos eles.

-Nós vamos ficar. - Rhysand disse e Asterin sabia exatamente o porquê. E os outros pareciam ter pensamentos semelhantes ao de Rhys, pois todos decidiram ficar. Até mesmo Tamlin.

Eles foram levados em direção às suítes preparadas para eles. O primeiro a ser escoltado, pelo próprio Thesan e um atendente trêmulo, foi Tamlin. Ele tinha sabiamente escolhido não atacar Rhys, Asterin ou Feyre durante o debate, embora sua recusa em os reconhecer não passou despercebida. E quando ele saiu, com os braços esticados, não disse uma palavra. 

Então Tarquin foi levado para fora, então Helion. Até que apenas a comitiva de Kallias e a deles própria estivessem lá. Rhys levantou-se do banco e passou a mão pelo cabelo.

-Correu bem. Parece que nenhum de nós ganhou nossa aposta sobre quem lutaria primeiro.

-Não vou pedir desculpas, se é isso que espera. - Asterin disse com uma sobrancelha arqueada e Rhysand deu risada. 

-Jamais, minha querida Asterin. - ele disse dando um beijo suave na testa dela.

-Ele estava quase indo também. - disse Viviane. -Tamlin é um pedaço de merda.

Kallias virou-se para sua parceira com sobrancelhas altas.

-O que? - Ela pôs uma mão em seu peito. -Ele é... 

-Seja como for, - disse Kallias com humor frio, -a questão permanece se ele lutará conosco ou Hybern.

-Tamlin é um imbecil, mas tem muito mais a perder se ficar ao lado de Hybern. - Asterin ponderou. -Mas não confio nele. - Asterin olhou para os olhos frios de Kallias. -Quantas tropas você tem?

-Insuficiente. Amarantha fez bem o seu trabalho. - Kallias disse e, por um segundo, Asterin e ele se olharam, se desafiando. No fim, a Rainha apenas suspirou. -Nós temos o exército que Vivi comandou e escondeu, mas não muito mais. Você?

-Meu exército em Nilfheim é considerável. - Asterin disse e então os olhares se voltaram para Rhys.

-Temos forças consideráveis na Corte Noturna. Principalmente legiões illyrianas. E alguns milhares da Legião da Escuridão. Mas precisamos de todos os soldados que possam marchar.

Viviane caminhou até onde Mor permaneceu sentada e apoiou as mãos nos ombros de sua amiga. 

-Eu sempre soube que nós lutaríamos uma ao lado da outra um dia.

Mor arrastou os olhos castanhos para cima. Mas ela olhou para Kallias, que parecia estar tentando o seu melhor para não parecer preocupado. Mor deu ao Grão Senhor um olhar como se quisesse dizer que cuidaria dela antes de sorrir para Viviane. 

-É quase o suficiente para me fazer sentir mal por Hybern.

-Quase. - Viviane sorriu perversamente. -Mas não exatamente. 

Eles foram levados a uma suíte construída em torno de uma área de estar e sala de jantar privada. Tudo esculpido em pedra de sol, adornada com tecidos em tons de jóia, amplas almofadas agrupadas ao longo dos espessos tapetes e dominadas por ornamentadas gaiolas douradas cheias de pássaros de todas as formas e tamanhos. 

-Como Thesan impediu Amarantha de destruir este lugar? - Perguntou Feyre a Rhys enquanto examinavam a sala de estar que se abria para a confusão do campo, bem longe.

-É a sua residência particular. - Rhys escondeu suas asas e caiu sobre uma pilha de almofadas de esmeralda perto da lareira escurecida. -Provavelmente ele a protegeu da mesma forma que eu e Kallias.

Uma decisão que pesaria sobre eles durante muitos séculos, Asterin não tinha dúvidas quanto aquilo.

Asterin deu um longo e pesado suspiro, se sentando ao lado de Rhysand, deixando suas pernas largadas sobre as dele. A Rainha olhou para Conan e abriu um largo sorriso.

-Vou te dar uma nota dez por ter se controlado!- ela provocou e o Serafim a olhou com irritação. 

-E pra você eu dou um zero.- ele rebateu. Asterin deu a ele um sorriso sarcástico, atirando uma almofada contra Conan.

-Desde quando você sabe controlar o gelo, Terin?- Alibia perguntou enquanto se sentava ao lado de Mor. 

-Realmente, isso foi novidade. - Travis disse franzindo o cenho. Todos olhando para Asterin, esperando uma resposta. Ela fez uma careta.

-Sei lá! Eu estava irritada e queria matá-lo. O gelo veio em resposta.- ela disse dando de ombros, mesmo que aquilo também estivesse a incomodando. Rhysand fez uma carícia suave na coxa de Asterin, mas parecia perdido nos próprios pensamentos. 

Batidas na porta cessaram a conversa entre eles. Por um instante, eles ficaram em um profundo silêncio. 

-Não a abra. - advertiu Mor do seu lugar no sofá. -Mesmo com o escudo, não a abra.

Rhys se endireitou. 

-Sábio. - ele disse, se afastando de Asterin e indo para a porta da frente. -Mas desnecessário.

Ele abriu a porta, revelando Helion sozinho. Asterin se levantou, abrindo um largo sorriso para o Grão Senhor. Helion apoiou uma mão na moldura da porta e sorriu.

-Como você convenceu Thesan a lhe dar a melhor visão?

-Ele acha que meus machos são mais bonitos do que os seus, eu acho. - Rhysand disse e Helion riu.

-Eu acho que é um fetiche de asa.

Rhys riu e abriu a porta mais largamente, acenando para ele.

-Você realmente dominou a atuação arrogante, por sinal. Perfeitamente.

A túnica de Helion balançava com seus graciosos passos, roçando suas poderosas coxas. Ele parou diante de Asterin e a Rainha não pensou nem mesmo duas vezes antes de socar o ombro do Grão Senhor. 

-Seu filha da puta.- ela disse e ele deu risada antes de a puxar e a esmagar em um abraço apertado. 

-Vejo que caiu na burrice de casar com Rhysand.- Helion provocou, arrancando um revirar de olhos do Grão Senhor da Noite. Helion olhou para os demais. -Desculpas pelo ato bastardo. Velhos hábitos e tudo.

Ali estava, a diversão e alegria em seus olhos âmbar. Helion franziu o cenho para Rhys. 

-Você estava em um comportamento pouco natural hoje. Eu estava apostando que Tamlin estaria morto até o final. Você não pode imaginar meu choque quando ele saiu vivo. 

-Minha parceira sugeriu que seria favorável aparecer como realmente somos. - Rhys disse dando um sorriso para Feyre.

-Bem, agora eu pareço tão ruim quanto Beron. Falando em Beron. - Ele lançou a Asterin com uma piscadela. -Você voltou e realmente não perdeu tempo. 

-O desgraçado me sequestrou, eu só dei a ele um gostinho do meu poder. Uma pena que o dele sequer chegava aos pés do meu.- ela estalou a língua e Helion deu risada.

Os olhos de Helion caíram sobre Azriel e um sorriso malicioso cresceu, o que fez Asterin balançar a cabeça. Azriel nem se deu ao trabalho de olhar por cima do ombro para o Grão Senhor. Mas Cassian bufou. 

-Eu estava me perguntando quando começariam os vamos-lá. 

Helion se jogou no sofá em frente a Cassian e Mor. Ele tinha abandonado aquela coroa radiante em algum lugar, mas manteve a braçadeira de ouro da serpente. 

-Tem sido o que, quatro séculos agora, e vocês três ainda não aceitaram minha oferta. 

Mor inclinou a cabeça para o lado. 

-Eu não gosto de compartilhar, infelizmente.

-Você nunca sabe até que você tente. - Helion ronronou. 

-Continua um desgraçado, Helion. - Asterin suspirou, se sentando ao lado de Conan e Feyre, que piscavam os olhos lentamente tentando processar. 

-Suas forças estão prontas? - Cassian disse a Helion.

A diversão de Helion desapareceu, remodelando aquele exterior duro e calculista.

-Sim. Eles se encontrarão com o seu no Myrmidons.  - Helion disse. A cordilheira que compartilhavam em sua fronteira. Ele se recusou a divulgar essa informação antes.

-Ótimo. - Cassian disse. -Vamos para o sul a partir daí.

-Com o acampamento final onde? - Mor perguntou. Cassian respondeu.

-Nós nos juntamos às forças de Thesan, o acampamento ao longo da fronteira sudoeste de Kallias, perto da Corte Estival.

-Você e o lindo Tarquin tiveram um momento hoje. Você realmente acha que ele vai se juntar a nós? - Helion perguntou.

-Se você quer dizer na cama, definitivamente não. - Rhys disse com um sorriso irônico quando ele novamente se esparramou em sua propagação de almofadas. -Mas se você quer dizer nesta guerra... Sim. Eu acredito que ele quer lutar. 

-Hybern está se concentrando no Sul. - disse Helion. -E independentemente do que você acha que Tamlin está fazendo, a Corte Primaveril está agora na maior parte ocupada. Eris já deve ter percebido que sua corte será um campo de batalha se ele não se juntar a nós para empurrar para o sul, especialmente se a Estival se juntar a nós. 

-Eris não vai fazer nenhuma gracinha, pode ter certeza quanto a isso.- Asterin disse estalando a língua e Helion deu um sorrisinho para ela. 

-Rainha, Grã Senhora e dona da coleira de dois Grão Senhores, Asterin, acho que você se tornou muito ambiciosa. - Helion riu. Asterin deu de ombros, afundando nas almofadas. Helion bateu um dedo contra o braço esculpido de seu sofá. -Se fosse Beron, as coisas seriam diferentes. Ele jogou na Guerra e custou-lhe caro. Seu povo ainda se lembra dessas escolhas, essas perdas. Sua própria maldita esposa se lembra. Eris vai ter que saber como jogar para não cometer os mesmos erros.

-O que você quer dizer?- Feyre perguntou, ganhando a atenção de todos. 

Helion fixou toda a sua atenção em Feyre, que pareceu fazer um esforço muito grande para não se encolher com o peso e a intensidade daquele olhar. O corpo musculoso era apenas uma máscara para esconder essa mente astuta abaixo. Helion dobrou um tornozelo sobre um joelho. 

-As duas irmãs mais velhas da Senhora da Corte Outonal foram de fato... - Ele procurou uma palavra. -Destruídas. Atormentadas, e depois massacradas, durante a Guerra. 

As tias de Eris. De Lucien. Mortas antes que Lucien sequer tivesse existido. Sua mãe já lhe contara essa história? 

-As forças de Hybern já haviam submerso nossas terras por esse ponto. - Rhys disse a Feyre. Helion apertou a mandíbula. 

-A Senhora da Corte Outonal foi enviada para ficar com suas irmãs, seus filhos mais novos embalados para outros parentes. Para espalhar a linhagem. Hybern atacou sua propriedade. Suas irmãs ficaram para dar a ela tempo para correr. Não porque estivesse casada com Beron, mas porque se amavam. Ferozmente. Ela tentou ficar, mas elas a convenceram a ir. Assim ela fez, correu e correu, mas os animais de Hybern ainda eram mais rápidos. Mais fortes. Eles a encurralaram em um desfiladeiro, onde ela ficou presa no topo de uma árvore, as bestas estalando a seus pés. 

Ele não falou por um longo momento. Demasiados detalhes. Ele sabia tantos detalhes.

-Você a salvou. Você a encontrou, não foi? - Feyre disse em voz baixa. Asterin trocou um olhar com Rhys; perigoso, aquele era um território perigoso.

-Eu salvei. -  Havia bastante peso, raiva, e algo mais nessas duas palavras quando Feyre estudou o Grão Senhor da Diurna.

-O que aconteceu?

-Eu rasguei os animais ao meio com minhas mãos.

-Porque?- Feyre murmurou. 

-Ela ainda era jovem, embora ela estivesse casada com aquele homem encantador por quase duas décadas. Casaram muito jovem, o casamento arranjado quando tinha vinte anos. 

-Então?- uma pergunta perigosa, sarcástica. E seus olhos queimavam, brilhando como os sóis.

Mas foi Mor quem disse friamente: 

-Eu ouvi um rumor uma vez, Helion, que ela esperou antes de concordar com esse casamento. Por um certo alguém que a conheceu por acaso em um círculo de equinócio no ano anterior.

Lá vai a fofoca. Asterin pensou olhando para Rhys, que deu risada em sua mente. Bem, será que é hora de mencionar que Helion é pai do Lucien?

Por um tempo, Rhys ficou quieto. Então, Asterin pode sentir o choque dele enquanto Rhys a olhava com aqueles olhos salpicados por estrelas.

O quê?

Nunca notou as semelhanças, Rhysand? Pelo Caldeirão! E se lembra de como Lucien quebrou o feitiço do Rei de Hybern no castelo? Não vejo outra explicação que não essa.

Rhys ficou silencioso, parecendo bem perto de entrar em choque. Mas o fogo se tornou brasas e Helion jogou um meio sorriso na direção de Mor.

-Interessante. Ouvi dizer que sua família queria vínculos internos com esse poder, e que não lhe deram uma escolha antes de vendê-la a Beron. 

Vender ela. As narinas de Mor dilataram. Cassian passou a mão pelos cabelos. Azriel nem se afastou de sua vigília na janela, embora Asterin pudesse ter jurado que suas asas estavam dobradas um pouco mais apertadas.

-Pena que eles são apenas rumores, - Rhys cortou suavemente, -e não pode ser confirmado por ninguém.

Helion apenas brincou com o punho de ouro em seu braço esculpido, torcendo a serpente para o centro de seu bíceps. Mas Feyre franziu as sobrancelhas.

-Beron sabia que você salvou sua esposa na Guerra? 

Helion soltou uma risada escura. 

-Caldeirão, não. - Havia tanto humor irônico, que Feyre se endireitou.

-Você teve... um caso depois que a salvou?

A diversão só crescia, e Helion empurrou um dedo contra seus lábios em um aviso zombeteiro.

-Ah, pelo amor do Caldeirão, depois eu sou a fofoqueira?- Asterin disse com pura indignação, arrancando olhares de todos os seus amigos. Helion abriu um sorriso sarcástico para ela. -Beron está morto, não vejo motivos para continuar com tudo... Isso.

-Isso o que, adorável Asterin? - Helion zombou.

-Você fingindo que não liga, ela fingindo que você não existe, todo esse blá blá blá. - Asterin disse torcendo o nariz. -Passei cinco séculos longe de Rhys, e isso não me fez amá-lo menos. E... Acho que vocês deveriam conversar. 

-E eu acho que você está se metendo demais.- Helion disso, um brilho perigoso nos olhos. Asterin revirou os dela, balançando a cabeça. 

-Você é estúpido as vezes, Helion, e digo isso como sua amiga. - ela soltou, fazendo ele torcer o nariz. -Conhecê o filho mais novo dela, Lucien?

Asterin.

-O que isso tem haver com o assunto?- Helion disse arqueando a sobrancelha para ela. Ela suspirou.

-Ele é seu filho.- ela soltou. Por um instante, todos ficaram em profundo silêncio. Então:

-Asterin, porque você é assim?- Cassian deu um gritinho, a olhando com pura indignação. Ela grunhiu.

-Você queria que eu fizesse o que, escondesse isso de Helion? Ele é meu amigo!- Asterin gritou de volta. Helion franziu o cenho e a olhou.

-Como sabe disso?- ele disse, baixo.

-Bom... Eu não sou cega, começa por aí. A idade dele bate com a época que você e a Senhora da Outonal tiveram um caso. Quando estávamos em Hybern, Lucien usou os seus poderes. E eu pressionei Eris pra me dizer a verdade, então...- ela suspirou. -Eu não deveria ser a pessoa a te contar isso, mas você deveria saber.

-Puta que pariu.- Conan soltou e ela torceu o nariz.

Helion deu um longo e pesado suspiro antes de se levantar e dar um sorriso para Asterin.

-Pelo jeito, vou mesmo ter que fazer o que você falou.- ele disse e ela torceu o nariz quando Helion a abraçou. E sussurrou, apenas para ela: -Obrigado por me contar. 

Helion desapareceu no segundo seguinte.

-Você não podia ter contado isso em outro momento não?- Travis disse indignado. Asterin revirou os olhos.

-Bem, e se todos nós morrermos na guerra? Pelo menos ele vai ter conversado com ela! Pelo menos vai saber que tem a porra de um filho!- ela disse irritada e se jogou ao lado de Rhys. Rhys sorriu para ela.

-Ah, pela Mãe. Eu me casei com uma fofoqueira.

Boa tarde meu povo! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

Enfim, Asterin sempre servindo para contar as fofocas, irra!
Espero que estejam gostando!
Vejo vocês no próximo capítulo!
~Ana

Data: 22/11/21