Capítulo 29: Chorar até dormir
"Após abertura do show de Taylor Swift em Madrid, a cantora Rebeca é avistada saindo de um bar com um espanhol de identidade ainda desconhecida. Seria este o seu possível affair depois do triste término com o ator Robert Pattinson?"
Essa foi a primeira coisa que apareceu na timeline do meu Twitter quando liguei meu celular de manhã. Eu senti raiva. Muita raiva. Minha vontade era de atirar meu celular contra a parede para que ele se quebrasse em mil pedaços. Mas não fiz isso.
Apoiei meu smartphone em meu peito enquanto eu ainda estava deitado na cama e fiquei olhando para o teto de gesso. Rebeca estava com outro cara. Não havia nada de errado nisso, já que não estávamos mais juntos... mas aquilo era muito doloroso para mim. Acho que eu não esperava que ela fosse se envolver com outro tão rapidamente.
Puxei o ar com força e o soltei lentamente, resistindo à tentação de chorar. Como minha vida mudou de forma tão abrupta em um período tão curto? Eu jamais planejei estar com Suki novamente... e muito menos planejava ter um filho com ela. Apesar de eu não conseguir me lembrar como esse filho nos foi concebido.
Aos poucos eu estava me acostumando a conviver com Suki. Isso não quer dizer que eu a amava. Porém, eu não ia deixá-la desamparada e grávida, por isso decidi voltar com ela. Assumo que não era a minha vontade reatar a nossa relação, mas eu sabia que eu precisava fazer isso. Eu precisava cuidar de Suki agora que ela estava gerando um filho meu.
— Bom dia, bonitão. — Ela acordou ao meu lado dando um longo bocejo.
— Bom dia. — Me forcei a sorrir.
— Ansioso pelo dia de hoje? — Suki passou a mão em meu rosto.
Hoje iríamos tirar o dia para a degustação de bolos e guloseimas do chá de revelação do nosso filho, que seria daqui a uma semana. Suki já estava com 2 meses e meio de gravidez e já tinha feito o exame da sexagem fetal. O resultado estava com a mãe dela.
Eu estava tentando me animar com a festa, apesar de tudo, seria a revelação do sexo do nosso bebê, aquilo era algo maravilhoso. Contudo, sempre que eu me lembrava de Rebeca em Madrid, meu desânimo voltava.
— Vou tomar um banho e me arrumar pra a gente sair. — Suki levantou da cama com pressa.
— Tá. — Continuei deitado, enrolado no lençol como se estivesse em um casulo.
— Não quer tomar banho comigo?
Eu não podia falar um "não" logo de cara. Suki, devido à gravidez, estava muito sensível e qualquer coisa lhe fazer chorar ou ficar com raiva. Então tentei ser o mais educado possível.
— Acho que vou logo descer e pedir pra María preparar o nosso café da manhã.
— Tá bem.
Fui até o closet e vesti a primeira roupa que vi pela frente. Uma calça jeans azul desbotada, uma camisa preta básica, um boné e um tênis adidas. Aquele era praticamente meu uniforme.
Enquanto Suki estava no chuveiro, entrei no banheiro apenas para escovar os dentes. Evitando ao máximo vê-la nua. Mas assumo que olhei de relance algumas vezes.
Seus seios já estavam começando a inchar e também já dava para perceber um volume em sua barriga. Um volume bem discreto. E mesmo ela estando pelada ali na minha frente, não consegui ficar excitado com aquela visão.
— O que foi? — Suki me olhou pelo vidro do box.
— Nada. — Cuspi a espuma da pasta de dente na pia.
— Tá me admirando, é?
— Tava reparando na sua barriga.
— Já tá começando a aparecer, né? — Ela alisou seu ventre, fazendo uma careta que eu não consegui interpretar.
— É.
— Vou precisar me matar na academia pra não ficar enorme de gorda e cheia de celulite.
— Mas você tá grávida. É normal ficar um pouco acima do peso, ou com algumas estrias ou com celulites. — Dei de ombros, achando aquilo a coisa mais natural do mundo.
E realmente era a coisa mais natural do mundo, mas não para Suki, a qual sempre colocou a aparência física em primeiro lugar na sua lista de prioridades.
— Vira essa boca pra lá, Deus me livre.
Atitudes e falas como aquela faziam eu me lembrar do motivo de eu ter me separado daquela mulher.
— Vou descer pra tomar café. Te espero lá em baixo. — Saí do banheiro às pressas.
Desci as escadas, encontrando María na cozinha. Ela não estava nenhum pouco feliz com o retorno de Suki. Mas eu tentava apaziguar a situação.
— Bom dia, María. — Lhe dei um abraço apertado.
— Bom dia, hijo. Dormiu bem?
— Um pouco melhor que ontem. Acho que o chá que você me deu ajudou.
— Chá de camomila e gengibre sempre é bom pra esses problemas de insônia.
— O que você tá fazendo de bom? — Estiquei o pescoço para ver.
— Iogurte natural de manga com chia e aveia. — Ela respondeu colocando a jarra de conteúdo amarelado na mesa de vidro. — É pra dona Suki. Ajuda na produção de leite.
— Onde você viu isso?
— É uma receita de família, hijo. Lembro quando minha madre preparava pra mim... eu ficava igual uma vaca leiteira. — María riu.
María tinha apenas um filho que morava no México, o qual ela não tinha mais contato. Não se falava muito sobre ele. A única coisa que eu sabia era que seu nome era Matías e que ele tinha se envolvido com drogas. Ela sempre disse que vinha de uma família muito pobre e que seu filho entrou no mundo do crime por falta de opção. Era uma história bem triste. Por isso ela não gostava de falar.
— Espero que ela goste. — María voltou a falar de Suki. — É tão difícil agradar essa menina.
— Ela vai gostar sim.
— Por que você voltou com ela, mi hijo? Cadê a chica do Brasil? Achei que estavam apaixonados.
— E nós estávamos... mas ela decidiu ir embora quando soube que a Suki estava grávida.
— E com razão. — María exclamou. — Mas por que você caiu nas armadilhas dessa mulher? Como você pôde deixar isso acontecer?
— Eu não sei como aconteceu, María, mas aconteceu. E agora eu tenho que lidar com isso.
— Lidar com o que? — Suki apareceu na cozinha de repente.
— Com nada. — Respondi atropeladando as palavras.
— Sei. Meu café já tá pronto, María? Robert e eu temos que sair logo.
— Aqui está, patroa. — A empregada lhe serviu um copo do iogurte que tinha feito.
Suki engoliu o líquido como se estivesse bebendo ácido. Ela fez uma careta feia e depois limpou a língua com um guardanapo.
— Algum problema, senhora?
— O que é isso? Nossa, é horrível!
— É iogurte de manga, dona Suki. Tá tudo fresquinho, comprei a manga no supermercado bem cedinho.
— Você sabe do que é feito o iogurte, María? É feito de leite! Eu não posso tomar leite!
— Você é intolerante a lactose? — Perguntei confuso. Eu não me lembrava daquilo.
— Claro que não! Leite me dá acne! Como eu vou aparecer na rua com a pele cheia de espinhas? — Minha parceira vociferou, fazendo com que María se encolhesse.
— Me desculpe, senhora, só quis ajudar.
— Joga essa porcaria no lixo. Vou comer alguma coisa no caminho.
— Mas, senhora... vai mesmo desperdiçar comida? Tem tantas pessoas passando fome por aí e...
— Joga-isso-fora. — Suki falou pausadamente.
— Sim, senhora... — María abaixou a cabeça e saiu de perto.
— Vamos, Robert. Senão vamos nos atrasar.
Entramos em meu Tesla e dirigi até a doceria onde Suki havia marcado de fazer a degustação. Ela ficou tagarelando o caminho inteiro. Sua voz estava me irritando profundamente.
— O que aquela velha tem na cabeça, hein? Me dar iogurte de manga... eu nem gosto de manga. — Ela resmungou se olhando no espelho e passando batom.
— Ela só quis ajudar.
— Ela mais atrapalha que ajuda. Já tá na hora de procurar outra empregada, Robert. A María já tá velha, não tá mais dando conta de fazer a comida direto, nem de limpar aquele casarão...
— Não vou demitir a María.
— Por que não? Quero um bom motivo dessa vez, não me venha com "ela é quase uma mãe pra mim". — Ela imitou minha voz. Uma imitação bem ruim.
— Ela não tem pra onde ir, Suki. Praticamente eu que sou a família dela. O filho é envolvido com drogas... o marido faleceu.
— E eu com isso?
Por que eu estava perdendo meu tempo tentando explicar algo que ela nunca iria entender? Suki só pensava no seu próprio umbigo.
— Reduz a velocidade. A doceria é bem ali. Onde tem aquela fachada rosa. — Ela apontou.
Estacionei o carro na frente do estabelecimento, me deparando com vários paparazzis na entrada. Eles tiraram milhares de fotos nossas. Meus olhos até arderam com tantos flashes. Quando entramos, uma jovem nos recebeu. Não havia mais ninguém na doceria além dela.
— Bom dia senhor Pattinson e senhorita Waterhouse. — Ela nos cumprimentou simpaticamente. — Me chamo Karen e vou atender vocês nessa manhã.
— Olá, Karen. — Respondi.
— É um prazer enorme recebê-los aqui. Agradecemos muito por terem contratado nossos serviços para o chá de revelação do seu bebê.
— Vamos logo ao que interessa? — Suki perguntou. — Vim aqui pra degustação, não pra ficar de conversa.
— Claro, me desculpe.
Karen nos mostrou todos os tipos de bolos, cupcakes e docinhos que a doceria fornecia. Provei alguns e não consegui dizer qual era melhor. Tudo era muito gostoso. Por outro lado, Suki reprovou quase todos. Ela sempre procurava algum defeito nos doces.
Ficamos naquela doceria o dia inteiro. Eu estava exausto. Já até tinha desistido de escolher o sabor dos doces da festa, pois ela nunca entrava em consenso comigo. Então passei maior parte do tempo sentado e mexendo no celular. Especificamente, no Twitter.
Fiquei pesquisando a fundo o rolo de Rebeca com o cara de Madrid. O homem se chamava Álvaro e era dono de uma grande empresa de construção civil. Ele tinha 30 anos e era divorciado. O cara nem era tão bonito assim.
Na foto tirada pelos paparazzis, ela parecia feliz. Ela parecia querê-lo de verdade. Aquilo me feriu profundamente. Devia ser eu ali com ela, não aquele babaca espanhol.
— Você acha que a massa dos cupcakes deve ser de red velvet ou de baunilha, Rob? — Suki chamou minha atenção.
— Ah... — Pensei rápido. — acho que de baunilha.
— Hum... eu prefiro de red velvet.
— Então escolha red velvet. — Me controlei para não revirar os olhos. Por que Suki pedia a minha opinião se ela nunca era levada em consideração?
— Separa a de red velvet pra mim. — Ela ordenou à Karen.
Saímos dali por volta das 18:00. No caminho até em casa, decidi ligar o rádio, para não ter que ficar ouvindo o blá-blá-blá de Suki.
Mas, a música que tocou na rádio me atingiu profundamente. Era a música de Rebeca que ressoava em meu carro. A música que ela havia dedicado a mim. Suki percebeu que eu fiquei abalado e desligou o som na mesma hora.
— Credo, que música horrorosa. Essa garota não tem talento algum.
— Não precisa rebaixá-la assim. Ela é talentosa.
— Achei ridículo o fato dela ter escrito um álbum inteiro sobre você. Eu devia processá-la. Ela quer sujar sua imagem.
— Ela não quer fazer isso.
— Como pode ter tanta certeza? Eu tenho pra mim que essa garota é uma vadia que quer ganhar fama a custa dos outros.
Olha quem fala...
— Ela não é nada disso, Suki.
Chegamos em casa em um clima terrível. Sempre ficava um climão quando tocávamos no nome de Rebeca. Suki ficava para morrer de raiva quando eu a defendia das suas acusações falsas.
Enquanto minha parceira subiu para o quarto, fiquei na área da piscina bebendo. Tentando espairecer a cabeça. Naquela noite, bebi bem mais do que devia. Acho que, ao todo, tomei umas 10 garrafas de Heineken longneck sozinho.
E como um bom bêbado, é claro que eu arrumei um jeito de passar vergonha. Com o número de Rebeca ainda salvo em meu celular, decidi ligar para ela.
— Robert? — Ela atendeu depois de eu ter ligado 2 vezes seguidas. — O que você quer? É quase uma da manhã.
— Onde você tá? Ainda tá em Madrid?
— Eu tô na Escócia agora. Em Edimburgo.
— E o Álvaro tá com você? — Perguntei com raiva.
— Que Álvaro?
— Não se faça de sonsa, você sabe que Álvaro que eu tô falando. Aquele com quem você tava se pegando no bar.
— E como você sabe disso? Anda me stalkeando?
— Qual é, o Twitter só fala sobre esse assunto. Você tava fazendo isso pra me abalar, né? Você sabia que eu não ia aguentar te ver com outro! Fez isso só pra se vingar! — Falei um pouco mais alto que o normal.
— Tá maluco? É claro que eu não fiz isso pra me vingar! Eu só tava comemorando o meu primeiro show grande, seu idiota!
— Comemorando quicando em outro, né? Ele te fez gozar, pelo menos? Ele te fodeu como eu te fodia?
— Você tá sendo um puta dum escroto! Você bebeu por um acaso?
— Não interessa se eu bebi ou não. Quero que me responda as minhas perguntas.
— É claro que bebeu... — Ouvi sua risada irônica do outro lado da linha. — Cadê a sua namorada grávida, hein? Por que não vai ficar com ela e me deixa em paz?
— Porque eu não consigo parar de pensar em você! Mas que inferno! — Comecei a chorar.
— Não quero mais falar com você, Robert. Eu vou te bloquear se não parar com essa palhaçada agora.
— Não, por favor, não faz isso.
— Você me liga só pra falar merda e acha que eu vou aceitar numa boa?
— Rebeca... eu te amo. Eu não consigo nem transar com a Suki por sua causa... pra aliviar a vontade eu preciso bater uma pensando em você todas as noites...
— Você não tem nem vergonha de me falar uma coisa dessas, né? Quer saber... não vou mais perder meu tempo com você. Boa noite!
Então o telefone ficou mudo. Ela tinha acabado de desligar na minha cara. Tentei ligar mais uma vez, porém o celular nem chamava. Rebeca me bloqueou.
Ardendo de raiva, atirei meu celular na piscina e caminhei até o quarto trocando as pernas. Me deitei na cama ao lado de Suki e chorei até dormir.
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