Capítulo 14: Você é exceção
Nunca havia escrito uma música antes, mas eu estava com tantos sentimentos acumulados dentro do peito que precisava externar isso de alguma forma. A melhor maneira foi colocar todos esses sentimentos em um papel.
Toda a paixão que eu sentia por Robert, tudo o que vivemos juntos e todas as partes boas da nossa relação estavam se tornando lindos versos. E os versos estavam se tornando estrofes que originaram mais da metade da minha música. Para uma primeira composição, confesso que estava ficando muito bom.
Andava com meu caderninho para cima e para baixo, e sempre que despertava alguma ideia, eu pegava a caneta para escrever. O único problema, é que eu não tinha como produzir aquela canção, então ela ficaria só para mim. Mas, mesmo assim, não desanimei. Se toda aquela poesia ficasse guardada dentro de uma página de um caderno velho e nunca fosse exposta ao mundo, eu não me importaria.
Eu era uma aspirante a compositora, nada daquilo era profissional. Mas, mesmo eu sendo apenas uma amadora tola, posso dizer que os versos que eu escrevi saíram do fundo da minha alma, e eles tinham um significado que eu jamais conseguiria explicar.
Também escrevi uma versão em inglês, pois eu planejava cantá-la no pub. Eu a apresentaria para o primeiro público que me acolheu e me apoiou.
De noite, levei Scarlett em um aniversário que o tema era festa do pijama. Ela ia passar a noite fora e eu só precisaria buscá-la de manhã. Assim que a deixei na festinha, fui com pressa para o pub, já estava quase na hora de apresentar meu couvert.
Eu estava no camarim trocando de roupa para me apresentar quando meu telefone tocou alto. Era minha mãe. Fazia tempo que eu não ligava, ela não sabia sobre Robert, nem sobre o meu segundo emprego, nem nada. No máximo, eu trocava mensagens com ela sobre assuntos bobos.
— Oi, mãe.
— Minha filha, eu tava quase pegando um avião pra ir aí te ver. Você nunca mais ligou.
— Desculpa, minha vida tá uma loucura ultimamente. Não tô tendo tempo pra quase nada.
— O que tá havendo?
— Ai, mãe... é tanta coisa.
— Quero saber. Diga logo.
— Eu arrumei um emprego extra. Tô trabalhando como cantora de um pub.
— Um pub? Isso não é ambiente pra você! Tem muita gente ruim que frequenta esse tipo de lugar!
Eu amava minha mãe, mas não podia negar que ela era superprotetora. Ela sempre me viu como uma criança ingênua que não podia ser corrompida, mesmo eu já sendo uma adulta.
— Mãe, eu gosto de trabalhar aqui, eu me sinto feliz.
— Tá, e o que mais? O que mais tá acontecendo na sua vida?
— Bom... sabe o Robert? O ator que eu encontrei no táxi quando cheguei aqui.
— O que tem ele?
— Ele é padrinho da criança que eu tô tomando conta. A gente passou a se conhecer melhor e... estamos juntos.
— QUE?! — Minha mãe gritou no telefone, quase me deixando surda.
— Eu sei, mãe, é muita coisa pra absorver. Eu sei que é loucura.
— Você tá brincando comigo, né?
— Não, eu juro por Deus.
— Ai, filha... — A voz dela mostrava claramente que ela não estava feliz com a notícia. — Eu sei que ele é lindo, rico, foi seu "crush" na adolescência... mas isso não tem como dar certo.
— O que você tá falando? Por que não daria certo? A gente se gosta! — Respondi com impaciência.
— Sim, você gosta dele, minha filha, mas ele gosta de você na mesma intensidade? Ou ele gosta de estar com você porque você é nova, imatura e bonita?
Ouvir aquilo da boca da minha mãe foi como cravar uma faca no meu peito.
— Ele não é assim.
— Se envolver com homem mais velho não dá certo, escute o que eu tô lhe falando. Eles se aproveitam de nós até se cansarem.
— Eu vou desligar, tenho que trabalhar agora.
— Guarda as minhas palavras no seu coração. Quero seu bem.
— Ok, mãe. Tchau.
Desliguei bufando de raiva. Eu não queria acreditar na possibilidade de Robert estar apenas me usando, por mais que essa possibilidade existisse. Não, eu não ia deixar aquilo subir para a minha cabeça! O que tínhamos era real! Ninguém me faria pensar o contrário! Podem me julgar como ingênua.
Saí do camarim e subi no palco furiosa. Mas eu usaria aquela fúria para o bem. Iria extravasar todo aquele sentimento com a voz.
Passei uma hora cantando sem parar. Escolhi fazer cover das músicas mais difíceis de se cantar justamente com o intuito de me auto-desafiar. Meu agudos não falharam nenhuma vez. A raiva que eu sentia foi um incentivo para eu fazer a minha melhor apresentação.
No fim, eu decidi que ia apresentar a música da minha autoria. Ela estava incompleta ainda, mas nada que um improviso não pudesse resolver.
— Boa noite, pessoal! — Falei no microfone e comecei a dedilhar lentamente o teclado. — Nossa noite tá chegando ao fim, infelizmente, juro que se eu pudesse, ficaria aqui com vocês até o sol nascer. Mas prometo que vou fechar a noite de uma forma inesquecível.
Respirei fundo e dei o primeiro acorde que introduziria a música.
— Essa canção é de minha própria autoria. Eu a escrevi pra um cara... Eu tô gamada nele, por mais que muita gente seja contra o nosso relacionamento, eu continuo louca por esse homem. Aproveitem.
O público ouviu todas as minhas palavras com muita atenção, de um jeito que eu nunca tinha visto. Algumas pessoas até ficaram meio reflexivas no decorrer da música. Eles gostaram do ritmo, da letra e da harmônia.
Mas a parte que mais curtiram foi a ponte, deu para sentir um alvoroço quando comecei a cantá-la. Provavelmente eles gostaram dela tanto quanto eu.
No fim, recebi aplausos demorados e muitos assobios, isso concluiu a noite com chave de ouro. Uma pena que Robert não estava ali para ver.
— Obrigada, galera! Tenham um bom fim de semana! — Agradeci me curvando para eles.
Quando desci do palco, Ana veio eufórica até mim, acompanhada de um homem alto, com cabelos escuros e ondulados, e que usava um óculos fundo de garrafa.
— Amiga, que música linda! Eu adorei! — Ela comentou extasiada.
— Obrigada.
— Eu queria te apresentar um amigo. Esse é o Jack. Jack, essa é a Rebeca.
— Prazer, sou Jack Antonoff. — O homem estendeu a mão e me cumprimentou.
— Oi, prazer. — Cumprimentei de volta.
— Ele é produtor musical. — Ana voltou a falar. — Já fez músicas com a Lana Del Rey, Taylor Swift, Lorde, enfim... muitas cantoras famosas. E ainda por cima, é cheio de grammys nas suas estantes.
Meu Deus, um produtor musical de primeira categoria acabado de me ouvir cantar! Tinha acabado de ouvir uma composição minha!
— Olha, eu me interessei muito pela sua música. Gostaria de saber se você tem interesse em gravá-la.
— Gravá-la? — Perguntei só para ter certeza se eu estava realmente ouvindo direito.
— Sim. Você poderia passar no meu estúdio e a gente produziria essa música juntos.
— M-mas eu não sou nenhuma Taylor Swift da vida... pelo contrário, sou uma amadora.
— Ninguém nasce sabendo. Acha que a Taylor Swift chegou onde está sem antes ter sido uma amadora?
É, ele tinha razão.
— Eu achei sua música incrível, e é esse tipo de música que o povo gosta. As pessoas amam histórias de amor.
— Mas eu só tenho uma música pronta... não tenho nada mais que isso.
— Vamos gravá-la e lançar um single. Se explodir, te ajudo a fazer um álbum completo. Você vai voar, menina, consigo sentir.
— Você precisa aceitar, Rebeca. — Ana falou.
— Eu não costumo fazer isso com qualquer uma, mas você é exceção. Seu potencial é notório.
E então pensei... pensei... e pensei.
— Quando posso passar no seu estúdio?
— Quero você lá no dia 20 de janeiro às 10:00 da manhã.
— Fechado.
Jack e eu apertamos as mãos e a partir daquele momento, minha carreira musical começou a nascer.
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