Capítulo 1: Brasil
2 anos depois...
O último show da minha turnê mundial foi no Brasil, para fechar com chave de ouro. Os fãs brasileiros foram os melhores, eu nunca me senti tão bem recebida.
Minha carreira musical já estava bem consolidada. Nesse último ano que passou, fiz minha primeira turnê própria, cantei em vários festivais de música renomados como Coachella e Lollapalooza e também fiz apresentações em vários programas de TV. Mas agora eu queria descansar um pouco.
Decidi passar um tempo no Brasil, longe dos holofotes, longe da vida caótica de Hollywood e longe das lembranças de Robert. E por falar nele, o seu filho já havia nascido e tinha quase dois aninhos. Aparentemente, ele e Suki estavam se dando bem agora. Lizzy também me disse que ele havia parado com as drogas. Robert estava bem, e eu estava feliz por ele ter finalmente se reerguido.
Eu estava bem também. Jacob e eu ainda estávamos juntos e nosso relacionamento estava firme. Ele me acompanhou durante toda a turnê e se propôs a ficar comigo no Brasil após a tour. Nos planejamos de viajar por todo o país, de norte a sul, para que ele conhecesse melhor a minha cultura.
Nosso primeiro destino foi a casa dos meus pais, Jacob estava super ansioso para conhecê-los. Mas eu estava um pouco nervosa. Fazia muito tempo que eu não via nem falava com eles, desde que eu entrei nesse mundo da música, o meu contato com eles havia diminuído bastante.
Não era segredo que eles não concordavam com a minha escolha de carreira, e isso me chateava às vezes. Meu pai e minha mãe sempre sonhavam que eu fosse médica, ou veterinária ou advogada, mas nunca cantora.
— Você parece estar mais nervosa que eu. — Jacob falou depois que apertamos a campainha da casa dos meus pais.
— Faz muito tempo que eu não os vejo.
— Eles são seus pais, não fique com medo. — Ele fez cafuné no meu cabelo, que estava preso em um rabo de cavalo.
Então a porta da casa se abriu e dei de cara com a minha mãe. Ela deu um sorriso largo e abriu seus braços para me receber com um abraço.
Caminhei em direção a ela e passamos bastante tempo grudadas uma na outra. Aquele toque físico me fez perceber o quanto senti saudade dela.
— É tão bom te ver, filha. — Ela falou ainda me abraçando.
— É bom te ver também, mãe.
— E você deve ser o Jacob. — Mamãe falou em português, precisei intermediar a conversa dos dois para que eles se entendessem. Ela não falava um "a" de inglês.
— É um prazer conhecer a senhora. — Jacob a abraçou, fazendo minha mãe parecer tão pequena quanto uma formiga.
— Vamos entrando, seu pai tá louco pra te ver.
Minha mãe entrou na frente e Jacob e eu fomos atrás dela. Deixamos as nossas bagagens no meu quarto, onde iríamos dormir nos próximos dias, e depois fomos até o quintal, onde meu pai estava. O lugar continuava do mesmo jeito. Cheio de plantas, uma piscina pequena que mais parecia uma banheira e uma grande mesa de carvalho que utilizávamos para tomar o café da tarde.
— Filha, você chegou! — Meu pai se levantou e me abraçou forte. — Que saudade que eu tava!
— Eu também tava morrendo de saudade, pai.
— Você tá mais linda que nunca. — Ele beijou minha cabeça. — Está radiante, não está, querida?
— Sim. — Mamãe concordou. — O Jacob deve ter participação nisso.
— E você não vai nos apresentar? — Papai perguntou direcionando o olhar para o meu namorado.
— Jacob, esse é meu pai. Pai, esse é o Jacob.
— Prazer em conhecê-lo, senhor. — Eles deram um aperto de mão firme.
— Espero que Rebeca tenha falado bem de nós pra você.
— Ela falou sim, e muito bem.
— Gente, vamos logo tomar o café, pra aproveitar enquanto ainda tá quentinho. — Minha mãe convidou.
Havia tudo na mesa, todas as comidas prediletas da minha infância. Bolo de milho, pão francês quentinho com manteiga, café preto coado e leite quente, queijo branco ... era um lanche 100% brasileiro. E eu comi até não aguentar mais.
— Tá tudo uma delícia. — Jacob elogiou. — A comida do Brasil é divina.
— Que bom que gostou, fiz tudo com muito amor.
— Como vocês dois se conheceram? Desculpem mudar de assunto. — Meu pai quis saber.
— Nós éramos amigos antes de namorar. Trabalhamos juntos em um videoclipe da música da Rebeca. Foi um clipe romântico e desde o início rolou uma química... bom, pelo menos rolou uma química da minha parte, porque ela ainda tava comprometida.
— Com aquele ator que fez o vampiro?
— É, o Robert Pattinson. — Jacob relembrou, me dando uma certa gastura.
— Ainda bem que você apareceu. Aquele cara jamais seria um bom parceiro de vida pra ela. — Minha mãe disse.
— Concordo plenamente com a senhora, ele é uma pessoa horrível. Nunca vi um cara tão esnobe.
— Também não precisa exagerar, Jacob. — Respondi incomodada.
— Mas é verdade, o Robert nunca gostou de mim. Mas cá estou eu, namorando uma mulher linda e talentosa enquanto ele tá se afundando em drogas com uma vida medíocre.
— Quem te falou isso? — Franzi o cenho.
— Ora, todo mundo sabe que ele é um drogadinho, não é nenhum segredo.
— Então realmente o Jacob te deu um livramento, minha filha. Já pensou se você tivesse que lidar com um homem drogado dentro da sua própria casa? Deus te livre. — Mamãe fez o sinal da cruz.
— Isso foi só uma fase do Robert, mãe, ele tava passando por vários problemas na época. Hoje ele está bem, até teve um filhinho recentemente. — Tentei defender meu ex. Jacob me encarou de canto de olho, claramente não gostando do meu posicionamento.
— Nada justifica o uso de drogas.
— Existem pessoas que as usam como um escape, precisamos parar com tanta ignorância e tentar compreender o lado delas. Assim como tem gente que se afunda na bebida, na comida e em vários outros tipos de vício, também existe gente que se afunda em drogas.
— Então você tá defendendo ele?
— Não, só tô dizendo que não podemos apontar o dedo na cara de ninguém.
— O que importa é que acabou. — Jacob falou. — Você tá comigo agora e não precisa mais sofrer pelo Robert.
— Claro. — Respondi sem ânimo.
Quando acabamos de comer, meu pai insistiu para que ele e Jacob jogassem uma partida de baralho. O mais engraçado é que eles ficaram se comunicando por meio do Google Tradutor para prosseguirem com o jogo.
Enquanto isso, eu e minha mãe ficamos na beira da piscina colocando o assunto em dia. Por incrível que pareça, ela quis saber como estava indo a minha carreira, e aquilo me deu margem e ânimo para ficar tagarelando sem parar.
— Essa foto foi no ano retrasado, quando eu ganhei o Grammy. — Mostrei para ela as fotos salvas na minha galeria. Ela nem sabia que eu havia ganhado um Grammy.
— Você estava tão linda, filha.
— Meu estilista é incrível.
— Você tem um estilista?
— Tenho estilista, maquiadora, agente, produtor... tudo o que uma cantora tem, mãe. — Ri.
— Não imaginei que você estava fazendo um sucesso tão grande.
— Nem eu imaginei que um dia isso pudesse acontecer.
— Sabe, antes eu ficava aflita com você entrando nesse mundo da música. Tive medo de você se perder no meio do caminho. Mas agora tô vendo que você é uma cantora maravilhosa que traz alegria pros fãs e é um exemplo de mulher. Tô orgulhosa.
— Obrigada, mãe.
— Eu tive medo que você tomasse decisões ruins e cometesse erros como eu. Não sei se você sabe, mas eu já fui cantora de bar quando era jovem também.
— Sério? Eu não sabia disso.
— Sim, e foi uma experiência terrível. Todos ao meu redor usavam drogas, ou bebiam demais ou tinham uma vida repleta de luxúria. Tive medo que isso acontecesse com você no início.
— Foi por isso que você ficou contra mim quando decidi largar o emprego de babá pra ser cantora no pub?
— Foi, mas hoje vejo que eu errei com você. Me perdoa.
— Não precisa pedir perdão, mãe. Você tava com medo e eu compreendo isso.
— Obrigada por entender. — Ela me abraçou. — Eu te amo tanto, filha.
— Também te amo.
— Você tem alguma música sua pra me mostrar? — Mamãe perguntou animada.
— Bom... tenho uns esboços nas notas do meu celular, mas nada tá completo ainda. Fiquei com bloqueio criativo durante meses.
— Pode me mostrar?
— Claro. — Entreguei meu celular a ela.
Minha mãe leu as minhas letras e a cada verso ela fazia uma expressão diferente. Mas eram expressões aparentemente boas. Ela erguia as sobrancelhas, arregalava os olhos, deixava cair o queixo... acho que era um bom sinal.
— Isso aqui tá lindo, meu amor. O que você tá esperando pra lançar logo essas músicas?
— Acha que tá bom mesmo?
— Lógico que sim, mas eu tenho uma dúvida.
— O que?
— Você não fez nenhuma música dedicada ao seu namorado? Eu escutei seu álbum antigo e... tinham várias músicas pro Robert lá.
— Não consegui ter nenhuma ideia pra fazer músicas de amor. — Dei de ombros, achando aquilo normal.
— Isso é sinal de que você não tá vivendo um amor que te inspire.
— Como assim, mãe? Eu amo o Jacob.
— Mas você amou o Robert mais, não é?
Sua pergunta me deixou sem palavras. No fundo, eu sabia que amei o Robert muito mais do que amo meu atual namorado. Quer dizer... ainda amo, mas aquilo era um segredo somente meu.
— Eu era novinha quando me envolvi com o Robert, então consequentemente senti um amor louco por ele. Agora que eu tô um pouco mais madura, não sinto essa mesma loucura pelo Jacob. — Arranjei uma desculpa. Muito da esfarrapada, por sinal.
— Entendo. — Ela entortou a boca, obviamente percebendo a minha mentira.
— GANHEI! — Ouvimos meu pai gritar.
Ele e Jacob vieram até nós duas depois que terminaram a partida de baralho. Papai não parava de zoar meu namorado, e aquilo foi bem engraçado.
— Seu pai é bem competitivo. — Ele sussurrou e deu um riso baixinho.
— Eu sei disso, por isso que ninguém gosta de jogar baralho com ele.
Quando anoiteceu, nós ficamos no quarto desfazendo as malas e nos ajeitando para enfim termos uma noite de sono descente. Com toda aquela rotina de turnê, acabávamos dormindo extremamente tarde e acordando antes mesmo do sol nascer. E agora que havia terminado, poderíamos enfim tirar um tempo para recuperar as energias.
— Tô morto de cansado. — Jacob comentou, se jogando na cama quando acabamos de desfazer as bagagens.
— Eu também.
— Eu não iria reclamar se a gente fosse dormir logo.
— Se você quiser, pode ir. Ainda não to com sono.
— Mesmo? — Ele me olhou com os olhos miúdos de sono.
— Sim.
— Tá bem, boa noite. — Jacob me deu um beijo de despedida.
— Boa noite.
Poucos minutos depois, ele já estava no seu vigésimo sono. Jacob roncava e respirava pesado ao meu lado. Então aproveitei aquela insônia para mexer no celular. Rolei a tela para baixo várias vezes, me deparando com memes engraçados e vídeos malucos. Até que, de repente, vi uma notícia de Robert. Fazia bastante tempo que eu não via nada relacionado a ele. Era uma foto dele com o seu filho passeando na rua. Suki também estava presente.
Robert estava com um sorriso imenso na imagem e o garotinho segurava a sua mão ao mesmo tempo que lhe encarava com brilho no olhar. O menino não era parecido com o pai, era mais a cara da mãe, mas as expressões pareciam com as de Robert. Naquela foto, percebia-se uma família verdadeiramente feliz.
Porém, ao mesmo tempo, eu pensava que ali poderia ser nós dois, se aquela cobra não tivesse nos roubado tudo. Ela entrou na minha vida de forma sorrateira e arrancou de mim a melhor coisa que já me acontecera na vida. E hoje... aquele par de olhos azuis piscina eram apenas uma memória na minha cabeça. Uma memória que me perseguiria até o dia em que eu desse o meu último suspiro.
Sem perceber, enquanto eu analisava aquela foto, meu rosto ficou completamente molhado com lágrimas. Não sei se eram de raiva, de tristeza, de saudade ou os três. Só sabia que eu não conseguia ignorar o amor que eu ainda sentia por aquele inglês.
BEM VINDOS À SEGUNDA TEMPORADA!
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