Capítulo 06: Queda de energia.
Fiquei muda o trajeto inteiro, apenas apreciava a beldade que era Robert dirigindo. Com apenas uma mão no volante e a outra mexendo no cabelo bagunçado, os olhos azuis piscina fixos na rodovia e o maxilar travado, ele estava mais belo que nunca.
Depois de um certo tempo, chegamos em uma mansão em Malibu, presumo que era dele. Era uma casa toda branca cheia de janelas grandes, com um grande portão automático de ferro e com um jardim que tinha um paisagismo impecável.
Ele estacionou o carro na garagem subterrânea, onde tinham mais três carros guardados, e desligou o Tesla. Dentro da própria garagem havia um acesso à casa por meio de um elevador que nos levava ao hall de entrada.
A mansão era um escândalo de linda. O chão era de mármore branco e as paredes tinham uma pintura meio acinzentada. Os móveis eram quase todos pretos.
— Sinta-se em casa. — Robert falou tirando os sapatos.
Era meio difícil se sentir em casa naquela mansão. Minha casa inteira devia caber na sala de estar dele.
— Robert, mi hijo! — Uma senhora baixinha saiu da cozinha usando um avental. Ela lhe encheu de beijos na bochecha.
— Oi, María. — Ele a abraçou com bastante carinho.
Era engraçado como a altura da senhora não chegava nem aos ombros dele.
— Quem é essa chica tão bonita? — Ela me olhou com as mãos na cintura.
— É minha amiga Rebeca.
— Você tem uma beleza diferente, querida. De onde é?
— Brasil.
— Oh, que maravilha! Sou do México. Você é latina como eu.
— Rebeca tá fazendo intercâmbio aqui em Los Angeles. Tá trabalhando como babá da Scarlett. — Robert explicou.
— Scarlett é uma niña maravilhosa.
— Ela é mesmo. — Concordei.
— Você quer alguma coisa, querida? Um suco, uma água? Tá com fome?
— Não, muito obrigada, eu tô bem.
— Se precisarem de mim, vou estar no meu quarto. Foi prazer conhecê-la. — María girou o calcanhar e saiu. Nos deixando sozinhos na sala de estar.
— María cuidou de mim desde que eu era bebê. Ela é quase como uma segunda mãe pra mim. Enquanto minha família vive em Londres, ela toma conta de mim em Los Angeles.
— Imagino que ela deve ser muito especial pra você.
— Ela é.
— Então... você tem duas casas? — Troquei de assunto.
— É, essa costuma ser minha casa de fim de semana. Aqui é como meu refúgio. — Robert se sentou no sofá, esparramando o corpo.
— É uma casa bem legal. — Me sentei ao seu lado com bastante timidez.
— Me fala mais sobre você. Até agora não sei nada quase nada.
— O que quer saber?
— O que você fazia antes de vir pros Estados Unidos?
— Eu estudava Medicina Veterinária. Mas larguei o curso na metade do período.
— Por que?
— Descobri que não aquilo que eu queria. — Dei de ombros.
— E qual é o seu sonho?
— Bom... No momento eu só quero ter uma vida estável.
— E mudar de país foi a melhor solução?
— Eu vou trabalhar e ganhar em dólar. Pra mim, isso tá mais que perfeito. Já dá pra ajudar a minha família.
— É uma atitude muito nobre você querer ajudar sua família. Mesmo não ganhando muito.
— Obrigada.
— Mas você não pode ser babá pra sempre, você merece muito mais que isso.
— Quando o meu tempo de babá acabar, eu vou arranjar outro trabalho. Posso ser garçonete ou atendente de loja ou sei lá.
— Ou cantora.
— É, ser cantora de bar tá dentro das opções também.
— Não, tô falando cantora de verdade. Cantora famosa.
Confesso que ri alto quando ele deu essa ideia. Ele pensava o que? Que a fama era assim acessível a todos?
— Você é engraçado. — Balancei a cabeça rindo.
— É sério, eu conheço muita gente. Conheço vários produtores que podem te deixar no pódio em questão de meses.
— Eu jamais aceitaria isso. Se for pra ter fama, deve ser por merecimento.
— Você é tão ingênua... — Robert soltou uma gargalhada. — Você acha mesmo que 90% desses artistas famosos conquistaram tudo só por mérito?
— Bom... O certo seria isso, né.
— A maioria deles conhece alguém que pode mexer uns pauzinhos.
— Tá, e digamos que eu aceitasse essa sua ideia. Como eu ia me aperfeiçoar na música? Eu só conheço o básico do piano e do vocal.
— Então você também toca? — Ele perguntou surpreso.
— Um pouco.
Robert se levantou rapidamente, quase em um pulo, e saiu andando pela sala.
— Onde você vai? — Estiquei o pescoço para ver para onde ele estava indo.
— Vem aqui.
Eu o segui por um grande corredor e depois entramos na última porta. Atrás dessa porta, havia um grande estúdio de música, com um piano preta com cauda, microfones de primeira qualidade e uma grande mesa digital de som.
— Uau... isso é incrível. — Comentei boquiaberta olhando ao redor.
— Quero que você me mostre o que sabe. — Ele se sentou no banco do piano.
— Robert, eu... não posso. — Hesitei.
— Pode sim, vem logo.
Sentei ao seu lado, sentindo o calor do seu corpo. Estávamos a milímetros de distância. Meu coração palpitou como nunca imaginei.
Busquei algumas músicas na minha memória, mas não sabia o que tocar para ele. Eu estava com tanto medo de errar algum acorde e passar vergonha.
— É só deixar a música te envolver. — Robert falou próximo ao meu ouvido. Me deixando arrepiada.
Então, comecei a lembrar da cifra de La Vie En Rose, uma música que eu amava e sempre ouvia com a minha mãe quando era mais criança. Toquei com o campo harmônico em Sol maior.
É claro que eu toquei e cantei, não tinha como ouvir aquela melodia sem cantar. A música me envolveu tanto que eu até esqueci que Robert estava do meu lado. Fazia anos que eu nem sequer encostava nas teclas de um piano, mas eu ainda me lembrava de tudo perfeitamente.
Consegui fazer meus graves e agudos com perfeição, eu não tinha como errar aquela música. Mesmo ela sendo em francês, eu tinha cada frase decorada no fundo da mente.
E então, quando a música acabou e eu voltei para o mundo real, vi Robert com uma cara de surpresa. Ele começou a aplaudir e as minhas bochechas ficaram mais vermelhas que nunca.
— Foi lindo. — Ele disse sorrindo. — Absurdamente lindo.
— Valeu.
— Você precisa falar com os produtores que eu conheço. Vou ligar pro meu agente e pedir pra ele entrar em contato. — Robert tirou o celular do bolso, mas eu o impedi de fazer qualquer coisa.
— Não, não faz isso, por favor.
— Seria imperdoável da minha parte se eu não fizesse.
— Eu não quero, Robert. É sério. — Pedi pela última vez.
— Tá bem. Não vou fazer nada sem seu consentimento. — Ele guardou o celular no bolso traseiro.
— Obrigada.
— Eu só acho que você tá desperdiçando uma grande oportunidade, tenho certeza que você se daria bem nesse ramo da música. É talentosa, esperta, bonita...
— Acha que sou bonita? — Interrompi.
— E quem não acha? Por onde você passa você recebe uma enxurrada de elogios.
— É só porque eu sou latina. As pessoas gostam de um rosto "diferente", mas não quer dizer que esse diferente seja necessariamente bonito.
— Uma coisa que eu já percebi que você não tem é autoconfiança.
— Só tento manter meus pés no chão, minha mãe me ensinou assim.
— Você é maravilhosa em todos os sentidos, tá bom? — Ele fez carinho na minha mão. — Não deixa ninguém te fazer pensar o oposto disso, nem mesmo a sua mãe.
Como ficar a centímetro de distância do homem mais bonito do mundo e ficar tranquila? Era impossível. Eu ia ter um piripaque a qualquer minuto.
De repente, todas as luzes se apagaram e eu não consegui mais enxergar nada. Apenas conseguia ouvir a voz de Robert ainda do meu lado.
— Droga, parece que faltou luz.
— Não tem gerador de energia aqui?
— O gerador tá quebrado.
— E agora? O que vamos fazer? Eu tenho que voltar pra Beverly Hills. — Respondi assustada. Eu odiava o escuro.
— Parece que você vai ter que ficar presa aqui até a energia voltar.
— Como assim? Não, eu tenho que ir embora!
— Os portões só funcionam com energia. Então agora ninguém entra e ninguém sai.
Mas que droga, por que aquelas coisas aconteciam justamente comigo?
— Você vai ter que dormir aqui.
— Dormir aqui? Eu não posso dormir aqui!
— Eu te dou o quarto de hóspedes. Amanhã de manhã te levo pra casa.
Eu não tinha outra opção a não ser dormir na mansão. Robert, com todo cuidado do mundo, foi segurando minha mão e me guiando pela casa escura. Até que entramos dentro de um quarto grande, onde eu só conseguia ver o borrão dos móveis.
— É aqui que você vai ficar.
— Obrigada.
— Vou te deixar a vontade. Se precisar de qualquer coisa, é só chamar.
— Valeu, boa noite. — Me sentei na cama macia.
— Boa noite.
Ele era tão cavalheiro e respeitoso... Se fosse qualquer outro homem tão famoso quanto ele, teria aproveitado a oportunidade para me levar para a sua cama. Mas aquilo nem passou pela sua cabeça.
Era bom por um lado, pois eu me sentia respeitada. Por outro lado era ruim, pois me fazia imaginar que ele não tinha o mínimo de interesse em mim. Talvez ele realmente não sentia nada por mim mesmo.
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