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Cap. 033

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O avião havia pousado perto das 2h da madrugada. Meu corpo estava cansado da longa viagem que havíamos feito nas últimas horas. Não é segredo para ninguém que eu e toda a equipe estejamos exaustos, mas a gratificação de sermos campeões com o Sub-20 é maior que qualquer exaustão. Eu definitivamente amo essa sensação, mas não posso ver a hora de finalmente voltar para a vida que escolhi há alguns anos atrás. 

Arrastei minhas malas pelo aeroporto enquanto procurava pela minha mãe, ela havia ficado de me buscar. Franzi  o cenho ao ver Thiago com sua postura de militar impecável com sua melhor cara de desdém e com parte das costas apoiada na parede próxima aos portões de saída. Ao me enxergar, ele endireitou o corpo e caminhou em minha direção.

- Oi pai - disse, enquanto tentava forçar um sorriso e ele me ignorou, pegando minha mala de mão.

Ele sequer fazia questão de esconder seu desgosto em estar ali, aliás, eu nem sei porque ele está aqui ao invés da minha mãe.

- Sua mãe teve que viajar de última hora com a patroa dele. Eu ainda avisei que você não ia gostar de me ver aqui. - Respondeu ele, seco.

Revirei os olhos, já imaginando como seria essa viagem até em casa. Entrei no carro prendendo o cinto de segurança e permanecendo em silêncio, talvez se fingir que estou dormindo possamos evitar uma discussão boba. 

- E agora? Vai permanecer com a CBF já que seu contrato encerrou na sua última viagem? - Olhei para o homem que estava se concentrando na pista à sua frente. Desde quando ele se interessa pela minha vida profissional?  

- Na verdade, eu estou pensando em voltar para Barcelona. Meu contrato com o Barça ainda está de pé,  caso eu decida voltar. 

Minha resposta foi curta e direta, mas automaticamente a tensão entre nós dois começou a pairar pelo ambiente. 

- Vai voltar para o emprego ou para aquele seu caso com o jogadorzinho? Realmente acha que esse relacionamento com ele é tudo isso que pensa? 

Apertei minhas unhas contra as minhas palmas e senti meu sangue fervendo. É claro que ele não está nem aí para eu voltar ou não para Barcelona, tudo o que interessa a ele é se estou ou não com o Pedri. 

- Qual é o seu problema? Primeiro você me humilha na frente da família do meu namorado e depois ainda passa a implicar com ele?

- Não defenda o imbecil que deu um soco no seu próprio pai! - Deixei uma risada escapar e o encarei, totalmente incrédula que ele havia realmente falado aquilo.

- Por que foi mesmo que ele te deu um soco? E até onde eu me lembro, você mesmo disse que eu não era sua filha. Não tem o direito de vir me cobrar absolutamente nada. 

Thiago sorriu ironicamente apertando o volante entre os dedos.

- Aquele playboy não é homem pra você, eu só estou te protegendo para que não tome outra decisão ruim. 

- Nossa, tão comovente. - Disse em total tom de ironia.- Eu já sou adulta e muito capaz de tomar minhas próprias decisões. Não preciso que me proteja de nada, me cuido sozinha. E além do mais, eu amo o Pedri, e ele também me ama. Bem diferente de você e da mamãe. 

Ele freou bruscamente e me fez colocar as mãos sobre o painel do carro pelo susto.

- Não fale sobre o que não sabe, sua criança mimada! 

- Você traiu a minha mãe! Engravidou outra mulher enquanto sua família só não passava fome por conta do meu tio. Então vá em frente, me chame de criança mimada e me dê outro tapa, é só isso que você sempre faz mesmo. 

A respiração ofegante do meu pai podia ser ouvida por mim. Os meus batimentos cardíacos estavam acelerados e ao mesmo tempo que eu estava tomada de raiva, uma enorme vontade de chorar me invadiu. 

- Você não muda mesmo. - Seu tom foi baixo, mas suficiente para que eu pudesse ouvi-lo. Ele voltou a dirigir. - Sabe qual sempre foi o seu problema, Clara? - Ele continuou, sem me dar qualquer tipo de brecha para rebater, - você sempre quis ter o que os outros tinham. Nunca estava contente suficiente com o que já tinha. Sabe o real motivo de eu ter tido uma filha fora do casamento com a sua mãe? É simples, ela se recusava a me deixar punir meus próprios filhos. Ela deixou de me amar para amar somente os filhos dela, e se quer saber, eu nunca traí ela. Eu posso ser o grande filho da puta que você acha que eu sou, mas eu nunca quebraria a promessa que fiz a ela diante daquele altar. Quando eu tive um caso com a mãe da Iza, nós estávamos separados. Tínhamos decidido assim, mas sua mãe ficou doente e a mãe da Iza era problemática demais. Quando decidimos voltar, nos dar uma segunda chance, eu já tinha a Iza, não iria jogá-la em um orfanato se é isso que gostaria que eu tivesse feito.

- Eu não disse isso. E se vocês estavam separados quando teve a Iza, por que nunca nos contou sobre ela? - Ele riu inalado. 

- Vocês já me odiavam sem saber que eu tinha tido outra mulher, imagine se eu tivesse voltado para casa com uma bebê de outra mulher no colo. - Olhei pela janela, observando toda a agitação do mar de Copacabana. - Sua mãe sempre soube da sua irmã, e ela, assim como eu, concordamos que não contaríamos a vocês para evitar toda essa merda que aconteceu no fim do ano passado. 

- Isso não justifica você ter sido um péssimo pai. - Rebati, com os olhos cheios de lágrimas. - Não justifica você não ter me dado atenção quando eu era criança, ou ter me batido. E se é isso que você quer ouvir, pois bem, eu fiz uma péssima escolha quando fiquei com o Vitor, mas isso só aconteceu porque eu sempre desejei ter o seu amor e ao contrário disso você só me desprezou. Eu procurei lá fora o que eu não encontrava dentro da minha casa. 

Um silêncio se instaurou entre nós dois, quase tão ensurdecedor quanto as palavras duras que lançamos um contra o outro minutos atrás. 

- Eu gostaria de ter feito diferente. Eu sempre amei você, Clara, toda a nossa família. Mas eu nunca fui capaz de admitir isso por medo. No treinamento que eu tive para me tornar da polícia, sempre nos ensinaram que demonstrar sentimentos era coisa de homens fracos, e mesmo que eu amasse vocês mais que tudo nessa vida, eu tinha medo de parecer fraco. Então, se você esperou por 23 anos para me ouvir te dizer isso, pois então, me perdoe por não ter te amado da maneira que eu deveria. E, mesmo que eu não tenha ido com a cara do Pedro, se ele te ama e você também ama ele, eu espero que vocês possam formar uma família linda e deem aos seus filhos todas as demonstrações de amor que eu nunca fui capaz de dar a você. 

Meu corpo inteiro tremeu quando uma luz forte brilhou contra os meus olhos. No momento seguinte, um barulho horrível de metal sendo amassado ressoou pelos meus ouvidos. 

Um forte impacto jogou meu corpo contra a porta do carro no mesmo momento em que minha perna esquerda ficava com várias pontadas agudas repetidamente. Abri meus olhos e uma dor de cabeça absurda me atingiu com tudo. 

Virei minhas orbes, tentando associar tudo e só então notei que estava de cabeça para baixo e com o corpo preso entre as ferragens do que um dia fora um carro. Me forcei a mexer a cabeça em direção ao meu pai e soltei um grito quando a dor aguda parecia aumentar a cada pequeno movimento que eu ousava fazer. Meu pai estava com o rosto totalmente coberto de sangue e a sua cabeça apoiada sobre o banco e o que restou da janela de seu lado. Estiquei o meu braço para tentar alcançá-lo, soltando um grito novamente ao sentir meu braço latejar de dor. Aos poucos a minha visão escureceu e a imagem dele com o rosto coberto de sangue foi a última coisa que eu vi antes de desmaiar. 

Mas as suas palavras permaneceram ecoando dentro da minha mente. 

As minhas pálpebras pareciam estar com um peso absurdo. O gosto de ferro que estava dentro da minha boca era algo que minha mente tentava entender a todo custo de onde vinha. Me forcei a abrir os olhos, lentamente os meus sentidos pareciam retornar ao meu corpo. 

Virei lentamente o meu pescoço, sentindo como se cada um dos meus músculos estivessem sendo partidos. Um gemido escapou dos meus lábios ao sentir aquela dor, mas eu preciso saber onde estou e o que está acontecendo. 

Em movimento rápido, tentei erguer meu corpo, porém duas mãos seguraram meus ombros com delicadeza, me fazendo continuar deitada na mesma posição. 

- Por favor, mi amor, não tente se levantar. - Virei meu rosto rapidamente em direção aquela voz e novamente um gemido escapou dos meus lábios. O que ele está fazendo aqui? Aliás, onde é que eu estou? 

- Pedri? O que você está fazendo aqui? Onde é que estou, o que aconteceu? 

O canário segurou as pontas dos meus dedos suavemente e seu olhar tênue me encontrou.

- Vim cuidar de você, corazón. Eu fiquei extremamente preocupado quando seu irmão me ligou ontem e eu fiquei sabendo o que havia acontecido. Eu não podia te deixar aqui sozinha.  

Encarei seus olhos, ainda confusa, o que exatamente havia acontecido? 

- Pepi, o que aconteceu? Por que eu estou aqui, o que aconteceu? - Meus olhos encheram de lágrimas e minha voz soou mais trêmula do que eu gostaria. 

- Corazón, você veio para o hospital da UFRJ porque sofreu um acidente. Você e seu pai sofreram um acidente e por isso estão aqui. - Observei seu rosto, ele parecia tenso. 

- E o meu pai, ele está bem, não está?  - Seus olhos desviaram de mim, um longo suspiro escapando de seus lábios. - O que aconteceu, e não minta para mim, por favor.

Pedri sentou-se ao meu lado, seus dedos acariciaram meu rosto e deslizaram pelo meu cabelo, tentando aninhar meus cachos e ondas rebeldes.

- Eu não sei sobre ele, corazón. Cheguei aqui no fim dessa tarde e vim direto ver como você estava. - Desviei meu olhar do homem ao meu lado e olhei para o meu braço esquerdo, o mesmo esta enfaixado e com uma espécie de suspensão ortopédica e minha perna esquerda engessada. - Você quebrou a perna esquerda, mi amor, mas o seu braço vai se recuperar mais rápido, você deslocou ele e teve pequenas lesões. Por isso o apoio ortopédico. 

Meu corpo parecia dormente, mas eu não o sentia totalmente. De certo dentro do soro que está em minha veia deva ter algum tipo de medicação para tirar as dores. 

- Pode me dar um espelho? Quero ver como estou. - Ele assentiu e rapidamente pegou seu celular colocando na câmera frontal. Como eu imaginava, meu cabelo está totalmente bagunçado. Em meu rosto há pequenos cortes e perto do meu supercílio tem um corte um pouco mais profundo. - Eu estou péssima. - Devolvi o celular para o espanhol que o largou em uma pequena mesa que estava próxima a cama.

- Pra mim nunca esteve mais linda. - Deixei um sorriso escapar. - Aliás, não te dei os parabéns pela conquista com o Sub-20 da sua seleção. Parabéns pelo seu ótimo desempenho mi amor.

- Obrigada, Pepi. Eu sei que veio aqui porque ficou preocupado, mas como deixou o Barcelona? Vocês começam a temporada na semana que vem, deveria estar treinando e se preparando junto do time. 

- O novo treinador e a própria diretoria do Barça me liberaram para viajar. Eu não ficaria nem um segundo naquele campo sabendo que a minha noiva está em uma cama de hospital precisando do meu apoio. Nem uma vitória e absolutamente nenhum jogo ou temporada é mais importante do que você, mi corazón. 

- Eu te amo, Pedri. Obrigada por estar aqui, obrigada por cuidar de mim e obrigada por me amar tanto. 

- Você não precisa me agradecer por te amar, eu faria isso, na verdade, eu te amei desde a primeira vez que te vi naquela arquibancada, desde o momento que você quase me bateu por ter chutado a bola em você totalmente sem querer. É impossível não amar você. Eu te amo, te amo, te amo e te amo mi amor. 

Segurei a ponta dos seus dedos e brinquei com a aliança que ele usava. O anel que ele havia me dado nos EUA quando me pediu em namoro, não estava mais em meu dedo. 

- Os médicos tiraram o seu anel quando te levaram para a sala de cirurgia. Sua perna precisou de uma operação, mas foi coisa simples. Algo para que os seus ossos não fiquem com sequelas graves. - Ele colocou a mão no bolso de sua calça e ergueu o anel. - Eles me entregaram quando cheguei aqui mais cedo. Quando tiver alta eu te devolvo, tudo bem? 

- Claro. 

- Com licença, senhorita Guimarães, eu sou a enfermeira responsável por cuidar da senhorita. Como se sente? Os remédios estão te causando algum efeito, um enjoo ou qualquer tipo de efeito colateral? - Ela olhou para a embalagem do soro que estava ligado a minha veia.

- Estou bem, tirando o fato de que eu só sinto meu corpo levemente dormente e uma dor de cabeça aguda, estou bem.

- Ótimo. Vou adicionar um remédio para sua dor de cabeça no soro, e a dormência do seu corpo é devida a anestesia geral que você teve que tomar ontem. 

- Eu passei um dia desacordada? 

- Sim, você chegou aqui desacordada e depois da anestesia para o procedimento cirúrgico permaneceu sob o efeito dos anestésicos. Mas não se preocupe, você está bem. 

- Eu gostaria de saber sobre o meu pai, ele também estava comigo no carro e... - Engoli em seco antes de continuar, - bem, ele estava no carro e a última coisa que eu me lembro é de vê-lo ensanguentado. 

- Qual o nome dele? 

- Thiago, Thiago Guimarães da Silva. - A enfermeira parecia ter tomado um choque ao ouvir o nome do meu pai. 

- Eu não sei sobre o caso dele, mas vou atrás do médico responsável e trago informações assim que tiver alguma. 

- Claro, obrigada. - A mulher sorriu amarelo e se retirou do quarto. Eu sei que aconteceu alguma coisa, dá para notar que as pessoas ficam nervosas quando pergunto sobre ele. Pedri ficou nervoso; a enfermeira ficou nervosa. Tenho a plena consciência de que alguma coisa séria aconteceu, do contrário, eles não estariam evitando me dizer.

- Corazón, você está bem? 

- A minha família está lá fora 

- Sim, eles estão. Mas sua mãe está muito nervosa, acho melhor deixá-la se acalmar um pouco para falar com você. 

- Pedri, peça para os meus familiares entrarem, por favor. 

- Mi amor...

- Por favor. - Ele suspirou e se levantou de sua cadeira. Enquanto eu aguardava sua volta, observei as partes do meu corpo. Na perna que não estava engessada, pude ver vários hematomas espalhados pela minha pele. 

A porta abriu novamente, mas eu não vi a minha mãe, nem a minha irmã ou meu irmão, apenas Pedri, o tio Marcelo e um médico que eu não tinha visto até então. 

- Olá, senhorita. Como se sente?

- Confusa, na verdade. Como está o meu pai? Ele também precisou passar por alguma cirurgia? Eu lembro que ele estava com muito sangue, mas parecia estar apenas desmaiado.

Tio Marcelo e Pedri ficaram cada um do meu lado e o médico suspirou. 

- Quando viu ele, antes da senhorita desmaiar, conseguiu ver se ele ainda tinha pulso ou se respirava? Conseguiu ver qual veículo colidiu com o carro em que estavam?

- O que? Eu não sei muito bem, foi tudo muito rápido, mas eu lembro de luzes muito fortes vindo na nossa direção. Acredito que pela força que nos atingiu deva ter sido um caminhão.

- Exato.

- E eu não consegui ver se ele tinha pulso, quando eu tentei esticar o braço, doeu muito e por eu estar com as pernas presas nas ferragens não consegui me esticar até ele. Mas o que isso tem haver com o estado de saúde do meu pai? - Novamente, o médico suspirou e evitou-me encarar diretamente nos primeiros segundos. 

- Eu lamento muito senhorita, mas o seu pai faleceu no local do acidente. Os socorristas tentaram reanimá-lo, mas não puderam fazer muito. O impacto da batida foi todo recebido por ele, era quase impossível que ele saísse com vida de um acidente tão grave como esse. O fato da senhorita ter saído praticamente ilesa e com apenas uma das pernas quebradas, um pulso deslocado e alguns arranhões já é extremamente surpreendente. Em anos que trabalho neste hospital, já vi acidentes de gravidades muito inferiores em que todos os envolvidos do veículo inferior vieram a óbito. A senhorita é realmente uma mulher de muita sorte. - Disse, tentando amenizar o impacto que a sua notícia havia causado em meu sistema.

Morto? Thiago Guimarães está morto? O homem que a minha mãe amou por toda a vida morreu? O meu pai, o mesmo que havia falado minutos antes daquele maldito acidente está morto? 

- O que? Ele morreu? - Deixei uma risada escapar e lágrimas incontroláveis começaram a rolar pelo meu rosto. - Você não pode estar falando sério... Pedri, ... tio, ele está mentindo, não está? 

O rosto de ambos estava sério. Nem um dos dois se atreveu a dizer uma única palavra que fosse. Meus olhos, a essa altura, estavam completamente tomados pelas lágrimas. Os soluços que escaparam da minha garganta chegavam a machucar. 

Foi por isso que a minha mãe e os meus irmãos não quiseram entrar. Eles não conseguiriam, não conseguiriam ficar perto de mim. Não depois que ele morreu por minha culpa, por ter ido naquele aeroporto.

Meu corpo parecia perder os sentidos e todas as suas funções enquanto minha mente processava todas as informações que acabara de receber. 

- Ele... ele não pode ter morrido. A ... a minha mãe vai me odiar, é tudo minha culpa. 

- Eu deixarei vocês à sós, mas a senhorita não deve se culpar. Não havia como prever que um acidente assim iria acontecer, e na pior das hipóteses, não foi sua culpa o caminhão ter jogado para cima do carro de vocês. Estarei em minha sala, qualquer coisa que eu puder fazer por você, por vocês, é só me procurar. 

O médico se retirou do quarto e imediatamente eu deixei que um grito ecoasse da minha garganta. Nós não éramos o melhor exemplo de pai e filha, mas as suas últimas palavras antes de morrer foram para me dizer que sentia muito e que me amava.

Isso é demais. Não é possível que isso realmente esteja acontecendo. Não pode ser real.

O meu corpo doía de uma maneira que me fazia ficar totalmente à mercê dos medicamentos que os médicos do hospital haviam me recomendado. Mas nem uma dor chegaria perto da dor que eu senti ao ouvir os gritos de desespero da minha mãe ao ver o corpo do meu pai, do homem que ela escolheu para ser o seu marido e pai dos seus filhos, o homem que a amou mesmo quando se recusava a sentir qualquer que fosse o sentimento. Eu sei que uma parte dela morreu junto dele, assim como uma parte minha se foi. 

O tecido solto e fino do vestido que cobria o meu corpo, me deixava confortável em meio ao calor das pessoas agrupadas ao redor do caixão na sala de cerimônia em que ele foi velado mais cedo. Após três dias, eu tive alta do hospital. Como o meu corpo havia se adaptado bem às medicações e respondia positivamente, os médicos me deram alta três dias após o acidente, o dia em que enterramos o meu pai. 

Minha mãe nunca esteve mais cabisbaixa que nos últimos dias. Praticamente só come porque o tio Marcelo obriga. A minha irmã se mostrou bem mais forte do que eu esperava, visto que ela era bem mais próxima dele do que eu e o Henrique. Mas ela é quem vem sendo nosso porto, Isabelle é quem está cuidando de mim e da minha mãe enquanto ambas precisando de uma recuperação. 

Acariciei a cabeça do meu gato, que Pedri trouxe consigo na sua última visita. O meu contrato com a CBF havia sido encerrado, e por mais que tenha existido uma certa insistência deles para que eu renovasse o contrato, eu recusei. Matteo me ligou, me desejou melhoras e em nome do Laporta, disse que todos sentem muito por minha perda. É claro que ele me perguntou se ainda existiriam chances de futuramente eu voltar a morar na Espanha e voltar a atuar com o Barcelona. Algo que eu permaneço pensando até então. 

- Clara, você quer alguma coisa para comer ou beber? - A voz da minha irmã me despertou dos meus pensamentos. 

- Oi Iza, não preciso de nada. Só de uma companhia que faça mais que ronronar e dormir. - Apontei para o gato que dormia tranquilamente sobre as minhas coxas. Ela sorriu e sentou em uma das cadeiras próximas a minha cadeira de rodas. Mesmo que eu já tenha tirado o meu apoio ortopédico do braço, minha perna ainda está engessada e meu corpo doí para caramba quando tento me levantar e por isso os médicos me recomendaram usar a cadeira de rodas até que eu pudesse me apoiar em muletas. 

- Como você se sente? - Me perguntou enquanto esticava o braço para acariciar Zico em meu colo. 

- Estou aceitando. Nós tínhamos as nossas diferenças, mas ele me disse uma coisa antes do acidente. Uma coisa que eu nunca esperava que ele me diria. 

- O que ele disse? 

- Falou que me amava. Pela primeira vez, e última também. 

- Ele era uma pessoa difícil, mas amava a família dele. Mesmo que às vezes os gestos e atitudes dele dissessem ao contrário.

- É, mas eu demorei muito para entender isso. E ele para deixar isso claro. 

- Clara, você sabe que não foi sua culpa, não sabe?

- Eu sei, mas às vezes eu paro e fico pensando. Se eu tivesse ido para um hotel naquela madrugada, poderia ter evitado isso. 

- Não é sua culpa. Não tinha como imaginar que aquilo ia acontecer. E essas coisas acontecem, não estão no nosso controle. 

Sorri brevemente, olhando para o mar da varanda do apartamento. 

- Sabia que o Pedri me disse uma coisa parecida com isso uma vez? - Ela sorriu. 

- Ele é legal. Não esperava que ele fosse sair da Espanha sem nada planejado e viria para o Brasil assim. Ele é realmente apaixonado por você. 

- Acredita que ele me pediu em casamento no dia que foi campeão da Euro Copa? 

- O que? Como assim? Disso eu não tava sabendo! 

- Foi muito inusitado. Eu nunca imaginei que essa ideia se passava pela cabeça dele, mas quando conversamos e decidimos nos dar uma segunda chance ele simplesmente fez o pedido. 

- E você aceitou, né? 

- Aceitei. É claro que aceitei!

- Ainda bem! Espero que eu tenha vários sobrinhos e sobrinhas. Principalmente se eles forem tão lindos quanto a genética de vocês dois. - Soltei uma risada ao ouvir seu comentário.

- Bem lá na frente. E eu não garanto absolutamente nada!

- Veremos! Nem que eu me junte com o Pedri e a gente fure o preservativo. 

- Ah meu Deus! Você não existe garota. 

- Experimenta não me dar sobrinhos pra você ver só. 

- Entendido vossa senhoria. - Ouvimos um barulho vindo da porta da varanda e girei a cabeça tentando ver quem era. 

- Atrapalho algo? - A voz calma de dona Flávia invadiu os meus ouvidos. Depois que o acidente ocorreu nós não havíamos nos falado muito. Cada uma de nós se isolou dentro de si para viver e aceitar aquele luto.

- É claro que não dona Flávia. Pode sentar com a gente e conversar também. - Minha mãe sorriu brevemente e puxou uma das cadeiras, sentando conosco. 

- Não precisa me chamar de dona, Iza, somos da mesma família. 

- É claro, é apenas pelo costume. 

- Tudo  bem meu bem, não se preocupe com isso. Uma hora você se acostuma. - Elas sorriram uma para a outra. - Clara, meu amor, como você está hoje? 

- Relativamente bem, meu corpo ainda dói um pouco e minha cabeça ainda está uma confusão. 

- Me impressionaria se estivesse ao contrário. O Pedri me disse uma coisa na semana passada, disse que você havia dito dentro do quarto do hospital que o seu pai morreu por sua culpa... - abaixei o olhar e mordi levemente os lábios. - Sabe que não é verdade, não sabe? Esse não é um daqueles problemas que você pode simplesmente assumir à culpa porque ninguém realmente tem culpa. E sabe o que nós fazemos quando algo assim acontece? - Neguei, aguardando sua resposta. - Tentar controlar o que está fora do seu próprio controle, fará com que esse problema controle quem você é. Por isso nós nos perdoamos sempre que algo que não deu certo e que não estava no nosso controle acontecer. Entendeu, minha linda. 

- A senhora não ficou com raiva de mim?

- Me diga, por qual razão eu ficaria com raiva de você? - Seu olhar tênue me atingiu. -  Me escute, nem que tivesse sido sua culpa o que aconteceu com o Thiago, nem mesmo dessa forma eu ficaria com raiva de você. O amor que eu sinto por você e por seus irmãos é maior que qualquer erro que vocês possam cometer. 

- Obrigada mãe, a senhora não tem ideia do quanto eu precisava ouvir essas palavras. 

- Não precisa agradecer, tudo o que nós vamos fazer agora é nos unirmos e superarmos este capítulo dolorido em nossas vidas. Mas sempre segurando nas mãos umas das outras e sempre nos dando forças. 

A areia de Copacabana, entre o meu pé descalço, vem sendo a minha maior terapia no último mês. Minha mãe voltou para o seu trabalho, o Henrique fez uma prova para a UB, e agora aguarda o resultado. Minha irmã conseguiu uma bolsa para o próximo ano em uma escola em Barcelona, e o tio Marcelo voltou a atuar como advogado. Cada um seguindo as suas vidas normalmente. 

Menos eu. Eu ainda estou me recuperando do acidente, já consegui deixar a cadeira de rodas de lado, utilizando uma muleta, eu já consigo me locomover pelos lugares sem precisar de ajuda. 

Abaixei o meu livro quando um copo de açaí foi oferecido para mim, ergui uma sobrancelha e ergui o olhar para saber quem estava sendo tão gentil a esse ponto. Um sorriso confuso se formou em meus lábios ao ver o espanhol parado à minha frente segurando uma das minhas coisas favoritas. 

- O que você está fazendo aqui? Achei que só viria semana que vem. - Ele se sentou ao me lado e deixou um beijo em minha testa, me entregando o sorvete logo em seguida. 

- Primeiro que eu estava com saudades, e depois que eu consegui adiantar a viagem para essa semana. 

- Por que não me avisou que viria? - Levei uma colher do doce gelado entre os meus lábios e suspirei ao sentir o sabor invadir o meu paladar. 

- Falando assim parece que não gostou que eu estou aqui. - Falou em tom claro de brincadeira. 

- É claro que não! Eu adorei que veio aqui, eu só não estava esperando, tanto que a Iza e o meu irmão estão no mar nesse momento. 

- Ah, sobre isso, eles sabiam que eu viria hoje. Mas concordamos em não te contar, para fazer uma surpresa. 

- Você não veio aqui só porque sentiu saudades, não foi? - O canário segurou delicadamente a minha mão e tocou no anel que eu havia colocado no dedo no dia em que tive alta do hospital. 

- Na verdade, Matteo pediu que eu viesse para convencer você a voltar para Barcelona, não só voltar para morar como também para trabalhar. Claro que eu viria de qualquer maneira, minha mãe quer que você e toda a sua família voltem comigo para a Espanha, quero que vocês morem comigo. Que possamos ser uma família, uma família em que um sempre apoia o outro quando se é necessário. 

- Pepi, eu agradeço imensamente a sua proposta. Mas não vai ser necessário que a minha família more com você. 

- Mas corazón, eu não quero que eles fiquem longe de você. Sei o quão importantes eles são para você, e se pensar bem, as oportunidades lá em Barcelona são bem melhores que aqui no Brasil. Sem contar que podemos visitar sempre que tiver vontade e passar uma temporada de férias aqui. Até mesmo em Pernambuco se você quiser. - Segurei seu queixo entre os meus dedos e me inclinei para lhe dar um beijo. 

- Você não me deixou terminar de falar, mi amor, - ele fixou seus olhos nos meu, esperando que eu desse sequência as minhas palavras. - Não será necessário que minha família more com você, porque o tio Marcelo comprou uma casa para a família perto do meu apartamento. Eu ia te contar na próxima semana, mas como você está aqui agora, acho que não tem problema que eu conte. 

- Então isso quer dizer que você vai voltar para Barcelona comigo? - Concordei com a cabeça e ele me abraçou com força contra os seus braços. - Eu amo você, mi corazón. Não tem ideia do quão feliz estou em saber que vamos nos ver todos os dias novamente. 

- Eh, sobre a minha volta para o Barcelona, eu meio que não posso acompanhar os jogos, não enquanto estiver com essa perna engessada. 

- Não tem que se preocupar com isso, Matteo só quer que você seja a auxiliar dele enquanto está incapacitada de trabalhar integralmente. Ele disse que vai te enviar um e-mail com todos os detalhes e uma cópia do novo contrato. Honestamente, eu aceitaria se você. 

- Está tentando me induzir a aceitar o contrato para que eu me mude mais rápido para a Espanha, senhor Gonzáles? - Ele fez uma cara de ofensa antes de sorrir e concordar. 

- Em partes, na verdade, em todas elas, só levo vantagens se você voltar a trabalhar com o Barcelona. Além de ter você sempre ao meu lado, também terei o prazer de poder dizer por ai que a minha fisioterapeuta é uma gostosa e super inteligente. 

Deixei uma risada escapar e lhe dei um tapa no braço. 

- Tudo bem, assim que eu o Matteo me mandar o novo contrato e o e-mail com as explicações eu entro em contato com ele. - Encarei as ondas que balançavam sobre o mar, soltando um longo suspiro enquanto prestava atenção. 

- O que foi, linda? Algo está te incomodando? 

- Não, mas é que, como eu e a Sophia vamos conviver no mesmo ambiente sem que eu tenha vontade de esganar aquele pescoço de galinha dela? - Pedri soltou uma gargalhada e eu mordi os lábios repreendendo um pequeno riso. Não é novidade para ninguém no nosso ciclo de amizades que eu e Sophia nunca nos demos bem, principalmente depois que Pedri me disse que ela quem havia mentido para ele sobre eu ter saído do Barcelona quando eu sequer iria aceitar a proposta da CBF. Tenho a absoluta certeza que no momento que eu ver aquela piranha, perderei todo e qualquer controle que planeje ter. 

- Você não precisa se preocupar com ela, é bem provável que ela seja transferida para o Sub-17 da base do time. Ela não tem nem a metade do seu talento e muito menos da sua vocação para trabalhar tão bem com o time profissional do Barcelona. 

- Ah, mas se eu pegar aquela piranha europeia andando pela rua, eu juro que deito ela na porrada. 

- Você não era contra o uso de violência para a resolução dos problemas? - Contra atacou com ironia. 

- E eu sou, mas tem caso e casos. E definitivamente esse é um desses casos que somente uns belos tapas e alguns murros são capazes de resolver a situação. 

- Prefiro não questionar seus métodos de resolução. - Sorri docemente e ele riu. - Aliás, quase ia me esquecendo. O idiota do seu ex foi vendido. Como não apresentou bons resultados, foi jogar em um time na Roma. - Pedri sorriu enquanto me dava aquela notícia e eu acabei rindo de sua empolgação. 

- Motivos para comemorarmos, creio eu?! 

- Pode apostar que sim. A Angel e o Ferran quase soltaram fogos quando eu contei sobre a demissão dele. 

- É bem a cara daqueles dois fazerem algo desse tipo mesmo. - Encostei minha cabeça sobre o ombro dele antes de enroscarmos os nossos dedos, um brincando com o anel do outro. - Sabia que a minha irmã estava me ameaçando um dia desses? 

- Como assim ela te ameaçou? O que aconteceu? 

- Bom, pra começar ela me perguntou se eu teria filhos, e eu respondi que talvez sim e talvez não. Aquela praga me jurou que se eu não desse sobrinhos, no plural, para ela, iria se juntar com você para furar os preservativos. 

O peito dele subiu e desceu descontroladamente enquanto sua risada preenchia os meus ouvidos. É tão bom poder estar assim com ele outra vez. 

- É muito bom saber que tenho uma aliada caso seja necessário. 

- Nem ouse! - Ele riu novamente e eu acabei sendo contagiada por suas risadas. 

Mesmo que coisas deem errado, nós não temos o controle do destino. Apenas o próprio destino é o responsável em fazer com que cada coisa aconteça como estava determinado que fosse. 

Não é atoa que, Maktub signifique exatamente isso.  

Ai besties, eu juro que morri de dó de ter que mandar o pai da Clara de arrasta pra cima. Mas ele foi um grande idiota quase a vida toda, né. Pelo menos o véi se arrependeu de tudo o que fez com a família e pediu desculpas, e também foi fiel né. Acho que assim ele não vai arder muito quando chegar no inferno...

Se eu disser que esse foi o penúltimo capítulo de I Can't Lose You... Pois então, o próximo já será nosso último encontro com esses dois. Mas, como uma grande bestie e também por tudo o que vocês me proporcionaram, teremos mais dois capítulos extras! Uma espécie de prologo e um extra para que ninguém sinta totalmente a despedida desses dois. 

Só deixando claro que, essa obra passará por uma rescrita futuramente. Não posso dizer exatamente quando e muito menos quando o segundo livro dessa triologia sairá, mas assim que tudo estiver dentro dos conformes eu aviso para vocês, sempre pelo Instagram e pelo próprio Wattpad. 

Beijos de luz,Kalisa.

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