Cap. 029
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A partida havia terminado há algumas horas atrás. O final do jogo terminou em um empate para ambas as seleções, o que em partes me deixou aliviada. Mesmo sendo brasileira e trabalhando com a confederação de futebol do meu país, meu coração ainda é dividido entre Brasil e Espanha.
Como eu já esperava, meu chefe me deu uma bronca gigantesca. Tive que escutar por quase 1 hora aquele homem dizendo o quanto eu não poderia voltar a repetir aquela atitude outra vez
e que meu nome está novamente em um escândalo junto ao nome de Pedri.
Eles foram tão dramáticos que me fizeram assinar um documento para que, durante o período em que estiver atuando por aqui, não entre em campo sem autorização do árbitro e muito menos se o jogador em questão for do time adversário.
Um grande exagero sob o meu ver.
Em relação a minha expulsão, ficarei os dois primeiros jogos da copa América sem poder atuar. Assim como ditam as regras.
Meus olhos conferiram mais uma vez a localização na tela do meu celular para ter certeza de que estou no lugar certo. A distância da minha casa até o local em que Pedri me mandou não é tão longe, por isso decidi vir andando.
Observei a pequena circulação de pessoas que caminhavam à beira da praia e um pouco mais afastado estava ele. De pé observando as ondas que se quebravam na areia.
Respirei fundo algumas vezes antes de ter coragem de ir ao seu encontro.
Confesso que me surpreendeu muito a maneira que ele me tratou mais cedo. Nosso último encontro havia sido terrível, nós discutimos e ele me disse coisas ruins. Afirmou que só ficou comigo por sexo. Isso me machucou muito mais do que eu esperava, sem contar na falta de confiança e por ele não ter acreditado em mim quando lhe disse que não iria aceitar aquela proposta.
Fechei os olhos tentando afastar esses pensamentos de minha cabeça, quando os abri, senti seu olhar completamente fixado em mim.
Engoli todo o misto de sentimentos que eu estava sentindo naquele momento, antes de andar devagar sobre a areia e me aproximar dele.
- Oi... - Sua voz rouca parecia dançar pela minha pele.
- Oi.
- Obrigado por ter vindo.
- Você me pediu para escutar você, aqui estou. O que tem para me falar?
González se aproximou um pouco mais e com certo receio segurou minha mão.
Tentei puxá-la de volta, mas ele a segurou com um pouco mais de força.
- Quero que venha comigo para um lugar. - Ergui uma das minhas sobrancelhas e o encarei confusa. Já não estamos no lugar em que ele mesmo me pediu para vir? - Eu prometo que não vai se arrepender. E como eu te falei mais cedo, se você quiser ir embora, é só me dizer.
Pisquei algumas vezes tentando raciocinar. Ainda sinto uma vontade absurda de chorar estando perto dele, principalmente depois de dois meses sem vê-lo.
- Tudo bem.
O canário entrelaçou nossos dedos, me causando um calafrio pela minha espinha, e nos guiou pela areia até uma espécie de dique onde alguns barcos estavam presos.
Observei os tons alaranjados que começavam a se formar no céu. O pôr do sol não demoraria muito mais.
- Já assistiu o pôr do sol aqui em Copacabana, corazón? - Um nó se formou em minha garganta ao ouvir o apelido que ele havia me dado ser dito por sua voz.
- Algumas vezes... Pedri?
- Sim?
- Não me chame assim de novo, por favor. - O pequeno aperto que seus dedos deram sobre os meus demonstrou que ele não havia percebido o que tinha acabado de dizer.
- Desculpe, acho que foi pelo costume. - Concordei brevemente. - Tudo bem, eu quero te mostrar uma coisa que tenho certeza que nunca viu antes. Mas preciso que confie em mim por um momento.
- Pedri, você disse que queria conversar, não ficar me mostrando coisas. Por favor, não fique criando situações.
- Eu sei o que eu disse. Só que isso faz parte da minha hipocrisia em pedir para você me escutar. Além de você me ouvir, também preciso que veja uma coisa, mas não aqui. Precisamos entrar nesse barco antes de tudo.
Apontou para um barco pequeno, porém, de certa forma luxuoso.
Segurei em seus braços para que conseguisse entrar no mesmo. Não havia contestado seu pedido, quero saber o que ele tanto quer que eu veja já que insisti tanto.
Sua mão sobre minhas costas me guiou até a parte da frente da embarcação flutuante. Observei as almofadas postas em uma parte daquela área enquanto Pedri nos aproximou da mesma. Seu pedido para que me sentasse, só não me surpreendeu mais do que quando o barco entrou em movimento. Isso eu não esperava.
Alguns minutos depois já estávamos longe o suficiente de todas as pessoas que antes conversavam próximas às demais embarcações. Estamos em um ponto do mar onde as águas estão calmas o suficiente para ouvir o canto de alguns pássaros.
Posicionados na exata direção em que o sol se põe, a incrível paleta formada pelas cores vibrantes e quentes do céu entram em um contraste perfeito com as águas em tom de azul escuro do oceano.
Um pequeno sorriso escapou entre meus lábios ao observar toda a beleza da paisagem ao nosso redor.
Desde o momento em que saímos da beira do mar, um grande silêncio se fez presente entre nós. E no que dependesse de mim, permaneceria da mesma forma.
- Você gostou? - A voz sorrateira que eu tanto conhecia quebrou o silêncio.
- Da vista? - Ele concordou. - É linda. Nunca tinha visto desse ponto, obrigada por me mostrar.
Seus dedos deslizaram pela minha mão em movimentos sutis.
Desviei minha atenção, antes no céu, para o seu rosto. O clima entre nós é ameno, mas Pedro não parecia assim, ele parecia estar com um turbilhão de pensamentos e coisas dentro de si. Consigo ver em seus olhos toda a angústia em tentar encontrar as palavras que diria no momento seguinte.
Ele sabe que precisa explicar, que precisa tentar acertar as coisas que ele próprio havia desarranjado.
Só não sei como ele pretende fazer isso.
- Clara... - Começou, sua voz um pouco hesitante. - Preciso te dizer uma coisa importante.
Virei-me totalmente para ele. Olhando em seus olhos castanhos, não fui capaz de ser indiferente aquele brilho.
- O que foi, Pedri? - Praticamente sussurrei.
González suspirou. Parecia sentir peso nas palavras que disse logo em seguida.
- Eu quero te pedir desculpas por tudo. Por ter desconfiado da sua palavra comigo. Fui um completo imbécil e totalmente injusto com você, deixei que minhas inseguranças falassem mais alto do que eu gostaria e isso respingou em você.
Assenti suavemente, esperando que ele continuasse.
- É que... - Pedri começou novamente, buscando as palavras certas, - eu tenho um histórico de ser trocado pelas pessoas. De ser uma segunda opção na vida delas. Sempre que estive com outras pessoas, sempre tive a sensação de que seria trocado. Tive a sensação de que seria deixado para trás, a sensação de não ser suficiente para receber amor. - Deu uma pausa para respirar. - Eu só... no momento em que ouvi que você tinha um contrato com a CBF, só consegui pensar que você estava indo embora e que eu ficaria sozinho. Outra vez.
Coloquei minha mão delicadamente em seu braço, de certa forma transmitindo minha compaixão por ele se abrir. Já estive nessa posição, e mesmo que ele tenha me machucado muito, não quero que ele passe pelo mesmo.
- Eu entendo que seja difícil passar por tudo o que você já passou. Sei o quão profundas são as marcas deixadas em nossa alma.
Pedri me olhou nos olhos outra vez. Uma mistura de gratidão e temor em suas írises.
- Eu realmente amo você, Clara. No momento em que eu me dei conta que tinha te afastado por culpa das minhas inseguranças, eu só percebi o quanto eu te amo e não quero te perder.
Meus olhos encheram de lágrimas e meu peito apertou ao ouvir aquelas palavras.
O que mais me dói é saber que não consigo acreditar, não acredito que ele me ame. Talvez esteja arrependido e só quer consertar as coisas.
- Eu não consigo, Pedro... - As primeiras lágrimas deslizaram pelas minhas bochechas. - Você não foi capaz de confiar em mim, você ao menos me permitiu explicar o que tinha acontecido. Suas palavras no momento em que eu precisei do seu apoio, Deus, você me destruiu naquele momento. Eu senti o meu coração se quebrar quando ouvi da sua boca que tudo o que tivemos foi uma invenção minha, que era apenas por sexo. Caralho, eu me senti a pior pessoa do mundo.
Minhas mãos tremiam e minha respiração já estava totalmente desregulada.
Pedri suspirou pesadamente, sem levantar os olhos. Ele sabe que eu não consigo confiar nele depois do que aconteceu, mas é incapaz de admitir isso em voz alta.
- Eu sei que errei, Clara. Sempre deveria ter confiado em você, nunca nas palavras de outra pessoa. Mas eu preciso que você me dê a chance de mostrar o quão arrependido e disposto a mudar eu estou. Só preciso que me deixe tentar.
Levantei indo até a beira do barco e agarrei o pequeno ferro de proteção. Se pudesse arrancar meu coração e jogá-lo no meio do oceano, o faria neste momento.
- Não pode me pedir isso. Não é justo. Suas palavras nem são condizentes com as suas atitudes. Por que demorou dois meses para vir atrás de mim? Você sequer tentou conversar comigo antes que eu viajasse. - Engoli um soluço. - Eu tive esperanças de que você fosse naquele aeroporto, que me impedisse de viajar, que fizesse qualquer coisa que demonstrasse estar arrependido das suas palavras e que valia a pena enfrentar o mundo pelo nosso amor. Mas você nunca esteve lá.
O espanhol balançou a cabeça lentamente, seus olhos brilhavam em completo caos. Tudo isso é um reflexo de sua própria insegurança, esse medo de perder as pessoas, acaba fazendo com que ele mesmo tenha atitudes que as afastem dele.
- Eu amo você, Clara. - Sussurrou se aproximando minimamente. - Eu... eu estive lá quando embarcou naquele vôo. - O encarei, surpresa com sua revelação. - Mas eu não consegui te impedir, tudo o que consegui fazer foi te assistir ir embora enquanto eu ficava preso naquela multidão de pessoas.
Olhei para ele com dor e esperança ao mesmo tempo. Eu quero acreditar, de verdade em suas palavras, quero que tudo volte a ser como era antes. Mas as feridas que estão em aberto são profundas e não vão curar tão cedo, eu não sei se consigo suportar outra decepção.
- Eu sinto muito, Pedro. Eu... eu não consigo. - Disse em um sussurro. - Não consigo continuar assim.
- Clara... - começou, sua voz falhando um pouco. - Eu sei que fui um idiota. Eu disse coisas que nunca deveria ter dito, e machuquei você profundamente. Por favor, me perdoe. Eu não consigo viver sabendo que você está desse jeito por minha culpa.
Olhei para ele. Meus olhos castanhos buscando sinceridade em suas palavras. Eu quero acreditar nele, tudo o que eu mais quero é que as coisas voltem ao normal, mas a dor ainda está fresca em minha mente e principalmente, no meu coração.
- Você não entende... - Disse com a voz trêmula. - Aquelas palavras... Elas doeram muito. Ainda doem.
O jogador abaixou a cabeça, sei que ele se sente culpado pelo o que fez e sente o peso das minhas palavras.
- Eu sei, Clara. E eu me arrependo profundamente. Eu nunca quis machucar você. Estava com raiva, triste, estava errado. Mas eu amo você, Guimarães. Mais do que tudo nessa vida. E estou disposto a fazer o que for preciso para consertar isso.
Permaneci em silêncio por um momento, olhando para Pedro com uma mistura de tristeza e esperança. Eu sei que tudo o que vivemos foi real, mesmo que ele tenha negado. Sei que houve amor. Pedro não foi apenas um erro, assim como eu, ele também tem suas próprias lutas internas.
- Eu não sei... - murmurei, finalmente. As lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas à medida em que o sol sumia e dava espaço para uma escuridão. - Eu preciso de tempo para cicatrizar isso.
Pedri assentiu imediatamente, seu rosto em uma mistura de alívio e dor.
- Eu esperarei, corazón. - Disse suavemente, estendendo sua mão para secar uma lágrima solitária em meu rosto. - Porque você vale cada segundo.
Nossos olhares se encontraram outra vez, os seus cheios de centelhas de esperança. Com perdão e paciência, talvez possamos encontrar um novo começo juntos. Mas não sei quanto tempo isso pode levar.
Pedri se afastou de mim, sumindo entre a escuridão do início da noite.
Meu coração parecia querer pular para fora do meu peito ao pulsar exageradamente, fechei os olhos alisando meus cabelos para conseguir me acalmar.
Abri meus olhos depois de um pequeno período com uma expressão de surpresa e curiosidade ao ver Pedro parado, segurando um buquê magnífico que parecia brilhar no escuro.
- O que é isso? - Sussurrei, um pouco atordoada com tudo o que estava acontecendo agora.
Pedri engoliu em seco. Nós dois sentíamos o peso das expectativas e de certa esperança naquele momento. Ele sabe que suas palavras precisam ser cuidadosas e verdadeiras.
- Clara, cada uma dessas flores representa um pedido de desculpas. Eu sei que errei, eu sei que te magoei profundamente, e eu não posso mais viver com isso. Esses lírios são para pedir perdão por todas as palavras que não deveriam ter sido ditas, por todos os momentos em que eu falhei em te fazer feliz.
Senti meus olhos marejando outra vez. Sei o quão difícil é para ele expressar tantos sentimentos dessa forma, e ver todo o esforço genuíno que ele está fazendo me comove.
Pedro deu um passo à frente e me entregou o buquê com cuidado. Meus olhos se arregalaram no momento em que notei que em cada botão de lírio havia um pequeno vagalume piscando contra as pétalas.
- Ah meu Deus, como você... - Toquei delicadamente nas pétalas de uma das flores, dando espaço suficiente para que o pequeno inseto pudesse voar em liberdade pelo céu que daria acesso a uma mata não muito distante de onde estamos.
Meus dedos percorreram cada uma das flores, libertando os pequeninos que lindamente formaram um céu de estrelas particular em direção a vegetação não muito longe de nós. O reflexo de suas luzes cintilantes, brilhando sobre as águas escuras do oceano, me fizeram sorrir como uma criança feliz. Isso foi incrível.
100 flores. Enquanto eu libertava os pequenos insetos luminosos, pude contar exatas 100 flores que pareciam ainda mais belas, uma vez abertas.
- Pedro... - murmurei com a voz embargada e um sorriso nos lábios. - Eu... eu nem sei o que te falar...
- Os vagalumes... eles são para iluminar o nosso caminho, para mostrar que ainda há luz e esperança mesmo nas situações mais escuras. - Sua voz suave preenchendo o espaço fez com que meu coração, depois de meses sangrando, finalmente parasse de doer. - Eles simbolizam a esperança e a promessa de um novo começo.
Sua mão tocou minha bochecha delicadamente, deixando um carinho naquela área.
- Você não precisa dizer nada agora. Só espero que aceite esse gesto como uma prova do quanto eu te amo, do quanto eu quero fazer as coisas certas desta vez.
Olhei para o buquê, para cada flor que antes brilhava e os pequenos vagalumes que piscavam timidamente pelo céu. Senti meu coração se aquecer com a beleza do gesto de Pedro, com a promessa de um novo começo que ele estava oferecendo.
- Eu te perdoo, Pedro. - Disse finalmente, meus lábios tremendo com a emoção.
O jogador soltou o ar que estava segurando, um sorriso de alívio e gratidão se formando em seu rosto. Ele sabe que ainda terá muito trabalho a ser feito para reconstruir a nossa confiança, mas esse é um grande passo para qualquer outro em que ele pense em dar.
Entrei na minha casa, com passos leves para não chamar atenção e um sorriso genuíno insistia em permanecer nos meus lábios. O buquê enorme que carregava em meus braços, praticamente cobria toda a minha visão.
Deixei as flores sobre a mesa e peguei dois vasos de cristal para separar as flores e colocá-las ali. A cada segundo em que lembro de toda aquela cena, tenho vontade de sorrir e correr de volta para Pedri, para abraçá-lo e lhe agradecer outra vez.
Nunca imaginei que algum dia alguém faria algo assim por mim.
Sentei na cadeira e antes que pudesse desmanchar o buquê para colocar as flores nos vasos de água, os passos da minha mãe chamaram minha atenção.
Minha família resolveu ficar no meu apartamento esse fim de semana para poder acompanhar o amistoso de mais cedo.
- O que é isso, Clara? - Seu olhar curioso sobre as flores, só não era mais chamativo que o seu sorriso.
- Pedri me deu isso hoje.- Comecei a separar cada lírio para os deixar como decoração. Estou completamente apaixonada pela beleza dessas flores. - Nossa conversa foi um pouco surpreendente, eu diria.
- Vocês se acertaram? Ele pediu desculpas? - Flávia perguntou. No dia em que cheguei no Brasil, minha mãe e minha irmã foram me receber no aeroporto. Elas são as únicas que sabem o real motivo do meu término com Pedro.
Meu tio, meu irmão e principalmente o meu pai, acreditam que nós só demos um tempo por conta da mídia. Por isso estou com a CBF, para abafar toda a situação momentaneamente. Conheço bem o tio Marcelo e sei que ele diria poucas e boas para o Pedro se soubesse de toda a verdade.
Meu tio voltou a trabalhar com direito. Um mês depois da viagem para Barcelona, no fim do ano passado, ele passou novamente por uma cirurgia e com ajuda dos fisioterapeutas do tratamento, recuperou mais de 90% dos seus movimentos.
Ele consegue andar e fazer as próprias coisas sozinho, mas ainda anda com ajuda de muletas e às vezes fazemos com que ele utilize a cadeira de rodas para não forçar demais a coluna. Nunca estive mais feliz por ele do que agora, até um emprego ele conseguiu novamente! Inclusive, neste momento, tanto ele quanto meu pai estão em seus respectivos trabalhos.
- Ele se mostrou arrependido por tudo, disse que sentia muito e que me amava, que está disposto a esperar o meu tempo. - Comentei focada no buquê.
- Então você o perdoou?
- Não necessariamente. - Suspirei deixando os meus ombros relaxarem. - Eu disse a ele que o perdoava, mas não sinto que vou conseguir me entregar a ele novamente. Não tão facilmente. As coisas que ele me disse ainda doem. Ainda machucam sempre que me lembro.
- Entendo como você se sente. É difícil quando alguém que você ama tem atitudes ou diz coisas que te machucam. Mas, querida, a base de um bom relacionamento é a comunicação e a capacidade de entender um ao outro. Às vezes, as pessoas cometem erros e precisam de uma chance para corrigir.
Olhei para minha mãe.
- Então, você acha que devo lhe dar uma segunda chance? Que tenho que perdoar e esquecer o que aconteceu?
Flávia sorriu, negando.
- Não estou dizendo que é fácil ou que você deve esquecer o que aconteceu. Mas considere dar a ele uma chance para explicar melhor e mostrar que realmente se importa com seus sentimentos. O perdão não significa esquecer, mas dar uma oportunidade para a reconciliação. Para que cresçam juntos.
Olhei novamente para as flores, agora, refletindo sobre as palavras de minha mãe. Eu sei que Flávia tem razão; perdoar pode ser um passo importante para resolver a situação e talvez fortalecer o que tínhamos antes.
- Vou pensar no que você disse. Obrigada pelas palavras.
A mulher à minha frente tocou o meu rosto com ternura.
- É para isso que estou aqui, querida. Lembre-se de que o importante é que você se sinta bem com a decisão que tomar.
Com essa nova perspectiva sobre toda essa situação, talvez eu já saiba o que fazer. Eu estou disposta a enfrentar tudo o que vier, sei que a comunicação e o perdão podem ser as chaves que abrem portas para uma compreensão mais profunda e um relacionamento mais sólido.
- Onde estão meus irmãos? - Mudei de assunto enquanto organizava o primeiro jarro.
- Saíram com alguns amigos. Seu irmão ficou responsável pela Isa, não se preocupe. - Resmunguei. - Não seja resmungona, Henrique já tem idade o suficiente para ser responsável por alguém.
- Mãe, ele não é responsável nem do próprio nariz direito. - Posicionei as flores em um móvel da sala e sorri ao vê-las dando vida ao local. - Mas sei que ele vai cuidar bem da Isa.
- Pois bem. - Flávia pegou uma das flores aproximando a mesma de seu rosto, inalando seu perfume. - Sabe... me lembro quando seu pai me dava flores. Quer dizer, não eram buquês como esse, eram simples, mas eu adorava.
Um pequeno sorriso de canto se formou em seu rosto.
- Mãe, eu posso perguntar uma coisa a senhora?
- Claro meu amor. - Seus olhos castanhos, assim como os meus, observaram meu rosto.
- Você... digo, você acha que o meu pai realmente te ama?
A expressão serena em seu rosto, aos poucos foi se desmanchando.
- Desculpa, não deveria ter perguntado isso. Eu só...
- Não. - Cortou minha fala. - Tudo bem.
Um pequeno momento de silêncio se instaurou entre nós duas. Me sinto mal por ter perguntado isso a ela.
Nunca seremos o melhor exemplo de mãe e filha, mas eu a amo mais do que ela possa imaginar. Mesmo que eu não lhe diga isso com palavras.
- Quando eu tinha um pouco menos que a sua idade costumava pensar que conheceria alguém que iria cair de amores por mim. Alguém que fosse me tratar como uma princesa e me colocaria em um pedestal. - Seu olhar sobre a flor em sua mão fez com que eu me sentasse e prestasse atenção em suas palavras. - Seu pai foi assim. Ele me amava como nenhum outro chegou perto. Quer dizer, ele me levava para jantar aos fins de semana, vez ou outra conseguia um buquê. Sempre soube o que deveria fazer para me conquistar cada dia mais.
Suas falas totalmente nostálgicas vinham como lembranças que eu não vivi, mas que posso facilmente imaginar e sentir.
- Eu sinto que quando fiquei doente e os médicos disseram que eu não poderia ter uma terceira gestação, as coisas mudaram um pouco. Eu... ele começou a se mostrar mais distante, parou de me dizer coisas bonitas e com o passar do tempo eu acabei acostumando com a ausência daquilo.
Segurei sua mão por cima da mesa e acariciei a mesma. Podia sentir o quanto ela não se sente totalmente confortável para falar sobre esse assunto.
- Então, Clara, não acho que ele me ame como no início. Quando nos conhecemos, antes de tudo. De filhos, de vir para o Rio, da traição...
- Eu sinto muito mãe, eu não queria te fazer lembrar disso e... - Tentei encontrar as palavras certas para lhe dizer algo, porém parecia que minha cabeça se recusava a pensar em qualquer coisa.
- Não se preocupe, eu estou bem. Só não tinha assumido isso em voz alta ainda.
- Por que a senhora simplesmente não se separou dele? - Ela sorriu docemente.
- Meu bem, quando você e o Pedri romperam, como se sentiu?
- Mal. Jurei que não aguentaria. Sabe a metáfora do coração partido? - Ela concordou. - Senti como se o meu estivesse partindo, sendo esmagado.
- Vocês são namorados a apenas 1 ano. Veja, você se sentiu muito mal por ter rompido com ele. Agora se coloque no meu lugar em um relacionamento de muito mais de 25 anos. Não quero dizer que algo pode justificar tudo o que ele fez, mas eu não consigo ver uma vida onde ele não esteja, mesmo que não tenhamos o mesmo amor do início.
- Mãe, a senhora sabe que eu sempre iria te apoiar se decidisse...
- Sei, mas não se preocupe comigo. Sei ficar bem. - Sorri sem graça e a mulher à minha frente ficou de pé. - Vem cá, me dá um abraço.
Fiquei na mesma posição dela e a envolvi em meus braços. Um abraço apertado.
- Minha querida, espero do fundo do meu coração que você e o Pedri consigam resolver toda essa situação. Ele não é uma má pessoa, e eu pude ter certeza do quanto ele te ama naquele jantar quando ele socou o rosto do seu pai.
Sorri de canto e ela me repreendeu com o olhar.
- Sabe que não foi certo, não sabe?
- Sei, mas não posso negar que gostei da atitude dele. - Ela deu um tapinha leve nas minhas costas e eu ri.
- Ele mereceu, na verdade. Mas não justifica, sabe que violência só gera mais violência.
- Pedri não é violento.
- Eu sei, mas você me entendeu. - Concordei. - Tudo bem, pode terminar de organizar suas flores.
Deixei um beijo em sua bochecha e um sorriso se formou em seus lábios.
Eu sei que as coisas não são tão simples quanto parecem ser. Uma separação nunca é fácil, mas eu não queria que ela passasse o resto de sua vida presa a uma pessoa que sequer pôde ser capaz de respeitá-la em um compromisso que, como ela mesma disse, já tem mais de 25 anos.
A ideia de se estar em um relacionamento quer dizer que você escolheu aquela pessoa para dividir momentos bons e compartilhar outros que não gostaríamos de vivenciar muitas das vezes. Mas o principal é a pessoa a quem escolhemos nos respeitar e amar. Não trair.
- Não Aryella, não vou virar essa coisa desse jeito nem que me pague por isso. - A espanhola fez uma careta engraçada quando me neguei a tomar algum tipo de bebida que ela encontrou na adega do bar.
Eu não pretendia sair essa noite, mas Aryella insistiu tanto para que eu viesse com ela e com os rapazes que eu acabei aceitando. Minha intenção não é beber demais ou ficar a noite inteira. Apenas o suficiente para que ela não me encha a paciência por não querer sair com ela.
- Nem um gole? - Neguei. - Chata, gostava mais de você quando bebia de tudo lá em Barcelona.
Sorri com seu comentário.
- Eu ainda gosto de beber, mas não quero exagerar. Da última vez que bebi igual você, um cara que eu odiava me viu nua sem querer.
- Ah não, e vocês tinham dormido juntos?
- Claro que não, por isso foi ainda pior. Ele só me viu sem roupa e depois ainda tivemos que olhar um para a cara do outro no trabalho. - Ela gargalhou enquanto empurrava a garrafa de bebida alcoólica contra Rodrygo. O brasileiro revirou os olhos e ela lhe mostrou o dedo do meio. Super maduros.
- Esse cara por acaso era o Pedri? - Concordo minimamente. - Até nisso vocês conseguiram se esbarrar, é demais para mim. Aliás, como foi a conversa com ele?
Passamos pelas pessoas que estavam em pé e caminhamos até os bancos do bar.
- Foi estranho olhar para ele e principalmente conversar depois de tudo o que aconteceu em Barcelona.
- Eu sei, mas o que ele queria? Pelo o que me disse ele quem te afastou, por que quis te explicar agora?
- Ary, foi incrível, para ser sincera. - Sorri genuinamente ao lembrar de hoje mais cedo. - Ele me disse que está disposto a esperar que eu me cure, que eu poderia ter o tempo que eu precisasse para perdoá-lo e ele iria aguardar porque eu valho toda a espera. E sabe o melhor? Ele me deu um buquê com 100 lírios e vagalumes nas flores. Foi tão lindo.
- Deus, ele fez tudo isso apenas para que você o escutasse? - Concordei. - Olha, eu não sou lá muito fã de defender homem, mas ele parece estar realmente disposto a conseguir o seu perdão. No seu lugar eu daria uma chance.
- Eu não sei, ainda é recente. Meu coração ainda dói quando as palavras ecoam dentro da minha cabeça.
- Precisa deixar isso um pouco de lado. Sei que é difícil, mas você consegue. - A morena segurou minhas mãos e sorriu. - Agora vamos dançar, esse tubinho preto ficou muito bom no seu corpo.
- Para com isso, esse vestido foi a primeira coisa que eu encontrei.
- Mas eu estou falando sério. As mangas longas e a gola alta te caíram muito bem. Sem contar o decote enorme nas costas, se eu fosse homem e você não estivesse com esse bocão trabalhado no batom vermelho, eu te comia a noite inteira.
Deixei uma gargalhada escapar. Essa mulher é um ícone.
O som dos funks automotivos e com letras totalmente inapropriadas ecoavam pelas quatro paredes desse lugar.
Posso dizer que sou a favor dessas letras? Jamais. Mas não é minha culpa se tenho vontade de viver toda vez que escuto isso às 6h da manhã de uma segunda-feira.
- Olha, essa aqui não tem tanto álcool. - A mulher virou em minha direção outra vez, dessa vez com uma garrafa de algum tipo de licor.
- Se eu virar você me deixa em paz?
- Prometo. Mas tem que virar mesmo. - Revirei os olhos e segurei na base da garrafa. Senti minha garganta queimar com o álcool, mesmo com o gosto de maçã predominando quase tudo, era inevitável não sentir o forte álcool. - Puta merda, pra quem não queria beber você virou muito bem.
- E já me arrependi.
- Vamos dançar vai, precisa se divertir. Esquece dos seus problemas e principalmente dele por alguns minutos. - Bem, já que estou aqui não vejo problema em curtir por um momento.
Entramos na pista de dança e começamos a rebolar com as centenas de outras pessoas que estavam iguais a nós.
- Precisa me ensinar a deixar o quadril solto desse jeito. - Ri alto e fiz lentamente o famoso quadradinho para que ela entendesse. Aryella é uma excelente dançarina, não me surpreendeu em nada quando executou o passo da dança quase perfeitamente.
Deslizei as mãos pelo meu corpo enquanto descia lentamente até o chão. Confesso que adoro meus reggaetons, mas nada se compara a um bom funk brasileiro.
O tempo aqui parecia relativo. Sequer percebi que dançamos ali por tanto tempo, apenas quando fui até o bar pegar uma água que peguei o meu celular para saber o horário que tive essa noção. Um pouco mais das 01h da madrugada.
Minha mãe disse que não gostaria que eu demorasse demais, mas sinceramente não pretendo voltar tão cedo. Aproveitando que tomei a suspensão, irei curtir ao máximo que conseguir.
Durante o período em que estive com o Barcelona, dediquei quase o meu tempo inteiro para os estudos e o trabalho. Acho que mereço essas semanas longe de ambos.
- Achei que não viria mais. - O sussurro de Vinícius próximo a minha orelha me fez tomar um leve susto. Não tinha o visto aqui desde que cheguei com a Ary e o Rodrygo.
- E não vinha. Mas a Aryella insistiu e bem, aqui estou. - Falei mantendo meus olhos vidrados na garrafa de água mineral entre minhas mãos.
- Clara, eu queria te pedir desculpas por hoje mais cedo. Sei que não deveria ter me metido naquele assunto, mas tenho que te confessar que fiquei com raiva por ter ido ajudá-lo depois de tudo o que ele te fez.
Suspirei. Não queria falar dele agora.
- Está tudo bem. Mas você realmente não devia ter se metido. - Me surpreendi com minhas próprias palavras. Nem sei de onde tirei coragem para dizer o que penso assim. - E tem mais, eu e Pedri temos uma história juntos. Mesmo que não estejamos juntos neste momento, não quero dizer que eu tenha deixado de sentir algo por ele. Passamos muito tempo juntos e temos várias lembranças. Ele é importante para mim.
- Eu sei, você tem razão. - O brasileiro pegou a tampa da minha garrafa que estava jogada pelo balcão e começou a brincar com ela. - Só não quero que ele te machuque outra vez. Você é uma mulher incrível, Clara. Não merece passar por isso. Eu só... bem, quero que você seja feliz e que a outra pessoa te ame verdadeiramente.
Olhei em seus olhos pela primeira vez, ele parecia estar sendo sincero.
Toquei em seu ombro e deixei um aperto naquele local.
- Você também merece alguém que te ame verdadeiramente. Obrigada por se preocupar comigo. - Sorri para ele que sorriu de volta.
- Não agradeça, faria de tudo por você. - Lambi meus lábios suavemente, o que atraiu seu olhar para minha boca.
- É isso que amigos fazem, cuidam um do outro. - Tentei contornar a situação. Um sorriso amarelo se formou em seus lábios.
- Claro, amigos. - Tirei minha mão de seu ombro enquanto guardava meu celular na pequena bolsa de mão que trouxe comigo.
É nítido para mim que as intenções de Vinícius vão muito além de uma simples amizade. Mas não posso lhe dar falsas esperanças de ser recíproca com seus sentimentos. Isso jamais aconteceria.
Levantei do meu lugar com intenção de ir até Aryella e acabei tropeçando levemente na perna do banco.
Pela minha falta de equilíbrio, Vini acabou segurando nos meus braços para que eu não caísse.
- Tudo bem?
- Claro, graças a vocês. Obrigada. - Sorri sem mostrar os dentes. Os dedos dele pareciam apertar um pouco mais os meus braços, não querendo me soltar. - Vini, você está bem?
- Me perdoa, mas eu não consigo mais só ficar olhando para você. - Antes que eu pudesse lhe responder, seus braços me puxaram para mais perto e em segundos seus lábios estavam grudados com os meus.
Meu corpo tremeu e tudo o que consegui fazer foi colocar minhas duas mãos em seus ombros e empurrá-lo com toda a força que havia em mim.
O jogador pareceu confuso e se afastou, porém permanecia segurando o meu corpo.
- O que você... - Ele não me deixou terminar, apenas forçou um beijo outra vez. Permaneci imóvel tentando empurrá-lo e ao perceber isso ele me soltou.
- Desculpa, eu achei que você quisesse.
- Eu te empurrei seu idiota! Desde a sua primeira tentativa, por acaso você é burro?!
Gritei totalmente irritada. Não é possível que ele não tenha percebido. Se bem que o cheiro de álcool que senti quando ele tentou me beijar era quase insuportável e explica bastante coisa também.
- Clara, eu...
- Não. Não fala nada. Por favor, me esqueça. - Andei apressada no meio das pessoas sem me importar de estar esbarrando com quase todas.
Assim que vi Aryella conversando com Rodrygo me aproximei rapidamente da morena.
- Ary, estou indo embora. Boa festa para vocês. - Tentei não demonstrar toda a raiva que estava sentindo neste momento. Poxa, eu havia lhe dito a poucos minutos atrás que ainda gosto de outro e ele me beija à força?
- O que? Por que? Aconteceu alguma coisa?
- Não, está tudo bem. Só que prometi à minha mãe que não voltaria tão tarde e ela disse que iria me esperar.
- Ah não, fica mais um pouquinho vai.
- Não posso, mas podemos marcar de sair qualquer dia desses. Angel também quer te conhecer melhor.
- Tudo bem, então boa noite e tome cuidado. Ah, me mande sua localização em tempo real e qualquer coisa me liga. - Balancei a cabeça em positivo e me despedi de ambos.
Minha casa fica a mais ou menos 5 quarteirões daqui. Levando em consideração que a este horário não vou conseguir um Uber ou muito menos um táxi, pretendo ir andando. Espero não ser assaltada no meio do caminho.
Respirei fundo enquanto tirava os saltos e comecei a caminhar pela calçada. O movimento dos carros era fraco e não tinha praticamente ninguém pelas ruas.
O vento gélido da madrugada estava me deixando com frio, claro, mesmo que o vestido tenha mangas e uma gola alta, ainda sim deixa minhas pernas e as minhas costas à mostra.
Alguns minutos passados em que eu estava andando, finalmente o calçadão de Copacabana apareceu à minha vista, isso quer dizer que em mais ou menos três quarteirões já estarei em casa.
Abri minha bolsa para pegar meu celular e enviar minha localização para Aryella, havia lhe prometido fazer isso. Enquanto estava distraída ouvi o barulho de uma moto diminuir e parecer me acompanhar, puta que pariu, só me faltava essa para completar a noite, ser assaltada ou sei lá o que esse homem pretendia.
Tentei apressar o passo e olhei sobre os ombros para olhar se ele realmente estava tentando me assaltar ou algo do tipo.
O homem parecia ter por volta de uns 1,80 e ser bem forte. Infelizmente estava com o capacete e isso não me permite ver seu rosto. Mas posso perceber que está me encarando. Só não entendi por qual motivo ainda não tentou fazer nada se estamos sozinhos e nem um carro passou até agora.
Quer dizer, estamos praticamente na frente do Copacabana Palace, vai ver que está esperando que eu passe para finalmente cometer o assalto.
Senti meu corpo bater contra outro e dessa vez fui com tudo para o chão. Meus saltos e meu celular caíram na areia enquanto minha bunda bateu com força contra o asfalto.
Antes de gritar ou qualquer coisa, olhei para trás e o homem permanecia da mesma forma, porém não parecia querer reagir.
- Por que é que você não presta atenção por onde anda? - Resmunguei pegando minhas coisas e soltando alguns palavrões pela pequena dor em minha bunda.
E se a pessoa que eu esbarrei for cúmplice do outro assaltante?
- Desculpa, estava distraído e não vi que tinha alguém vindo em minha direção. - Ou estou alcoolizada demais ou o assaltante acabou de falar espanhol comigo. Será que bebi muito?
Ergui minha cabeça e quase não acreditei.
O que ele está fazendo aqui?
- Pedri? - Seus olhos fitaram o meu rosto e só então notei sua mão estendida para me ajudar a levantar.
- Oi, está bem? Se machucou? - Segurei em sua mão e em segundos estava de pé outra vez.
- Eu... - Virei para trás novamente e o cara da moto permanecia observando tudo. - Podemos sair daqui? Aquele homem lá atrás está esperando a oportunidade perfeita de me assaltar. - Minha voz saiu fraca.
- Ele fez alguma coisa com você? - Seus olhos foram guiados até o homem atrás de nós.
- Não, mas se ficarmos aqui ele fará.
- Não, vamos para o hotel. Lá é mais seguro. - Deixei que ele colocasse uma das mãos em minhas costas para me guiar até o hall de entrada do hotel luxuoso.
Seus dedos quentes em contato com a minha pele desnuda e gelada pelo vento, arrepiaram todo o meu corpo.
- Por favor, me espere um pouco aqui. - Já em um local seguro, Pedri se encaminhou até um dos seguranças e pareceu conversar com o homem, explicando toda a situação. Não sei se o segurança entendeu o que ele disse, nem todo mundo fala espanhol, a maioria prefere dar prioridade ao inglês.
Observei os meus pés e vi o estrago que andar tanto e descalça havia causado. Algumas bolhas haviam se formado e meus calcanhares ardiam de dor. Maldita hora em que decidi sair de casa.
- O segurança disse que vai comunicar a polícia, fique tranquila. - Olhei para o seu rosto, aparentemente preocupado. - Por que estava andando sozinha nesse horário?
- Não te devo satisfações, não concorda?
- Claro, mas só quero te ajudar.
- Já ajudou, obrigada. Mas preciso voltar para casa, se não se importar já estou indo. - Pedri segurou o meu braço com delicadeza e me puxou para longe das portas. - Me solte.
- Ei, eu não posso deixar você sair por aí nesse horário. Principalmente depois daquele homem ter ficado olhando para você. Sabe lá o que ele estava pretendendo fazer.
- Já está tudo resolvido.
- Por favor, não seja tão teimosa. - Sei que a culpa não é dele, mas estou estressada com tudo o que aconteceu nas últimas horas.
- O único teimoso é você. Aliás, o que estava fazendo na praia a esse horário?
- Não conseguia dormir e resolvi pensar perto do mar. - Respondeu simples. - E que ótimo que tomei essa decisão.
- É claro, assim aumenta seu ego por ter supostamente me salvado. - Revirei os olhos.
- Droga, Clara. Pare de agir dessa maneira.
- Estou agindo como sempre. - Foi sua vez de revirar os olhos.
- É claro que está. Escuta, se não quer que eu te ajude por bem, será por mal.
- O que? - Deixei um gritinho escapar quando seus braços seguraram o meu corpo como uma noiva. - Me larga!
Fingindo que eu não estava gritando e batendo em seu peito, Pedri adentrou o elevador e logo estávamos em um quarto. Na verdade, parecia mais uma suíte.
O espanhol me jogou sobre a cama e como resposta joguei meu sapato contra ele que apenas desviou.
- Abra a porta! Eu quero ir embora. - Caminhei até a mesma e ele me segurou forte. - Solta!
- Você não vai sair.
- Você não pode me obrigar a ficar aqui.
- Não só posso como já fiz. - Empurrei seu corpo enquanto me afastava e passava minhas mãos pelos meus cabelos.
- O que você acha que está fazendo? Não somos absolutamente nada, e nem que fossemos algo você teria esse direito. - Disse e Pedri deu de ombros, bloqueando minha passagem até a porta.
- Eu sei que não temos nada nesse momento. Mas você está alterada. Além de que, uma mulher como você andar sozinha pelas ruas nesse horário é muito perigoso.
- Abre! - Fiquei de frente com ele e ergui minha cabeça para conseguir encará-lo.
- Não. - Soltei um grito de raiva e cruzei os braços. Pedri apenas continuou sério.
- Achei que o Sérgio tinha avisado que você não deveria fazer esforços. Não deveria ter saído para andar.
- Não fiz nada que possa me prejudicar. E como nós dois sabemos, era para eu estar lá nesse momento.
- É claro, como o salvador da pátria.
- Pare com isso.
- Deveria estar comendo alguma vadia, não é difícil achar uma que queira ser sua transa casual.
Senti meu pescoço ser apertado e antes que eu compreendesse tudo o que aconteceu, Pedri estava por cima de mim na cama com uma das mãos imobilizando o meu pescoço.
- Pare de agir como uma garotinha mimada porque você não é assim. Sabe muito bem que só quero te ajudar. E eu vi na porra do Twitter que você e o Vini estavam na mesma festa e que ele te beijou. - Ele respirou fundo antes de continuar. - Se eu quisesse qualquer outra, nunca teria ido naquela praia quando me enviou sua localização em tempo real. Eu já te expliquei, mas vou falar quantas vezes precisar. Eu amo você, tudo o que eu te disse naquele dia em Barcelona foi uma grande mentira. Você nunca foi casual para mim.
Respirei totalmente desregulada enquanto observava seus olhos.
Coloquei minhas mãos em seu pulso e o canário entendeu o que eu queria, logo tirando a sua própria mão dali.
Sentei sobre a cama e olhei para os meus dedos. Sei que ele não tem culpa do que aconteceu com o Vinícius, mas acabei descontando nele.
- Me desculpa, não deveria ter te tratado assim.
- Está tudo bem.
- Eu não beijei o Vini. - Disse rápido. De alguma forma eu me sentia em dívida de explicar a ele o que aconteceu.
- Não precisa falar sobre isso. Você é solteira e está tudo bem.
- Não, eu juro que não o beijei. Olhe para mim. - Toquei em seu ombro e o mesmo me encarou. - Vinícius tentou me beijar, estávamos conversando e ele só tentou. Mas eu não quis, eu só... só o empurrei e saí da festa.
González me encarou e seus dedos tocaram levemente os meus lábios, deixando a marca do meu batom nos mesmos.
- Isso é sério? - Assenti. Pedri fitou o meu rosto e seu polegar acariciou meu queixo. - Está bem, acredito em você.
Sorri genuinamente ao ouvir suas palavras.
- Aquele filho da puta te obrigou a fazer algo? Deus, juro que quando ver ele vou mat...
- Não! Você não vai fazer nada. Ele estava bêbado e não aconteceu nada. Por favor, me prometa que não vai fazer nada.
Ele respirou fundo e fechou os olhos com força.
- Por favor.
- Tudo bem, prometo. Mas se ele fizer isso de novo eu quebro a cara daquele babaca.
Um silêncio se instaurou entre nós dois. Seus olhos permaneceram fixos em suas mãos enquanto eu tentava raciocinar adequadamente.
- É melhor você tomar um banho e trocar essa roupa. Tem um roupão no banheiro e produtos de higiene também. - Sua voz ecoou pelo ambiente.
- Eu agradeço, mas irei para casa. - González travou o maxilar e ergueu o corpo. Senti o calor de seu corpo quando ele invadiu meu espaço pessoal.
Fechei os olhos levemente ao sentir seus dedos deslizarem pela parte de trás do meu pescoço. Minha pele se arrepiando ao sentir seu toque.
- Vou ter que insistir. Não posso deixar você sair sozinha, não nestas circunstâncias. - Seu hálito contra minha pele me causava tontura, tudo que gostaria neste momento era poder abraçá-lo e adormecer em seus braços. Esquecer dos momentos ruins.
- Não...
- Não vamos discutir. Vou precisar resolver algo na portaria. Fique à vontade, e se tentar descer, bem, estarei lá e garanto que não vai passar. - Revirei os olhos.
Pedri saiu do quarto e eu pude respirar normalmente. Mesmo que eu queira ir para casa, meus pés não permitiriam que eu chegasse muito longe.
Suspirei me dando por vencida. Caminhei até o banheiro, é bem maior do que eu esperava. Observei todo o lugar antes de fechar a porta com a chave e tirar meu vestido.
Prendi meu cabelo em um coque alto e entrei embaixo da água morna. De imediato o meu corpo relaxou.
Meu banho não foi demorado. Apenas o suficiente para que conseguisse ter o meu corpo limpo e conseguir tirar a maquiagem que havia feito mais cedo.
Enrolei o meu corpo contra o roupão e adentrei o quarto novamente.
- Não tenho roupas para você, espero que isso sirva. - A voz do canário me fez olhar para uma camisa dele com uma cueca box nova.
- Não precisa se preocupar, eu vou colocar o vestido e...
- Você não vai ficar confortável com o vestido. Use isso. Se estiver preocupada com a cueca, está nova. Eu nunca a usei antes.
- Eu não me preocupo, eu só... tudo bem. - Peguei as duas peças voltando para o banheiro e me vestindo. A camisa ficava no meio das minhas coxas e posso afirmar que essa cueca é bem mais confortável do que eu imaginava.
Pedri estava sem camisa.
Apenas uma calça moletom em seu corpo com seu peitoral totalmente à mostra.
Senti minhas bochechas corarem e desviei o olhar.
- Conseguiu um quarto para mim? - Ele me encarou, confuso. - Eu vou pagar as despesas da noite, não se preocupe com isso.
- Pare com isso, não iria cobrar nada de você. - Pedro apagou a luz, deixando apenas a fraca iluminação do abajur. - Fui tentar um quarto para você, eles disseram que todos estão ocupados.
- O que? Onde eu irei dormir? - Ele deu de ombros e se deitou na cama de casal.
- Nessa cama tem espaço para nós dois. - Sugeriu.
Sorri sarcástica.
- Essa é sua melhor jogada? Sério, uma cama só?
- Prefere dormir no chão?
- Quer mesmo que eu responda?
- Pare com essa sua mania de implicar comigo e se deite de uma vez. Eu não vou fazer nada com você. A cama é bem grande e podemos dormir cada um em uma ponta.
Encarei seus olhos. Sua expressão de cansaço me fez revirar os olhos e jogar o roupão em um canto do quarto.
Subi na cama, passando por cima de suas pernas e me deitei do outro lado. De costas para ele.
- Muito bem. Obrigado.
- Não fiz porque mandou. Só estou cansada demais para discutir. - Senti suas mãos puxarem o cobertor pelo meu corpo e se afastarem no momento seguinte.
- Eu sei. Boa noite, cariño.
Não respondi. Meu corpo encolheu ao ouvi-lo me chamar daquela maneira. Abracei meus braços e fechei os olhos, o quarto inteiro exalava o seu cheiro, e era um pouco pior tendo ele do meu lado.
Respirei fundo.
Será uma madrugada intensa.
Se bem que os últimos meses podem ser justificados de qualquer forma, menos tranquilos.
Uma única madrugada não poderia ser capaz de mudar nada.
Não seria capaz de curar um coração partido.
*Capítulo não revisado
Gente, um atraso de uma semaninha só 🙂
Odiei o final desse capítulo? Sim.
Mas juro que tentei escrever ele mais de uma vez e esse foi o melhor que pude fazer.
Essa última semana foi bem complicada para mim e por isso não pude postar antes. Espero que vocês estejam gostando dessa história de verdade, às vezes eu até penso em arquivar, mas depois passa.
Clara e Pedri tendo que dividir a cama...👀
O próximo capítulo será o puro caos kkkkkkk apenas aguardem
Espero que gostem 💙
Até o próximo capítulo!
📝 Não esqueçam de comentar e deixar o seu voto no capítulo! 🤍
Beijos de luz,Kalisa.
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