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Cap. 028

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Meu corpo estava completamente anestesiado enquanto Rodrygo me contava sobre a vida de pessoas que eu mal sabia o nome. Mas tudo bem, ao menos estou conseguindo me adaptar ao novo emprego, penso.

O último treino antes do grande amistoso entre Brasil e Espanha aconteceu durante a noite no Maracanã. Dorival Jr. passava as instruções para os jogadores que estavam finalizando suas partes enquanto o jogador do Real Madrid falava pelos cotovelos gastando horrores o seu português.

Passar tanto tempo na Espanha, me fez esquecer da sensação de falar minha língua de origem. Foi tanto tempo que o meu português ganhou um sotaque, e eu posso jurar que simplesmente esqueci como se pronunciava determinadas palavras quando precisei. Realmente deveria ter vindo ao Brasil mais vezes durante os anos que passei em terras espanholas.

- Como você aguenta esse fofoqueiro falar tão mal de pessoas que você não conhece? - A voz de Aryella chamou minha atenção para si. O fato pelo qual ela também fala português mesmo sendo espanhola sempre irá me surpreender.

- Que eu saiba a jornalista é você. - O brasileiro rebateu.

- E o que uma coisa tem haver com a outra? Eu trabalho informando as pessoas e não espalhando por aí que o seu coleguinha de equipe foi corno.

- A para! A Clara precisa saber da vida alheia também. - Neguei enquanto olhava para minha prancheta de informações dos atletas e observei os movimentos do Vinícius. Estava responsável pelo seu tratamento nesse amistoso.

- É claro, isso vai mudar completamente a vida dela.

- Larga a mão de ser chata garota. Aliás, nem era pra você estar no Brasil, sabia?

- E desde quando eu preciso da sua permissão?

- Ih, esses dois já estão brigando de novo? - Vini se aproximou. - Como você aguenta?

- Sinceramente? Tenho amigos lá na Espanha que conseguem ser piores que esses dois. - Comentei enquanto lembrava das brigas bobas de Angela e Ferran. - A propósito, já terminou seu treinamento?

- Ah, sim. Mas relaxa aí, estou muito bem e mal vejo a hora de marcar uns gols contra os espanhóis amanhã. Em casa é mais gostoso, sabe? - Seu olhar malicioso enquanto falava tais palavras me fez corar e evitar seu rosto.

- Imagino... bem, vou apenas dar uma checada para ter certeza e depois estará liberado. - Caminhamos tranquilamente pelo gramado até o CT onde faria a parte final do tratamento.

- Clara, posso perguntar uma coisa um pouco pessoal? - Ergui uma das sobrancelhas paralelas aos movimentos de apertar que minhas mãos faziam contra suas panturrilhas.

- Bem, acho que sim...

- Você e Pedri, vocês realmente são namorados? - Senti meu corpo travar e pisquei algumas vezes tentando buscar uma maneira de sair dessa situação o mais rápido possível.

- Nós tínhamos algo antes da minha vinda ao Brasil.

- Tinham, então não existe mais nada? - Neguei um pouco cautelosa. - Posso ser um pouco mais intrometido? - Que bom que ele sabe que está sendo intrometido, penso comigo mesma.

Assinto minimamente.

- Você quer ficar com outra pessoa em breve ou pretende fazer outras coisas? - Ele não está demonstrando interesse, está ?

- Olha, Vini, sinceramente não. Já aconteceram muitas coisas na minha vida e eu sei exatamente os motivos, sei que estava errado e mesmo assim eu quis levar a diante. Digamos que, quando tudo deu errado, eu sabia que era minha culpa e que eu deveria ter evitado. Sem contar que eu tenho apenas 22 anos e estou no início da minha carreira, não posso simplesmente me dar o luxo de me distrair com coisas fúteis.

Um momento de silêncio se fez presente entre nós. Apenas a respiração um pouco mais pesada do jogador podia ser ouvida junto aos pequenos ruídos dos demais funcionários.

- Aquele idiota quebrou o seu coração, não quebrou? - Deixei os meus ombros caírem em frustração. Isso é tão óbvio desse jeito?

- Nós só dissemos coisas que machucaram demais para conseguir resolver com uma simples conversa. E algumas atitudes também foram ruins. Acho que só colocamos um ponto final no que quer que tivemos.

- Você não abriria mão de toda uma vida e dos seus amigos em Barcelona se não fosse algo que te machucasse muito. - O brasileiro sentou sobre a maca e eu me afastei um pouco, escorando minhas costas na parede. - Não precisa me dizer nada, mas eu só quero que você fique sabendo que antes de qualquer interesse meu, sou seu amigo e estou aqui para o que você precisar. Pode contar comigo.

Sorri sem mostrar os dentes e concordei. É melhor ignorar a parte que ele citou os seus interesses.

- Bom, obrigada. O seu tratamento está completo, já pode descansar.

- Clara, posso te fazer mais uma pergunta?

- Outra? - Falei com ironia e ele riu. - Manda aí.

- Quer sair comigo e com os caras amanhã? Quer dizer, Aryella e as namoradas dos meninos vão também, seria um rolê de amigos. O que me diz?

- Eu não sei...

- Pode pensar se quiser. Me diga amanhã antes do jogo. Pode ser? - Fiz um beicinho enquanto concordava. Já tenho dois meses aqui no Brasil. Mas as festas definitivamente não estão no meu cronograma e tão pouco nos meus horários.

- Prometo pensar, mas não garanto nada.

- Já é alguma coisa. - O ponta ficou de pé e inclinou a cabeça em minha direção para enxergar meu rosto. - Até amanhã, varcelonistica.

Meus olhos cresceram de tamanho e meu queixo quase foi de encontro com os meus pés. Esse filho da mãe me chamou de quê?

- Você disse o quê?

- Varcelonistica? É só um apelido carinhoso para uma fã do Varcelona.

- Sei idiota! Todo mundo sabe que o Vardrid quem rouba em todos os jogos. Inclusive, a vitória de vocês nessa La liga foi uma das mais roubadas que eu já vi. E olha que eu já vi várias.

O jogador merengue riu alto e negou.

- Adoro choro rival. Independente da sua opinião, ganhamos a La liga e a Champions.

- Com var, sem var... - comecei a cantarolar uma música ao ritmo do hino do time espanhol. - Real Madrid vai te roubar. Vai te roubar, vai te roubar, Real Madrid vai te roubar.

- Não acredito! - Uma gargalhada ecoou pelo lugar. - Onde aprendeu isso?

- Já ouviu falar de um tal de Twitter? Pois bem...

- Você não vale uma nota de 3 reais, garota.

- Descobri o ponto fraco do malvadeza. É só cantar a musiquinha do Vardrid que mexe com o ego dele.

- Isso mesmo, culé, brinque com a realeza.

Foi minha vez de soltar uma gargalhada. Confesso que ele me faz rir igual uma hiena desesperada.

- Então nesse caso, realeza, no próximo El clássico joguem limpo e digam a arbitragem que depois que a bola passa da linha é gol. - Seu sorriso enorme diminuiu gradativamente. Convenhamos que todos concordam que o gol do Yamal foi um gol claro por ter cruzado a linha e mesmo assim o árbitro preferiu ignorar o gol que praticamente daria a vitória para o Barça. Isso sem contar os inúmeros lances duvidosos em que ele dava vantagem ao Real e fingia não ver quando eram a favor do clube catalão.

- Isso é desculpa pra não engolir uma derrota.

- Se você não calar a boca eu vou fazer você engolir uma bola. - A risada escandalosa dele chamou a atenção dos demais médicos presentes. - Idiota.

- Vou até me dedicar mais amanhã. Vou fazer um gol pra você.

- Não prometa o que você não pode cumprir.

- Está duvidando de mim?

- Sabe que a defesa da Espanha é considerada uma das melhores do mundo desde 2022, não sabe?

- E? Isso não me impede de marcar um gol pra você. E quer que eu te diga mais, vou roubar a bola do seu ex- namoradinho.

- Quer mesmo provocar o meu "ex namoradinho"?

- Será o meu gás. Provocar ele é meu novo hobbie favorito.

- Eu ficaria quietinha no seu lugar. Pedri é bem agressivo quando quer.

- Ele não é o cara dos cartões. Gavi quem é. Se depender do seu ex, é mais fácil que eu tropece na grama e me lesione do que ele cometer uma falta sobre mim.

- Se você está falando...

- Não estou falando, estou afirmando que Pedri não tem força e coragem suficiente para cometer uma falta grave.

Sorri com sua afronta, ele realmente nunca viu o lado agressivo de Pedri.

- Bom, não diga que eu não alertei. Preciso passar um relatório aos meus chefes agora. Até amanhã, Vini.

- Até amanhã, Clara.

O início do primeiro tempo foi tranquilo.

Todo o entusiasmo da torcida regava minha alma. Eu amo ser deste país, não o trocaria por nem um outro.

A parte mais cruel em toda essa situação de emoções à flor da pele, é ter que enganar os meus olhos para que não passem o jogo inteiro olhando para o espanhol. Se bem que o fato dele estar me olhando sem desviar desde o momento em que entrou em campo não ajudou muito.

Eu havia repetido tantas vezes para mim mesma que deveria ser indiferente com a presença dele, que me convenci de tal mentira. Bem, pelo menos até ele ser atingido com uma bolada no rosto.

Como nos velhos tempos.

Sorri de canto ao olhar aquela cena quase hilária e neguei para mim mesma. Ele só pode ser idiota se não mantiver seu foco no jogo. De La Fuente o enterra vivo se ficar cometendo esses erros.

O momento em que seus olhos castanhos encararam os meus, mesmo com uma distância considerável, fez com que me lembrasse do que havia prometido para mim mesma.

Ele mesmo afirmou que tudo o que tivemos nunca passou de um caso. De sexo. Mesmo quando eu disse que o amava. Meu coração ainda dói, é verdade. Todas as vezes em que me lembro que fui eu quem lhe disse o primeiro eu te amo, faz com que eu me sinta uma completa palhaça idiota.

Eu não menti. Eu o amo. Até este momento eu o amo e sei que quando acordar amanhã também o amarei. Mas não sou capaz de ir atrás dele outra vez, não depois de todas as coisas que ele me disse.

Eu o amo, mas não posso torturar meu coração com a falsa esperança de que será recíproco de sua parte.

Desviei meus olhos para a arquibancada enquanto minhas bochechas coraram ao ter sido flagrada por ele.

Preciso ser firme e ignorá-lo até o final do jogo, depois é só me esconder e pronto. Não nos veremos e ele seguirá direto para o hotel em que se hospedou junto a seleção de seu país.

Angela, Lucca e Adrián me avisaram de última hora que conseguiram vir para o Brasil, o que de certa forma me animou muito. Mas com a grande correria do fim de semana preparando os jogadores para hoje, não pude vê-los ou se quer recebê-los no aeroporto. Até agora não nos vimos ainda.

Pretendemos marcar alguma coisa amanhã pela tarde, quando terei o resto do dia e a semana seguinte livres para descansar um pouco, já que precisei cobrir a ausência de um dos fisioterapeutas que acabou ficando doente essa semana.

Mal vejo a hora de vê-los e abraçar minhas três perturbações favoritas.

...

Tudo bem, eu confesso que sempre soube que a Espanha era uma seleção forte. Eu sei que eles têm a melhor defesa e tudo mais. Só que isso aqui vai além do que eu imaginava.

Os lances não finalizados pelo Brasil, graças a defesa espanhola, me deixavam com o queixo caído. A profundidade pela qual eles conseguem atrapalhar as evoluções brasileiras me deixa absurdamente nervosa.

Neste momento o placar marca 2 gols a favor de ambos. Está tudo igual.

Apertei o pingente da pulseira presa em meu pulso e mordi meus lábios involuntariamente ao ver Pedri ser cercado por três jogadores brasileiros. Vini e sua turma realmente estão empenhados em não deixar o meia em paz essa tarde.

Mesmo que a posse de bola e chances claras de gol estivessem praticamente iguais para os dois lados, a intensidade que ambas as seleções jogavam parecia mais uma final de copa do mundo do que um simples amistoso.

Saltei da cadeira me colocando de pé no momento em que Vini se aproveitou da cobrança de lateral feita por González e roubou a bola facilmente se dirigindo até o gol. Toda a parte que sucedeu essa primeira cena parecia acontecer em câmera lenta.

Os zagueiros espanhóis tentando alcançar o ponta camisa 7. O bandeirinha confirmando a posição legal e o gol.

Ele marcou o gol!

O estrondo que a torcida fez no momento em que a bola balançou a rede rival praticamente fez o Maracanã inteiro estremecer. Os jogadores espanhóis pareciam desacreditados enquanto olhavam de um lado para o outro nas arquibancadas. Eles estão sentindo o sabor das palavras "made in Brasil", sim, o Brasil com S.

Vinícius comemorou intensamente, fez sua coreografia com o Paquetá e beijou o escudo da seleção, um gesto muito nobre de qualquer jogador. Mas seus dedos formando um perfeito "c" enquanto apontavam para mim me fizeram sorrir como uma idiota impressionada com o crush da escola depois de ter trocado duas palavras com tal.

Se torna ainda mais icônico pelo fato dele ter prometido fazer um gol para mim.

E pior ainda, ele realmente "roubou" a bola em um lance feito por Pedri. Graças a Deus dessa vez eu não fiz nenhuma aposta pela qual pudesse me arrepender depois.

Acho que os minutos seguintes podem ser considerados como karma instantâneo.

Nico William acabou errando o passe e Rodrygo conseguiu recuperar a bola, invertendo totalmente o jogo para a esquerda, para o Vini que prontamente bailou entre os jogadores rivais seguindo para o gol de Unai Simón.

Apertei minhas unhas contra a palma da minha mão e reprimi um grito eufórico no momento em que Pedri esqueceu que não era zagueiro e usou toda a força que tinha naquele momento para atingir o tornozelo do brasileiro roubando a bola.

Deus do céu, ele só pode estar louco de fazer um lance desses! Claramente ele será expulso, ao menos que o árbitro não queira olhar o var ou o próprio var decida ignorar.

Ou que o próprio Paquetá servisse como advogado do diabo para o amigo dando uma entrada forte na panturrilha do canário.

- Que filho da puta! - Deixei escapar e os meus colegas de equipe olharam para mim confusos. Sorri sem graça e encolhi meu corpo, acabei de xingar o jogador da minha seleção por defender MINHA seleção do rival. Mereço um troféu.

O árbitro parou os lances e prontamente deu cartão amarelo para Pedri e Lucas pelos lances inapropriados. O médico principal de cada seleção se encaminhou até os seus respectivos atletas enquanto Casemiro e Rodrygo precionavam o árbitro, de certo pedindo a expulsão de Pedro.

- Você sabe que foi um lance para expulsão. Não é justo que esse garoto quase lesione um dos nossos melhores jogadores por pura birra, atrapalhe um lance promissor e só leve um cartão amarelo por isso. É inaceitável. - Ouvi claramente quando Dorival reclamou com o 4° arbítrio.

Não que ele esteja errado na parte que diz que o lance era promissor e seria uma falta para cartão vermelho pelo uso excessivo de força da parte do jogador do Barcelona. Mas eu posso só ignorar, certo?

Minha ansiedade apenas não me permitiu mais ficar sentada. Ergui meu corpo caminhando até alguns fisioterapeutas mais próximos do campo. Meu coração parecia querer pular do meu peito a qualquer segundo. Se essa rincha idiota desses dois idiotas não parar, vão acabar lesionando um ao outro. Só resta saber quem será o primeiro.

Ajustei meus óculos em meu rosto no momento em que Morata roubou a bola que a seleção brasileira acabara de bater em falta e a ajustou para Ferran e o lance seguiu rapidamente para a grande área brasileira. Meu coração parecia acelerar cada vez mais e principalmente quando sem querer meu olhar esbarrava em Pedri.

O capitão da Espanha tocou na bola rapidamente e a chutou sem jeito para González. Tive que conter minha vontade de sorrir e sair dando pulinhos quando seu pé acertou em cheio a bola que balançou a rede de Alisson. Ele havia marcado um gol incrível de fora da área, com inúmeros obstáculos e quase improvável.

Bem, esse é o Pedri mágico que todos estão acostumados a ver.

As vaias vindas da maior parte do estádio pareciam deixá-lo ainda mais feliz enquanto comemorava com sua típica comemoração. De relance pude ver Gavi e meus amigos quase se matando de pular nas arquibancadas acima de nós, era fofo vê-los ali comemorando igual loucos e ignorando o fato de que podem ser atingidos com uma latinha de cerveja por um torcedor brasileiro a qualquer instante.

Direcionei meu olhar para o campo outra vez com um pequeno bico nos lábios ao lembrar que minha família estava no camarote assistindo ao jogo e com toda certeza do mundo o meu pai deve estar querendo acabar com o Pedri por empatar novamente o jogo. Seria cômico se não fosse tão trágico.

O sorriso nos lábios de Pedro pareceu aumentar quando seu olhar encontrou o meu. Quis sair correndo no momento que ele apontou diretamente para mim enquanto piscava e fazia um coração com as mãos.

Meus olhos dobraram de tamanho e notei os olhares da delegação brasileira sobre mim descaradamente. Me escondi minimamente atrás do corpo de um dos meus colegas que era alto e musculoso o suficiente para tapar a visão do espanhol.

Meu rosto inteiro ardia, tenho absoluta certeza que estou com as bochechas vermelhas de vergonha.

Por essa eu não esperava.

- Você realmente era namorada dele? - A voz do homem cujo eu me escondia atrás ecoou pelos meus ouvidos.

- Oi?

- Ele te dedicou o gol. Todo mundo viu. Ainda namoram?

- Não, nós não... eu...

- Relaxa novata, é bem normal isso dos atletas ficarem interessados pelas médicas. Acredite, você não é a primeira.

- Ele não está interessado em mim.

- Bem, ele sozinho não, o Vini também. - Revirei os olhos negando.

- Não importa. Não estou tentando conseguir um namorado, mas sim uma carreira.

- Isso aí garota, é assim que se fala. - Dei um meio sorriso para o grandão que agora está do meu lado, não mais na minha frente.

No momento em que direcionei meus olhos para o gramado outra vez, foi o tempo exato de acompanhar o contra- ataque espanhol. Pedro novamente.

E novamente Vini atrás dele, o caçando como um predador faz com sua presa indefesa.

Pisquei várias vezes seguidas sentindo meu peito apertar a medida que o ponta brasileiro se aproximava cada vez mais dele, que aparentemente só conseguia pensar em marcar aquele gol.

- NÃO FAZ ISSO PORRA. - Gritei igual uma idiota e com mais meio Maracanã como se Vinícius pudesse me ouvir no momento em que atingiu a coxa esquerda de Pedri que chutaria para o gol.

Impulsionei meu corpo para frente e fui parada bruscamente com as mãos do fisioterapeuta que a pouco me serviu como rota de fuga. Pedro se machucou feio.

Sei exatamente que não está fingindo porque está de bruços com os dedos cravados na grama e contorcendo sua coluna. Isso só acontece quando ele está com excesso de dor.

- Guimarães, fica calma porra. O juiz vai deixar os médicos irem atender ele. - Eu mal conseguia raciocinar. Meu corpo se debatia compulsivamente contra os braços do homem que me segurava com facilidade. A arquibancada atrás de nós simplesmente ficou em silêncio ao perceber que era eu ali, diante dos seus olhos fazendo birra, tal qual uma criança malcriada.

- VAI PRO INFERNO VOCÊ E A SUA CALMA! - Gritei tão alto que senti minha garganta doer no momento seguinte. O estádio parecia ficar mudo e eu pude jurar que aqueles milhares de olhos se direcionaram para mim. Faz sentido, tem a merda de um microfone praticamente do meu lado e pelo visto está ligado já que minha voz ecoou pelos altos falantes.

O pobre homem que tentou me impedir de fazer a maior loucura da minha vida, soltou o meu corpo e eu não pensei muito, peguei a mala de equipamentos que usamos no atendimento e corri.

O 4° arbítrio tentou segurar meu braço, porém tudo que conseguiu foi ficar com meu casaco que estava posto em cima dos meus ombros.

O árbitro pareceu notar a movimentação na parte de trás do campo e apitou. Ótimo, agora, ainda mais estão todos com os olhos vidrados em mim.

Joguei a maleta do meu lado e me ajoelhei perto de seu corpo que estava com a barriga para baixo. Deslizando minha mão pelas suas costas, segurei em seu quadril o virando de bruços com a barriga para cima outra vez.

Suas mãos permaneciam paradas em seu rosto, não tenho certeza se ele está inconsciente ou desmaiado.

Puxei sua meia para baixo e subi seu calção, me dando acesso para sua coxa marcada pelas travas da chuteira. Toquei brevemente e olhei para o seu rosto ainda coberto.

- Caralho, me diz que você tá acordado? - Suas mãos saíram rapidamente de seu rosto e sua expressão de dor foi tomada pela surpresa.

Seus olhos castanhos me fitaram tão intensamente que senti como se ele estivesse me despindo apenas com o olhar.

Não retirei minhas mãos de sua coxa. É claro que só teremos como saber se houve uma lesão após exames ou se ele não conseguir andar, mas quero ter uma primeira impressão já que literalmente invadi a merda do campo para ajudá-lo.

O desespero que os médicos espanhóis tinham tentando ajudá-lo e aguardando uma autorização do quarto arbítrio me deixou angustiada o suficiente para fazer o que eles gostariam. É como eu disse para mim mesma, é só ignorar.

O problema é que eu ignorei o fato de que deveria estar ignorando Pedri. Não tomando uma futura bronca e uma possível suspensão por invadir o jogo para atendê-lo.

Eu o amo bem mais do que a minha indiferença.

- O que você tá fazendo aqui? - Sua voz soou mansa e calma.

- Ajudando você? Está sentindo o que e onde?

- Clara, eles vão prejudicar você. Saia do campo, deixe que os médicos da Espanha façam o atendimento.

- Estou pouco me fodendo para o que eles vão fazer. Agora me responde, onde está doendo e o quanto está doendo? - Um pequeno tumulto se formou ao nosso redor e de relance pude ver Sérgio nos observar enquanto os jogadores da Espanha e os brasileiros discutiam descontroladamente.

- Perto do joelho, não sei explicar mas é uma dor aguda. - Concordei e mordi os lábios, não tem como saber se foi tudo graças ao choque ou se é algo mais grave. Um ligamento cruzado na pior das hipóteses.

- Tudo bem, consegue levantar? Dói se eu apertar assim? - Apertei levemente e ele negou. - Ótimo, então vamos para fora do campo, lá dá pra fazer um atendimento melhor.

Segurei suas mãos e aos poucos ele consegue se levantar com algumas caretas. Coloquei seu braço ao redor dos meus ombros e sorri para Morata que pegou a maleta de equipamentos enquanto nos acompanhava.

- O que você pensou quando invadiu o campo, senhorita? - O arbítrio parou bruscamente em minha frente.

- Eu? Só fiz o que meu ofício pede que eu faça. Quando um jogador se machuca eu o ajudo.

- A senhorita não pertence à delegação espanhola, pelo contrário, é brasileira. E nem que fosse espanhola justificaria tamanha atrocidade. Acho que não preciso dizer sobre as regras, você as conhece bem. O atendimento só acontece quando o árbitro autoriza. - O homem mais velho ergueu seu cartão vermelho para mim. Expulsa. Nunca imaginei que isso aconteceria comigo. Mas o que posso fazer, em tese isso não muda nada.

- Não pode expulsar ela por ter ajudado! É totalmente hipócrita da sua parte. - Ouvi alguém falar alto.

A torcida gritava contra o juiz e eu apenas ignorava. Depois de ter certeza que está tudo bem com González eu estaria de volta mesmo. Quer dizer, o auxiliar do Dorival provavelmente vai me fazer ser notícia dupla no jornal do cidade alerta amanhã, mas isso é um problema para a Clara do futuro.

- Pedri, você acha que tem condições de voltar ao jogo? - Sérgio questionou brevemente quando saímos das linhas do campo.

- Sinceramente, acho que não. Meu joelho dói mais do que posso suportar quando piso.

- Tudo bem, vou avisar a De La Fuente. Clara, não me leve a mal, mas você pode acompanhá-lo até a ala hospitalar? Estarei lá o mais breve possível.

- Claro, não será um problema.

Nosso percurso até a ala foi em um completo silêncio. Os passos lentos por ele estar mancando, faziam o caminho parecer ainda mais longo.

- Pode ficar na maca. Sérgio deve pedir exames para saber o que realmente aconteceu. - Ajudei ele a sentar enquanto tirava as chuteiras e as duas proteções das canelas.

- Você não devia ter entrado lá. Foi expulsa, sua federação vai te punir. - Neguei enquanto ajustava sua perna, deixando-a esticada.

- Não dava pra ignorar o que o árbitro fez. Aquela entrada foi para cartão vermelho e ele deu vantagem no lance? É demais para mim. - Seus olhos não desviaram de mim por nada, o que estava me deixando intimidada.

- Não acha que os torcedores do Brasil vão ficar com raiva por ter atrapalhado o gol? - Ri fraco enquanto negava.

- O gol seria anulado quando o var visse que a origem foi com falta. Nada que mude muita coisa. - O barulho da porta sendo aberta com força fez com que meu olhar fosse totalmente direcionado para tal.

- Que caralhos você pensou quando decidiu invadir a merda do campo? - A voz alterada de Vinícius ecoou pelo lugar. Pelo visto alguém foi expulso.

- Vini, eu sou fisioterapeuta. Eu não ia deixar uma pessoa claramente machucada implorando por ajuda por conta de um arbítrio que parece não saber as regras do jogo.

- Qual o seu problema? Ele é um jogador rival! Um que inclusive me machucou.

- E você devolveu muito pior não acha? Até um exame profundo, não sabemos se é algo sério como um ligamento ou apenas um susto.

O brasileiro totalmente conturbado respirou fundo e se aproximou de mim.

- É melhor você se afastar dela. - Pedri rosnou tentando sair da maca.

- Ou o que? Até onde eu sei você foi um filho da puta com ela. Não existe nada entre vocês.

- Escuta aqui, o que eu faço ou deixo de fazer é totalmente problema meu. Você não deveria insistir em algo que claramente não é pra alguém como você.

- E quem é você para dizer o que é ou deixa de ser para mim? - Rebateu. - Não sou um filho da puta que perde tudo.

Pedro travou o maxilar e estava prestes a avançar contra o ponta esquerdo quando me coloquei entre os dois.

- Pare! Não vão brigar. Até parece que só sabem agir como adolescentes imaturos. - Empurrei o peitoral de Vinícius que deu alguns passos para trás. - Pare de chamá-lo de filho da puta e saia daqui.

González tentou ficar de pé quando o empurrei novamente, fazendo com que sentasse.

- Não levanta. - Seus olhos, antes castanhos claros, estavam com as pupilas quase dominando toda a sua íris.

- Para de defender ele, Clara. Ele não merece nem a metade do que você está fazendo.

- Isso sou eu quem decide. Agora, o que eu tenho certeza que é de uma extrema idiotice, é toda essa situação que vocês dois se colocam. Vejam isso, você, Pedro, podia ter feito uma lesão grave no Vinícius com aquela entrada. E você, Vinícius, pode ter rompido algum dos ligamentos do Pedro. Será que não percebem que descontar esse ódio que sentem um do outro desse jeito só vai causar mal para ambos? Que droga, por que não agem como os homens que deveriam ser?

- Se ele não ficasse tentando ter tudo o tempo todo e aceitasse que perdeu, tudo seria resolvido. - A voz do canário chamou a atenção do carioca.

- Eu acho que quem perdeu foi você, não eu.

Esses patetas estão falando de mim? Ótimo. Fico lisonjeada em saber que eles quase se mataram em campo por minha culpa.

Se bem que ambos me dedicaram seus gols. Deveria ter entendido os motivos antes.

- Dane-se. Ninguém ganhou ou perdeu aqui, todo mundo perdeu na verdade. Um expulso, o outro machucado.

Senhor, onde o Sérgio se meteu que não aparece aqui?

Um silêncio incômodo se instalou entre nós. Ambos pareciam refletir algo e finalmente Sérgio adentrou o local.

- Clara, não tenho palavras pra te agradecer e te repreender pela sua atitude. - Disparou sem se importar com a presença do brasileiro. - Sabe que a diretoria vai chamar sua atenção e pode até te suspender por essa atitude, não sabe?

- Imagino. Mas não faz muita diferença. - Comentei brevemente. - Sou apenas uma fisioterapeuta em teste.

O mais velho riu enquanto negava e avaliava Pedri.

- Tudo bem, vamos fazer um exame breve pra saber se houve alguma lesão.

Os exames deram negativo para a lesão.

O que foi um grande alívio para todos. Até mesmo para Vini.

- Você pensou em algo, Guimarães? - Sérgio perguntou enquanto me mostrava os exames.

- De cara ligamento, mas a pancada foi inteira no músculo. Uma lesão muscular é mais fácil.

- Perfeito. - A satisfação em sua voz me fez sorrir. Sei o quão importante Sérgio é entre os fisioterapeutas do mundo esportivo e ter sua validação em qualquer coisa que seja, me deixa extremamente satisfeita em saber que estou me saindo bem.

- Clara, não acha melhor irmos para a nossa parte do CT? - Vinícius se aproximou um pouco, fazendo sua pergunta em português e baixo o suficiente para que apenas eu pudesse ouvir.

- O jogo ainda não terminou, eu preciso ficar lá para o caso de algum atendimento.

O olhar perdido dos dois jogadores me fez ter vontade de rir. Pelo visto alguém não sabe de todas as regras que cercam o futebol e a aplicação de cartões.

- Mas você recebeu um vermelho. - Pedro comentou.

- E? Esqueceram que eu sou da parte médica? Se alguém se lesionar lá em cima, quem é que vai fazer o atendimento? O Sérgio?

- Bem, seria interessante atender o rival. - Disse com ironia.

- Então vocês não podem ser expulsos mesmo sendo expulsos?

- Isso. Outra pessoa com menos relevância da comissão técnica é quem se retira.

- Caralho. - Revirei os olhos e observei o canário trocar a camisa da seleção principal por uma que os reservas usam.

- Bom, vamos voltar? - Sérgio questionou enquanto desaparecia entre a porta e o corredor. Me deixando sozinha com os dois novamente.

- Eu vou pro vestiário. - Vinícius comentou enquanto saia da sala, um pouco irritado.

Peguei o meu casaco, o vestindo e fechando o zíper.

O clima entre nós dois não é o melhor, quer dizer, o nosso último encontro foi o dia em que terminamos. Desde então não nos vimos ou sequer falamos um com o outro.

- Eu queria... - Olhei em sua direção e o espanhol respirou fundo antes de continuar. - Como você está?

- Bem. E você? Quer dizer, como tem passado os últimos meses?

- Sinceramente? Não muito bem. - Eu só quero sair daqui. Agora, com as coisas em seu devido lugar outra vez, preciso voltar a ignorá-lo.

- Sinto muito, espero que melhorem. - Dei as costas para ele, que colocou a mão em minha cintura brevemente.

- Por favor, não vamos nos tratar como estranhos que nunca se viram antes.

- E não é isso que somos? Quer dizer, termos visto um ao outro nus não quer dizer que nos conhecemos de verdade. - Ele engoliu seco e lambeu os lábios.

- Só me escute, por favor.

- É um pouco hipócrita da sua parte me pedir isso, não acha?

- Acho, mas eu preciso ser hipócrita. - Sua mão subiu pelas minhas costas acariciando a extensão da minha coluna, causando arrepios por todo o corpo.

Permaneci em silêncio. Os dedos do espanhol seguraram meu rosto cautelosamente e me viraram para olhar no seu.

- Eu sei que tudo o que aconteceu te machucou. Só que quero que possamos conversar, pelo menos, entender tudo o que realmente aconteceu naquele dia. Não espero que você volte comigo ou me perdoe, mas tudo o que eu mais quero é que possa me escutar hoje a noite e me deixar escutar você também. Como deveria ter acontecido desde o começo.

Encarei meus pés e mordi meu lábio inferior. Senhor, por que é tão difícil dizer não para ele?

- Eu não sei...

- Por favor, Clara. Eu juro que só vamos conversar, e se você não quiser mais é só ir embora. Eu vou entender você.

Olhei brevemente em seus olhos e pude enxergar a súplica ali. Você é um idiota Pedri González.

- Tudo bem.

- Você vai conversar comigo então?

- Sim, eu acho.

- Obrigado. Posso mandar a localização pra você pelo seu número? - Ergui uma das sobrancelhas. Onde ele quer que tenhamos essa conversa?

- Pode. - Um sorriso genuíno se formou em seus lábios e eu engoli seco virando novamente. Parecia que o ar ficava escasso.

Antes de terminar as escadas que dão acesso ao campo, meu corpo me obrigou a esperá-lo. O machucado o impedia de dobrar totalmente o joelho.

Pedri me encarou enquanto eu olhava para qualquer lugar tentando evitá-lo.

No momento em que aparecemos na zona de visão das pessoas, uma salva de palmas e gritos eufóricos foram disparados por quase todas as pessoas nas arquibancadas.

Olhei para o meio de campo tentando entender quem havia marcado o gol e o que teria acontecido. Acho que a confusão em meu rosto foi ainda maior quando os jogadores também estavam parados e aplaudindo.

- Estão aplaudindo você. - Pedro sussurrou perto do meu ouvido e eu senti minhas bochechas corarem. O que eu fiz para eles estarem me aplaudindo assim?

Passei pelos jogadores reserva da Espanha que sorriam para mim e ajudei Pedri a se sentar. Antes que pudesse ir para o meu lugar e me esconder nas cadeiras da parte de trás do banco de reservas, Luís De La Fuente se materializou em minha frente.

- Gostaria de agradecer a senhorita por seu gesto nobre. Ajudar o seu rival e atrapalhar o lance que poderia dar a vitória a sua seleção foi muito humilde de sua parte.

- Não fiz nada demais para tudo isso. Fui fisioterapeuta do Barcelona por mais de 1 ano, só agi por impulso. - Ele sorriu negando.

- Se acha isso, tudo bem. Mas quero que aceite meus agradecimentos de qualquer maneira.

Sorri sem mostrar os dentes e apertamos as mãos.

Caminhei em passos largos até conseguir estar escondido entre os jogadores reservas e longe da vista das pessoas.

Senhor, no que eu me meti?

*Não revisado

Cheguei besties!! Meio tarde, mas tô aqui.
Mulher, eu ia fazer uma outra parte nesse capítulo só que fiquei enrolando durante a semana e não deu tempo 🥲
E também tenho que levar em consideração que iria ficar muito grande e talvez fosse ruim para ler.

Enfim, na próxima semana o Pedri finalmente vai poder fazer o pedido de desculpas dele. E o Vini de atacante em? O juiz dando cartão vermelho pra Clara e o coitado do auxiliar tendo que pagar a punição sempre será cômico kkkkkkk

O Twitter pegando fogo com o novo trio apocalíptico. E a Aryella brotando novamente em 👀

Espero que gostem 💙

Até o próximo capítulo!

📝 Não esqueçam de comentar e deixar o seu voto no capítulo! 🤍

Beijos de luz,Kalisa.

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