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A sensação que tenho tido nas últimas horas é que o meu coração iria parar de bater. Dor. Eu sentia dor no meu coração.

Quando me disseram antes que a dor de ter um coração partido poderia sim ser sentida, eu genuinamente achei que fosse exagero. Uma metáfora.

Até o dia em que ele partiu o meu.

Há uma semana desde a última vez que me apresentei ao Barcelona. Não respondo mensagens, não ligo para as pessoas e pedi ao porteiro do prédio que não permitisse a subida de ninguém. Absolutamente ninguém.

Meu corpo inteiro doía, desde o momento em que aquela maldita foto foi vazada eu simplesmente não sei mais o que a palavra "paz" quer dizer.

Inúmeras críticas e xingamentos sobre mim, exposição de fatos da minha vida que eu sequer sabia que as pessoas teriam acesso. Meu pai me dizendo que tudo daria errado... quem diria, o desgraçado estava certo.

A última vez em que tive coragem de aparecer em público foi na última reunião onde Pedri estava presente.

Isso foi há uma semana atrás.

Ainda não sei o que vai acontecer comigo, não sei se serei demitida ou processada. Ninguém me diz absolutamente nada.

Eu não faço questão de saber de absolutamente nada.

A cada instante sinto o sangue circular pelas minhas veias mais e mais a ideia de responder o e-mail da seleção brasileira cresce dentro de mim. Eu ainda não havia dado uma resposta. Se bem que depois desse escândalo envolvendo o meu nome, duvido que ainda queiram qualquer tipo de envolvimento comigo.

O ronrono do meu gato se misturava com o som das ondas que batem de forma agressiva no deque próximo a praia. Isso é a única coisa que conseguiu de fato me deixar relativamente tranquila. Não estou sendo totalmente sincera, é claro que já tomei uns cinco tipos de comprimidos calmantes diferentes.

A mídia internacional simplesmente surtou com a informação de que Pedri teria uma namorada e surtou ainda mais quando descobriram que eu era a tal.

É claro que eu sabia que em um momento ou outro isso iria acontecer, mas não esperava que tomasse uma proporção tão grande a esse nível.

Puxei o cobertor para conseguir cobrir um de meus ombros quando alguém abriu a porta que dá acesso a varanda, a qual eu tenho passado os últimos dias inteiros sentada, apenas olhando para o mar.

Ergui minha cabeça e as madeixas loiras da minha amiga tomaram conta da minha visão.

— Você é louca, sabia? Como você some completamente por uma semana, não atende um telefone e nem vê uma única mensagem sequer? — A voz de Angel me fez olhar novamente para o mar, não quero discutir.

— Eu só quero ficar sozinha, bem longe de todo mundo.

— Clara, sua vida não pode simplesmente parar por conta disso.

— Angela, talvez você não tenha entendido ainda, mas a minha carreira simplesmente acabou! Qual clube vai querer uma funcionária que não respeita o contrato? Sem contar que ainda tem aquelas fãs malucas xingando até minha 15° geração na internet. — Senti minha vista embaçar. — E o pior de tudo nem é isso, agora eu nunca mais vou conseguir fazer ele olhar na minha cara outra vez. Ele acha que eu menti sobre tudo, sobre meus sentimentos, sobre a maldita proposta. Deus, eu só queria que ele tivesse me dado 5 segundos para explicar tudo.

A francesa permaneceu calada, apenas se ajoelhou à minha frente e me envolveu em seus braços. Encostei minha cabeça em seu ombro e me permiti chorar. Chorar mais uma vez.

— Eu não sei como isso vai acontecer, mas tudo vai se resolver no momento certo, cherry. Até lá, estarei aqui com você para o que precisar. — Sussurrei um "obrigada". — O que você acha de um dia das garotas? Precisa de auto-cuidados e uma boa comidinha caseira.

— Não...

— Não é uma pergunta. — Revirei os olhos e um sorriso sem graça escapou dos meus lábios. Sei que ela insistiria até me fazer mudar de ideia, então é mais fácil aceitar. — Trouxe um monte de coisas na minha mala e passei no supermercado pra comprar os ingredientes de uma receita francesa.

— Vai cozinhar pra mim?

— Vai te fazer sentir melhor? — Concordei. — Então eu vou sim!

— Droga Angel, você deveria ser uma grande babaca por ser loira e filhinha de papai. — Ela soltou uma gargalhada e deu um pequeno tapinha na minha cabeça após meu comentário preconceituoso.

— Lembre-se que foi você quem me deu o título de irmã mais velha, agora aguente ser a caçula. — Resmunguei contra seu peito e a mulher me ajudou a ficar de pé. — Vamos começar com o seu glow up, tá parecendo uma defunta em necrose.

Olhei incrédula para ela que me puxava em direção ao meu quarto.

— Eu não preciso de um glow up, só preciso que minha vida se acerte outra vez.

— E ela vai, mas um glow up faz parte desse acerto. — Enquanto eu permanecia sentada sobre a minha cama, a loira fuçava em cada uma das gavetas onde guardo meus produtos de higiene buscando alguma coisa. — Aqui, você vai ficar uma angel da Victoria Secret 's. Já usou aquela banheira imensa do seu banheiro? — Neguei. Desde quando me mudei para esse apartamento, tudo o que tive tempo de fazer foi organizar o meu quarto e meu local de estudos. Claro que as coisas básicas estão em seu devido lugar, mas ainda têm várias caixas empilhadas em um canto da sala esperando que eu as tire de lá e as organize. — Quero que relaxe e hidrate esse cabelo, vamos fazer uma mudança nele.

Girei meu corpo de uma única vez para olhá-la, o que essa maluca está pensando em fazer com o meu precioso cabelo?

— Relaxa, não vou pintar ele de loiro. Vamos só cortar um pouquinho e dar um bom trato. — Ainda desconfiada eu segui para o banheiro, liguei a torneira para encher a banheira de água morna e joguei um pouco do meu sabonete líquido na água para fazer espuma.

Enquanto esperava a água chegar em seu limite, resolvi lavar meu cabelo com shampoo e usar o hidratante. Prendi tudo em um coque alto e desliguei a água da banheira, já estava no limite.

Joguei minhas roupas para um lugar aleatório do banheiro e finalmente entrei na água. No momento em que estava completamente deitada com apenas as costas apoiadas, senti todos os meus músculos relaxarem. Nem havia notado que estava tão tensa até então.

— Posso entrar? — Perguntou colocando apenas a cabeça dentro do box.

— Pode. — Angel apareceu no meu ponto de visão segurando alguns potes e um pincel.

— Máscaras para sua pele. Feche os olhos e deixe o resto comigo. — Minha cabeça ainda doía bastante, então eu apenas obedeci seu comando. Em alguns segundos senti um líquido gélido ser espalhado sobre o meu rosto com o pincel, o cheiro era muito bom. — Tudo bem, agora relaxe e tente pensar positivo, tudo bem? Vou descer e começar a preparar nosso almoço. Qualquer coisa é só gritar que eu subo correndo.

Concordei e fechei os olhos outra vez. A água morna parecia querer levar meus problemas embora por alguns instantes. Desde o vazamento daquela foto para a mídia, tudo o que vi ao meu respeito nas páginas do Twitter eram terríveis. Pessoas falando do meu corpo, do meu cabelo. Até então eu não liguei tanto, mas quando fizeram um exposed com informações sobre o meu passado, incluindo o Vitor, foi a gota d'água para mim.

Uma enxurrada de comentários me chamando de vagabunda e de puta interesseira detonaram minha saúde mental. Algumas páginas de fofoca, tanto espanholas quanto brasileiras, me acusaram de estar tentando subir a minha carreira às custas da fama do Pedri e que no máximo eu estaria com ele por status, dinheiro e fama, apenas uma namorada troféu.

Eles conseguiram acabar com toda a minha autoconfiança. Desmereceram meu trabalho, me expuseram, me diminuíram como mulher e como latina americana, insultaram as minhas raízes nordestinas e a pior de todas para mim, atacaram minha família, o meu tio.

Os comentários horríveis que eu li em que algumas pessoas falaram que se o tio Marcelo está naquela situação é porque deve estar pagando pelos pecados da sobrinha, vulgo eu, ou que eu não me importava nenhum um pouco com ele por ter me formado e nunca ter voltado para o Brasil para cuidar dele pessoalmente.

Deus, eu me senti tão culpada. É como se todo o meu passado viesse à tona outra vez, e dessa vez com ainda mais espectadores.

Como o grande homem que sempre foi, meu tio deixou uma nota de esclarecimento em suas redes sociais desmentindo muitas das coisas que haviam me acusado. E até disse que se não parassem com os ataques, ele iria processar cada uma das pessoas. Acho que foi o único sorriso que dei durante a semana. Depois do acidente, tio Marcelo não quis voltar a exercer seu diploma de advogado, mas vê-lo deixar seu maior trauma de lado para me defender me deixou muito grata e de certa forma feliz. Ele é tudo o que eu tenho nessa vida.

A equipe do Barcelona não publicou nada.
Pedro não se posicionou.
E eu, bem, continuo sendo eu. Com o único detalhe de que agora o mundo inteiro sabe quem eu sou.

Nada que não possa ficar pior.

Acho que nunca vou me acostumar totalmente com a ideia de ter uma franja que fica um pouco acima do meu queixo.

Angel não estava brincando quando disse que me faria ter um glow up. Ela fez um novo corte em meu cabelo e o deixou liso temporariamente. Confesso que quase desisti quando vi a quantidade de cabelo que ela havia cortado, mas quando vi o meu próprio reflexo, simplesmente adorei o resultado.

Nós duas nos sentamos no meio da sala enquanto esperamos a receita ficar pronta.

— Ei, você já olhou seu celular hoje?

— Eu não toquei nele essa semana. — Zico deitou-se entre minhas pernas e ficou de barriga para cima para eu o acariciar.

— Deveria dar uma olhada nas suas redes sociais.

— E ver a quantidade de pessoas que estão me xingando? Não, prefiro ficar sem saber. — Angel revirou os olhos e me entregou o seu próprio celular.

Olhei confusa para ela que insistiu que eu olhasse para o aparelho.

Assim que fixei meus olhos no mesmo, senti como se meus globos oculares fossem sair.

— O que é isso? De onde veio tanta gente?

— Ué, as pessoas querem seguir uma mulher competente e de quebra bonita. Não acha? — Ainda em choque, olhei para o número de seguidores em meu Instagram. 2 milhões de seguidores.

2 milhões de pessoas me seguem por algum motivo que nem eu saberia explicar.

— Meu Deus...

— Isso porque você ainda não viu o Twitter. Fizeram várias páginas de fã clube pra você, as pessoas lá estão te defendendo com unhas e dentes. — Angela pegou o celular outra vez e migrou de uma rede social para a outra. — Olha, esse aqui é dedicado a sua vida acadêmica e esse faz uns edits maravilhosos.

Peguei o celular outra vez e cliquei na página. Logo de cara vi inúmeras postagens com fotos minhas e vídeos também, e para minha maior surpresa, os comentários.

Minha espinha chegou a gelar quando os abri e vi coisas totalmente diferentes das que havia lido na última semana.

"Imagina xingar uma mulher dessas e nem poder chamar de feia? Ou sequer de burra? Senhor, quero ser igual a ela quando crescer." 

" Juro, deve ser triste para as crianças que acham que vão ter uma chance com o Pedri chamando ela de burra sem saber que a mamis é graduada em fisioterapia com 22 anos, já tem pós e está iniciando o doutorado. Sinto pena, sabe."

"Sério gente, olhem pra beleza dela!! Ela parece aquelas mulheres de IA. E o melhor, é latina! É do Brasil!"

"Gente, não sei quem é mais sortudo, o Pedri por beijar ela ou ela por sentar nele!"

"Jesus amado, imagina ser rotulada como "namorada troféu" do González e ter essa porrada de inteligência a ponto de ser fisioterapeuta chefe com apenas 22 anos! Ela sabe que venceu família."

"Caralho, com todo respeito ao Pedri, mas que mulher gostosa!"

"Ela é daquele tipo de mulher que nunca precisaria de macho pra nada, mas é só estalar os dedos que eles caem aos pés dela. A maior que temos!"

"Pensem comigo, imagina ser ex de um jogador que tem fama de ser abusivo, conseguir sair desse relacionamento e se formar em outro país. De quebra conhece um homem mil vezes melhor, consegue um emprego foda e ainda é bonita? Essa é com certeza uma das preferidas de Deus."

Devolvi o celular para Angel que me olhava enquanto eu associava tudo o que havia visto e lido.

As pessoas estão me elogiando? Elogiando meu trabalho e admiradas com as minhas conquistas?

Senhor, isso é muito estranho.

— Viu só? Você virou uma It girl na internet! As pessoas te adoram.

— Deus, isso não faz sentido nenhum! Elas estavam me chamando de puta interesseira, como agora estão dizendo tudo isso?

— Clara, nem todas as pessoas da internet são ruins. Essas aqui perceberam que você é uma mulher cheia de qualidades e quiseram ser gentis e legais, diferente daquele bando de idiotas. — Olhei para o meu gato que já estava dormindo outra vez. Acho que ela tem um bom ponto. — Sabe o que eu faria no seu lugar? Colocaria uma roupa de gostosa e tiraria um fotão naquele espelho. Depois postaria e deixaria a internet ir à loucura.

Um sorrisinho escapou de meus lábios e neguei, não tenho mentalidade suficiente pra isso.

— Ainda não tive a conversa com o Laporta e o Matteo, não quero causar mais alvoroço.

— Tá, mas você precisa atualizar aquele feed. A última foto que você postou foi naquela sua viagem pra Portugal.

— Em outro momento, talvez.

— Chata. Não sei o porquê de Deus ter te dado tanta beleza e você ser pior que conta desativada.

— Só não gosto de me expor. Aliás, como eles conseguem tantas fotos e vídeos meus para aquela quantidade de edits?

— Sei lá, acho que eles fuçam todas as redes sociais existentes e suas contas antigas do Facebook. Sem contar que você sempre esteve no feed principal da UB, nem é tão difícil te achar assim.

— Faz sentido.

— Eu vou olhar como está a comida, volto em um instante. — Meus olhos se dirigiram até o meu celular repousado na mesa de centro. Talvez ela tenha razão, nem todos são ruins, e querendo ou não terei que ao menos tentar retomar minha rotina. Ou parte dela.

Reiniciei o aparelho que havia mantido desligado nos últimos dias, umas mil notificações começaram a aparecer na minha tela. Deus, espero que não trave.

Após uns minutos aguardando, finalmente consegui acessar os meus aplicativos. O primeiro que entrei foi o whatsapp, pela barra de notificações pude ver que haviam mensagens ali.

De cara, a mensagem do Matteo já chamou minha atenção em cheio. Cerca de 5 mensagens e umas 10 ligações perdidas do meu chefe.

Abri o contato do mesmo começando a ler as mensagens.

"Clara, precisamos conversar com urgência. Por favor, assim que ver essa mensagem, me ligue."

2 ligações não atendidas.

"Eu sei que toda essa exposição deve ter deixado você com medo e eu entendo seus motivos, mas precisamos resolver assuntos pendentes."

1 ligação não atendida.

"Clara, estou ficando preocupado com você. Não responde as mensagens e nem atende as ligações de ninguém. O que está acontecendo?"

2 ligações não atendidas.

"Por Deus, já liguei para todos os seus amigos e ninguém sabe de você. O que aconteceu?"

2 ligações não atendidas.

"Eu realmente espero que você esteja bem e esteja apenas quieta para conseguir assimilar tudo isso. Há uma semana que você não aparece aqui, temos uma viagem com o time para Paris e eu gostaria que você assumisse o cargo de chefe em tal.

Por favor, responda com urgência e principalmente, me diga se está bem."

3 ligações não atendidas.

— Ah meu Deus! — Levantei em um salto ouvindo o resmungo do meu gato que se espreguiçou e saiu do cômodo.

Matteo só pode ser louco.

Como que em meio a tantas polêmicas ele ainda quer que eu viaje com o time? E pior, como encarregada dos outros médicos?

Tudo bem, isso significa que eu não serei demitida, certo?

"Olá Matteo, desculpe ignorá-lo por tanto tempo, essa última semana foi muito complicada para mim e sequer pensei em tocar no meu celular.

Acho que devemos conversar. Afinal de contas, nada foi realmente resolvido, apenas esquecido temporariamente."

Enviei uma resposta e bati a ponta dos meus dedos em ansiedade por minha bochecha.

— O que foi, por que está com essa cara de assustada?

— Matteo me mandou mensagem durante toda a semana.

— E isso te assusta? Eu acho que te liguei umas 50 vezes por dia e nem estou exagerando. Tive vontade de esmurrar o coitado do porteiro quando ele me barrou a semana inteira.

— Por falar nisso, como conseguiu subir se eu não permiti a sua subida?

— Eu fingi que você havia me ligado passando mal e depois havia desmaiado no telefone. O coitado do porteiro ficou com tanto medo que você estivesse morta aqui dentro que não pensou em me barrar. — Olhei incrédula para a loira que apenas deu de ombros. Esse rostinho de anjo dela é o maior golpe que ela poderia usar, essa safada sabe persuadir e manipular qualquer pessoa que quiser. Por isso eu a amo tanto.

— Tá, o que me deixou assim foi o fato dele ter dito que quer que eu viaje com o time para Paris na próxima semana. E pior, que eu vá como chefe.

— Isso é ótimo! Quer dizer que eles não irão te demitir! — Disse com um sorriso no rosto mas que aos poucos foi sumindo. — Por que não está sorrindo também?

— Angel, eu não tenho certeza se irei continuar com o Barcelona.

— O que isso quer dizer? Você não está pensando em se mudar para o outro lado do mundo, está? — Permaneci em silêncio enquanto ela negava. — Não, você não pode largar tudo que construiu aqui! Não assim, não dá noite pro dia. E eu... como eu vou viver sem você sua vaca?

— Eu ainda não decidi nada, é só um pensamento. Tudo vai depender do que vai acontecer quando eu conversar com o Laporta.

— Eles não querem demitir você, isso já está mais do que claro.

Antes que eu pudesse responder a mulher à minha frente, meu celular notificou uma nova mensagem.

Assim que desbloqueei a tela o nome de Matteo apareceu e em seguida sua mensagem.

"Fico feliz em saber que está bem. Se possível, esteja aqui em no mínimo 1 hora. Estaremos aguardando você."

Desde o dia em que sai carregada depois de ter bebido até o álcool gel em uma festa universitária no fim de semestre da faculdade, as pessoas não me olhavam desse jeito.

Parecia até que uma segunda cabeça tinha crescido no meu ombro de uma hora pra outra.

A minha chegada ao CT do clube catalão foi, pela primeira vez em quase 1 ano, muito complicada.

Para evitar o atraso que um Uber causaria, Angel decidiu que ela mesma me traria com seu carro. O que foi um grande erro devido aos vidros transparentes.

Quando chegamos na entrada que dá acesso a garagem, uma quantidade absurda de fãs cercou completamente o carro em que estávamos. Tenho absoluta certeza de que a minha amiga só não passou por cima deles por pura moral, ética e medo de ser presa. Porque a vontade foi o que mais sobrou.

Depois de uns longos minutos em que ficamos presas naquele imprevisto, finalmente os seguranças do local conseguiram abrir passagem para nós duas.

No momento, eu me encontro sentada na sala do Laporta aguardando o meu chefe e o presidente para essa conversa. A que eu evitei por dias.

— Desculpe pelo atraso, tivemos um pequeno imprevisto. — A voz de Matteo fez com que eu tentasse melhorar ainda mais a minha postura, se é que era possível.

— Tudo bem, senhorita Guimarães? Não a vejo por aqui há pouco mais de uma semana. — Senti minhas bochechas arderem. Maldita rosácea.

— Estou sim...

— Acho que não preciso fazer explicações ou quaisquer outras apresentações sobre o que iremos tratar aqui? Estou certo? — Concordo minimamente. — Ótimo.

— Clara, quando você assinou o contrato, sabia da cláusula que a proibia de ter qualquer tipo de relação com os atletas, certo?

— Sim.

— Então por favor, nos diga por quais motivos você e o Pedri quebraram esse protocolo?

— Laporta, eu sinto muito por toda essa situação e peço perdão por ter sido totalmente irresponsável e nem um pouco profissional. Quando eu e ele nos aproximamos eu nunca imaginei que algo assim iria acontecer, quando me dei conta já havíamos nos envolvido demais.

— Mais de 1 ano juntos? — Concordei. — Você sabe que ao quebrar o contrato nos dá total liberdade de obrigá-la a se decidir entre o relacionamento e o trabalho, não sabe?

— Sei...

— Clara, quero que saiba que nós estávamos cientes de toda a situação desde o início. — A confusão estampada em meu rosto fez com que Matteo respirasse fundo. — O que eu quero te dizer é que, tanto eu quanto o Laporta já sabíamos do seu relacionamento com o Pedri desde quando vazaram as fotos de vocês em Portugal.

— Eu posso explicar tudo aquilo... — Meu corpo parecia estar sendo atropelado por um estádio cheio de torcedores. Eu sentia como se cada uma daquelas pessoas estivessem pisando em meu peito e aos poucos ferindo minhas costelas e perfurando meu interior. Fica quase impossível respirar.

— Não precisa, nós sabemos e decidimos dar um voto de confiança para vocês dois. — Matteo prosseguiu. — Vocês souberam separar perfeitamente o relacionamento do profissional e isso é para poucos. O que eu quero dizer é que, você não precisa se preocupar entre ter que fazer uma escolha. Continuará trabalhando conosco e poderá seguir com o relacionamento. Mas é claro que sempre colocando o seu profissionalismo à frente.

— Eu gostaria de pedir perdão a vocês dois. — Disse um pouco baixo tentando acalmar todas as emoções que estou sentindo no momento. — Nunca foi minha intenção quebrar as regras e prejudicar o clube, mas eu acho que o melhor para todos neste momento é que eu me afaste.

— Se não é por conta dos termos do contrato, eu não entendo o seu pedido, senhorita Guimarães.

— Laporta, eu agradeço de coração tudo o que fizeram por mim. Nunca irei esquecer o quão incrível foi trabalhar com o Barcelona, mas eu não posso continuar.

— Calma, respire fundo e pense com tranquilidade. Você só está confusa neste momento, essa não é a melhor decisão que poderia tomar no momento.

— Perdão, mas é exatamente por isso que eu desejo sair neste momento. — Minha voz, que antes era fraca, agora saiu em um tom mais alto e firme. Eu estava começando a me irritar. — Não se trata de relacionamento nenhum! Se trata de eu simplesmente nunca ser ouvida por ninguém. Os jogadores estão se lesionando em massa e por mais que eu tente reverter a situação nunca me dão ouvidos em nenhuma das reuniões. Sempre que eu tento falar algo ou sugerir qualquer mínima coisa que seja, só consigo validar parte das minhas palavras se um homem concordar e as repetir. — Os dois homens na minha frente apenas me olhavam atentamente sem dizer uma mínima palavra se quer. — Droga, até este momento eu sou, ou era, a responsável por planejar cada tratamento e tentar reverter as situações de lesões com o time, mas do que adiantava minhas noites em claro estudando e encontrando as mínimas maneiras que fossem possíveis para ajudar se ninguém nunca me escuta?

Ironicamente ou não, neste momento, finalmente estou conseguindo pôr para fora tudo o que senti em relação ao machismo no meu trabalho nos últimos meses. Estou sendo escutada e os dois superiores estão concentrados e imersos em minhas palavras.

— Antes de vir estagiar com o Barcelona, uma semana antes eu fiz uma prova para a CBF. Eles não tinham entregado o resultado até a última semana, e para minha surpresa eu passei. — Os dois se e entreolharam.

— Então irá trabalhar com a federação brasileira?

— Na verdade eu não sei, é uma oportunidade muito boa e visando que eu não ache que permanecer com o Barcelona seja o melhor para nenhum dos dois, aceitar me parece um bom negócio. — Matteo olhou para Laporta. O homem mais velho se levantou e começou a caminhar pela sala.

— Clara, eu quero que saiba que sinto muito em saber que uma profissional com o seu nível, não recebe a relevância que deveria. É triste para mim saber que os demais médicos não quiseram escutá-la. Também acredito que esse fato se deu por não saberem que o seu cargo era tão alto, a senhorita foi contra a exposição de tal.

Meus dados batiam em sequência contra minha coxa, essa conversa está me deixando nervosa demais.

— Imagino que sim, mas eu não me sinto tão à vontade como antes para permanecer. Ninguém me olharia com respeito depois de toda essa situação e eu e o Pedro não temos nada sério, o que deve agravar um pouco mais. — Dizer essas palavras tinha o mesmo efeito de receber um soco no estômago.

— Então a senhorita está pedindo demissão? — Laporta me encarou.

— Bem, na verdade, estou.

"Olá, quero dizer que é uma grande surpresa para mim receber este e-mail. Nunca esperaria que, após 1 ano fosse aprovada.

Como devem saber, atualmente trabalho com o clube catalão, Barcelona. De acordo com os detalhes que recebi via e-mail, li uma cláusula onde vocês se propõem a um teste de adaptação de 4 meses. Em acordo com os meus superiores, farei o teste de adaptação, caso tudo ocorra dentro dos conformes, seguirei com a federação brasileira.

Desde já, agradeço pela oportunidade.

Clara Guimarães da Silva".

Meu cérebro se dividia entre mandar comandos básicos para o meu corpo e tentar controlar o choro abafado pelo ombro dos meus amigos.

Despedidas em aeroportos sempre são tristes.

— Eu não posso acreditar que você está indo embora de verdade. — Lucca murmurou. — Seu lugar é aqui, em Barcelona. Você sabe muito bem disso.

— São apenas 4 meses...

— E se você realmente ficar? Como vamos continuar sendo melhores amigas com um oceano de distância?

— Não seja dramática Angel, você sempre vai ser a minha melhor amiga independente se estivermos em galáxias diferentes. Você é a minha irmã mais velha, lembra?

— E por isso eu me preocupo com você. Mas espero muito que quando for o momento, você faça a escolha certa.

— Eu farei, não se preocupe. Agora me dêem um abraço, vou morrer de saudades de vocês. — Adrián, Lucca e Angel me apertaram contra si e nossos soluços foram abafados outra vez. — Eu amo todos vocês.

— Nós também te amamos, ligue todos os dias. Quero saber como são os homens gatíssimos do Brasil. — Ri com o comentário de Angela.

— Eu vou sim, não se preocupe. — Olhei brevemente para as pessoas que estavam adentrando o local à procura de Ferran e Gavi, ambos disseram que viriam se despedir, mas eu não duvido muito que eles tenham acabado presos em algum trânsito de Barcelona.

Ouvi o meu voo ser chamado mais uma vez e mordi o lábio inferior, acho que não vou conseguir me despedir dos dois no fim das contas.

— Não se preocupe com os dois, a gente explica que seu voo foi chamado antes deles conseguirem chegar. — Sorri para o Adrián que me apertou contra si. — Se cuida Clara.

— Igualmente senhor Adrián. Todos vocês, na verdade.

Dei um último abraço em ambos e segurei na alça da minha mala.

A poucos meses atrás, se alguém tivesse me dito que em pleno fim de abril eu estaria embarcando em um voo para o Brasil, tenho certeza que eu iria rir.

Mas por pura ironia, entrarei em um avião e em mais ou menos 13 horas estarei no meu país natal.

Respirei fundo e olhei uma outra vez para todas aquelas pessoas que se despediram e se encontravam naquele portão, umas até fazendo um tumulto bem grande com os seguranças tendo que intervir.

Uma lágrima escorreu pela minha bochecha e o aperto no meu peito retornou, eu estou deixando tanta coisa para trás, tantas pessoas que eu amo. Senhor, espero ter forças suficientes para esse novo recomeço.

Porque Deus é testemunha do quanto eu quis lutar, do quanto eu quis ficar.

*Capítulo não revisado

Olha, eu nem demorei tanto dessa vez. 🙂
Juro que tô com vontade de tirar essa história do ar, não estou totalmente satisfeita com ela e quero melhorar algumas coisas. Mas também sei que tem uns leitores que estão aqui desde que tudo era só mato e merecem um final para a história da Clara e do Pedri, por esse motivo irei dar o meu melhor para terminar a história e só depois irei reescrever.

Peço a humilde paciência de todos vocês comigo porque eu me cobro bastante e quero dar o meu melhor para vocês, sinceramente ninguém merece uma história escrita de qualquer jeito e sem um final, não é mesmo?

Gente, eu juro que tô possessa de ódio do Kross por ter machucado o Pedri no jogo da Espanha contra a Alemanha. Eu só não chorei porque minha mãe tava assistindo comigo e tava me xingando pra eu não chorar, mas fiquei acabada quando vi o Pepi sair de campo daquele jeito.
Enfim, espero que ele melhore logo e volte a fazer a magia que só ele consegue em campo.

Espero que gostem 💙

Até o próximo capítulo!

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Beijos de luz,Kalisa.

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