Cap. 024
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I Can't Lose You, parte II
A gravidade de toda a situação que eu acabara de presenciar neste momento, não é de longe o que eu havia sonhado em meus piores pesadelos de criança. A forma como a minha respiração estava totalmente ofegante e minhas mãos trêmulas me obrigaram a me sentar sobre o chão de uma rua qualquer em tentativas bobas de conseguir controlar a minha crise de pânico. Isso não pode estar acontecendo.
Senti meus pulmões falharem e aos poucos, conseguir respirar era quase impossível. O escudo do time catalão, bordado em meu uniforme, parecia ganhar vida própria ao subir e descer com toda a agitação do meu peito.
Lágrimas pesadas e sem qualquer tipo de controle deslizavam sobre o meu rosto à medida que eu repetia mentalmente que tudo ficaria bem.
Eu mesma não acredito nestas palavras.
- Ninguém vai te machucar, Clara. Tudo o que aconteceu é passado, você seguiu em frente e agora chegou o momento de provar para si mesma que deu tudo certo para você. - Sussurrei para mim mesma.
Mas, aparentemente, meu corpo se recusa a aceitar os comandos de minha mente. A falta de ar não passou. Eu sinto que posso morrer sem respirar a qualquer instante.
"Escute rapaz, ela vai destruir você igual fez com os outros. Ela vai fazer você afundar igual fez comigo. Igual ela faz com todos os homens que entram na vida dela. Essa vagabunda é o maldito karma de tudo de ruim que já fizemos em uma vida."
Aquelas palavras pareciam ecoar dentro da minha cabeça.
- Você é inútil! Não foi capaz de fazer seu pai sentir orgulho de você em nada, você é uma fraude, uma grande fracassada! - Comecei a dar vários socos com meu pulso contra o chão e alguns gritos de desespero escaparam da minha garganta. - Inútil! Inútil!
- Ei, ei! - Mãos fortes e bem maiores que a minha, seguraram meus braços com força, fazendo com que eu parasse de descontar minhas frustrações no chão inocente. - Por favor, respire fundo e se acalme.
Minha mente está em uma total confusão, eu mal compreendi direito que as palavras da pessoa que havia me segurado eram em espanhol.
- Eu... eu não consigo. - Tentei empurrar suas mãos para longe mas de relance, ele me puxou para trás e colocou minha cabeça próxima ao seu peito, me dando a chance de ouvir seu coração acelerado.
- Consegue sim. Eu vou respirar com você, vou contar até três e a gente vai respirar bem fundo. - A calma que Pedri transparece em seu tom de voz não condiz aos batimentos cardíacos totalmente desregulados de seu coração.- Um... dois... três - respirei o mais fundo que consegui e soltei o ar devagar. Fizemos isso por alguns minutos em que permanecemos em total silêncio. - Se sente melhor? Consegue respirar?
Concordei minimamente.
- Eu... você me deu um baita susto quando saiu daquele jeito da sala do Laporta. O que aconteceu lá dentro? Até onde eu sei, você só iria conhecer a nova contratação do time e avaliar o estado físico dele. Alguém fez algo contra você?
- Pedri... o novo jogador é o Vitor. - Seus olhos semicerrados entregavam a confusão que sua mente acabou de formar. Ele ainda não entendeu.
- Vitor... caralho, não é ele. Não quem eu estou pensando. - González se levantou tão rápido que não sei como sua pressão não caiu. Ele estava com raiva. Muita raiva.
- Eu sei, parece muita coincidência mas não é! Ele está na sala do Laporta acertando os últimos detalhes do contrato. Ele será anunciado ainda esta semana como o novo reforço do FC Barcelona. - Deixei que meus ombros caíssem em frustração e uma nova onda de lágrimas parecia se formar de acordo com o nó em minha garganta.
- Isso não pode estar acontecendo, não tudo isso de uma vez só. - Suas mãos puxaram seus fios entre os dedos e sua respiração pesou um pouco. - Tudo bem, primeiro vamos cuidar da sua mão. Depois a gente resolve isso. - O espanhol me ajudou a levantar e em alguns minutos já estávamos na enfermaria.
Eu sequer havia percebido que minha mão estava cortada, só enxerguei realmente quando senti o sangue escorrer.
Meu corpo inteiro parecia ter sido massacrado por um daqueles lutadores de MMA, eu sentia cada dobrinha da minha estrutura óssea doer fisicamente.
- Pedro - Chamei por seu nome. - Não é culpa sua.
Seus olhos estavam marcados com olheiras profundas, a última semana não tem sido nem um pouco fácil para ele, não depois de tudo o que aconteceu.
Bem, talvez as coisas pareçam um pouco confusas. Porém, não são, tão, como posso dizer, complexas quanto parecem.
É bem simples se forem analisadas por outras pessoas. Situações mal resolvidas em nossos passados estão em nosso presente para que possamos enfim encará-las.
- Eu sei, mas eu... não sei, talvez eu pudesse ter feito um pouco mais. - Toquei sua mão suavemente ganhando sua atenção.
- Não tinha como você saber que ela estava doente. Além de que, esse foi um dos últimos pedidos dela. Ele não poderia negar isso. - Sua cabeça balançou minimamente em concordância com as minhas palavras.
- Clara, o que deu em você para sair correndo daquela maneira? Laporta está te esperando na sala dele. Quer ter uma conversa... - A voz grave do Matteo ecoou pelas paredes da enfermaria, fazendo assim com que Pedri se afastasse um pouco de mim, mas não fugindo dos olhos do homem que acabara de adentrar o local. - Tudo bem por aqui? O que aconteceu com a sua mão?
- Eu me machuquei, mas já está tudo bem. Pedri me ajudou com o curativo.
- Isso é ótimo, mas ninguém entendeu o porquê de você ter saído daquela maneira do escritório do presidente. Alguém disse ou fez algo contra você? - Olhei para o homem à minha frente e tentei encontrar as palavras certas para lhe explicar o que de verdade estava acontecendo.
Mas elas nunca vieram.
- Matteo, eu só... tive uma semana ruim. Acabei deixando isso me afetar muito mais do que deveria. Está tudo bem agora. Vou explicar tudo ao Laporta. - Pedri me olhou sem entender e o meu chefe suspirou.
- Tem certeza que está tudo bem? Você não costuma deixar seu lado pessoal atrapalhar seu profissional, essa é uma das coisas que mais admiro em você.
- Tenho certeza que sim. E o Vitor, ele está em ótima forma. Mas eu quero pedir uma coisa, se for possível.
- Pode falar, verei se está ao meu alcance.
- Você poderia não me envolver em nada, pelo menos não diretamente, que envolva ele?
- Clara, não estou te entendendo. Você é a nossa melhor fisioterapeuta, todos os jogadores do time principal e respectivamente os reservas passam por suas avaliações. O próprio Gavi já evoluiu muito bem no tratamento graças a você.
- Eu agradeço os elogios e toda a confiança, mas eu realmente não consigo...
- Tudo bem, vamos conversar com o Laporta. Lá você explica tudo para nós dois. - Levantei da maca onde estava sentada e olhei para Pedri, que estava o tempo todo próximo.
Assim que adentramos a sala do homem mais velho, eu enchi os pulmões com ar, não sei exatamente qual será o rumo dessa história.
- Senhorita Guimarães, sente-se. - Fiz o que ele disse. - Então, acho que precisamos de algumas explicações.
- Laporta, eu sinto muito por toda essa situação. Eu não tive a intenção, é só que... essa semana tem sido um pouco complicada e acho que acabei deixando isso me afetar. - Meu olhar totalmente focado nas gases em minha mão eram a prova mais viva de que estou mentindo.
- Perdoe-me se irei parecer grosso ou indelicado, mas sua vida pessoal não pode respingar no seu lado profissional. - Senti aquelas palavras me atingindo tanto quanto um murro.
- Eu sei, e eu peço mil perdões por tudo isso. Eu já expliquei ao meu chefe, já concluí todo o check-up do novo atleta.
- E também me pediu para não acompanhar ele diretamente. - Minhas bochechas arderam imediatamente.
- Clara, você é uma profissional excelente. A grande recuperação dos jogadores se dá graças ao seu trabalho e esforço, não compreendo sua postura em relação ao nosso novo atleta.
- Eu não posso, achei que poderia, mas não. Posso ajudar indiretamente com o que ele precisar, só que não me forcem a ter que estar no mesmo ambiente e ter que falar diretamente com ele. - Ambos os homens se entre olharam.
- Tem algo que precisamos saber?
Olhei para o rosto de ambos. Primeiro Matteo e depois Laporta.
- Vitor e eu somos ex namorados. - Minha voz saiu um pouco mais fraca do que eu gostaria.
- Deus, isso explica sua reação ao ficar perto dele. - Laporta concluí. - Ouça, mesmo que a relação de vocês tenha chegado ao fim, não quer dizer que precise ficar ressentida.
- Não, na verdade eu não sou ressentida. Apenas não aprendi a lidar com a presença dele depois de cinco anos sem vê-lo após o nosso término.
- Acho que esse momento chegou, Guimarães.
- Me desculpem, eu realmente não posso. - Outra vez eu tentei, mas minha respiração já estava dando indícios de que teria outra crise se eles continuassem a insistir.
- Nós entendemos que términos são difíceis e...
- Ele era abusivo comigo! - Minha voz ecoou em claro e bom tom. Ambos os homens se calaram e olharam surpresos para mim. - Eu não... eu... nós dois terminamos quando eu tinha 17 anos, na semana em que viajei para Barcelona. Mas bem, antes disso o nosso relacionamento já era desequilibrado. Eu só não quero estar perto de um homem que foi capaz de me fazer tanto mal. - Respirei fundo coçando meus olhos para espantar as lágrimas. - Por favor, não me obriguem a trabalhar com ele desse jeito.
- Não precisa dizer mais nada. - Laporta parecia pensativo diante do que eu havia acabado de lhe dizer. - Você pode me dizer uma coisa? Se não for invadir muito a sua privacidade, é claro. - Concordei com a cabeça. - Ele cometeu abusos sexuais?
Abracei os meus próprios braços e abaixei a cabeça. Ele não chegou a abusar de mim, mas o ódio que ele tinha dentro de si no momento em que me espancou, me fez ter certeza de que, caso aquele amigo não tivesse chegado ali, ele teria seguido em frente com aquilo.
- Enquanto namorávamos não. Só no dia em que terminamos, ele ficou muito irritado e tenho certeza que só não aconteceu de fato porque um amigo dele chegou no momento.
- Isso é algo grave. Você nunca o denunciou? - Matteo questionou enquanto sentava ao meu lado.
- Não poderia, uma semana depois, eu estaria viajando para Barcelona para realizar meu sonho de me formar na UB. Um processo jurídico me faria perder a vaga.
- Deus, tudo bem. Não se preocupe em relação ao contato com ele. Não estará envolvida em nada que diga respeito a este atleta. - Laporta declarou.
- Não precisa de tudo isso, posso acompanhar algo caso precise e repassar para outro médico. - Tentei transparecer todo o meu lado profissional.
- Se não se sentir à vontade, pode me dizer imediatamente. - Matteo concluiu.
A verdade é que esse clube é como uma família para mim, ultimamente, Matteo e Laporta tem feito bem mais por mim do que o meu próprio pai nos últimos anos.
- Aliás, o que aconteceu com sua mão? Até onde me lembro não estava utilizando essa faixa.
- Eu acabei me machucando. Não foi nada grave, o curativo é apenas para não deixar o corte exposto. - O mais velho concordou. Não sei bem o que o Laporta pretendia fazer em relação ao Vitor, não é como se tudo o que ele tenha feito para mim pudesse fazer com que todos fechassem os olhos para aquelas atitudes, mas também é preciso separar isso de nossos trabalhos.
- Você já pode ir, Guimarães. Qualquer coisa eu peço para te chamarem. - Concordei e antes de me retirar de forma educada, agradeci a ambos por toda a compreensão e por não me obrigarem, mesmo eu sabendo que meu profissional deveria ignorar o fato do que aconteceu no passado.
O jaleco que costumo usar sobre o meu uniforme ainda está dentro da minha bolsa. Com todo o tumulto que a nova contratação acabou gerando, eu sequer tive tempo de ir no meu armário pegá-lo.
Os corredores do CT estavam calmos, a esse horário os jogadores estão no gramado para o treinamento com Xavi e grande parte dos médicos e massagistas aproveitam para colocar as fofocas em dia na área onde executamos os tratamentos de recuperação pós treino.
A sala vazia me deixou um pouco tranquila, sempre que tenho alguma crise, logo em seguida eu gosto de ficar um tempo sozinha para pensar e colocar cada coisa em seu devido lugar. Peguei uma xícara me servindo com um pouco de café enquanto vestia finalmente o jaleco com o meu primeiro nome e meu sobrenome, ambos bordados acima da logo da fisioterapia, com certeza essa foi minha maior conquista.
Lembro que da primeira vez que vesti o jaleco com o meu nome eu quase explodi de emoção, foi a primeira vez que o tio Marcelo voltou a falar depois de alguns meses do acidente. Ele só se comunicava em conversas mais longas inicialmente comigo, por isso eu ligava umas três vezes por dia.
Meu tio sempre foi uma pessoa muito forte, especialmente no momento que descobriu, deitado no leito de um hospital, que além de ter perdido os movimentos das pernas e dos braços, também teria que enterrar sua esposa e seu filho que sequer havia nascido. Não imagino o que deve ter se passado na mente dele.
Eu gostaria muito que ele encontrasse outra mulher e que construísse uma família novamente, meu tio tem apenas 38 anos e convenhamos que é um excelente partido. Mas pelas conversas que eu tive com ele, Marcelo não aceita ter perdido sua amada daquela forma, lembro da ligação em que ele me confessou que não acha que seria capaz de amar outra mulher novamente, sua esposa teria sido a única dessa vida e no que dependesse dele, assim seria até o fim de seus dias.
Posso dizer que ao ponto em que achei extremamente lindo, também achei muito triste, ele merece muito ser feliz outra vez.
- Você é difícil de encontrar, sabia? - Afastei os meus pensamentos ao ouvir uma voz masculina. Meu olhar se dirigiu até a porta e imediatamente me levantei da cadeira indo para trás da mesa. Vitor estava parado enquanto apoiava seu ombro na quina da porta.
- O... o que você está fazendo aqui?
- Preciso conversar com você, Clara. - Os braços cruzados do jogador me fizeram olhar diretamente para eles. Bem diferente do que eu me lembro, agora os braços dele estão cobertos por tatuagens.
- Nós não temos que conversar. Por favor, você pode ir embora? - Eu tentava não demonstrar todo o caos que estou sentindo dentro de mim.
- Eu sei que eu fui um grande idiota com você, antes da sua viagem. Nada justifica o mal que eu te fiz, não teve um dia sequer que eu não me arrependa por ter encostado em você daquele jeito. - As palavras proferidas em português me fizeram observá-lo mesmo que a contra gosto. - Fui um grande bacaca e filho da puta quando tive todas aquelas atitudes de um moleque com você enquanto estávamos em um relacionamento. Olha Clara, eu não espero que você me perdoe, mas eu preciso que você saiba o quão arrependido eu estou.
Meu cérebro parecia mover as engrenagens com dificuldade ao tentar assimilar tudo o que o homem à minha frente acabara de dizer. Isso é demais para mim.
- Vai embora. - Ele bufou enquanto eu mantive meu olhar fixado ao chão, não consigo olhar diretamente para ele.
- Eu entendo que tenha medo, que não queira absolutamente nada de mim, é o seu direito. Porém, eu só quero que o clima entre nós dois não fique tão pesado, vamos trabalhar juntos e não acho que seria muito bom.
Respirei fundo, ele está certo em dizer que esse clima não será favorável para o nosso ambiente de trabalho.
- Definitivamente não seria.
- Que bom que você compreende, escute, eu... - O jogador foi brutalmente interrompido quando um soco no rosto o pegou totalmente de surpresa.
Larguei a xícara de café imediatamente e ouvi a mesma se quebrar, isso não vai acabar bem.
- Fique longe dela! Não quero te ver perto da Clara seu... - Sua fala foi interrompida quando o brasileiro devolveu o murro que havia recebido a pouco.
- Pedri! - Praticamente gritei pelo seu nome enquanto o puxava para longe do Vitor que tentava se recuperar do soco.
- Porra, quem você pensa que é para me bater? - A confusão dos dois jogadores, começou a chamar a atenção dos outros funcionários e consequentemente de alguns atletas que desciam para o CT.
- Alguém que se preocupa e que só quer ver essa mulher bem. Diferente de você, eu suponho. - O olhar dos dois estavam fixos e a qualquer instante eu sentia que iriam me atropelar e se atracarem em uma nova briga.
- O que está dizendo? Por acaso você é o namorado dela?
- E se eu fosse, algum problema? - O brasileiro riu sarcasticamente.
- Seria, digamos, antiético e fora das condutas do trabalho. Ou agora estar relacionado com funcionários do clube é permitido? - Pedro ameaçou avançar contra Vitor outra vez, porém o meu corpo impedia sua passagem.
- Já chega! Vocês dois estão agindo como dois adolescentes idiotas. - O espanhol desviou seu olhar para mim e ergueu uma das sobrancelhas, de certo confuso por eu o repreender.
- Que droga. - Matteo se aproximou rapidamente do local onde estamos e puxou o Vitor para mais longe do Pedri. - Vocês são imbecis por acaso? O que deu na cabeça de vocês para brigarem?
Ambos apenas olharam para o outro sem dizer nada. Eu sei exatamente o motivo pelo qual Pedri fez isso, mas não creio que nem o Matteo e muito menos o Vitor saibam. Aliás, por qual motivo ele me defenderia se supostamente somos apenas amigos?
- Guimarães, leve o senhor González para a sala da esquerda. Eu mesmo cuido do senhor Pederson. - Assenti e segurei o braço de Pedro o puxando a contra gosto daquele local. Minha cabeça ainda não compreendeu totalmente o que acabou de acontecer e como vou precisar contornar essa situação.
O pequeno caminho que trilhamos até a sala que Matteo me pediu para trazer Pedri, foi feito em total silêncio. Eu sequer sei o que falar.
- Corazón...
- Não. O que você acabou de fazer? - Questionei cortando sua fala.
- Você está com raiva? Vai realmente defender ele? - Seu tom era carregado com certo medo.
- Não é isso, não estou defendendo ninguém. Mas a sua atitude não foi boa, não pode sair por aí distribuindo socos quando achar conveniente. Esse não é o Pedro que eu conheço.
Suas írises castanhas fixaram em meu rosto e um grande suspiro escapou de seus lábios. O espanhol colocou as mãos sobre a cabeça enquanto parecia pensar em algo.
- Eu só achei que...
- Deveria averiguar antes de tomar atitudes assim. Desde quando você é impulsivo desse jeito?
- Porra, Clara, você realmente vai brigar comigo por...
- Me defender? - Continuei sua fala. - Pedro, do que você estava me defendendo se nem ao menos em perigo eu estava?
- Aquele cara machucou você! Ele fez coisas que jamais deveria sequer sonhar em ter feito. Quando eu vi ele lá eu só quis afastá-lo.
- Ele me machucou, machucou muito. Mas tudo é passado. - Enquanto ele estava sentado sobre a maca, com a ajuda de algodão e soro fisiológico eu limpei o canto de sua boca, o local havia sido machucado minimamente. - Tudo o que ele falou foi "desculpas".
- E você o perdoou?
- Não deu tempo de dizer a ele, você chegou antes.
- Você iria perdoá-lo? Aquele filho da puta merecia estar preso e você vai perdoá-lo? - Pedri negou com a cabeça. - Inacreditável.
- González, você tinha todos os motivos para não perdoar Cecília depois de tudo o que ela fez e mesmo assim a perdoou. Entenda uma coisa, eu estou dizendo que perdôo o Vitor por tudo o que ele me fez passar, não significa que eu irei ser ou querer a amizade dele, mas eu preciso fazer isso pra finalmente poder deixar esse assunto no devido lugar dele, no passado.
- Você não pode usar minha situação com a Cecília como desculpa. - Seu tom soou um pouco baixo.
- Não posso? Então você quer me dizer que você pode perdoar sua ex que te machucou e te deixou em cacos mas eu não posso perdoar o meu ex que, coincidentemente, vai trabalhar no mesmo lugar que eu?
- Clara, existe uma diferença muito grande.
- Não, não existe.
- Cecília está morta! Ela morreu, droga. Você não pode comparar essas situações porque são diferentes e acabou. Ele não merece seu perdão e você não pode ser burra para cair no papinho dele duas vezes, já sabendo do que ele é capaz.
Foi a minha vez de olhá-lo surpresa e com um sorriso amargo nos lábios.
- Burra? Eu posso ser muitas coisas, mas eu te garanto que burra não é uma delas. - O encarei com desdém.
- Eu não quis dizer isso.
- Quis, você quis sim. Eu não sei do que você tem medo, Pedro, você nunca me contou o que é, mas eu posso te garantir que se não deixar essa droga pra lá você vai acabar perdendo tudo o que tem. E eu não estou falando de dinheiro. - Joguei o pedaço de algodão no lixo e retirei as luvas de minhas mãos.
- Onde você vai?
- Embora. Pra mim já deu por hoje. - Saí apressada da sala onde costumamos fazer atendimentos aos jogadores e segui apressadamente até a sala onde guardamos nossas coisas.
- Clara, tudo bem? - Senti meu corpo parar com seus movimentos bruscamente quando esbarrei contra o peitoral de Adrián.
- Adri, eu preciso sair daqui urgentemente. Não estou me sentindo bem, por favor avisa ao Matteo que eu precisei sair e vai na sala 3 da esquerda e cuida do Pedri por mim.
- Tudo bem, mas o que aconteceu? Seu rosto está vermelho... - As lágrimas já ameaçavam cair e minha respiração começava a desregular.
- Eu só preciso tomar um ar e ficar sozinha, depois eu te explico tudo. Mas por hora, me faça esse favor.
- Eu faço. Por favor, fica bem e me mande notícias. - Assenti minimamente enquanto pegava minhas coisas e a chave do carro que tinha alugado nos últimos meses, me foi muito útil. Sinceramente não sei o porquê de eu ainda não ter comprado um carro para mim.
Sei que é bem antiético sair assim, no meio do meu expediente de trabalho e sem ao menos explicar totalmente isso, mas eu também não posso ignorar as súplicas da minha mente, eu preciso parar e refletir sobre tudo o que aconteceu nas últimas horas e nos últimos dias com calma.
O barulho da maçaneta mexendo fez com que eu desviasse totalmente a minha atenção do computador à minha frente. Não lembro de ter convidado ninguém para vir até aqui.
As madeixas loiras da francesa me fizeram arquear as minhas sobrancelhas, não me espanta ela entrar aqui já que temos a chave da casa uma da outra. Mas o que realmente me surpreende é o fato de que ela está aqui, quando na verdade deveria estar em uma daquelas reuniões de moda com gente importante.
- Cherry, preciso de você com urgência! - Coloquei o notebook sobre a pequena mesa de centro e continuei a observando.
- O que aconteceu? Você não deveria estar em uma reunião?
- Já acabou, e adivinha? Eu consegui um trabalho! - Disse com empolgação e eu forcei um sorriso. Não é como se eu não estivesse feliz por ela, eu estou. Mas minha cabeça está uma grande bagunça, mais bagunçada até que o meu apartamento, tem apenas uma semana que eu me mudei para o apartamento que Pedri me deu de presente. Fiz uma pequena reforma em alguns cômodos e isso demorou um pouquinho mais do que eu esperava.
- Angel, isso é incrível! Você sempre sonhou em trabalhar com a Gallery.
- Eu sei, eles disseram que só 5 pessoas serão selecionadas para trabalharem de fato com a equipe e deram um trabalho para todos que farão esse teste.
- E onde eu entro em tudo isso? - Questionei enquanto analisava alguns e-mails.
- Você vai ser minha modelo. - Arregalei os olhos e antes que pudesse negar ela me interrompeu. - Nem adianta negar, você me deve essa.
Tombei minha cabeça para trás enquanto murmurava alguns palavrões.
- Não me xingue em português sua vaca!
- Que culpa eu tenho de você ser uma brasileira postiça que não entende o português?
- Minha bisavô era brasileira Clara, não é como se eu fosse obrigada, certo?
- Seria quando você foi até o inferno para conseguir essa nacionalidade.
- Acasos da vida. Enfim, eles querem que façamos um projeto inteiro do zero de vestidos de noiva, só que é óbvio que não de uma maneira convencional, querem algo moderno mas que ao mesmo tempo não perca a essência do tradicional. - Explicou enquanto gesticulava com as mãos. - E claro, você já me conhece perfeitamente e deve imaginar que eu já tenho várias ideias em mente, não é?
- Ainda não entendi, onde eu me encaixo nessa sua loucura?
- Você é a modelo perfeita, senhorita Guimarães! Esse corpinho latino e seu rostinho angelical te fazem a noiva perfeita!
- Não sei Angel, você tem suas amigas francesas que estão acostumadas com tudo isso, eu sou só uma garota comum que quase enlouquece diariamente tentando acompanhar as atualizações da medicina.
- Odeio essa sua vitimização barata de colocar toda a culpa na medicina. - Ri e ela me mostrou o dedo médio. - Por favor Clara, eu preciso que seja você!
- Angela, eles irão avaliar o vestido ou eu?
- As duas coisas? Absolutamente tudo conta, e eu escolhi você a dedo para o vestido que eu pensei, só preciso desenhar e ir atrás de cada material, daí só tiro as suas medidas e o resto é totalmente comigo. E então, você topa?
- E eu tenho escolha? - A francesa soltou um gritinho eufórico e eu revirei os olhos.
- Te amo Clara!
- Você me chamou de vaca não tem nem 5 minutos, sua francesa de araque!
- Meu jeito de demonstrar carinho! - Adoro essa mulher. - Agora me conta, o que aconteceu com você?
- O que?
- Liguei para o Pedri e ele não atendeu, tudo o que me restou foi ligar para o traste do Ferran e perguntar onde você estava. Tudo o que eu recebi dele foi uma explicação vaga de murros e você indo embora no meio do seu expediente.
- Ferran é um grande linguarudo!
- Um ótimo informante eu diria. E aí, vai me dizer ou não o que aconteceu?
- Vitor foi contratado pelo Barcelona, eu tive uma crise de pânico quando vi ele, Pedri e ele brigaram e depois disso nós dois brigamos. Por isso eu vim para casa, não consegui ficar lá por muito tempo.
- E a sua mão? Digo, ela está enfaixada.
- Machuquei ela durante a crise, mas já está tudo bem. -. A loira sentou-se ao meu lado e segurou minhas mãos com cuidado.
- Quer conversar?
- Não sei Angel, eu tô cansada de tudo isso. Às vezes eu só queria ter a opção de voltar no tempo e apagar um monte de coisas que eu fiz.
- Clara, se você fizesse isso, deixaria de ser a mulher incrível que você é hoje. Eu entendo que nem todas as experiências são boas, mas é essa a graça da coisa, eu acho, se tudo fosse perfeito e do jeito que a gente quisesse as pessoas seriam iguais monótonas e sem graça.
- Acho que eu queria ser monótona e sem graça.
- A cale essa boca! Um dia ruim não quer dizer uma má vida. Olhe o tanto de coisas boas que já te aconteceram, se apegar ao que te fez mal não vai mudar nada do que aconteceu, vai apenas piorar o que você sente.
- Eu sei, você tem razão. - Murmurei mais para mim do que para ela. - Sabe o Vitor? - Ela concordou. - Ele foi contratado pelo Barcelona e veio falar comigo, eu nem sabia como reagir, principalmente depois que ele me pediu desculpas e disse que foi um grande erro da parte dele ter feito tudo o que fez.
- Porra, nem eu esperava por isso. E o que você disse?
- Nada, Pedri deu um soco nele e eu só lembro de estar no automático indo separar os dois.
- Deus, mas você sabe o que iria dizer?
- Eu iria dizer que o perdôo. Não sei exatamente o porquê, mas algo em mim diz que eu preciso fazer isso, mesmo ele não merecendo.
- Sabe que isso diz mais sobre você do que sobre ele, não sabe?
- Sei, mas aparentemente o Pedro não. Ele surtou com a ideia de eu perdoá-lo.
- E por isso brigaram? - Concordei. - Tudo bem, você sabe que eu sou a última pessoa que deveria estar te aconselhando sobre um relacionamento, não sabe?
- Em teoria, sei sim.
- Ótimo, mas de qualquer forma, vou te dizer para ser bem egoísta. Não vá atrás dele ou mande mensagem, ele sabe que está errado quando teve essa atitude com você e vai saber quando você não o procurar que, se ele quiser o seu perdão, ele terá que vir atrás.
- Será?
- Ele não é burro, e ele realmente gosta de você. Vai fazer questão de te procurar sim. - Deixei que a mulher mais velha me envolvesse em seus braços e encostei minha cabeça em seu ombro.
- Aí Angel, essa vida de adulto é muito ruim. - Resmunguei e ela riu enquanto acariciava os meus cabelos.
- A tendência é piorar.
- Ótima motivação, obrigada.
- Tava fazendo o que antes de eu chegar?
- Vendo alguns e-mails, nem sabia que tinham tantos assim.
- Já viu todos?
- Não, faltam apenas dois. Se quiser pode olhar e me dizer se é importante, vou pegar um bolo pra gente. - Levantei do sofá indo em direção a cozinha, quase nunca paro para realmente cozinhar algo, mas sempre que tenho crises muito fortes gosto de usar isso como algo para conseguir distrair minha cabeça.
- Guimarães, pelo amor de Deus, você precisa ver isso aqui com urgência! - O tom de voz da loira me deixou preocupada, não estou esperando nem um e-mail importante a esse nível.
- O que foi? É algo grave? Não me diga que é sobre a segunda cirurgia do tio Marcelo.
- Quê? Não sua doida! - Um sorriso enorme se formou nos lábios da mulher sentada em meu sofá. - Lembra quando você fez aquela prova para as vagas em aberto com a CBF?
- Lembro, mas isso já tem quase um ano, o que tem haver? - Um gritinho eufórico escapou entre seus lábios.
- Parece que mesmo depois desse tempo todo, você não saiu da listinha deles. - Arregalei os olhos e praticamente arranquei o computador das mãos da mulher.
Meus olhos quase se recusaram a acreditar no que estavam vendo, é um email da CBF!
Isso não faz sentido, tem quase um ano que eu fiz a prova e até então eles não haviam dito nada sobre o resultado, sinceramente eu pensei que não havia passado e depois que consegui o trabalho com o Barcelona sequer pensei nessa possibilidade.
- Tá esperando o que pra abrir logo isso?
- E se for um golpe e travar meu notebook? Se lembre que a amiga rica aqui é você e não eu.
- Você ganha muito bem para estar reclamando. Abre logo! - Revirei os olhos e cliquei sobre o local. De cara um sorriso escapou dos meus lábios, eu fui aprovada!
"Senhorita Guimarães, após um tardio e demorado processo de seleção para com os nossos futuros profissionais, nós da CBF, avaliamos minuciosamente todo o seu currículo e a sua prova. É de suma importância para nós que os nossos profissionais tenham experiência em suas áreas, e neste caso, não seria diferente com a senhorita, por isso fomos atrás do seu currículo mais a fundo e então descobrimos que a senhorita trabalha com o clube espanhol, Barcelona. Para um profissional com a sua idade ter um cargo tão alto e trabalhar com um clube ao nível do FC Barcelona, deduzimos que seja uma excepcional profissional e por isso entramos em contato convosco. Se for de seu interesse, gostaríamos de tê-la conosco em nossa equipe, será uma honra para nós termos ao nosso lado uma profissional tão dedicada e aplicada quanto a senhorita.
Por favor, não se apresse a responder o e-mail, daremos um tempo para que possa pensar e decidir-se.
Tudo o que precisa saber sobre a proposta estará logo abaixo.
Atenciosamente, CBF."
Meus olhos percorreram as informações enquanto Angela esperava ansiosamente que eu a explicasse.
- Meu Deus... - Fechei o computador o deixando sobre a pequena mesa do centro.
- Conte de uma vez.
- Eu passei naquela prova e eles me enviaram uma proposta acompanhada do resultado. - Disse enquanto tentava associar tudo. - Eles sabem que eu já tenho experiência e que trabalho com o Barcelona, mas o salário deles é um pouco acima do valor que eu ganho aqui e em euros. Tudo em reais e é muito mais do triplo do que geralmente um profissional da minha área ganha no Brasil.
- Aí meu Deus, e o que você vai fazer agora?
- Como assim o que eu vou fazer agora?
- Vai aceitar ou vai continuar com o Barcelona?
- Angel, eu não pretendo sair do Barcelona. Eu amo esse trabalho e além do mais, teria que me mudar para o Brasil.
- Eu sei, só que você também precisa pensar na parte dele que você se beneficia. Se pretende assumir o que você e o Pedro têm, terá que abrir mão do Barcelona em algum momento. - Suspirei enquanto me sentava outra vez, isso é mais complicado do que parece.
- Mas se eu for trabalhar com a CBF, terei que me mudar de volta para o Brasil. Como eu e o Pedri ficaríamos?
- Olha, eu não estou te pressionando nem nada, esse tipo de decisão é algo que cabe apenas a você decidir o que é melhor ou não para você. Claro que se você decidir ir, além de sentir muito a sua falta, você teria que conversar com ele sobre sua decisão, e assim como eu, ele também teria que aceitar.
- Angel, quero que isso fique apenas entre nós, tudo bem? - A loira concordou. - Eu não pretendo aceitar, mas quero pensar direito antes de responder a eles que agradeço a oportunidade e até encontrar uma maneira de conseguir estar com o Pedri. Mas por hora, vamos deixar isso entre nós duas. Pode ser?
- Sabe que minha boca é um túmulo, não sabe? Só tome cuidado e pense direitinho, tudo bem? Qualquer coisa estarei aqui para te ajudar de alguma forma.
- Tá bom mãe. - Revirou os olhos dramaticamente.
- Ah, cale a boca! Tenho quase a sua idade.
- Mas continua sendo mais velha. - Angela jogou duas almofadas em minha direção e eu apenas ri, a simples companhia da minha amiga faz com que os meus grandes problemas sejam pequenos em momentos como esse.
- Que tal se a gente assistir uma série ou um filme? Sem nada de homens ou trabalho?
- Desde quando você fala de homens?
- E não falo? Já viu a última sessão de fotos que aquele modelo que eu sou caidinha fez para a Calvin Klein? Senhor, quase tive um orgasmo só de olhar. - Falou abanando as mãos.
- Sua safada! Desde quando a puritana Angela Bettencourt fala de homens quase nús e orgasmos na mesma frase?
- Não se engane Cherry, de anjo eu só tenho o nome e esse rostinho aqui. - Deixei uma gargalhada sincera escapar e a loira acabou me acompanhando.
Eu sei que ela fala tudo isso em um tom de brincadeira, Angel está focada demais em si mesma e em construir sua carreira do que em qualquer coisa que envolva homens e cama na mesma frase.
Mas não me surpreenderia em absolutamente nada se ela resolvesse surtar e aparecesse namorando alguém, em específico o Ferran.
Parece meio louco, mas eu notei que nos últimos dois meses eles se aproximaram bastante. Não é como se eles não pudessem ser apenas amigos, mas o fato de que eles sempre negam qualquer tipo de aproximação é a prova que realmente existe um clima entre os dois.
E eu, como uma excelente amiga, torço para eles darem certo. Ferran se tornou um dos meus melhores amigos desde que entrei no Barcelona, então vê-los juntos seria muito bom e me deixaria extremamente satisfeita por conhecer bem os dois.
Não sei exatamente se esse movimento de pessoas dentro do CT a esse horário é algo comum, mas pretendo relevar tudo já que ontem saí daqui ainda pela manhã e não faço ideia do que possa ter acontecido.
Já se passou uma semana do ocorrido com o Vitor e o Pedri. Nossa última semana foi voltada a pequenas discussões e nenhum consenso entre nós.
Não estamos sem nos falar ou mandar mensagens para saber se estamos ou não bem, mas praticamente só nos vimos no CT essa semana.
Adentrei a sala onde guardamos nossas coisas e murmurei um bom dia para os meus colegas.
Adrián se aproximou de mim enquanto me oferecia uma xícara de café.
- Bom dia, como está hoje?
- Acho que bem. - Guardei minha mochila e as chaves do carro dentro de meu armário e logo após peguei a xícara de sua mão. - Obrigada.
- E como vocês estão? Ele te procurou ontem? - Mordi meus lábios e fui em direção a uma das mesas para poder tomar meu café.
- Não, nem mensagens sobre e nem foi me procurar. Aliás, nem o vi aqui ainda.
- Isso é bem chato e idiota da parte dele. Mas talvez ele tente falar com você hoje, pode ser que ele quis apenas te deixar um pouco mais à vontade para se acalmar.
- É, pode ser. - Beberiquei o café enquanto pensava sobre a proposta da CBF. Desde que a li naquela tarde não consegui tirá-la da minha cabeça.
- Vai me contar o que está passando nessa cabecinha?
- O que? Nada demais, eu só tô pensando em tudo o que aconteceu na última semana. Acha que eu estaria errada se quisesse perdoar o meu ex?
- Está falando do Vitor? - Balancei a cabeça, havia contado ao Adrián sobre o meu passado com o Vitor a pouco tempo. - Depende do que você define como perdoar.
- Apenas dizer que o perdoo, não quero ser amiga dele e muito menos ter algum tipo de aproximação. Apenas perdoá-lo e seguir com a minha vida sem esse peso.
- Clara, isso diz mais sobre você do que sobre ele. Se depois de tudo o que ele te fez você sente que precisa e é capaz de perdoá-lo, vá em frente e faça. Ninguém precisa interferir na sua decisão.
- Nem se essa pessoa for uma pessoa muito importante na sua vida?
- Você diz o Pedri? - Concordei. - Não, nem ele. - Adrián segurou minha mão ainda enfaixada para cicatrizar melhor. - Sabe, eu e o Lucca estamos tentando algo, mas desde sempre deixamos claro um para o outro sobre tudo o que pensamos e sobre nossos antigos relacionamentos. Todos temos os nossos limites e o livre arbítrio de poder fazer nossas próprias escolhas. Termos escolhido uma pessoa para estar ao nosso lado, não significa que temos que fazer apenas o que o outro espera que façamos. Escute, se quer perdoá-lo, faça. Pedri vai ter que entender que isso só quer dizer que você colocou um ponto final definitivamente sobre essa história.
- Acho que sim. - Coloquei a xícara sobre a mesa e levantei enquanto vestia o jaleco. - Vou pegar o relatório de ontem e ver como o Gavi está.
- Aliás, se puder brigar com ele, eu agradeço.
- Por quê?
- Ele tava impossível ontem, mal fez o tratamento certo. Em partes eu até entendo, ele tava discutindo alguma coisa com o Pedri e acabou perdendo o foco. - Bufei enquanto revirava os olhos e concordei. Conhecendo bem aquele pirralho, sei que ele deu um belo sermão no mais velho.
Caminhei calmamente pelos corredores do CT médico e o mesmo movimento agitado continuava, realmente preciso descobrir o que está acontecendo aqui.
- Clara, que bom que você chegou. - Ferran, de maneira afobada segurou meus ombros e chacoalhou o meu corpo.
- Caralho, o que foi? - Segurei seus braços o fazendo parar.
- Precisa fazer aqueles dois imbecis pararem de discutir ou vão acabar se batendo de novo.
- Do que você está falando?
- É melhor ver com os seus próprios olhos. - Deixei que Ferran segurasse em meu pulso e praticamente corremos pelo CT até a área do gramado, onde o elenco principal estava treinando.
De relance já pude ver um pequeno tumulto próximo aos bancos dos reservas. Pedri e Vitor, discutindo outra vez.
Revirei os olhos e andei em passos firmes até onde eles estavam. Sem pedir licença ou tendo o mínimo de educação possível, eu me enfiei entre os jogadores que foram abrindo caminho para mim.
Me senti uma pulga entre todos aqueles homens que quase tinham o dobro do tamanho.
- Vocês dois têm merda na cabeça? - Praticamente gritei fazendo os dois se calarem e olharem para mim. - O que foi agora? Qual o motivo de estarem brigando igual dois adolescentes idiotas outra vez?
- Ele começou provocando e eu só me defendi. - González foi o primeiro a falar.
- Que caralho, vocês poderiam ser ao menos profissionais e se respeitarem em campo, mas preferem agir como adolescentes no ensino médio e ficarem igual dois galos de briga que só sabem gritar. Pelo amor de Deus, sejam mais homens e profissionais que isso!
Os homens presentes no campo me olharam surpresos e continuaram calados. Aparentemente já haviam tentado intervir e não conseguiram.
- Olha Clara... - A fala do brasileiro foi cortada.
- Não dirija a palavra a ela seu imbécil!
- Cala a boca Pedro! - Indaguei enquanto o espanhol se calava.
- Olha, eu realmente não quero que o clima entre nós dois fique ruim. Eu sei muito bem que o que eu fiz não tem perdão e eu entendo perfeitamente sua posição a respeito disso. Mas eu só gostaria que pudéssemos agir como profissionais. - Eu definitivamente não confio no Vitor. Só que eu sei que algumas vezes quando se é um profissional, é preciso passar por cima de certas coisas.
- Têm razão, nada do que você me fez vai mudar ou apagar as minhas memórias. Mas você está certo quando fala do nosso profissional, e é só por esse motivo que eu te perdoo. - Suas pupilas pareciam tomar conta de todo o seu olho quando ouviu minhas palavras.
- Você me perdoa?
- Você perdoa ele?
- Não vou discutir uma decisão que me diz respeito com você, Pedro. Lamento se isso não te deixa feliz, mas a escolha é minha e eu decidi isso. Goste ou não. - O espanhol me encarou sem reação enquanto o brasileiro sorria minimamente.
- Obrigado Clara.
- Não agradeça, fiz isso por mim e não por você. E não pense que seremos amigos, nossa única relação será de médico e paciente. Nunca além disso. - Ele concordou. - E você, preciso conversar com você a sós.
Os outros jogadores se afastaram minimamente e de relance olhavam para nós tentando entender o que havia acontecido.
Desci as escadas que davam acesso ao CT e continuei andando até o estacionamento, aparentemente é o único local que não está tão movimentado hoje.
- Vai me explicar o motivo de ter discutido com ele no meio de todo o elenco? - Me virei bruscamente em sua direção, o assustando e o fazendo parar.
- Corazón...
- Clara, me chame de Clara. - Ele engoliu em seco e suspirou.
- Corazón, eu não iria perder meu tempo discutindo com ele. Só que o Xavi pediu que fizéssemos dupla com os outros e...
- E o Ferran não estava lá?
- Não, ele estava com a Sophia, precisou fazer uma contenção no tornozelo antes de subir para o treino. - Concordei. - O Xavi pediu que eu fizesse dupla com ele e não tinha como negar, eu supostamente não tenho motivos para isso. Eu juro que fiquei na minha enquanto fazia os exercícios com ele, só que quando ele abriu a boca pra perguntar se eu e você tínhamos algo eu não consegui me controlar.
- E aí achou que seria uma boa ideia discutir com ele ali, na frente de todos?
- Não ia discutir, mas ele ficou provocando.
- O que ele disse pra te fazer perder a razão? - Os olhos dele evitavam olhar diretamente para os meus.
- Eu não quero falar sobre isso, Clara, por favor, vamos resolver isso de uma vez por todas. Eu te imploro.
- Implora? E por que não me procurou durante a semana? - Suas mãos percorreram seu maxilar roçando sua barba e me fazendo olhá-lo mais do que gostaria. Essa barba por fazer o deixa extremamente sexy.
- Eu achei que fosse precisar de um tempo sozinha. Você teve aquela crise e depois acabamos discutindo, eu imaginei que se eu fosse atrás de você sem ter certeza de que era isso que queria, iríamos acabar discutindo outra vez. - Bem, nisso ele tem razão. - Olha, eu não queria ter brigado com ele e muito menos com você, mas eu não consegui ter alto controle perto dele sabendo tudo o que ele te fez passar. Só que eu pensei depois, conversei com o Gavi e ele me fez enxergar que você tem razão em perdoá-lo, e que isso não quer dizer que vá ter qualquer vínculo com ele além do trabalho.
- Precisou que outra pessoa te falasse o óbvio?
- Você tem razão! Me desculpe, eu não hesitei em perdoar a Cecília quando ela me procurou, e eu me senti melhor quando disse aquelas palavras a ela. Tenho certeza que você também se sentiu assim quando finalmente disse aquelas palavras a ele agora pouco. - Concordei. - Então, corazón, por favor me desculpe se agi como um moleque com você e se ofendi e magoei. Você é uma das pessoas mais importantes da minha vida, a última coisa que eu quero é magoá-la e deixá-la triste.
Observei seu rosto e a angústia estava mais do que clara. Eu confesso que esse quase um ano em que estamos juntos me deixou muito mais apegada a ele do que eu gostaria.
Meu orgulho grita para eu lhe dizer um monte de coisas, porém, o meu coração insiste em aceitar suas desculpas e abraçá-lo até que meus pulmões falhem.
- Seu mimado idiota, se você me chamar de burra outra vez eu juro que te faço uma vasectomia caseira. - O espanhol riu e se aproximou minimamente de mim.
- Então estou perdoado? - Suas mãos enrolaram sobre minha cintura e eu deixei meus braços percorrerem o seu corpo.
- Não, vai precisar se esforçar um pouquinho mais para eu te perdoar completamente. - Murmurei enquanto sentia seus braços me apertarem contra si com bastante força, do jeito que eu queria.
- Prometo que até o fim do dia tudo isso vai estar resolvido definitivamente, mi amor. - González deixou um beijo rápido em meus lábios.
- Pepi, aqui não. Se alguém nos pegar estamos ferrados. - O afastei minimamente.
- Esse lugar está vazio, ninguém vai ver nada. Além de que estou morrendo de vontade de te encher de beijos.
- Em outro momento, preciso gerenciar o tratamento do Gavi e entregar uns relatórios ao Matteo.
- Tudo bem, podemos passar o resto do dia juntos, o que me diz?
- A noite pode ser, à tarde irei passar por aqui, tenho uma reunião com o Matteo antes de ir para casa.
- Estarei esperando por você no seu novo apartamento. - Nos afastamos enquanto andávamos lado a lado de volta para o CT.
- Só foi lá quando me mudei há uma semana. Acredita que ainda está tudo uma grande bagunça?
- Não se preocupe, se você quiser, posso ajudar a organizar as coisas. - Olhei de relance para ele que sorria.
- Olha, já que insiste, não irei recusar.
- Como assim você não respondeu ainda? Deus, essa é uma oportunidade dos sonhos, Clara!
O tratamento do Gavi já estava finalizado. Neste momento, eu e Adrián estamos sentados no chão esperando o jogador voltar da sala do Matteo.
- Fale baixo! Só quem sabe disso, além de você, é a minha amiga e o Lucca. Não quero que ninguém saiba sobre isso, eu poderia me prejudicar muito.
- Eu sei, entendo seu medo, mas não se pode negar que é uma proposta quase irrecusável.
Havia contado para Adrián sobre o e-mail que recebi da CBF na última semana. Adri é meu amigo e sempre que temos um segredo ou qualquer dúvida sobre algo, costumamos perguntar um ao outro o que ele faria nesta situação. Quase sempre conseguimos chegar a nossas melhores decisões.
- É uma excelente proposta, mas eu não tenho certeza se vou aceitar. Tenho minha vida aqui em Barcelona, além de tudo teria que me mudar e como ficaria minha relação com o Pedri?
- É, olhando por esse lado. - Seu olhar se perdeu pela sala por breves segundos. - Mas o que pretende fazer? Não vão conseguir esconder esse relacionamento para sempre.
- Eu não sei Adri, esse é um assunto que eu quero conversar com ele em breve, ainda vamos fazer um ano de namoro e acho que ainda é cedo.
- Bem, vá no seu tempo. Só que vai precisar dar uma resposta a eles, não acha?
- Tenho certeza disso, mas antes eu quero conversar com o Pedri, depois daquela briga que tivemos, passamos a contar as coisas um para o outro.
- Juro, acredito em você. Não imaginei que ele te contaria sobre a filha do Guardiola, não com todos os detalhes pelo menos. Digamos que quando tudo aconteceu ele ficou muito na dele e todo mundo fez esse assunto morrer, ele não sabia lidar muito bem quando ela foi embora.
- É, eu imagino que sim. Na semana que ela o procurou, a primeira coisa que ele fez, ou tentou, foi esconder e fingir que tudo era apenas um delírio. Só que quando ela bateu na porta dele e eu atendi foi mais difícil mentir.
- Não brigaram? - Neguei. - Olha, tô admirado. Você mantendo o autocontrole em uma situação como essa realmente me surpreende.
- Muito engraçado. - Revirei os olhos e o espanhol riu. - Eu não ia surtar na frente da garota, mesmo que eu quisesse. Só que a maneira que ela estava abatida e literalmente morrendo me fez colocar-me no lugar dela.
- Fez bem, ao menos tudo se resolveu e acabou bem. Acha que ele ficou bem depois de tudo?
- No primeiro dia depois da morte dela nem tanto, mas com o passar da semana sim, eu sei que ela foi alguém importante para ele e não tinha motivos para ficar irritada ou cobrar qualquer tipo de ciúmes por isso.
- Coberta de razão.
- Clara, Matteo pediu que você fosse na sala dele. - A voz de Gavi me fez despertar dos meus pensamentos, esse é o único motivo pelo qual ainda estou aqui.
Matteo havia pedido para conversar comigo sobre alguns atletas no fim dos treinos. Por isso, mesmo depois de ter terminado o tratamento do camisa 6, eu me mantive na sala, para que quando ele voltasse eu soubesse que poderia ir.
- Boa sorte com o chefão, Guimarães.
- Como se ela precisasse, essa dai é a preferida dos grandões. - Adrián comentou em tom de deboche.
- Muito boa a sua piada, nem parece que eles quase comeram meu fígado quando eu disse que não ia permitir de jeito nenhum que a promessa deles fosse convocada. - Retruquei.
- É, mas aí você quis brigar com os grandões da Federação espanhola, nem meu pai enfrenta eles.
- Em minha defesa eu não sabia quem eram.
- E mesmo que soubesse iria brigar. Você tem um espírito de barraqueira sua latina de araque.
Soltei uma gargalhada enquanto dava de ombros, ele tem razão quando diz que eu brigaria independente de quem fossem, mas ninguém precisa saber.
Me encaminhei a passos tranquilos até o escritório do Matteo enquanto pensava sobre o que o Adrián e eu conversamos, o meu relacionamento com o Pedri não vai conseguir ficar escondido para sempre, hora ou outra teremos que falar sobre isso.
Porém, sinceramente eu não faço a menor ideia de como o faremos isso.
- E aí? Como foi com ele? - Me perguntou enquanto saímos da sala com nossas mochilas. - Ele te disse alguma coisa sobre quem vai para Paris na próxima semana?
- Óbvio que não, acha que ele iria me dizer isso? Deus, acho que eu iria surtar se descobrisse antecipadamente que iria para Paris.
- Nunca esteve em Paris?
- Claro que não, não nasci rica tá.
- Mas tem uma amiga francesa. - Falou como ataque.
- Que não pisa em Paris há pelo menos 5 anos. - Retruquei.
- Tá bem, vou deixar você vencer essa. Mas se formos para Paris, você obrigatoriamente vai ter que ir em um restaurante perto da Torre, a comida deles parece coisa de outro mundo.
- Claro, contanto que você pague a conta, eu aceito.
- Mão de vaca. - Deixei uma gargalhada escapar ao ouvi-lo usar a expressão.
O barulho da chuva que caía na parte de fora do estacionamento era quase ensurdecedor, normalmente nesta época do ano não é comum que chova desse jeito em Barcelona, e até mesmo a previsão do tempo para hoje estava prevista para o sol.
- Que droga, como eu chego em casa agora? - O loiro ao meu lado resmungou. Adrián mora a duas quadras do FC Barcelona, e sempre vem andando, como eu disse, acho que ninguém estava esperando essa chuva repentina.
- Se quiser uma carona eu posso ajudar. - Levantei a chave em meus dedos para que ele pudesse ver.
- Olha, pelo o que eu estou vendo essa chuva não vai passar tão fácil, então vou ter que aceitar sua proposta. - Sorri para ele e destravei as portas do Golf que aluguei, sinceramente acho que se ficar com esse carro por mais um mês a agência em que eu o aluguei me dará de presente visto que estou com ele desde dezembro e agora já estamos praticamente na metade de abril.
Adentramos o veículo e eu joguei minha mochila no banco traseiro logo em seguida colocando o cinto de segurança.
Ao sairmos do estacionamento privado do Barcelona, na primeira curva que daria acesso a rua tive que frear bruscamente para não bater na traseira de um outro carro parado à frente, aparentemente com um dos pneus furados.
- Que droga, esse doido não podia ligar para um reboque? Ele está bloqueando a saída só para trocar um pneu? - Adri reclamou.
- Adrián, esse não é o carro do...
- Pedri! Caralho, ele podia ter chamado a droga de um mecânico, o mundo tá desabando em água lá fora e aquele maluco tá ali com toda a paciência do mundo trocando um pneu como se nada tivesse acontecido. - Ri com sua fala e tirei o cinto. - Onde você vai sua doida?
- Ajudar ele?
- Nessa chuva? Lamento, mas amor nenhum me faria sair nessa chuva pra trocar um pneu. - Revirei os olhos enquanto abria a porta para sair, imediatamente as gotas de água começaram a molhar minha roupa, antes mesmo de chegar perto do espanhol, quase todo o meu corpo já estava encharcado.
- Pepi? Está tudo bem, precisa de ajuda? - Gritei enquanto colocava as mão sobre meus olhos para protegê-los da chuva.
Os olhos do meio campista me olharam rapidamente e logo voltaram para o pneu que ainda precisa ser colocado no lugar.
- Se eu precisasse de ajuda teria ligado para um mecânico. - Crispei as sobrancelhas ao observá-lo.
- Ei, aconteceu alguma coisa? - Pedri jogou uma ferramenta que estava em sua mão com certa força sobre o chão e ficou de pé, frente a frente comigo.
- Sabe o que aconteceu, Clara? Eu confiei em você, foi isso que aconteceu. - Meu cabelo já estava pingando de tão encharcado e parece que a chuva não tinha pretextos para diminuir tão cedo.
- Do que você está falando? Olha, vamos voltar para o estacionamento, lá a gente liga para um mecânico e enquanto esperamos podemos conversar.
- Eu não quero conversar com você, na verdade eu nem queria te ver.
- Por que você está me tratando desse jeito? O que eu fiz? - Abracei os meus braços para tentar me aquecer, a combinação do vento e a chuva forte já estavam me deixando com frio.
- O que você fez, Clara? Você mentiu! Você está me escondendo uma coisa que eu nunca pensei que esconderia.
- Pedro, do que está falando? Eu não menti, não estou escondendo nada de você.
- Então você não recebeu uma proposta de trabalho da CBF? - Seus olhos fixaram nos meus que provavelmente estavam quase saltando do lugar. Como ele ficou sabendo disso?
- Como você descobriu isso?
- Então é verdade, você recebeu mesmo essa maldita proposta? - González passou as mãos pelos cabelos molhados puxando alguns fios para trás.
- Não é o que você está pensando, eu posso explicar.
- Me explicar o que? Que você me escondeu essa merda?
- Pedro, só tem uma semana que eu recebi o e-mail e...
- Uma semana! Já tem a merda de uma semana e você sequer tocou no assunto comigo? Caralho, quando eu penso que não poderia me surpreender mais, vem você com essa.
- Eu ia te contar, eu só estava esperando o momento certo. Eu...
- Qual seria o momento certo, quando você estivesse sendo anunciada pela CBF?
- Quê, é claro que não! Me escuta...
- Me escuta você, eu confiei em você e fui sincero como nunca fui com ninguém naquela última semana, você teve acesso a um lado meu que mais ninguém teve ou terá. Contei tudo sobre mim, dos meus medos, dos meus segredos e agora você faz isso? Uma merda de uma semana inteira, mesmo que tivéssemos estranhos com nós mesmos por conta da droga do seu ex, mesmo assim você não podia ter escondido isso de mim. Entenda que se eu tivesse recebido a proposta de um clube durante essa semana eu teria te contado, você seria a primeira a saber, e sabe por que? Porque você é a pessoa mais importante da minha vida, porque a porra do meu coração só bate mais forte quando você está perto e eu odeio a sensação de saber que eu não sou a sua prioridade, que talvez você esteja deixando de me amar e de confiar em mim aos poucos e só não saiba como lidar com isso, por isso está me escondendo que vai aceitar ou já aceitou essa merda. Por Deus Guimarães, você pensou em algum momento como eu iria me sentir se descobrisse isso por outra pessoa, uma pessoa que não fosse você?
- Pedro, eu ia te contar, eu ia te contar hoje a noite. - Meus olhos derramaram lágrimas que eram despercebidas por ele graças a chuva que parecia ficar mais forte a cada instante.
- Ficou mais do que claro para mim que eu não sou sua prioridade, Angela, Lucca e Adrián já sabiam, não é? - Deixei um soluço escapar.
- Sabiam, mas...
- Não, Clara, eu não quero explicações de nada! Isso não tem uma explicação plausível. É sobre o seu futuro, o futuro que eu achei que estivesse incluso, eu fiz planos para o meu e você estava em todos eles, eu nunca imaginei que eu não estaria nos seus. Por Deus, eu sairia do Barcelona só para ficar com você, eu largaria minha carreira se isso fosse me fazer ter você comigo para o resto da minha vida, mas agora eu sei que nada do que eu estivesse disposto a fazer seria capaz de fazer você me escolher. Eu não sei o que você sente, não sei se ficou confusa, mas eu nunca duvidei do meu sentimento por você.
- Pedro, pelo amor de Deus, eu te amo! Eu te amo e não sei mais o que seria da minha vida sem você! Por favor, isso tudo é só um mal entendido e eu juro que se me deixar explicar vai entender isso.
- Explicar o que? Você está escondendo de mim há mais de uma semana! Seus amigos vieram primeiro que eu, você sempre toma suas decisões sem que eu interfira, assim como eu tomo as minhas, mas eu sempre, sempre falo com você antes. Eu sempre conversei com você porque eu não queria que esse tipo de coisa fosse motivo para brigas e desconfianças. Mas olha como é engraçado, você fez exatamente ao contrário comigo.
- Para de falar da gente como se fossemos nada... - Praticamente implorei.
- Não vejo sentido para falarmos de algo que não temos mais. Desculpe, mas a confiança que eu tive em você acabou de morrer quando tomou a decisão de não me contar nada e ainda por cima ir para outro país. Eu não queria, acredite em mim, o próximo passo que dariamos seria para o nosso noivado, você seria a mãe dos meus filhos e formaríamos uma família linda, mas agora não dá mais. Eu te amo, só que permanecer em algo onde um não confia no outro só vai machucar ainda mais nós dois.
Ele se virou para entrar no carro e eu segurei em seu pulso. Pedri se virou para mim novamente e pude ver, mesmo em meio a toda aquela chuva, as lágrimas que se formavam em seus olhos.
- Não faz isso com a gente, deixe eu explicar a você. Eu te imploro Pedri, não me deixe sozinha, não vai embora.
- São apenas os resultados das suas escolhas. Você escolheu e agora as coisas estão acontecendo. - Ele soltou seu pulso da minha mão e foi até a porta do carro. - Posso te pedir uma coisa? - Continuei olhando para ele sentindo que meu coração iria pular para fora do meu peito a qualquer momento. - Não me procure mais. Segue a sua vida e vai embora, seja feliz no Brasil e no seu novo emprego.
E então a porta do carro foi fechada com força, causando um barulho alto. O barulho dos pneus acelerando e constantemente sendo desgastados pelo asfalto me fizeram ter vontade de correr atrás dele, mesmo sabendo que não alcançaria a velocidade de um carro.
Tudo ao meu redor parecia ter travado, como naquelas cenas de filme onde tudo ao redor dos personagens congela e só eles têm o controle de se mexer. Era assim que eu estava me sentindo, mas a diferença é que o mundo continuou em movimento quando na verdade eu quem havia sido anestesiada.
Não consigo acreditar que isso acabou de acontecer, aliás, o que aconteceu?
É como se de uma hora para outra nada fizesse sentido suficiente. Pedro e eu acabamos? Nós não estamos mais juntos?
Dentro de mim, cada um dos meus órgãos pareciam querer parar. Um a um.
O nó que entalou em minha garganta parecia querer rasgar minha alma em um único grito, um grito de socorro, de angústia e de medo. Eu estraguei tudo outra vez, a maldita decisão de não contar a ele, de deixar para lá acabou com tudo. Outra vez.
É como se eu tropeçasse nas pedras que eu mesma jogo em meu caminho ou que estivesse caindo em um lugar infinito que eu mesma cavou o abismo.
Sabe qual a pior parte em toda esta história?
Eu não faço a menor ideia de qual rumo ela tomará a partir de agora.
O caos foi instaurado e eu só tenho algo para dizer, AGORA A JIRIPOCA VAI CHIAR!!!!
Olá meus xuxus, como vocês estão? Espero que todos estejam bem. Esse mês de maio foi mais caótico do que eu esperava e acabou me fazendo atrasar muito mais esse capítulo do que o planejado. No início do mês foi o meu aniversário e dois dias depois eu recebi a notícia de que meu tio faleceu repentinamente.
Esse mês é bem forte para mim porque além do meu aniversário, é o mês que eu perdi minha avó, ela era o meu maior porto seguro e eu não consigo ficar totalmente bem durante a semana do aniversário de morte dela. Além de que, 1° de maio também é aniversário de morte do meu maior ídolo, Ayrton Senna.
Resumindo, maio é realmente caótico. Peço desculpas pelo atraso do capítulo e vou tentar não demorar tanto para atualizar dessa vez.
Em um só capítulo nós tivemos, o ex da Clara sendo contratado pelo Barça, a Cecília indo de arrasta, brigas, CBF de olho na mami, fofoca e mais brigas. Que Deus tenha misericórdia de seus filhos e faça esses dois resolverem essa história logo, aliás, como será que ele descobriu essa história toda?
Aproveitando a deixa, gostaria de agradecer as mais de 24k de leituras! Muito obrigada a todos vocês que lêem essa história e interagem, isso é muito gratificante para mim. Vos amo imensamente! 🫶🏽
Surtinho de fórmula 1 aqui, o Charles finalmente ganhou em Mônaco gente 😭❤️🩹 além do Lando ter ganho pela primeira vez uma corrida também no começo desse mês. Juro, maio está sendo um mês de teste cardíaco, não é possível.
Espero que gostem 💙
Até o próximo capítulo!
📝 Não esqueçam de comentar e deixar o seu voto no capítulo! 🤍
Beijos de luz,Kalisa.
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