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Cap. 022

Sabe quando você deixa tudo se acumular em uma grande bola de neve e de repente sente que essa mesma bola de neve vai te atropelar?

Bem, a quantidade de coisas que aconteceram nesta semana têm exatamente esse efeito sobre mim neste momento.

Contando com hoje, estamos a apenas dois dias da véspera de natal. Porém, a última coisa em que eu possa dizer que estou no momento é em clima natalino.

Minha família está hospedada em uma das casas do Pedri, ele insistiu bastante para que eu aceitasse levá-los até sua residência, e eles até que aceitaram de bom grado. Bem diferente da reação que esperava que fossem ter.

Mas, por mais que tenhamos tido toda essa aproximação nos últimos dias, notei o quanto todos evitam tocar no assunto  "Thiago traiu sua família" e isso está me deixando com os nervos à flor da pele.

Pedri se lesionou outra vez no jogo de dois dias atrás. Mesmo desconforto no mesmo local. Lamento ter que dizer isso, pois tudo o que eu não gostaria neste momento é dizer que eu tinha razão. De todos os fisioterapeutas naquela sala, eu fui a única a ir contra aquela alta médica estúpida por saber que ele poderia ter uma recaída e que ainda não estava 100% para voltar aos gramados. Mas infelizmente ninguém foi capaz de me ouvir.

Agora estamos tendo que lidar com Pedri e Gavi fora dos campos e mais uma pá de jogadores com variados tipos de lesões. O terror dos fisioterapeutas e principalmente da diretoria do Barcelona.

Bem, na segunda-feira, durante a comemoração do meu aniversário na casa do futebolista, Angela me contou uma coisa totalmente inesperada por mim. Em hipótese alguma iria se passar pela minha cabeça que o Sérgio teria um filho e que essa pessoa estaria diretamente ligada ao fato de eu ter conseguido o estágio de 5 meses no clube.

Uma parte de mim ficou feliz em saber quem de fato era essa pessoa e saber que ela foi diretamente ligada a minha contratação, só que por outro lado, descobrir que essa pessoa sempre teve a opção de me contar a verdade e nunca o fez me deixou magoada.

Eu havia pensado bastante antes de decidir tudo o que eu iria fazer hoje, e para o meu próprio bem, é bem melhor encarar tudo de uma vez ao invés de ficar empurrando tudo pra frente com o peito. Uma hora cansa.

Arrumei meus óculos sobre o meu rosto enquanto meu tênis fazia um pequeno barulho contra o piso da pequena cafeteria que acabei de entrar. Iria resolver isso de uma vez por todas.

Me aproximei dele, que já havia chegado e estava sentado em uma mesa próxima a janela.
Respirei fundo antes de falar qualquer coisa, sinto que de certa forma fui traída. Eles não tinham o direito de me esconder isso tudo! Poxa, eu merecia saber de tudo também e de preferência que fosse dito pelas suas bocas, suas palavras, e não as de outra pessoa como chegou até mim.

— Bom dia, que bom que pôde vir. — Coloquei minha bolsa ao pé da mesa e sorri sem mostrar os dentes.

— Você sabe que eu daria um jeito de vir. — Sorriu de volta. — Mas do que se trata esse assunto? É sobre seu namoro com o Pedri?

— Não, não tem haver com o meu relacionamento. Só estou esperando uma mensagem e prometo que já explico o motivo de ter te chamado.

Ouvi meu celular apitar e a mensagem do Lucca avisando que já havia chegado apareceu na tela. Respirei fundo e olhei para os olhos claros do loiro sentado à minha frente. Ele está de costas para a entrada, então em momento algum viu quando o meu amigo adentrou o local.

— Clara, você realmente precisa de mim agora? Estou todo enrolado com os papéis do estágio e... — Meu amigo parou de falar no exato momento em que suas írises verdes encontraram as íris azuis de Adrián.

— Não te chamaria se realmente não fosse importante. Pode sentar. — Ambos apenas se olharam, porém, em momento algum ousaram dar uma única palavra sequer. Acredito que a esse ponto eles já devem ter entendido que eu sei de algo. — Não preciso apresentar vocês dois, estou certa?

— Clara, a gente ia te contar sobre isso, mas... — Adrián começou tentando se explicar, porém foi interrompido por Lucca.

— Você sabe de tudo, não sabe? — A voz um pouco trêmula do loiro me fez assentir, e eu realmente o entendo. Lucca sofreu bastante quando assumiu que era BI, mas convenhamos, eu e a Angela sempre soubemos que ele era gay.

— Sei, e foi por esse motivo que eu chamei vocês dois aqui. Precisamos conversar e esclarecer algumas coisas. — Ambos concordaram. — Então, podem começar me explicando em que momento se conheceram.

Adrián olhou para o outro espanhol que concordou.

— Foi em uma balada. Cerca de um mês antes de você ir no jogo em que conheceu o Pedri. — Claro, eu lembro exatamente que nesse dia o Lucca simplesmente deu o maior perdido em mim e na Angela. Só tivemos notícias dele no outro dia quando o querido apareceu no apartamento da francesa com a maior cara de pau que eu já vi. — A gente não tava totalmente sóbrio e eu tinha acabado de sair de um relacionamento péssimo com a minha ex, e naquele momento eu também estava passando por alguns problemas com o meu pai. Só queria beber e esquecer de tudo aquilo, mas acabei esbarrando no Lucca enquanto voltava para o bar e nisso a gente começou a conversar e quando menos percebi já estávamos nos beijando.

Os olhares de ambos se cruzaram outra vez.

— Pra resumir um pouco, depois dali fomos para a casa do Adrián e... você sabe o que aconteceu. — Deixei um pequeno sorriso travesso escapar enquanto concordava. — Ele me contou que trabalhava com o Barcelona e que o pai dele tinha muita influência dentro do clube. Daí eu comentei brevemente sobre você ser torcedora do clube e ele conseguiu os ingressos vip para nós três, no dia do El clássico.

— Aquele foi o dia em que meu pai tinha anunciado a saída do clube e para a decepção dele, eu me recusei a aceitar substituir a vaga do Matteo, deixando em aberto. Eu nunca quis que minha vida fosse exposta igual a do meu pai, quando decidi cursar fisioterapia, imediatamente o Sérgio já garantiu o meu estágio no clube, não que eu não tenha gostado, mas eu também gostaria de conseguir alcançar minhas coisas com o meu próprio esforço e não porque meu pai me deu.

— Então depois que ele desabafou comigo eu lembrei que você estava terminando o mestrado e estava procurando um emprego, mas que não conseguiu nada devido a sua idade e por certa falta de experiência que sempre cobram. — Lucca explicou.

— Só unimos o útil ao agradável. Você precisava de um emprego e meu pai precisava apresentar alguém capaz de substituir um cargo importante e que fosse no mesmo nível dele. Eu conversei com o Sérgio e disse que tinha uma amiga que estava precisando de uma oportunidade dessas, falei como você era esforçada e quando disse sua idade ele simplesmente surtou e achou impossível. — Disse com um sorriso nos lábios. — Mostrei tudo o que o Lucca havia me mandado sobre você e pasme, o sem coração do meu pai ficou fascinado com você. Ele foi diretamente atrás dos seus professores e buscou saber cada parte da sua vida acadêmica e pronto, na reunião que ele teve com a diretoria e com o Matteo, jogou sua ficha na mesa e convenceu cada pessoa daquela sala que você era a pessoa perfeita para assumir o cargo.

— Como aceitaram uma sem experiência e tão jovem? — Perguntei.

— Sérgio consegue manipular as pessoas para conseguir o que quer. E naquele momento ele quis que você substituísse o Matteo, queria que você seguisse os passos que ele seguiu. Não fique assustada com o que vou te falar agora, mas ele ficou obcecado em poder moldar sua carreira desde o início. Ele quer que alguém tenha o mesmo nível que ele, primeiro foi o Matteo. Agora eles estão moldando você para seguir os passos que eles mesmos deram, querem fazer de você uma profissional renomada e com o nome em peso na banca.

Minha cabeça parecia ter sido acertada com força, a quantidade de informações que Adrián me disse agora é um pouco demais para todas as paranóias que eu havia imaginado.

Me moldar? Eles querem me moldar como se eu fosse uma bonequinha que faz o que os outros querem?

— Eles só não esperavam que você fosse tão dona de si e com uma personalidade forte. Muito menos que fosse deixar uma das jóias do time de quatro por você.

— Eles sabem de mim e do Pedri? — Questionei um pouco preocupada.

— Não que namoram, mas sabem que já ficaram. — Desde as fotos vazadas no dia daquela viagem eu já esperava que eles desconfiavam que eu e o meia já tínhamos tido algo. — Eu sinto muito por não ter te contado nada disso antes, mas eu não queria que você soubesse como as coisas realmente aconteceram.

— Adrián, a culpa não é sua. Na verdade, quando eu descobri tudo até fiquei bem feliz. Nunca havia passado pela minha cabeça que foi graças a você que consegui o emprego e menos ainda que estavam juntos. Aliás, foi isso que me deixou um pouco triste, por qual motivo vocês nunca me contaram que estão juntos?

— Por medo. — Lucca segurou delicadamente a mão do fisioterapeuta e me olhou. — Não é que não confiamos em você ou algo assim, é só que, bem, você sabe de tudo que aconteceu quando eu disse que era BI. Meu pai não olha na minha cara até hoje. E tivemos medo do que o pai do Adrián iria achar. Por isso entramos em um acordo e preferimos esconder de todo mundo, até a Angela descobrir e te contar tudo.

— Lucca, Adrián. — Respirei fundo e coloquei minha mão por cima das suas. — Eu nunca iria dizer ou fazer algo que pudesse machucar vocês, diferente disso, eu estou aqui para apoiar tudo o que vocês decidirem fazer e para aconselhar se for preciso. Adrián, eu não conheço totalmente o seu pai, mas eu tenho absoluta certeza de que se você conversar com ele, ele irá entender. Acima de tudo ele é o seu pai, ele quer o seu bem e se te ama de verdade, com toda certeza irá te dar o apoio necessário.

— Você realmente acha que ele vai nos aceitar? — Concordei. Não menti quando disse o que penso sobre a reação do Sérgio, ele me parece um homem compreensível e que sempre vai tentar entender o que de fato está acontecendo. — Obrigado, Clara.

— Por que está me agradecendo?

— Por ter entendido nossos motivos e por me falar isso. Acho que eu só estava precisando ouvir algo assim de alguém importante.

— Ah meus meninos, vocês sabem que eu amo vocês. É claro que iria apoiar vocês.

— Por isso eu te amo garota, já tava ficando difícil esconder de você sem ficar tão na cara.

— Eu sabia que algo estava estranho, você não é do tipo que passa muito tempo longe de mim, e nos últimos meses tinha se afastado completamente. Estou muito feliz por finalmente termos tido essa conversa.

— É um alívio absurdo para nós dois também. Não estava sendo muito bom esconder de você.

— Vamos combinar uma coisa? — Eles concordaram. — A partir de hoje, ninguém vai esconder nada um do outro. Tudo bem?

— Isso vale para a fofoqueira da Angela? — Ri com as palavras de Lucca.

— Pra ela também.

— Tudo bem. Então a partir de hoje não vamos mais esconder coisas desse nível um dos outros. Sempre que estivermos passando por algo assim vamos conversar entre nós e nos daremos conselhos sobre a situação. Todos de acordo? — O meu amigo sugeriu e todos concordamos dando um soquinho no punho do outro.

— Eu só não entendi uma coisa até agora.

— O que?

— Por que nunca me contou que era filho do Sérgio?

— Achei que soubesse. — Falou como se fosse óbvio. — Na verdade eu evito um pouco falar sobre isso, como eu lembro muito a minha mãe, consigo passar despercebido. E normalmente as pessoas se aproximam de mim só por eu ser filho dele, querem conseguir as coisas às minhas custas. Não que seja o seu caso, é claro.

Concordei com um movimento da cabeça, ele tem razão ao desconfiar das pessoas. Não o julgo.

Com toda certeza, ter tido essa conversa com eles parece ter tirado um peso enorme dos meus ombros. E isso só deixa mais claro o quanto eu preciso urgentemente ter aquela conversa com minha família.

É isso ou passaremos o natal e o ano novo com o pior clima possível.

— Oi, Clara! Que bom te ver outra vez. — Isabelle sorriu ao me ver parada do outro lado da porta.

— Oi Isa, estão todos bem? — Questionei enquanto adentrava a casa em que minha família está. É menor que a mansão onde o Pedri vive, mas é enorme comparada a nossa casa lá no Brasil.

— Estão sim. Quer que eu chame eles aqui?

— Se você puder, preciso conversar com todos. — A morena concordou e andou por um corredor. Sentei em uma das poltronas que havia na sala e em alguns minutos eles vieram.

— Não era para você estar no trabalho, querida? — Minha mãe perguntou após acomodar meu tio.

— Tinha uma folga sobrando e resolvi usar hoje pois precisava resolver algumas coisas. — Ao ouvir aquelas palavras, meu pai se mexeu desconfortável em seu lugar. Ele sabe do que eu quero falar.

— E o que seriam essas coisas?

— Tirar a limpo o que aconteceu com nossa família é uma delas. — Thiago Guimarães negou e se levantou no momento em que eu terminei de falar.

— Não temos nada para conversar.

— Não temos? Você ter traído nossa mãe e ter tido uma filha fora do seu casamento e só nos contar sobre ela 16 anos depois, é não ter nada para conversar? — A garota me olhou um pouco assustada e minha mãe segurou a mão da minha irmã mais nova.

— Clara, isso não é assunto para você se meter.

— Diferente da minha mãe, eu não vou aceitar suas desculpas esfarrapadas. Não é porque você é meu genitor que signifique que tenho que fingir que você não fez nada demais. — Flávia levantou para falar algo no momento que eu a encarei. Minha mãe sempre soube que em algum momento eu iria enfrentar o meu pai, e bom, esse dia chegou.

— Clara Guimarães da Silva, eu sou seu pai e estou dizendo que não temos nada para conversar.

— Foda-se o que você diz, perdeu totalmente o respeito que eu tinha por você quando me espancou quando eu era criança e quando nos abandonou naquele final de ano! Se não fosse pelo tio Marcelo, a coisa mais perto que eu e o Henrique tivemos de saber o que é um pai, nós não saberíamos de verdade o que é isso. Você tem três filhos, Thiago. Agora pergunte a qualquer um dos três se eles tem alguma boa memória com você? A resposta é não. E sabe o por quê? Porque você sempre conseguia estragar tudo com o seu jeito estourado e nós nunca pudemos falar ou fazer nada, caso contrário você iria nos bater para nos calar. — Os olhos castanhos do meu pai estavam totalmente focados em mim. O que não consigo decifrar é se estão transbordando ódio ou culpa neste momento.

— Filha, não fale desse jeito com o seu pai!

— Mãe, não é possível que você ainda consiga defender esse homem. Depois de tudo o que ele fez para você, tudo que fez para nós!

— É melhor você calar a boca sua garotinha mimada. — A voz do meu pai chamou minha atenção para si outra vez. — Você me deve respeito acima de tudo. Só conseguiu ser quem é hoje em dia por minha causa. E só está viva porque aquele imbécil foi parado, e ao depender das suas escolhas, elas só te levariam para péssimos resultados.

Sorri com deboche e senti meus olhos encherem de água. Não acredito que ele está jogando uma escolha imatura da minha adolescência e que por anos foi o meu maior trauma na minha cara. Me recuso a acreditar.

— Não. Eu consegui ser quem eu sou graças a mim. Você fez o mínimo que deveria por mim, e mesmo assim sou grata por tudo. Mas eu consegui estudar aqui em Barcelona por meu mérito e meu esforço. Consegui me manter por 5 anos com o meu trabalho, consegui subir meu cargo graças ao meu foco nos estudos. Então não, Thiago, eu não consigo APENAS por sua causa. — Enxuguei algumas lágrimas que escaparam. — E sobre o Vitor, me poupe. Eu era só a droga de uma adolescente que tentava encontrar em outras pessoas o que eu nunca tive de fato, o carinho e a atenção de um pai que mesmo morando debaixo do mesmo teto era ausente.

— Pelo amor de Deus, parem com essa discussão! — Flávia como sempre iria ficar ao lado do meu pai, mesmo que ele esteja errado.

— Mãe! Para pelo menos uma vez na sua vida de passar a mão na cabeça dele! Por Deus, nem quando descobre que ele te traiu, mesmo depois de ter ficado doente por culpa dele você não consegue enxergar que ele está errado?!

Senti a lateral esquerda do meu rosto arder e meu corpo pender um pouco para trás.

Por alguns segundos eu não quis acreditar no que havia acabado de acontecer. Não consigo raciocinar direito, tudo que consigo captar são Isa e Henrique me segurando e me ajudando a sentar outra vez enquanto o tio Marcelo fica de pé e segura meu pai pela gola de sua camisa.

— Não ouse tocar na minha sobrinha seu idiota! — Meu tio o empurra e minha mãe o segura novamente, praticamente implorando para que ele se sente outra vez. Por Deus, ele está de pé outra vez depois de 5 anos!

— Tio... o senhor... — Ele me encarou com lágrimas nos olhos e assentiu me fazendo sorrir.

— Consegui hoje pela manhã, não consigo andar, apenas ficar de pé. Iria te contar hoje a noite.

— Isso é tão... Deus, estou tão feliz de vê-lo de pé! — Fui em sua direção e o abracei. As írises castanhas claras do meu tio estavam borradas com as lágrimas que insistiam em preencher seus olhos. Seus dedos acariciaram meu rosto, no local onde recebi o tapa a poucos minutos.

Me afastei dele o ajudando a sentar novamente e observei o rosto de Thiago Guimarães.

— Vocês sabem o quão importantes são para mim. Tudo o que eu mais gostaria nesse mundo era poder passar esse final de ano com a melhor energia possível, mas todos sabemos que isso será impossível. Isa, não se sinta culpada por absolutamente nada. Não é sua culpa que alguém cometeu erros, acima de qualquer coisa eu estou aqui para o que você precisar. Sou sua irmã mais velha e te amo tanto quanto tal. — A garota sorriu e se aproximou de mim, né abraçando. A apertei contra mim e permiti que mais lágrimas caíssem.

— Obrigada por me acolher tão bem, Clara.

— Henrique, tio Marcelo, vocês sabem exatamente o tamanho do meu amor por vocês. Sempre podem contar comigo para tudo. — Henrique assentiu ao lado do meu tio enquanto eu peguei a minha bolsa. — E mãe, por favor, eu só quero que você abra seus olhos e se coloque como prioridade uma única vez na vida. Por favor, não passe a mão na cabeça de atitudes ridículas. Eu sinceramente gostaria que pudéssemos ter conversado como a família que deveríamos ser. Como isso não é possível, só quero pedir que daqui dois dias, quando fomos jantar com a família do Pedro, por favor, apenas finjam que somos uma família onde todos respeitam o próximo, tudo bem?

Não esperei que eles respondessem, meu coração acelerado e minhas mãos trêmulas eram o sinal mais claro de que eu teria uma crise de ansiedade em poucos segundos. Mas não iria demonstrar isso na frente deles, nunca demonstrei e não seria esse o momento que iria acontecer.

Tranquei a porta atrás de mim e andei apressada até o carro que havia pego emprestado com s Angela, preciso urgentemente comprar um carro para mim.

Joguei meu corpo sobre o banco do motorista e respirei o mais fundo que pude. Sabe quando você sente que algo está esmagando seu peito e sufocando seus pulmões sem parar e por mais que você lute e tente não deixar que isso seja maior que você, quando menos percebe já está totalmente imerso? É assim que eu estou agora.

Não consigo e não quero falar com ninguém agora. Por isso ignorei meu celular tocando repetidas vezes. Desliguei o aparelho o jogando na parte de trás do carro e encostei minha cabeça sobre o volante, sentia como se alguém tivesse me dado uma punhalada pelas costas neste momento.

Por mais que meu pai fosse um tipo de pessoa que sempre se mostrou durão e sem sentimentos, eu achava que nunca faria ou diria o que fez e disse. Acho que essa foi a pior parte, pior até mesmo que o tapa no meu rosto. Mesmo que eu não o tivesse tão próximo de mim, eu ainda o amava.

Só que agora eu já não sei o que sinto de verdade. Ele acabou de me machucar de uma maneira horrível. Ele usou dos meus traumas para me atacar. Ele sequer teve o cuidado de não me ferir. Ele simplesmente me mostrou que eu estava certa desde criança.

Thiago Guimarães nunca foi capaz de me amar verdadeiramente.

O silêncio do quarto e o cheiro amadeirado do perfume dele me deixaram menos agitada. Pedri ainda não voltou do CT e pelo o que imagino, só irá sair de lá bem mais tarde. Já faz alguns meses que trocamos as chaves de nossas respectivas casas, ele tem a do meu apartamento e eu tenho a da sua casa.

As palavras ditas por Thiago ecoavam dentro da minha cabeça como se eu estivesse em uma sala com eco.

Acredito ter ficado parada no mesmo lugar com aquele carro por mais de 20 minutos. A maneira que eu estava com a respiração descontrolada e com meu corpo trêmulo me deixavam incapaz de conduzir meu corpo para qualquer lugar, quem dera dirigir.

No momento em que consegui me acalmar eu vim direto para a casa do Pepi. Mandei uma mensagem para ele pedindo que quando saísse do CT passasse no meu apartamento para pegar o Zico e algumas coisas minhas, pois pretendo ficar aqui por uns dias.

Escovei meus cabelos úmidos com a escova e espalhei um óleo misturado ao creme, irei deixá-los secar naturalmente enquanto distraío minha mente estudando.

A camiseta com o número oito nas costas ficava mais como um vestido do que qualquer outra coisa para mim, mas só de poder sentir o cheiro dele nesse ambiente, faz com que eu consiga controlar melhor as minhas emoções.

Olhei para o lado esquerdo do meu rosto e notei que a marca dos dedos do meu pai ainda marcavam minha pele. Até agora não sei como ainda permaneci de pé depois dele ter acertado sua mão no meu rosto.

Fechei os olhos e escondi meu rosto entre minhas mãos, não sei se vou conseguir me concentrar em nada por enquanto. Odeio me sentir assim.

O barulho da porta abrindo chamou minha atenção e me fez erguer a cabeça outra vez para olhar na direção da mesma. O corpo do espanhol adentrou o cômodo e rapidamente os seus olhos se prenderam em mim. O pequeno sorriso que havia em seus lábios, sumiu no momento em que ele percebeu os meus olhos marejados.

Pedri largou a mochila sobre a cama e abriu rapidamente a caixa transporte do Zico, deixando o felino sair. Seus passos largos até estar parado em minha frente mal me deram tempo de tentar disfarçar qualquer coisa que fosse.

— Corazón, o que aconteceu? Por que está chorando? — Sua voz era calma e suave, quase rouca e inaudível.

— Não foi nada... eu só preciso de um abraço. — Ele se inclinou sobre mim me envolvendo em seus braços e apertou meu corpo contra si. Escondi meu rosto na curvatura do seu pescoço e o espanhol ergue seu corpo, consequentemente me levantando junto. Pedri passou um dos braços firmemente em minha cintura e eu entrelacei minhas pernas em seu quadril.

— Se você desabafar vai te fazer sentir melhor. — Sussurrou em meu ouvido enquanto deixava pequenos beijinhos pelo meu pescoço. Funguei o nariz e levantei a cabeça novamente, desta vez olhando em seu rosto. Suas írises castanhas pareciam fixas na marca avermelhada na minha bochecha. — Por Deus, isso não pode ser o que eu estou pensando. — Ele fechou os olhos com força no mesmo instante que seu maxilar travou. — Quem fez isso com você?

Senti meu corpo inteiro arrepiar com sua última frase, a maneira que ele praticamente rosnou as palavras me deixaram atordoada e quase sem um rumo.

— Está tudo bem, você não precisa se preocupar com isso, Pepi.

— Corazón, por tudo que é mais sagrado, me diga o que aconteceu. — Suspirei observando seu rosto e concordei minimamente.

Pedri sentou-se sobre a cama e me acomodou em seu colo para que eu pudesse lhe explicar o que tinha acontecido.

Conforme eu explicava tudo, podia sentir ele conter a raiva entre os punhos. González não é do tipo de se meter em brigas facilmente, mas sinto que neste momento ele está prestes a jogar tudo para o alto e explodir de vez.

— Que porra, ele não tem a merda do direito de te bater! Independente se é seu pai ou não. — Seus dedos acariciando levemente minha bochecha me conforta de alguma forma.

— Eu sei, mas eu não quero mais tocar nesse assunto. Thiago Guimarães sempre foi explosivo desse jeito, no fundo eu já esperava que ele fosse me machucar de alguma maneira.

— Isso não justifica nada. Por Deus, ele te agrediu!

— Pedro, discutir com ele agora, só iria piorar toda a situação. Como eu disse a eles, vou fingir que nunca aconteceu para pelo menos passarmos as festas em um clima decente. Não irei mais me desgastar por culpa das atitudes dele.

— Amor, eu fico feliz por ter desabafado comigo. Mas eu sei que aqui dentro, — Disse apontando para o meu coração — Ainda tem algo que você não quer falar e que te machuca. Quando eu escolhi você para ser minha namorada, também escolhi estar do seu lado para te apoiar e para te defender sempre que fosse preciso. Eu não só quero como também posso te ajudar a enfrentar isso, mas para conseguir, preciso que você fale comigo. Tudo bem?

Suspirei evitando olhar diretamente nos olhos dele. Ele está certo quando diz que dentro de mim eu guardo muitas coisas que com o tempo se transformaram em traumas, mas eu cresci assim, precisei aprender a engolir o choro e guardar tudo o que estava sentindo para mim, apenas para mim. É difícil para mim finalmente colocar para fora tudo aquilo que guardei comigo por tantos anos.

— Eu tinha 5 anos... — Meu tom de voz saiu bem mais baixo do que eu gostaria. — Foi a primeira vez que meu pai me bateu, o Henrique estava brincando com uma bola e acabou batendo em um vaso que quebrou. Ele nunca tinha encostado um dedo em mim, foi a primeira vez que... bem, ele disse que era minha culpa, que eu deveria ter prestado atenção no meu irmão. Acho que ainda tenho algumas cicatrizes nas costas. — Lembro exatamente que a fivela do cinto dele cortou minhas costas, só consegui me livrar de uma parte das cicatrizes graças ao tio Marcelo que cuidou de mim e ajudou na cicatrização das feridas. — O tio Marcelo é o mais próximo que eu tive de uma figura paterna presente, mas eu ainda amava o meu pai. Só que, com o tempo, ele só piorou e passou a não se importar com a gente, ele já chegou a perder todo o dinheiro que havia conseguido e apostado em um bar, naquela semana nós passamos fome por simplesmente não ter como comprar qualquer coisa.

— Sua mãe nunca cogitou em separar dele?

— Ela o ama. Infelizmente o amor dela por ele a deixou cega demais para conseguir ir embora da vida dele. Ela prefere defender ele do que nós, igual fez hoje. — Enxuguei algumas lágrimas. — Eu sei que no fundo ela gostaria que as coisas fossem diferentes, mas não são. E nossa família é o mais desunida possível.

— Clara, eu lamento por tudo o que já passou. Seu pai não tinha direito de fazer tudo isso com nenhum de vocês. Diferente de tudo, ele deveria ter cuidado e amado cada dia mais vocês.

— Eu prefiro acreditar que ele só reaplicou em nós tudo o que fizeram com ele. Sabe quando o meu ex fez tudo aquilo comigo? — Ele concordou. — Naquele momento, quer dizer, quando meu pai viu tudo o que havia acontecido ele quis matar o meu ex com as próprias mãos. Só não o fez porque os policiais o alertaram de tudo que iria acontecer. Naquele momento eu senti que ele ainda sentia algum amor por mim, ele quis me defender. Mas agora eu não tenho certeza, ele só jogou tudo na minha cara sem dar o mínimo de importância possível. Eu realmente não sei mais o que pensar.

— Você não tem que pensar em nada. Não tem que carregar uma dúvida que sequer deveria existir. — Suas palavras eram pronunciadas com cuidado. — Ele tinha que te dar o mínimo meu bem, e eu não estou falando de coisas materiais. Dentro de você ainda existe uma garotinha que só gostaria de ter um pai que cuidasse de você, mas você precisa se libertar disso, se apegue às boas lembranças com o seu tio, ou até alguma lembrança boa com ele. É melhor que você acredite que em certos momentos realmente existiram amor porque pelo menos um sentimento de cuidado foi preciso.

— Acha que eu devo conversar com ele outra vez?

— Sinceramente não, você fez o que podia, você o procurou e ele se recusou. Agora é a hora de seguir em frente e perdoá-lo, só assim conseguirá dar mais um passo na sua vida.

— Sabe, você tinha razão. Realmente desabafar isso me deixou mais leve. — Ele sorriu deixando um beijo casto em meus lábios. — Eu vou tentar perdoá-lo, não quer dizer que seja fácil ou que irei conseguir, mas prometo tentar.

— Essa é a minha garota. Independente da sua posição diante de tudo isso, saiba que estarei aqui com você para te apoiar sempre. — Envolvi seu pescoço e o beijei delicadamente. Pedro tem sido o meu maior ponto de paz ultimamente, acho que estou ficando totalmente dependente dele.

— Tudo bem. Vamos esquecer um pouquinho desse assunto. Como foram as coisas lá no CT?

— Foram tranquilas, Matteo disse que eu só irei voltar a jogar no início de fevereiro. O que me deixou puto na verdade, vou perder muitos jogos importantes.

— É melhor que perca agora e esteja recuperado. Pepi, seus músculos precisam descansar, você é um humano e não uma máquina.

— Eu sei, só que é muito tempo. — Revirei os olhos e ele riu. — Mas não se preocupe, só voltarei quando tiver 100% de aprovação dos médicos.

— Acho bom, caso contrário eu mesma me encarrego de quebrar sua perna para te deixar parado. — O jogador deu uma gargalhada e me apertou contra si em um abraço apertado.

— Por isso eu te amo.

— Por que?

— O jeitinho que você cuida de mim é diferenciado. — Foi a minha vez de rir.

— Eu também te amo, Pedro.

O que me dói de verdade é que por mais que eu tente o meu pai nunca estará disposto a abrir mão do seu orgulho. Mesmo que isso signifique se afastar de mim.

Mas Pedro tem toda a razão quando me disse que eu fiz o que pude, acho até que fiz bem mais do que deveria. Porém eu não consigo perdoá-lo, ao menos não agora. As palavras dele abriram uma nova ferida em mim, e sinceramente, doeram bem mais do que o maldito tapa no rosto.

Ele poderia ter me espancado e mesmo assim aquelas palavras ainda doíam bem mais dentro de mim.

Cheguei Brasil! Atrasado? É claro. Me perdoem, mas eu me enrolei com várias coisas no correr do dia e esqueci completamente do capítulo 🤡

Mas é isso, quem esperava que o Adrián fosse filho do Sérgio? E que o Lucca e ele estariam juntos? Aí aí, esse dois ainda vão aprontar poucas e boas com uns casais aí...

E sobre o pai da Clara, apenas aguardem os próximos capítulos.

Espero que gostem 💙

Até o próximo capítulo!

📝 Não esqueçam de comentar e deixar o seu voto no capítulo! 🤍

Beijos de luz,Kalisa.

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