Cap. 011
Eu nunca confiei em alguém com tanta facilidade em toda a minha vida. Principalmente para conseguir falar sobre o que eu já passei e como eu me sinto.
Mas com ele tudo parece ser diferente.
Pedro faz as coisas serem diferentes.
Desde a morte do Juan, eu não consegui me relacionar com mais ninguém.
Toda e qualquer oportunidade que alguém se aproximava de mim eu dava um jeito de afastar. Não iria suportar perder outra pessoa.
Sempre foi mais fácil fingir um jogo de desinteresse. Mesmo quando havia interesse de minha parte.
Porém, Pedro não me permitiu fazer isso. Ao invés de se afastar como todos os outros, ele insistiu.
O meu estopim foi durante a festa do Neymar, aquele dia com toda certeza ficará marcado em minha vida. O dia em que eu deixei de relutar por um sentimento e resolvi lhe dar uma chance.
Dar uma chance ao Pedro.
Seus braços estavam ao redor da minha cintura enquanto minha cabeça estava apoiada em seu peito. Me aconcheguei em seu corpo e o abracei.
Lá fora estava chovendo bastante e como seria de esperar, a temperatura caiu ainda mais. O corpo dele é uma ótima escolha para se aquecer diante do frio.
Observei cada detalhe seu de perto e levei uma de minhas mãos até seu rosto, contornando cada traço seu.
Desenhei o contorno de sua boca e sorri ao sentir seus braços me apertarem um pouco mais.
Sua barba por fazer o deixava com um ar ainda mais sexy e destruía minha sanidade. Esse homem é o mal caminho completo, não apenas um pedaço dele como costumam dizer.
Nossos corpos estavam enroscados um ao outro e isso, de certa forma, me trazia um enorme conforto.
Meu gato estava deitado próximo aos nossos pés e ronronava enquanto dormia. Acho que alguém não gostou de dividir a cama.
O quarto ainda está escuro, porém não faço ideia de que horas possam ser. A janela e as cortinas estão fechadas, então a luz não consegue ultrapassar.
Voltei a acariciar o rosto dele e me perdi entre meus pensamentos. Às coisas entre nós dois aconteceu de uma forma tão rápida e ao mesmo tempo tão natural que chega a me assustar.
Tirando o fato de que nos conhecemos com ele me dando uma bolada e depois me derrubando na frente de um time inteiro, foi bem natural.
Pedro é literalmente tudo aquilo que eu prometi nunca me envolver no passado. Tem a minha idade, é um moreno sarcástico e rodeado de mulheres, famoso e o pior de todos, é jogador.
Meu primeiro namorado, quando eu tinha 15 anos, era um jogador da base do Fluminense. Eu era ingênua o suficiente para não perceber que ele só queria me usar, depois que conseguiu o que queria de mim não pensou duas vezes antes de me dar um belo pé na bunda.
Desde esse dia eu jurei nunca me envolver com outro jogador. Porém, por pura ironia do destino estou deitada com uma jóia do futebol atual na minha cama.
Acho que preciso parar de fazer promessas que não posso cumprir e nem tenho controle sobre.
— Daria 1 milhão de euros para saber o que se passa nessa cabeça. — O som de sua voz rouca me fez despertar e fixar meu olhar em seu rosto outra vez.
Deus, por que ele tem que ser tão perfeito?
— Faz tempo que acordou? — Ele negou e repousou uma das mãos em meu rosto.
— Mas foi tempo suficiente para conseguir te admirar com esse rostinho de sono. — Beijei a ponta de seu queixo e ele sorriu de canto. — Bom dia mi corazón.
— Bom dia Pepi. — Seus lábios tocaram os meus por breves segundos e eu deixei um sorrisinho escapar.
— Vai me contar sobre o que estava pensando?
— Não era nada demais, só estava lembrando a forma que nos conhecemos. — Pedri riu e lambeu os lábios.
— Posso te contar um segredo?
— Claro. — Ele se ajeitou na cama e ficamos de frente um para o outro.
— Eu guardei aquela bola comigo. — Tenho certeza que minha expressão de surpresa o deixou com vergonha. — Gavi me zoou até o dia em que te reencontrei no CT.
— Eu também te zoaria se estivesse no lugar dele. — Deixei um riso escapar.
— Em minha defesa eu não esperava te encontrar outra vez, então pensei em guardar a bola daquele momento histórico.
— O momento em que você quase precisou pagar a rinoplastia de uma torcedora por ter uma péssima pontaria?
— Aquela bola foi escolhida por Deus, pensa comigo, se eu não tivesse te acertado você não iria conhecer esse grande gostoso que eu sou. — Dei uma risada e neguei.
— Iríamos nos conhecer quando eu começasse a trabalhar com a equipe.
— Mas aí não teria graça. Talvez eu não tivesse ido naquela festa e não teria te dado uma camisa do Leo.
— Okay, nessa parte você tem razão. — Ele riu. — O universo conspira a meu favor de vez em quando.
— Espero que ele continue conspirando ao meu favor, e de preferência que essa conspiração seja você. — Mordi meu lábio inferior e ele beijou a ponta do meu nariz. É um gesto muito pequeno, mas que acabou se tornando importante para mim quando ele passou a fazer.
O toque de um celular ecoou pelo lugar e Pedri ergueu o corpo enquanto esticava o braço para o móvel ao lado da minha cama, onde seu celular tocava.
Me estiquei sobre a cama e o encarei enquanto o espanhol falava ao telefone. Suas palavras foram escassas e sem muito contexto para mim, o que me resta é esperar que ele desligue a chamada e me conte do que se trata.
Zico miou enquanto me encarava e se aproximou de mim. Acariciei sua cabeça e o gato se deitou novamente perto do meu corpo.
— Já fui trocado? — Pedro observou o gato que fazia sua melhor cara de desinteresse. — Que isso cara, a gente precisa de um acordo.
— Ele quer comer, ainda não dei comida a ele.
— Falando nisso... — O jogador coçou a nuca e desviou o olhar para a janela.
— Aconteceu alguma coisa?
— Minha mãe acabou de me ligar. Ela quer muito que eu vá almoçar com a família hoje. — Suas bochechas estavam levemente rosadas e eu não pude evitar um sorriso.
— E? Pepi, você não passou nem um tempo com sua família ainda, ela só quer comemorar com você e as pessoas que são importantes para vocês.
— Eu sei, mas ela também quer que você vá comigo. Meus pais e meu irmão querem te conhecer, Clara.
Pedro me observava tranquilamente enquanto me via revirar meu guarda roupas inteiro procurando algo que eu gostasse. O que era quase impossível.
— Eu definitivamente preciso comprar novas roupas. — Disse enquanto jogava um vestido azul bebê para trás.
— Corazón, você é linda de qualquer jeito. Pode vestir qualquer...
— Nem ouse terminar essa frase Pedro González López. — Ele se calou e eu respirei fundo. — Tem certeza que sua mãe quer tanto me conhecer assim? Nós nem temos nada oficial ainda. E se ela não gostar de mim? Ou se eu fizer ou falar algo que eles não gostem? Deus, nem sei exatamente o que somos!
Pedri riu do meu desespero e eu joguei uma blusa em sua direção. Ele se levantou e agarrou minha cintura.
— Ela vai amar você. Todos eles vão. Você é incrível corazón, é impossível não gostar de você. — O espanhol beijou o topo da minha cabeça e acariciou minha bochecha. — Vista algo que te deixe confortável e aquecida.
— Tudo bem. — Peguei uma combinação que eu adorava ir para a faculdade em dias frios e adentrei o banheiro para me trocar.
É bem simples, mas me deixa confortável.
Saí indo calçar meus tênis e a todo momento os olhos dele estavam vidrados em mim.
— O que achou? — Dei uma voltinha e ele sorriu.
— Perfeita. É impossível algo ficar ruim em você. — Peguei um casaco grande e que me deixou bem aquecida. — Se você quiser, eu ligo e falo que não deu pra você ir comigo. Podemos marcar outro dia, ou...
Levei meus dedos até seus lábios e ele se calou.
— Eu quero ir com você. Só estou um pouco nervosa. Ninguém nunca me apresentou a família e pra piorar nem nós mesmos sabemos o que somos. — Seus braços envolveram minha cintura e ele colou nossos corpos.
— Você merece o mundo inteiro corazón, só não havia encontrado alguém disposto a te dar isso. — Observei seus olhos e ele continuou. — O que acha de darmos mais um passo agora?
— Como assim? O que você está sugerindo? — Uma de suas mãos apertou mais a minha cintura e a outra subiu até minha bochecha a acariciando.
— Clara, você aceita ser minha ficante Premium e exclusiva? — Mordi meu lábio inferior e ele riu sarcástico. — Isso foi estranho, calma, deixa eu tentar de novo.
Pedri respirou fundo e me encarou outra vez.
— Você quer ser minha ficante seria? Não estaríamos namorando, mas de qualquer forma teríamos uma ligação maior que apenas amigos que se pegam. O que me diz?
Estar em algo sério ao mesmo tempo que não é um relacionamento? Isso soa um pouco estranho, mas vai ver foi por esse motivo que meus últimos relacionamentos não deram certo, sempre pulamos a parte do "ficantes" sérios, para os namorados.
Ele realmente parece estar disposto a irmos devagar. E eu sei, se formos mais devagar que isso vamos ser igual a América e o Maxon em "A Seleção" da Kiera Cass.
Mas que culpa eu tenho? Se até a América que tinha um príncipe em mãos precisou de 3 livros para se decidir e quase botou tudo a perder no final, quem sou eu para dizer algo, não é mesmo?
— Eu aceito. — Um sorriso imediato se formou em seus lábios e ele me puxou para um beijo caloroso.
Passei as mãos ao redor de seu pescoço e senti as suas percorrem o meu corpo.
Pedro terminou o nosso beijo com alguns selinhos e deixou um beijo calmo em minha testa.
— Tava com medo de você pedir mais tempo. — Deixei uma risada escapar e neguei.
— Não consigo me jogar em mar aberto ainda, desculpe. — O espanhol negou e me puxou para outro abraço.
— Tudo no seu tempo, corazón. Não precisamos apressar nada. Podemos ir agora? É um pouquinho longe daqui até onde meus pais moram.
— Podemos sim, só vou verificar se o Zico tem comida e água a vontade. — Pegamos nossos casacos e eu caminhei até onde deixava os potes do meu gato.
Após certificar que ele ficaria bem, nós dois saímos do meu apartamento e seguimos para o estacionamento do prédio.
Meu coração estava prestes a entrar em colapso. Conhecer os pais e o irmão dele tão cedo não estava nos meus planos, mas eu não iria conseguir dizer um não para um pedido desses.
Eu só espero não estragar tudo por ter sido apressada nesse encontro.
Pedri entrou em um condomínio privado e estacionou em frente a uma casa rodeada por um jardim incrível.
Se ignorarmos o fato de que está chovendo horrores, é um jardim perfeito.
Ele desceu rapidamente e correu para abrir a minha porta.
Pedro ativou o alarme do carro e segurou minha mão enquanto corríamos até a porta, onde o espanhol abriu a mesma com uma chave e sem muita cerimônia me puxou para dentro.
— Desculpe por isso, esqueci de pegar um guarda chuva. — Fiz um biquinho e ele riu enquanto pendurava o casaco e em seguida pegava o meu.
— Que merda... Pepito! — Um rapaz, muito parecido com o Pedri (diga-se de passagem), apareceu na entrada e sorriu espontaneamente ao ver o jogador.
— Oi Fer! — Eles fizeram um toque e se abraçaram em seguida. — Onde está a mamãe e o papai?
— Na cozinha, estão terminando o almoço. — O olhar do tal Fer se direcionou para mim e ele me encarou curioso.
— Você é a minha cunhada, não é? — Senti minhas bochechas arderem e Pedri lhe deu um tapa no pescoço. — Que foi porra? Só fiz uma pergunta!
— Precisava ser tão direto? Nem cumprimentou ela direito. — O irmão de Pedri resmungou algo inaudível e veio até mim.
— Desculpa pela maneira que falei. É que esse idiota nunca tinha falado tanto de uma garota como falou de você, acredita que até a bola que ele chutou na sua cara ele guardou? — Pedri deu um tapa em sua própria testa e eu não consegui segurar uma risada. — É sério, se você quiser fugir dele eu te ajudo.
— Eu agradeço a preocupação, mas não será preciso. Pedro é uma ótima pessoa.
— Se você diz, bom, acho que ele já deve ter falado de mim... — Ergui uma das sobrancelhas e Fernando me olhou indignado. — Como assim ele não falou de mim!?
— Ele falou sim, de todos vocês na verdade. Mas nós não tivemos muito tempo por conta dos jogos.
— Menos mal, achei que ele realmente não tinha falado sobre nós.
— Para de ser assim Fernando, vai assustar a Clara. — Pedri segurou minha mão outra vez e caminhamos atrás do Fernando que nos guiava até onde os pais de ambos estavam.
A casa é encantadora por dentro e por fora. Não é tão grande como a do Pedri — que estive na madrugada da festa — porém, é tão aconchegante quanto.
— Mãe, pai, o Pepito e a namorada dele acabaram de chegar! — A forma como ele agia com naturalidade ao me intitular como namorada de seu irmão me deixava ainda mais tímida.
— Ei, não liga pra ele, o Fer é bem extrovertido e às vezes passa um pouquinho dos limites. — Pedro sussurrou no meu ouvido e eu concordei.
Os pais dele, que — aparentemente — estavam conversando algo enquanto organizavam a mesa, ergueram o olhar em nossa direção.
Olhei brevemente para a mãe deles e em seguida para o pai, é incrível como eles se parecem.
— Meu amor, estava morrendo de saudades! — A mulher andou em nossa direção e abraçou o rapaz ao meu lado. — Está se alimentando direitinho? Seguindo tudo que os médicos te recomendam e pedem?
— Sim mãe, tudo à risca. — Prendi o riso e voltei com minha postura. Vamos ser sinceros, os nutricionistas desses meninos sofrem a beça para tentarem fazer com que sigam com uma parte da dieta.
— E você deve ser a Clara? Estou certa? — Assenti e ela me puxou para um abraço. — É um prazer finalmente conhecê-la, meu filho falou muito de você nos últimos meses.
Às bochechas de Pedro estavam rosadas e ele coçou a nuca enquanto olhava para o outro lado. Ele está com vergonha.
— É um prazer conhecer a senhora, ele me falou bastante de vocês quando tivemos chances.
— Pode me chamar apenas de Rosy meu bem, sinta-se em casa aqui conosco.
— Muito obrigada. — Ela sorriu e o pai dele se aproximou um pouco.
— Pedro falou muito de você para todos nós, disse que é brasileira e trabalha para o Barcelona também. — A postura dele me intimidava, tenho certeza que se não conseguisse disfarçar bem estaria tremendo inteira nesse momento.
— Sim senhor...
— Não precisa de formalidade aqui, seja muito bem vinda a nossa família! — E de repente ele me puxou para um abraço. — Tenho certeza que vamos nos dar muito bem, pelo o que o meu filho nós disse, você acompanha futebol desde criança, certo? — Concordei. — Não podia ter encontrado alguém melhor Pepito.
— Eu disse que iriam gostar dela. — Pedri ficou ao meu lado e passou um dos braços pelo meu ombro.
— Vamos nos acomodar, o almoço já está pronto. — A mãe dele sorriu e se retirou para servir tudo à mesa.
Bom, ao menos nas apresentações eu sobrevivi.
1 x 0 para minha timidez.
— Deus, agora eu entendo o porquê do Pedro sempre dizer que é impossível seguir uma dieta quando está em casa. — Comentei logo após provar um dos tão famosos croquetes que a dona Rosy fazia.
Pedro comentou bastante sobre e sempre se gabou por serem os melhores. Só não esperava que fossem tão bons assim.
— Eu te avisei! — Disse enquanto comia.
— Ninguém consegue superar os croquetes da dona Rosy. — Fer comentou e eu concordei.
— Muito obrigada! Mas, nos fale mais sobre a sua família. Você é brasileira, certo?
Tomei um gole de água e concordei enquanto limpava a boca com um guardanapo.
— Eu me mudei para Barcelona com 17 anos para conseguir estudar, mas meus pais continuam no Brasil.
— Você deve ser muito inteligente. Caralho, você terminou o ensino médio com 16 anos! — Dona Rosy repreendeu o filho mais velho e eu ri.
— Na verdade eu comecei a estudar bem cedo, e isso me ajudou a concluir os estudos obrigatórios mais rápido.
— Seus pais devem sentir muito orgulho de você. — Senhor Fernando comentou.
— Eles são a minha maior razão de não ter desistido. — Eu não sou daquele tipo de pessoa que tem uma ótima relação com os pais, na verdade sempre tive que bater de frente com eles para conseguir correr atrás dos meus sonhos.
Porém, mesmo com tantas diferenças entre nós, eu ainda os amo e sou capaz de tudo para vê-los bem e felizes.
— Você tem irmãos, Clara? — Fer questionou.
— Tenho um irmão mais novo.
— Ele é criança?
— Não, ele já tem 18 anos. — Ele assentiu e dona Rosy tocou minha mão antes de me perguntar.
— Meu bem, seus pais e seu irmão virão para cá esse ano? Seria bom conhecê-los também. — Sorri brevemente e assenti.
— Estamos nos planejando para que eles venham no final do ano.
— Perfeito, até lá podemos nos conhecer melhor e pensarmos com calma em tudo que vamos fazer. — Concordei e Pedri repousou uma das mãos sobre minha coxa, acariciando brevemente aquele local.
Todos da família dele são incríveis, foram incríveis comigo a todo momento e não me deixaram ficar desconfortável.
Eu comentei brevemente com a minha família sobre estar conhecendo uma pessoa, mas não fui clara em dizer que era um jogador e muito menos que do mesmo clube onde eu trabalho.
Não é como se os meus pais fossem reprovar ou algo do tipo, mas eles sempre foram cuidadosos e exigentes comigo no que se tratava de relacionamento.
Depois do Juan — Principalmente depois dele — o cuidado deles comigo pareceu dobrar. A última vez que eu comentei sobre um garoto com eles foi motivo para uma chamada de 6h seguidas.
E olha que ele era apenas um amigo.
A chuva não tinha dado trégua e parecia ficar mais forte com o passar do tempo, espero que diminua um pouco para podermos voltar.
— Clara, eu sei que isso deve ser um pouco chato, mas vocês já conversaram sobre as cláusulas do contrato? — Senhor Fernando perguntou. É normal que ele queira saber de assuntos como esse, afinal de contas, estamos falando da carreira de seu filho.
— Pai, não precisa falar sobre isso agora. — Pedri interferiu, porém eu toquei em sua mão e neguei.
— Nós conversamos sobre isso e...
— E nós achamos que vale a pena. Não quero me culpar depois por não ter seguido o que meu coração pediu, o contrato é só um porém no meio de tudo. — O espanhol tomou a fala e o seu pai nos observou.
— Bom, se vocês estão de acordo em arriscar, eu não posso e não vou interferir em nada. Apenas sugiro que tomem o máximo de cuidado possível, se a mídia conseguir qualquer coisa, por mais fútil que possa parecer, pode complicar bastante.
E ele está totalmente certo. O que eu menos quero e preciso é que as pessoas me reconheçam apenas como a mulher de um jogador famoso.
Eu quero sim reconhecimento, mas que seja graças ao meu trabalho, por meu mérito. Odeio imaginar que as pessoas me olhem e me assemelhem imediatamente à imagem de um homem.
Aquele típico julgamento da sociedade onde uma mulher só foi reconhecida e "teve" uma carreira de sucesso graças a fama de seu namorado ou marido.
Só de pensar nisso me sinto mal.
— Nós vamos ser cuidadosos. A última coisa que quero é prejudicar a carreira da Clara. — González tocou em meus dedos e depositou um carinho ali.
— Do jeito que algumas das suas fãs são loucas, eu teria o maior cuidado possível e impossível. — Fernando disse e eu ri nervosa. Eu já vi alguns vídeos e os meninos comentaram comigo sobre isso, algumas das fãs deles elevam o sentido das coisas e simplesmente surtam com a ideia de que eles possam estar em algum relacionamento. Isso é bem problemático no meu ponto de vista.
— Elas não vão descobrir nada. — Ele afirmou e segurou minha mão.
Novos assuntos foram surgindo e aos poucos eu estava totalmente à vontade naquele ambiente.
Não sei exatamente se foi impressão minha, mas todas as vezes que os pais dele tocavam brevemente no assunto de um relacionamento sério, eles mesmos voltavam atrás e tentavam mudar de assunto o mais rápido possível.
Mas sinceramente, acho que deve ser apenas algo da minha imaginação.
Já estava começando a escurecer quando saímos da casa dos pais dele.
A chuva tinha dado uma pequena trégua, o suficiente para conseguirmos voltar.
Durante o caminho eu fiquei mais calada enquanto pensava no que o senhor Fernando havia falado, sobre arriscar tudo, por quem sabe, uma incerteza.
Matteo não entrou totalmente em detalhes, mas foi bem claro quando me explicou sobre qualquer tipo de envolvimento entre os atletas e os demais profissionais.
Uma demissão por justa causa, com perda total de direitos e a aplicação de uma multa. Essas são as possíveis consequências que eu poderia ter. Ou ao menos é isso que eu penso que pode acontecer.
Além, é claro, de arruinar totalmente a minha carreira por isso. Claro que, se algo sobre nós acabasse vazando e chegasse aos ouvidos dos nossos superiores, eu sairia totalmente prejudicada e o máximo que iria acontecer com ele seria uma bronca e quem sabe uma pequena multa por desobediência. Mas eles nunca iriam prejudicar a carreira de uma grande promessa do futebol deles. Isso jamais.
— Corazón? — Pisquei algumas vezes e olhei na direção de sua voz. — Clara, tá tudo bem? Você ficou calada e não tá me respondendo a alguns minutos.
— Ah, eu só estou pensando um pouco. — Forcei um sorriso e ele lambeu os lábios.
— Prefere pensar no seu apartamento? — E só então eu notei que já havíamos chegado no prédio.
Não esperei que ele saísse para abrir a porta. Eu mesma o fiz, e logo ele me alcançou.
Andamos até o meu apartamento e ele fechou a porta atrás de si. Andei até o meu quarto e ouvi seus passos logo atrás de mim.
— Quer me contar o que aconteceu? — Me questionou assim que entramos no meu quarto.
— Eu só... só estou um pouco pensativa, só isso.
— Esses pensamentos por acaso são no que o meu pai disse? Sobre o contrato? — Mordi o lábio inferior e desviei meu olhar dele. — Você pode conversar comigo.
— É só besteira minha, logo passa. — O espanhol me puxou até a cama e nos sentamos lado a lado.
— Posso ajudar essa besteira a passar mais rápido se estiver disposta a me contar.
— Não vai mesmo parar de insistir? — Ele negou. — Tá, eu só fiquei me questionando sobre o que iria acontecer se alguém descobrisse. Quer dizer, o que aconteceria comigo.
Pedro suspirou e tocou em sua perna. Seu olhar desviou de mim por alguns segundos e em seguida ele me encarou novamente.
— Corazón, eu nunca faria nada que pudesse prejudicá-la. Se, por um acaso, isso viesse a acontecer, nós daríamos um jeito de contornar a situação. Eu jamais iria permitir que você saísse prejudicada.
Sua voz era da maior calmaria possível, não sei de onde ele tira tanta paciência para comigo.
Sua palma tocou meu rosto levemente e eu fechei os olhos ao sentir sua carícia.
— Confia em mim, eu não vou permitir que isso aconteça contigo. — Abri os olhos para olhar em seus olhos novamente.
— Você não pode me prometer que alguém nunca irá nos flagar juntos.
— Tem razão, mas eu posso prometer dar o meu máximo para evitar isso. E caso vier a acontecer, eu estarei aqui para te apoiar. Não vou sair do seu lado mi corazón. — Deixei um sorriso bobo escapar e lhe dei um beijo inesperado, mas que foi correspondido.
Um turbilhão de coisas se passava pela minha cabeça após as palavras dele.
Às vezes nós nos acostumamos com tão pouco, que quando recebemos um pouco mais não sabemos como reagir diante da situação.
Conhecer o Pedri me fez perceber que eu não tenho tanto controle sobre mim quanto imaginava. Sempre que algum homem tentava se aproximar eu o fazia perder qualquer interesse.
Mas não com González. Ele pareceu ficar cada vez mais interessado a cada tentativa minha, o que gerou em eu ter sido apresentada a sua família hoje.
Por mais que as palavras do senhor Fernando tenham me deixado um pouco atordoada, eu amei conhecê-los, me senti muito acolhida por eles.
— Eu sei que deve ser difícil para você passar por isso agora, já tendo passado por muita coisa antes. Porém, eu quero que saiba que desta vez nós faremos dar certo. Confia em mim?
É assustador para mim confiar em alguém em pouco tempo, mas quando se trata dele, parece que eu o conheço há anos.
— Confio Pedro, eu confio em você. — Ele sorriu e me puxou para seus braços. Seus músculos me envolveram e deitei minha cabeça em seu ombro.
É que algumas vezes, a palavra lar, não necessariamente se refere a um lugar, em alguns casos, lar pode ser uma pessoa. Um abraço.
Nesse exato momento eu me sinto confortável no abraço dele. Eu poderia morar aqui se fosse possível.
— Vamos devagar, cada coisa em seu tempo. Tudo bem? — Ouvir aquelas palavras me confortam de uma forma absurda. Não ter tido boas experiências em relacionamentos anteriores me fez desenvolver traumas e receios.
Porém, ele torna tudo um pouco mais fácil por saber como lidar com essa situação.
Pedri González poderia ser tranquilamente a personificação de caixinha de surpresas para mim. Sempre que penso que ele não pode mais me surpreender, ele me prova exatamente o contrário.
Acho que desta vez eu realmente deva dar uma chance para "nós".
Depois de 1 ano e 15 dias, finalmente tem capítulo novo!
Perdoem a demora e para atualizar, mas as últimas semanas têm sido corridas demais e sem contar no bloqueio criativo que eu estou passando, aos poucos estou conseguindo superar isso.
Essa visão da Clara sobre relacionamentos é algo bem comum atualmente, inclusive um probleminha que a autora de vocês aqui também enfrenta. Bloqueio emocional é algo que deve ser tratado, busquem ajuda profissional e não deixem isso pra lá, em algum momento isso pode sim atrapalhar em vários aspectos da vida.
Essa semana irei interagir um pouco no meu perfil do Instagram, se ainda não me acompanham por lá, dêem uma olhadinha lá 😊
No mais é isso, aos poucos irei voltando a rotina de postagens semanais.
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Beijos de luz,Kalisa.
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