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[17] a promessa de que será diferente.

#éelenãoela

Esta história não tem a intenção de generalizar experiências de uma pessoa trans. Cada trans tem sua vivência, cada trans tem seus ideais.

Ser trans é ser plural!

🦋

[JEON JUNGKOOK]

Eu sinto como se tivesse perdido completamente a habilidade de responder aos estímulos externos.

Talvez fosse a bebida, eu havia enchido muito a cara essa noite. Obviamente, não no mesmo nível que o hyung, mas quase.

E meu estado é decadente: eu me encontro agachado ao lado da cama, encarando o rosto adormecido de Jimin por minutos. Horas. Nem sei dizer ao certo.

Usando do eufemismo, os parafusos da minha cabeça realmente pararam de funcionar.

Poderia ser que tudo isso não passou de uma alucinação, os lábios mal se tocaram, foi algo tão singelo e rápido que não pareceu real.

O Jimin realmente me beijou?

Foi preciso eu dar um tapa em meu próprio rosto para que eu recuperasse um pouco da consciência. Jimin não poderia dormir do jeito esparramado que estava sobre a cama ou então a ressaca do dia seguinte seria o seu verdadeiro inferno pessoal.

Sendo assim, eu tiro os seus calçados junto das meias e o embrulho. Depois, sigo ao banheiro, pegando um paninho molhado com um pouco de demaquilante e volto para o quarto no intuito de limpar o rosto suadindo de Jimin, ainda aproveito para passar os dedos pelos fios bagunçados do hyung e tirá-los da testa ― parecia mais confortável assim.

Com Jimin devidamente cuidado, eu volto ao banheiro e tomo uma ducha rápida, pondo meus usuais pijamas ― camiseta de algum time aleatório que meu primo Jinyoung gostava antes de me dar e uma calça de algodão que eu costumo usar por uma semana inteira (dando a religiosa cheirada básica).

Eu sigo de volta para o meu quarto, direto para a minha cama. Rastejando-me por baixo do edredom até estar agasalhado junto de Jimin.

Dormir nunca foi tão difícil, ainda mais quando a causa da minha insônia ressonava lindamente ao meu lado.

Em algum momento, o universo teve piedade do pobre coitado aqui e eu cedi ao sono.

Contudo, ao acordar, o sol já está alto e brilha contra as cortinas finas do meu quarto, sinto-me estranhamente aquecido e abraçado.

É gostoso e diferente das outras vezes que dormi. De alguma forma, eu não sinto a menor vontade de sair desse aperto, só querendo me afundar aconchegar mais nesses braços que me cercam e sentir a respiração morninha contra a minha nuca... Ahn?!

― O-O quê? ― eu gaguejo, abrindo meus olhos com espanto, encarando por cima do meu ombro o que de fato acontecia. No mesmo instante, meu rosto inteiro entra em combustão.

Jimin ainda dorme profundamente, ressonando baixinho com a boca aberta e os cabelos escuros jogados por todos os cantos do travesseiro. Para piorar, ele está me abraçando pela cintura e com uma das coxas em cima do meu quadril; é como se eu estivesse preso nessa bolha de sono e baba amanhecida.

Eu engulo a seco, repetindo um mantra em minha mente na tentativa de controlar esse coração desembestado.

Com cuidado eu tiro a perna e braços que me prendiam, levantando meu tronco até sentar-me na beirada da cama.

E foi observando Jimin virar o corpo para abraçar um travesseiro perdido em cima do colchão que eu parei para pensar no que tinha acontecido na noite anterior. Não havia sido uma alucinação de bêbado e tão pouco um sonho da minha mente fantasiosa.

Era Jimin ali.

Jimin quem me chamou por apelidos fofos; Jimin quem me deu um selinho. Jimin com quem eu dormi abraçado.

Socorro.

― I-isso realmente aconteceu? ― eu sussurro com os olhos arregalados (enquanto o abençoado só roncava contra meu travesseiro).

Meu deus.

Socorro, meu deus!

Eu deslizo meus dedos pelo desenho dos meus lábios, relembrando de Jimin selá-los como se fosse algo comum e sinto eles tremerem sob meu toque. Ainda parecia vívida a sensação.

Solto uma lufada de ar, esfregando as mãos pelo meu rosto, começando a me incomodar com o meu estômago embrulhado. O coração nem se fala, o bichinho parecia querer sair da minha caixa torácica de tão rápido que está batendo e... seria um possível infarto? Uma ressaca do cão?

Eu saio da cama às pressas, sem olhar para trás. O meu intuito era fugir antes que Jimin acordasse. Felizmente tive êxito, apesar de ter tropeçado e quase caído de cara no chão ao descer das escadas a caminho da cozinha.

― Boa tarde, dorminhoco ― tia Seulgi cumprimenta assim que eu me encosto na entrada do cômodo. Ela está alimentando minha avó com pequenas colheradas de sopa, esta que mastigava audivelmente de olhos fechados.

― B-boa tarde... Que horas são? ― eu pergunto, aproximando-me da mesa para beijar a bochecha das duas mulheres. Aproveita para pegar um pedaço do papel-toalha para limpar os cantos da boca da vovó que ficaram sujinhos.

― Meio dia e meia. É a primeira vez que te vejo acordar nesse horário, sua mãe até já foi trabalhar ― Seulgi constata e eu me vejo coçando a nuca, envergonhado. Minha tia parece perceber, pois o seu sorriso é de quem sabe de algo. ― Minha irmã contou algo engraçado antes de sair...

― Ah é? ― eu pergunto despretensiosamente, mesmo sabendo do que se tratava.

― Sim... Ela me contou ter ouvido um barulho de madrugada e quando foi verificar, era você carregando alguém até o seu quarto... Eu fiquei: "Nossa! o Jungkook trazendo gente pra cá?! Mentira!", aí a Sunmin disse: "Sim, mana. Ele trouxe!". Sabe a parte engraçada? Ela disse que o seu acompanhante tinha uma voz muito familiar...

Lá vem.

―...Tão familiar que lembrava a voz de um certo amiguinho de infância seu. Você acredita nisso, menino? Eu fiquei cho-ca-dér-ri-ma!

Eu reviro os olhos com o deboche da minha tia, apesar de minhas orelhas vermelhas entregarem o quão envergonhado eu estou.

― Já entendi aonde a senhora quer chegar.

― Vocês estão namorando mesmo? ― Seulgi pergunta sem rodeios, enquanto limpava os cantos da boca da vovó. ― Conta pra tia que eu prometo não contar pra fofoqueira da Sunmin!

― A fofoqueira em questão é a minha mãe ― eu arqueio uma das sobrancelhas, segurando o riso com a cara de "Maria fifi" que Seulgi expunha. ― A senhora é pior que ela, tia.

― Moleque, me respeite! ― ela semicerra os olhos, antes de se virar para minha vovó. ― Conta pro seu neto, mãezinha. Fala pra ele que a filha mais fofoqueira é a Sunmin.

― Hmmm...

― 'Tá vendo?! Até a mãezinha sabe! ― Seulgi dispara e eu rio, me inclinando mais uma vez para beijar o topo da cabeça de minha avó e pôr seus fiozinhos brancos atrás da orelha.

― Entendi. A senhora já comeu?

Seulgi bufa.

― Eu te conheço, 'tá tentando mudar de assunto, né? Pois bem, não vou me meter no seu relacionamento e sim, já comi, moleque.

― Não tem relacionamento nenhum. Não rolou nada.

Só um selinho.

― Quer enganar quem?

É a minha vez de bufar, revirando os olhos novamente. Não quero tocar mais nesse assunto, sobretudo com alguém como minha tia.

Aproveito que ela pareceu deixar a ideia de lado e passou a focar na vovó, para me aproximar do fogão. Eu ponho a água para ferver numa tentativa de ocupar minha mente com outras funções.

Sem sucesso.

Na verdade, os questionamentos que minha tia fez, junto das minhas conversas com Hyejin e agora, ciente do quanto um simples selinho me afetou. Eu acabo me ocupando em analisar possíveis cenários.

Jimin gosta de rapazes e nutre sentimentos por mim (é recíproco). Jimin gosta de rapazes e por causa da bebida me achou "pegável". Eu estou fanficando horrores, na verdade o Jimin é hétero e isso foi selinho de "bro". Tinha um cílio grudado na minha boca e o Jimin achou viável tirar com a boca.

As quatro alternativas parecem bem justificáveis e eu com toda certeza estaria pronto para receber qualquer uma delas (mentira).

Não há unha para ser roída, até mesmo os cantos estavam despelados enquanto me perco reflexivo nessas bobagens. Só me desperto quando o barulho de fervura da chaleira passa a ser irritante aos meus ouvidos.

"― Príncipe... Você é um príncipe, não é?"

― Ai, que inferno! ― as minhas mãos elevam-se até minhas bochechas e eu distribuo vários tapinhas, desesperado para conter o sangue que se acumulava ali. ― Jungkook, pelo amor de deus, toma vergonha nessa sua cara... Você é um homem ou uma mula?!

― Ei, menino, 'tá doido? Se batendo aí! ― Seulgi pragueja, me olhando estranho. Eu nem lembrava que ela ainda estava aqui na cozinha. ― Enfim, já que seu namoradinho pode acordar a qualquer momento, vou ficar na sala com a mamãe... ah! Tem comida separada para vocês na geladeira.

― Quer ajuda pra carregar a vovó?

― Não precisa, mãezinha é levinha.

Seulgi carrega vovó nos braços e se dirige ao outro cômodo. Agora que eu estou sozinho, deixo as duas canecas quentinhas de chá sobre o balcão e vou até a geladeira pegar os tupperwares, pondo-os para esquentar. Nesse intervalo, eu pego meu celular e logo me deparo com inúmeras mensagens.

Minghao:

eu tive a transa mais GOSTOSA da minha vida.

juro pra vocês, nunca pensei que daria conta

mas dei conta demaisss

Hyejin:

a putaria online meu deus

sentou?

Minghao:

sentei muito graças a deus

tbm comi aleluia arrepiei

Hyejin:

quem?

Minghao:

a Hope, maravilhosa demais

trocamos números e já quero repetir a dose

Hyejin:

AMIGO ARRASOU

Minghao:

acho que apaixonei

Wheein:

ownt amor a primeira pica <3

TaeTae:

a pouca vergonha que ta isso aqui

Minghao:

olha quem fala né desentupidor de pia

vi você e a hye quase se comendo ao vivo

Hyejin:

hehe 😏

TaeTae:

😳

Wheein:

KKKKKKKKKKKKKK

TaeTae:

tá rindo de que?

VOU TE EXPOR TAMBÉM

Minghao:

o exposed da gata

TaeTae:

acha mesmo que não te vi toda envergonhada conversando

com aquela outra drag lá

Wheein:

Mykka hihi  😍🥰

vocês sabiam que ela gosta de ler novelas também?? e gosta de Girl Groups???

Hyejin:

hmmmmm é assim que começa ein

― A noite deles aparentemente foi boa ― digo de boca cheia, quase me engasgando em determinadas horas com as mensagens que lia. Os meus amigos eram tão descarados e sinceros às vezes que me assustava. Eu aperto o contato de Hyejin e digito qualquer coisa, cinco segundos depois o meu celular começa a tocar.

BOM DIA, MEU CABEÇUDO FAVORITO!

― Eita, que a senhorita acordou animada! ― eu comento e Hyejin gargalha no outro lado da linha.

Nem te conto!

― Vi as mensagens no grupo, já até sei o que é. Finalmente, ein?

O Taehyung é muito fofo, Kookie! A gente se pegou bonito, mas não passou disso. Ele me trouxe pra casa e esperou eu entrar, 'cê acredita? Acho que eu vou explodir porque não tem explicação pra o que eu 'tô sentindo.

― Na verdade tem sim ― eu digo e Hyejin solta um "ahn?". ― Ou é infarto ou é paixão. Podem ser as duas coisas também.

Besta! Quê paixão o quê?! Eu ein, 'tá louco?

― A segunda pessoa que me chama de louco hoje, mas, noona, como você é hipócrita!

Oxe! O que eu fiz pra ser "hipócrita"?

― Falou de mim e olha como 'tá arriada os quatro pneus pensando no Taehyung e ainda se fazendo de sonsa, noona!

Para de usar minhas palavras contra mim! O Tae, e-ele...

― Até o tom da voz mudou! ― eu gargalho.

Eu te odeio! ― Hyejin bufa. ― Mas e você? Que fim você levou ontem à noite? Eu fui antes pra casa, nem me despedi, foi mal.

― Ah... ― eu mordo os lábios, envergonhado. ― Bom, eu vim com o hyung...

Ouço um grito do outro lado da linha.

O JIMIN DORMIU NA SUA CASA?!

Eu esfrego a palma por todo meu rosto, antes de dizer: ― S-sim, mas...

Mais um grito. Como Hyejin é escandalosa!

VOCÊS JÁ ESTÃO ASSIM?

― Assim como...?

HOMEM, ME EXPLICA ISSO DIREITO! A FANFIQUEIRA AQUI 'TÁ A BEIRA DE UM TRECO!

― Não grita, ô pinscher! ― tiro o celular do meu ouvido e ponho no viva-voz sobre a mesa. Sob os resmungos da noona, eu apoio a testa sobre a palma mão e a interrompo. ― Jimin hyung ficou muito bêbado, eu não sabia onde era o local que ele 'tava hospedado e os amigos disseram que ele não 'tava com eles no hotel. Só restou eu levá-lo pra casa, mas... hm, não rolou nada disso que você 'tá pensando. Q-quer di-

― J-Jungkook...?

A voz sonolenta e envergonhada de Jimin ressoa em meus ouvidos e eu seguro a respiração ao encará-lo.

Jungkook? 'Tá aí? Quer dizer o quê?

― Desculpa, noona. E-eu te ligo depois.

Eu finalizo a chamada com Hyejin, ciente de que seria bombardeado por mensagens suas mais tarde me xingando, mas pouco me importei. A tremedeira das minhas pernas não era brincadeira e para minha surpresa, Jimin parecia tão (talvez até mais) inquieto do que eu.

― B-Bom dia, hyung...

🏳‍🌈

[PARK JIMIN]

Estou pensando seriamente em simular minha própria morte, fugir do país, mudar meu nome para Tony Montana e tomar conta de ovelhas em um campo solitário tal qual os cowboys gays de Brokeback Mountain.

Parece um bom plano.

Ao menos, eu evito constrangimentos imensos; vergonhas que eu nem mesmo senti quando estava no vaso e Namjoon abriu a porta sem bater. Ambos gritaram e um Seokjin de avental com esponja cheia de sabão em mãos apareceu no banheiro desesperado achando que alguém tinha morrido. Ainda levei uma esponjada na cara sendo que a maior vítima daquilo era eu!

Mas eu realmente achei que minha dignidade tinha morrido naquele momento, mas pelo visto estava completamente enganado. Depois dessa noite, a minha dignidade e vergonha na cara encontravam-se enterradas a sete palmos do chão.

Na moralzinha, alguém me mata?

― Aaaah... ― eu resmungo completamente frustrado, enfiando meu rosto contra o travesseiro cheiroso de Jungkook. É aquele amaciante de bebê, bem a cara dele.

Ele me trouxe para cá depois da balada e cuidou de um bêbado vergonhoso.

Só de pensar na trabalheira que eu devo ter dado, sou arrematado por uma súbita vergonha, porém o sorriso ridículo que exibo agora só demonstra o quão abestalhado fiquei com a ideia de ter sido bem cuidado pelo Jungkook.

Meu deus, eu dormi no quarto dele...

Ele dormiu ao meu lado...

Eu o beijei e... O quê?!

― Eu beijei o Jungkook! ― eu quase grito, arregalando os olhos em espanto.

Na mesma hora, várias marteladas são dadas na minha cabeça e os meus olhos parecem ver estrelinhas por conta quarto claro. É aquela famosa ressaca da braba!

Não que eu me importe, a ressaca é a menor dos meus problemas. Eu literalmente estou à beira de surtar com um selinho e... caramba! Eu o chamei de príncipe.

Como eu sou sem vergonha, de verdade, alguém me dá uma bastonada na cara, estilo o Negan de The Walking Dead.

Respiro fundo, levantando-me da cama. Eu vasculho o quarto de Jungkook à procura do meu celular e o encontro em cima da escrivaninha, não havia nenhuma mensagem, meus amigos são um bando de preguiçosos que provavelmente estão dormindo e meu irmão deve ter ido a algum restaurante gourmet com o namorado por conta do horário.

Quase uma da tarde e eu ainda estou no quarto. Boa impressão de vagabundo que só dorme ein, Jimin?

Meio molenga, eu sigo para fora do quarto de Jungkook e se não me falha a memória o banheiro continua no mesmo cômodo.

Assim que abro a porta, jogo uma água em meu rosto e enxáguo minha boca com produto, para ao menos disfarçar esse bafo de pinga. Em seguida, com o coração palpitando aos montes, quase sem forças nas pernas de tanta vergonha, eu desço as escadas, passando de fininho até a cozinha.

Ver Jungkook de pijama falando com alguém no telefone, com o cabelinho bagunçado e uma caneca em mãos é uma cena muito adorável e me agrada a ideia de vê-lo todo dia assim. Não que fosse uma possibilidade, mas...

― Foco, Jimin! ― eu sussurro, quase sem voz, dando dois tapinhas em cada bochecha antes de entrar na cozinha. É agora. ― J-Jungkook...?

Ele me encara com os olhos arregalados e no mesmo instante eu desvio o olhar, sinto vergonha de encará-lo depois do que fiz nessa madrugada.

― B-Bom dia, hyung... dormiu bem? ― ele pergunta num tom morno. Eu balanço a cabeça, ainda sem graça.

Quando que eu fiquei tão tímido? Eu não sou assim!

― 'Tá sentindo muita dor de cabeça, hyung? Separei um remédio e fiz um chá, acho que já esfriou agora, desculpa...

― Não tem problema, Jungkookie. 'Tá bom desse jeitinho.

― Tem certeza, hyung? Eu posso esquentar se quiser.

Eu me direciono a uma das cadeiras, trazendo a caneca cheia para perto de mim. Enquanto isso, Jungkook se ocupa em esquentar a comida no micro-ondas.

― Tenho sim ― afirmo, girando a xícara antes de dar um gole generoso. ― Dizem que chá frio é que cura ressaca.

― Se for assim, tudo bem tomar então!

Jungkook me olha por cima do ombro, sorrindo pequeno. Eu mordo meu lábio inferior na tentativa de conter o meu sorriso quando percebo as bochechas e orelhinhas do mais novo estarem rosadas. Talvez eu não seja o único inquieto e envergonhado ali.

Logo a comida requentada é posta na minha frente junto de um par hashis e uma colher. Nós ficamos em silêncio no tempo que eu me deliciava com os pedaços de carne da sopa, somente após tomar o último gole de chá, largar o pedaço de osso sobre a vasilha e a ressaca dando uma pequena trégua, foi que esse clima estranho começou a incomodar.

― Me desculpe... ― eu murmuro, olhando para o prato. O olhar de Jungkook queima meu rosto. Provavelmente esperando por uma explicação. ― Hm, você sabe... pela noite passada... Por ter dado trabalho. Eu não queria ter passado os limites e nem te deixar desconfortável, você não consentiu o beijo e, hm, não foi certo. Desculpa.

Apoio-me sobre a mesa, escondendo meu rosto com as mãos. Com muita manha em minha voz, eu resmungo: ― Eu 'tô muito envergonhado agora, Jungkook, sério...

Jungkook solta uma lufada de ar e esgueira-se na cadeira ao meu lado. Não tenho coragem para encará-lo diretamente, mas com o seu corpo próximo, me sinto nervoso.

As mãos ásperas e grandes dele acariciarem as minhas costas.

― Hyung... não precisa ficar com vergonha, eu não fiquei bravo, nem nada, eu... ― Jungkook fica relutante de repente. Eu o observo entre vãos que minhas mãos deixaram. Ele está uma verdadeira pimentinha. ― E-eu gostei...

Eu pigarro, surpreso. Eita, que me pegou desprevenido, esse menino!

― Gostou?!

― É, hyung... Eu gostei de c-como você me chamou e... ― ele desvia o olhar para um ponto qualquer da cozinha. Balançando as pernas freneticamente como sempre fazia quando estava ansioso. ― Eu gostei do selinho, foi muito carinhoso... Eu, eu, eu realmente gostei...

― Eu também gostei.

― Gostou?

― Sim.

― Ah.

― É...

― Pois é...

― Entendi...

Eu tiro as mãos do meu rosto e encaro Jungkook.

Jungkook me encara de volta.

No instante seguinte, caímos na risada.

― Por que a gente 'tá falando assim? ― Jungkook pergunta, entre risos.

― Não sei, príncipe, você que começou! ― eu respondo de maneira tão espontânea que nem me toco da forma carinhosa como o chamei, só me dou conta ao ver Jungkook arregalar os olhos, tão surpreso quanto eu.

Entretanto, sou arrebatado pelo seu lindo rosto corado carregando o sorriso mais belo; tão grande que marcava suas linhas de expressão, franzia seu nariz e deixava sua gengiva aparente. Ele parecia um coelhinho. O mais adorável e fofo de todos.

A forma errática com a qual meu coração bate naquele instante não é normal. Eu lembro bem dessa sensação, pois senti-la antes. Talvez agora, seja até mais forte.

Eu estou ferrado!

[...]

― Então você gosta de garotos também, hyung? ― Jungkook pergunta enquanto despeja água morna numa das vasilhas engorduradas.

― Achei que fosse meio óbvio, né? Eu daria um selinho em "bro"? ― eu digo, secando as canecas. Jungkook parece achar graça.

― Não sei, tem hétero que faz essas coisas quando 'tá bêbado.

― Que héteros são esses? ― eu enrugo o nariz.

― Não sei, hyung. Não tenho amigos héteros pra te responder isso.

― Pior que eu também não tenho. Fica aí o mistério!

Jungkook sorri.

― LGBT só anda em bando, realmente.

― É pra quando ver algum homofóbico na rua, a gente embosca ele e mete o pescotapa!

― Credo, hyung! ― Jungkook joga a cabeça para trás, não conseguindo controlar a própria risada esganiçada. ― Você chegou a namorar um menino também?

― Na verdade, eu só namorei meninos. De menina uma ou outra me chamou a atenção, mas nunca ao ponto de ter algo sério. E você?

― Nunca cheguei a namorar alguém ― Jungkook dá de ombros, tirando os restos de comida que ficaram no ralo e jogando-as na lixeirinha em cima da pia. ― Já me envolvi em rolos, mas acho que não é pra mim.

― Não é fã de namoros, então?

― Nem é isso, mas eu só não gosto muito de conhecer gente nova ― Jungkook me encara e eu engulo a seco. ― Acho que se fosse pra namorar alguém, teria que ser no mínimo amigo, sabe?

Sei, sei demais. Se quiser, pode me namorar, tipo, agora mesmo!

Eu não falo isso, obviamente.

― Onde eu guardo? ― eu pergunto.

― Ali no armário ao lado da geladeira, hyung ― aponta com o nariz.

― Então os seus rolos sempre foram entre amigos? ― Jungkook assente e eu arregalo os olhos. ― Você já ficou com a Hyejin?!

― QUÊ?! NÃO! ― Jungkook grita, incrédulo. ― Ela é como uma irmã pra mim, hyung. Nunca, nunquinha mesmo! Apesar da gente brincar de vez em quando, nem passa nas nossas cabeças rolar algo.

― É, faz sentido ― eu murmuro e acabamos por rir desse questionamento bobo.

― Deixa a parte que segura pro lado direito, mamãe fica toda agoniada com essas coisas.

― Ajumma ainda tem mania de limpeza?

― Pra caramba ― Jungkook diz, secando as mãos e aproximando-se de mim com os pratos. ― Ela tem um infarto toda vez que vê meu quarto bagunçado.

― Mas o seu quarto é bem arrumadinho, pelo menos foi o que eu achei.

― Hoje em dia eu gosto de deixar bem arrumado, mas quando era mais novo, mamãe faltava arrancar meu couro quando via a montanha de roupa na cama.

― O meu hyung vive puxando minha orelha sobre isso ― digo, seguindo Jungkook até o seu quarto. Ao passar pela sala, ainda dou um "tchauzinho" a tia do mais novo que me retribui com um sorriso.

― Você sempre foi um bagunceiro, hyung ― Jungkook diz e eu o mostro a língua de birra.

― Mentiu horrores! Minha bagunça é uma bagunça arrumada, ok?

― Com certeza, hyung ― ele debocha.

― Você é muito mal, só sabe tirar onda com a minha cara! ― eu resmungo, de braços cruzados.

Jungkook vendo a cena, arqueia uma das sobrancelhas, parecendo se divertir. Ele me dá passagem ao abrir a porta e fechar conosco dentro.

― Você que leva tudo o que eu falo a sério, é engraçado ― Jungkook segue até o armário e tira de lá uma toalha, uma camisa e uma bermuda. ― Aqui, hyung. Se quiser tomar banho, acho que essas roupas vão caber em você. Tem uma escova embalada lá na pia.

Eu agradeço e peço licença para ir ao banheiro. Depois de usar o xampu cheiroso do mais novo, eu volto para o cômodo devidamente vestido, logo me deparando com Jungkook também com cabelo molhado, terminando de vestir as roupas limpas. De relance, vejo o seu peitoral coberto por uma faixa bege.

É necessário eu segurar o meu próprio suspiro. Jungkook é atraente demais.

― Usei o banheiro de baixo ― ele explica, ao me perceber parada na porta.

― O que faremos agora? ― eu pergunto, me sentando ao seu lado na cama.

Preciso ser muito forte, pois o tanto que esse menino está cheiroso não é brincadeira. Os meus neurônios bissexuais fazem a festa nesse instante; enchendo a minha mente com comandos extremamente perturbadores.

Como por exemplo, eu me jogar em cima dele e enfiar meu nariz na curva do seu pescoço e, sei lá, morrer ali de tanto cheirar.

Perturbador? Sem dúvidas. Me arrependeria? Nunca!

Obviamente eu me controlo da melhor forma que posso, respirando fundo, mantendo minhas mãos bem coladas em meu corpo e olhando para os meus pés balançando de maneira infantil.

― Quer assistir alguma coisa, hyung?

Eu viro meu rosto e minha respiração engata ao ver o Jungkook todo esparramado na cama, apoiando o corpo sobre os cotovelos e me encarando por baixo da franja molhada.

Santa Maria Mãe da Bicicletinha, tem piedade deste pobre emocionado aqui!

― Pode ser... ― eu murmuro, jogando meu cabelo para trás.

Jungkook se levanta de supetão para pegar o notebook e o cabo em cima da mesa, enquanto isso ajeito-me na cama.

Quando ele volta, se posiciona deitado ao meu lado com o notebook sobre o peito, desbloqueando e digitando um serviço qualquer de stream.

― Quer ver o quê, hyung? Eu não conheço muitos filmes, você sabe.

― Hmm... ― eu me inclino ao seu lado, observando as opções na tela à medida que ele vai mostrando mais opções, uma delas acaba chamando a minha atenção. ― Vamos assistir esse!

― Shrek? ― Jungkook ri.

― Pode não?! ― eu questiono retoricamente, aproveitando da nossa aproximação, para apoiar minha cabeça sobre seu ombro.

Jungkook deixa um risinho escapar, ajeitando-se até estar o mais confortável possível para nós dois.

Em seguida, ele aperta o "iniciar".

🦋

[JEON JUNGKOOK]

Eu juro que estou tentando prestar atenção na cena do Shrek fazendo analogia da cebola com o ogro para o Burro. Juro de pé junto mesmo!

Contudo, sentir os dedinhos de Jimin acariciarem meu braço e vez ou outra ele esfregar o rosto sobre meu ombro ― tal qual um gatinho ― não está me ajudando em nada. Nada mesmo.

E eu não sei o que me deixa mais "tan-tan" de ideias, se é o fato dele estar tão dengoso ou porque ele cheira, dos pés à cabeça, ao meu perfume.

Não tem coração que aguente uma coisa dessas, é sério!

Eu não sei se ele faz de propósito, eu não sei se ele tem noção dessa tensão que parece sempre rondar a gente, ainda mais depois do que aconteceu.

Eu quero agir normal, mas estando assim com Jimin não vai funcionar, eu estou precisando ser muito forte para não virar meu rosto e dar-lhe um beijo.

― Jungkookie... ― ele sussurra meu nome rente ao meu ouvido. Ai papai... ― Ajeita a tela, 'tá batendo a luz e não dá pra enxergar direito.

Eu assinto, ajeitando de forma atrapalhada. Por que minhas mãos tremiam tanto?

― Prontinho.

Jimin me aperta mais e seus pezinhos acariciam os meus. Ele ri por algo e eu suponho que seja pelo Shrek provocando o Burro na ponte.

― Por que você 'tá tão tenso, Jungkookie?

Eu engulo a seco.

― Eu 'tô?

― Unhum. 'Tá bem no mundo da lua, do nada esbugalha os olhos e segura a respiração. Você 'tá bem?

― A-ah... ― eu rio, sem graça. ― Não é nada, eu só viajo às vezes.

― Quer trocar de filme?

― Não precisa, hyung, você 'tá assistindo.

― Mas você não, né? ― Jimin bufa, descontente. E que vontade de morder esse biquinho que ele faz! ― Pra ser sincero eu não 'tô prestando muita atenção também.

― Não?

Jimin se desencosta do meu ombro e se senta de frente para mim, eu acompanho seus movimentos e deixo o notebook pausado em cima da escrivaninha. A confusão está estampada em meu rosto. O que ele faria?

― Eu não 'tava conseguindo me concentrar por causa do seu cheiro.

Eu pisco diversas vezes, confuso. Eita. Eu estou fedido?

― Jungkookie! ― ele segura meu braço antes que pudesse dar uma cheirada básica na minha axila. ― O que você 'tá fazendo?!

― Me cheirando, ué. Você disse que não conseguia se concentrar por causa do meu cheiro, hyung.

Jimin ri alto.

― E você entendeu o que? Que 'tá fedorento?

― Sim! ― eu puxo meu outro braço e dou uma cheirada. Jimin quase cai da cama de tanto rir. ― Eu 'tô fedido mesmo?

― Não, Jungkookie. Não é isso! ― Jimin diz tentando controlar o próprio riso e limpando as lágrimas no canto dos olhos. ― Por deus, príncipe... Eu 'tava tentando flertar!

Eu arregalo os olhos, não compreendendo direito o que ele falou.

― Ahn? Repete, hyung, acho que eu entendi errado, vo-

― Eu 'tava tentando flertar com você, sabe. Dizer que você 'tá muito cheiroso e isso me desconcentra porque eu só quero ficar te cheirando até meu nariz cair.

―...

―...

― Uou. I-Isso foi... ah. AH!

Como que volta a funcionar mesmo?

Eu simplesmente desisto de tentar raciocinar enquanto estou com todo o sangue acumulado em minha cabeça. Eu gaguejo; eu me tremo; eu fico sem saber para onde olhar.

E o desgraçado do Jimin parece se divertir com meu surto, pois antes que pudesse puxar o lençol para me cobrir, ele é mais rápido e segura meus dois braços, ficando apenas centímetros de distância do meu rosto.

Se de longe eu sinto meu coração querendo pular fora do meu corpo, imagina com Jimin tão próximo de mim. O meu peito parece estar em folia, como uma verdadeira escola de samba (AJE - Acadêmicos do Jungkook Emocionado).

Eu intercalo meu olhar entre seus olhos afiados e sua boca entreaberta, querendo repetir a doce que provei tão minimamente. A respiração de Jimin é quente e toda vez que bate contra minha bochecha, eu sinto meus cílios tremerem em antecipação.

― H-Hyung, eu...

Eu realmente quero beijá-lo e se ele continuar me encarando do jeito que está agora, vai ser muito difícil parar. Eu não quero parar, eu anseio muito por isso.

Entretanto, o universo gosta de brincar com a minha cara.

O celular de Jimin começa a tocar, o que nos pega de surpresa e nos tira dessa bolha de tensão que nos cercava. Completamente sem graças e com ambas as bochechas pegando fogo, cada um vai para um lado da cama.

― A-Alô? ― Jimin gagueja ao entender o celular, coçando o próprio pescoço. ― Ah... Sim, hyung. Eu 'tô na casa do J-Jungkook e... Espera, como você sabia? Já 'tá aqui?! Sim, sim... é claro que eu lembro do jantar com o papai! Ok. Eu já 'tô indo.

― Você já vai? ― eu pergunto, acanhado. Jimin assente ainda sem me olhar.

Eu faço um barulho com a garganta antes de me levantar do colchão. Jimin me imita e logo seguimos para fora do meu quarto em completo silêncio.

Para minha sorte, tia Seulgi não está mais com a vovó na sala. Ao menos não lidaria com mais uma vergonha que seria a mais velha nos provocar.

Quando eu abro a porta da frente de casa, dou passagem para Jimin e nós seguimos até a calçada. O carro estava estacionado bem a frente e a janela do motorista foi abaixada para que pudéssemos ver Seokjin de máscara e óculos escuros esperando o irmão.

― Fala aê, Jungkook! Quanto tempo, ein? Acho que a última vez que te vi, você ainda era criancinha.

Eu sorrio educado, curvando de leve a cabeça.

― Muito tempo mesmo, Seokjin hyung, agora eu 'tô crescido.

― Realmente, 'tá bonitão demais, deixou até meu maninho sem graça!

― Hyung! ― Jimin grunhi.

― Eu menti? ― Seokjin pergunta e Jimin bufa, preferindo não dar bola ao irmão ao se vira para mim.

Mesmo que eu ainda esteja sem graça pelo que aconteceu momentos antes entre a gente, é impossível eu sair dali sem antes me despedir de Jimin.

― Obrigado por ter me deixado ficar na sua casa essa noite, Jungkookie ― Jimin diz, sorrindo.

― Não precisa agradecer por isso, hyung, eu... ― eu digo, esfregando meu braço, previamente tímido pelo que faria em seguida.

Eu me inclino até depositar um beijo no canto da boca do mais velho. Tão rápido quanto a primeira vez, mas cheio de sentimentos que eu não tenho coragem de dizer em voz alta.

Jimin acompanha meus movimentos de olhos arregalados, sua mão direita alcança o local que antes minha boca encostava. Eu sorrio tímido com o seu jeito e dou um passo para trás.

― Tchau, hyung.

Ele pisca diversas vezes antes de oferecer um sorriso para mim e se aproximar mais uma vez. E quando o faz, Jimin estica levemente o corpo até encostar a boca no canto da minha; um pouco mais perto e ousado de quanto eu fui.

― Tchau, príncipe.

Jimin entra no carro do irmão e vai embora.

[...]

― COMO QUE PODE VOCÊS SEREM TÃO GAYS?! ― Hyejin exclama, rindo e se debatendo em minha cama. Depois que eu desliguei o telefone, minha amiga fez questão de aparecer em casa só para fofocar. ― Era só um beijinho, cara...

Argh. Eu sei! ― eu praguejo, esparramado de bruços no chão, que nem um pedaço de papel. ― Eu nunca quis tanto beijar alguém, como quis beijar ele.

― Vocês agindo dessa forma por causa de beijo, chega a ser cômico. Não era tu que na faculdade as pessoas davam mole e era vapo?

Hyejin se deita ao meu lado e inicia um cafuné gosto enquanto eu estou à beira da vigésima crise existencial.

― Você fala como se eu fosse "O pegador".

― E não é assim? Beijou a sua turma inteira, se duvidar, até professor!

Eu bufo, dando um peteleco na testa da mais velha.

― Eu tinha bebido horrores e era calourada, até parece que a senhorita não fez igual.

Hyejin ri, dando de ombros.

― Beijei mesmo, mas se pudesse eu gostaria de voltar no tempo e desbeijar umas bocas.

― Faz parte, né? Faculdade é sinônimo de tomar no rabo e arrependimentos.

― Mas falando sério aqui: você e o Jimin... vai rolar mesmo? Tipo, não vai se arrepender não, né?

Eu viro de barriga para cima, encarando o teto. O questionamento ronda em minha cabeça, pois entendo bem onde Hyejin gostaria de chegar. Ela tinha noção da minha insegurança.

― Não sei ― é o que eu digo, totalmente incerto.

― Eu super apoio vocês dois, 'cê sabe, né? ― Hyejin questiona, puxando minha mão para estalar minhas juntas. Eu gosto quando ela faz isso. ― Mas eu não quero te ver sofrendo por isso. Lembra que ele 'tá de passagem e da última vez você demorou muito pra superar a ida dele.

― Eu sei, noona. Eu penso o tempo inteiro nisso, até agradeço que o Seokjin hyung nos interrompeu.

― Se ele não tivesse interrompido, ia rolar, você ia se ferrar bonito pois é um homem emocionado pra caramba.

― Não mentiu ― eu dou cartada branca. ― Acho que o meu maior medo é justamente eu me apegar e quando ele voltar pra lá, não querer mais manter contato e essas coisas. Peguei trauma de distância, confesso.

― Webnamoro o mal do século ― Hyejin resmunga.

― Você também 'tá no mesmo barco que eu, ô engenheira de Seul.

― Ai não me lembra disso! ― ela esconde o rosto contra meu ombro e eu rio, bagunçando seu cabelo. ― Chega de falar de homens e amores à distância, por favor. Bora fazer alguma coisa!

― Vamos de bolo, então? ― eu pergunto, me levantando de supetão. Hyejin resmunga, toda preguiçosa, mas me segue até a cozinha.

― Tem massa pronta? ― ela pergunta abrindo o armário para pegar a forma, já familiarizada com o espaço. Eu nego com a cabeça, pondo o açúcar e o trigo em cima do balcão.

― Aqui é a moda antiga, noona, tem essas molezas não! Vai lá na geladeira e pega ovo e leite.

Hyejin revira os olhos.

― Ô homenzinho que gosta de complicar tudo!

🏳‍🌈

[PARK JIMIN]

O mês passou mais rápido do que eu achei que fosse passar.

Tinha plena noção de que trinta dias são muito pouco para reviver momentos, reencontrar pessoas e me reconectar emocionalmente.

Mas agora que passou, aquele incômodo de "não foi o suficiente" se reverbera em meu peito.

Eu queria ter passado mais tempo com Jungkook.

― Já 'tá pronto, beiçudo? ― meu irmão pergunta abrindo o closet que dividiu comigo nesse último mês. Eu assinto, fechando a minha mala.

― Namjoon hyung foi devolver a chave do Loft? ― eu questiono, pondo meus pertences próximo da porta, junto das seis malas do meu irmão e da mochila de camping do meu cunhado (ele é econômico).

― Acabou de descer. Mandei mensagem pra os nossos pais, eles vão depois lá no aeroporto.

― Legal ― digo, desanimado. Seokjin percebe e pôs o braço em volta do meu ombro.

― Não precisa falar com a mamãe, nem ficar perto dela, ok? Pedi pro paizinho deixar isso claro a ela.

― E se nossa mãe não ouvir, você vai dar um ralho nela ― eu completo e Seokjin assente, apertando meus ombros mais forte antes de me soltar. Eu sabia que minha mãe não gostava quando meu irmão puxava a sua orelha, pois além dele ser o mais velho, é também o seu filho favorito.

Ou o único que ela realmente reconhece.

Tanto faz.

― Joonie disse pra gente descer, o táxi já 'tá aqui ― Seokjin diz, digitando uma rápida resposta.

Nós terminamos de desligar tudo no Loft, fechando a porta e ― com muito esforço, pois meu irmão é um exagerado com bagagens ― levamos as malas pelo elevador minúsculo e por um instante eu achei que iríamos emperrar por excesso de peso, felizmente não foi o caso.

Na portaria, Namjoon nos esperava encostado num dos pilares, rabiscando algo em sua pequena agenda. Desde que ele e Yoongi finalmente fecharam contrato com uma empresa de entretenimento, ele vivia escrevendo ideias e rascunhos de futuras músicas. É maneiro, ele me deixou ler algumas e posso afirmar o quão talentoso o hyung é!

― Vamos? ― Namjoon pergunta assim que nos aproximamos, já guardando a agenda no bolso da calça e se prontificando a pegar as bagagens mais pesadas e levar até o carro.

Não demoramos para chegar ao aeroporto e nossos amigos nos esperavam próximo à entrada. Havíamos feito o check-in antecipadamente, então nossa única preocupação seria o despacho das bagagens, como ainda faltava umas duas horas para o embarque, o grupo se distraía numa conversa bastante animada.

Eu juro que tento prestar atenção neles; juro que tento focar nas peripécias de Bob se perdendo em outra cidade com o namorado ou nas roupas que Sana e Mykka haviam comprado. Mas minha cabeça está em outro lugar.

Sendo bem mais específico, eu vasculho com o olhar cada canto daquele aeroporto atrás de três pessoas. Meus pais e Jungkook.

Os meus pais, eu sabia que viriam, pois Seokjin me avisou. Mas Jungkook... Ele não confirmou se vinha.

Isso me deixa ansioso? Para caramba. Vou ficar triste se não puder vê-lo mais uma vez? Nossa, demais.

Até penso em mandar uma mensagem perguntando, mas ao entrar no seu contato, vejo que além dele não estar online, também não havia visualizado a minha foto de "bom dia" ― que eu religiosamente mandava toda manhã e Jungkook sempre respondia ou com coração, ou com uma foto sua mandando beijinho (o peito faz tum-tum rápido demais nessas horas).

Mesmo assim, disco seu número e espero que ele atenda. Contudo chama e para na caixa postal. Eu suspiro, desanimado. Tento não deixar isso transparecer em meu rosto, porém eu não contava que Hoseok fosse tão perspicaz e já estivesse me observando desde a hora que desbloqueei meu celular.

― 'Tá triste por que o Jungkook não 'tá aqui? ― ele pergunta bem baixinho para que apenas eu ouvisse.

― É, né... queria me despedir dele.

― Falou com ele?

― Mandei mensagem logo cedo, mas ele ainda não visualizou ― digo, encarando a tela de bloqueio do meu celular. Eu havia trocado o papel de parede a pouco tempo, é uma foto minha e dele na nossa ida a praia, mostrando apenas nossos pés de frente ao pôr-do-sol. Eu sorrio, apesar de estar triste.

― Tentou ligar? ― Hoseok pergunta e eu nego com a cabeça.

― Tentei ainda agora, deu caixa postal. Ele não 'tá online desde ontem também, deve 'tá ocupado com os alunos dele ou coisa maior, não quero atrapalhar ― eu digo e meu ex faz careta.

― Vai ver aconteceu alguma coisa ― Hoseok diz e eu acabo ficando mais ansioso. E se realmente aconteceu algo muito grande? E se ele estiver mal? Eu devia ter passado na casa dele antes de vir para cá e se...

― Quando a gente se apaixona, fica muito abestalhado mesmo. Olha aí você! ― Hoseok aperta meu nariz com suas unhas stiletto e eu praguejo, massageando o local. ― Para de pensar besteira e presta atenção a sua volta, ô Dom Juan. O seu celular 'tá tocando e você nem percebeu!

Eu franzo o cenho, abaixando meu olhar para o celular. O nome de Jungkook brilhava na tela com uma fotinho sua, todo sorridente e lindo. Ele realmente está me ligando e eu nem notei porque viajei legal nas ideias.

― Príncipe, eu 'tava tentando te ligar! ― eu digo de imediato, quase derrubando o celular ao atender. Hoseok riu com o meu jeito atrapalhado.

― Hyung! ― Jungkook responde. ― Eu já 'tô chegando, ok? É que eu passei numa lojinha, q-queria te dar um negócio...

Eu mordo meus lábios, controlando meu sorriso.

― Não precisava, príncipe ― eu digo, agora manso. ― Um abracinho seu é mais do que o suficiente.

― Ah, mas eu quero te dar um presentinho, hyung! ― sorrio pela forma dengosa como ele pronuncia. ― Já, já chego aí. Não ouse embarcar sem se despedir de mim, ouviu? Eu entro no avião e te puxo de lá!

― Não seria uma má ideia... ― Jungkook ri. ― Eu adoraria te levar pra Nova Iorque comigo.

― Hyung bobinho, me espera na entrada!

― 'Tá bom ― eu finalizo a chamada, com um sorriso aliviado estampado no rosto. Agora que eu tinha certeza da vinda de Jungkook, essa angústia de ter que ir embora parecia mais leve.

Continuaríamos nos falando, eu não o deixarei se afastar outra vez. Não mesmo.

Eu quero ter Jungkook de volta na minha vida, assim como quero fazer parte da vida dele.

🦋

[JEON JUNGKOOK]

Eu realmente sou péssimo com horários, fiquei até um pouco mais das 14h30 ensinando meus molecotes a fazer pestana e nem me dei conta de que já ia dar o horário da viagem de Jimin.

Saí disparado da casa de Taehyung, nem pude me despedir direito do meu amigo, mas tenho certeza de que a peste estava rindo da minha pressa. Se duvidar, mais tarde meu celular estaria cheio de mensagens suas fofocando com o pessoal sobre "como o Jungkook está super apaixonado e foi como jato atrás do seu belíssimo príncipe".

Estupidamente brega, mas não chega a ser mentira.

Mas focando no verdadeiro problema: eu estou atrasado. Era para eu estar no aeroporto às 15h, já são 15h30.

E eu estou prestes a ter uma síncope com essa fila imensa de carros.

Por que todo mundo decidiu viajar justo hoje? Esse aeroporto está lotado que só o inferno!

Eu bufo, muito impaciente. Segurando firme o presente do hyung contra meu peito, dou três batidinhas mínimas no ombro do taxista.

― Moço, para aqui mesmo. Eu vou andando o resto do caminho ― eu encaro a tela do taxímetro e tiro da carteira uma nota de 5000 won. ― Valeu!

Saío disparado, quase sendo atropelado por um motoqueiro que passava na via dupla. Eu desvio das pessoas que andavam pela calçada e como previ, cheguei bem mais rápido do que seria se eu continuasse dentro do carro.

Parado na entrada do aeroporto, eu apoio meus braços sobre os joelhos, tentando controlar a respiração. Eu enxugo minha testa com as costas das mãos e ajeito cegamente meu cabelo. Tomara que ele esteja apresentável, e não aquele ninho de pombo ressecado que a Hyejin vive reclamando.

Sem enrolações ― pois quanto mais tempo eu perco estando aqui fora, menos tempo passarei com meu hyung ―, eu passo pela portaria e ergo a cabeça para facilitar a procura por Jimin. Há muitas pessoas por ali e isso me deixa ansioso; meu medo é que ele já esteja embarcando sem antes se despedir de mim.

Despedir... Que verbo de gosto agridoce.

Eu sei que passei o mês pensando sobre a ida de Jimin; sabia que era uma estadia curta e tentava me convencer de que estava tudo bem. Desde que voltamos a sermos amigos, eu já preparava meu coração para essa situação.

Mas agora que finalmente chegou o dia, eu não tenho mais tanta certeza de que estou realmente preparado para me despedir.

Veja bem, aconteceram tantas coisas em tão pouco tempo; momentos incríveis como estar com ele e não precisar fingir sobre algo, me obrigando a mentir só porque eu acreditei que Jimin preferiria daquela forma.

Agora eu sei que não é bem assim, pois cada instante que passei com ele só me trouxe um conforto absurdo. Eu sinto muito carinho e cada vez me apego mais a esse maldito sentimento.

Sim, esse sentimento que eu demorei tanto para admitir e talvez até tenha pisado um pouco no meu ego para que isso acontecesse.

Eu gosto de Jimin, romanticamente falando. Com todas as letras e de bônus, inúmeras músicas do One Direction que eu poderia recitar para ele (eu realmente cheguei nesse nível de emocionado).

Na teoria, dar conta das minhas próprias emoções é algo muito bom, mas nesse determinado momento, só me enche daquela sensação amarga de Deja Vú. Eu admitir que gosto dele e precisar dizer um "tchau" em seguida, o quão injusto isso soa?

Eu suspiro pesado, apertando o embrulho contra meu peito apenas com uma mão, já que a outra eu usei para discar o número de Jimin.

E nem fora preciso eu fazer isso, pois no instante seguinte sinto braços enlaçando minha cintura e um rosto afundar na curvatura do meu pescoço. Mesmo tendo me assustado com sua aparição repentina, eu puxo seus ombros para mais próximo de mim e beijo o topo da cabeça cheirosa. Jimin me encara sorridente e meu coração acelera, completamente afetado por sua beleza.

Sério, como não se apaixonar desse jeito? Chega a ser um crime!

― Eu achei que você não fosse vir mais... ― Jimin resmunga e eu aperto seu nariz fofinho. Ainda abraçados.

― Desculpa a demora, hyung ― eu digo, fazendo carinho no seu rosto. ― Dei aula aos molecotes até depois do horário e ainda peguei um engarrafamento no caminho, acabei me atrasando mais do que o esperado.

― Não tem problema, príncipe ― Jimin diz, inclinando mais a cabeça contra meu toque. ― Eu só fiquei nervoso porque não sabia se você viria ou não.

― Óbvia que eu ia vir, hyung.

― Não sei, fiquei na dúvida, né? Você não me respondeu.

Eu suspiro, porque isso foi só a minha insegurança com meus próprios sentimentos e o fato de eu odiar despedidas. Jimin sabe disso, pois a forma como ele me olha nesse instante, de sobrancelha erguida e carinha convencida só prova que pode passar anos e ele ainda consegue me ler com a palma da mão. Esse maldito lindo!

― Já despachou suas malas? ― eu pergunto, mudando de assunto.

― Acabei de despachar com o pessoal. Só estamos esperando dar o horário ― Jimin diz, encarando o relógio no pulso. ― Temos uma hora ainda.

― Que bom ― eu digo, erguendo o pequeno embrulho em sua direção. ― Eu comprei isso pra você.

Jimin sorri, todo bobinho, puxando o presente da minha mão e abrindo com muito entusiasmo.

Eu mordo o lábio, ansioso pela sua reação.

― Não acredito! ― Jimin diz, de olhos arregalados. Segurando em mão uma pulseira cheia de pingentes de vários musicais da Broadway que o hyung gostava. ― Hairspray, Rent... Mamma Mia!

― Gostou, hyung?

Jimin me abraça com empolgação e eu sinto meu peito aquecer ao presenciar os seus pulinhos felizes enquanto punha a pulseira. Por sorte, deu certinho no seu pulso.

― Eu amei, príncipe! ― ele diz, admirando a joia. ― Vou usar sempre!

Eu sorrio, distraído demais com o quão bonito o hyung fica quando está feliz. Eu intercalo o olhar por todo o seu rosto, querendo registrar cada detalhe seu.

Nisso eu levo o polegar até a sua bochecha e retiro o pequeno cílio caído dos seus olhos. Sinto o olhar de Jimin sobre meu ato e nem me dou conta de que estamos nos aproximando cada vez mais. Se é que é possível.

Nossos narizes se encostam tão timidamente e meu coração acelera com a ideia de estarmos dando esses beijinhos de esquimó. Ter Jimin tão próximo de mim, com sua respiração rente a minha, deixa-me ansiando por mais. Quase um atentado ao meu autocontrole.

― Hyung... ― eu murmuro, ouvindo Jimin soltar um "hm?" baixinho. As suas mãos iniciam um carinho muito gostoso em minha cintura. ― Não faz isso...

― Por quê?

Eu arfo, sentindo seu nariz acarinhar minha bochecha. É tão íntimo que quase me faz esquecer que estamos na entrada do aeroporto. Eu me afasto a contragosto.

― E-Estamos na entrada... ― eu olho em volta, tímido que só e talvez um pouco apreensivo. Não queria que fossemos alvo de olhares ruins, os quais poderiam surgir por sermos dois homens (não dá para fingir que não tem, infelizmente).

Outrossim, os seus amigos não estão tão distantes também, e mesmo que eles tenham nos dado privacidade, estou ciente de seus olhares curiosos. Eles não são tão discretos assim.

Jimin também percebe e sorri. Ele vira a cabeça e pega no flagra a Sana ― acho que é esse o seu nome ― nos encarando. A com hijab levanta o polegar e oferece um sorriso presunçoso a nós. As minhas bochechas esquentam, enquanto o hyung mostra língua a outra e sibila um "enxerida!".

Nossas mãos se entrelaçam e eu me deixo ser levado pelo mais velho até o seu grupo de amigos. Eu sou recebido come entusiasmo por todos, além de ser abraçado por Seokjin. Eles são divertidos e não me deixam desconfortável. Para falar a verdade, conseguir interagir com as amizades de Jimin e ainda estar de mãos dadas com ele, me traz uma sensação gostosa, do tipo: poderíamos ser um casal.

Obviamente nem passa pela minha cabeça dizer isso a Jimin, mas eu gosto da sensação. Gosto de fingir que é real.

― Com licença... ― Hoseok diz de repente, após o seu celular começa a tocar. Eu havia me aproximado mais dele, pois além de me sentir mais confortável em dialogar com alguém no meu próprio idioma (não confiava tanto assim no meu inglês), estávamos conversando sobre solistas e nossos gostos similares, ambos são cadelinhas do Lee Taemin e ele até mostrou as fotos de quando foi na tour em Nova Iorque. ― Alô? Ah... Oi pai. Sim, eu já 'tô aqui no aeroporto. O senhor vem? Ah, saquei. Ok. Eu vou aí fora pro senhor não precisar entrar... Sim, eu já falei com o tio... 'Tá... Também te amo.

― Hobi hyung tem uma relação complicada com o pai ― Jimin sussurra em meu ouvido, enquanto Hoseok pedia licença antes de seguir para fora do aeroporto de cara fechada. Tão diferente de quando conversávamos.

― Ele vai ficar bem? ― eu pergunto, preocupado. Vai saber o que pode acontecer, né?

― Vai sim. O pai só é meio babaca, mas eles se amam ― Jimin tranquiliza e eu assinto, encarando uma última vez Hoseok parado em frente a um carro preto de vidro fosco.

― Menos mal ― eu digo, encarando Jimin. Não fiquei para ver como era o pai do outro. ― Ninguém merece viver com alguém que te odeia.

Jimin sorri amarelo, desviando o olhar.

― Pois é... ninguém merece mesmo.

Eu franzo o cenho, estranho a sua rápida mudança de humor. Será que tem alguma coisa aí?

― Filhote?

Eita, eu conheço essa voz!

Largo a mão do mais velho no mesmo instante.

― Paizinho! ― Jimin diz, sorrindo para o senhor de idade que parou ao nosso lado. Eu me distancio um pouquinho, acuado demais para ficar no mesmo espaço que os dois. Sobretudo ao ver a ajumma.

Ela andava mais lentamente e parecia analisar cada um que está ali. Ao parar ao lado do esposo, Jimin e ela trocaram olhares muito estranhos e a mais velha empinou o nariz antes de seguir até Seokjin, mal falando com o caçula.

Eu encaro a cena com bastante surpresa, ela não sorria e parecia tão hostil no meio do pessoal, quase como se estar entre eles fosse um grande desconforto. Parece outra pessoa e não ajumma amorosa e sorridente que eu me lembro.

Em contrapartida, o ajusshi está mais carinhoso com Jimin do que um dia eu presenciei. Nesse instante, ambos estão se abraçando e balançando de um lado para o outro, o hyung como é mais alto, está apoiando o queixo no topo da cabeça do pai. É uma cena fofa de se presenciar, eles exalam muito amor e companheirismo.

― Perdão o atraso, garotão. Hoje o estabelecimento estava lotado! ― ajusshi diz e Jimin dá de ombros, plantando um beijo na testa do pai.

― Eu já imaginava que fosse isso. Não atrapalhou vocês fecharem mais cedo?

― Que nada! ― o mais velho sorri, largando os braços do filho. A sua atenção se volta para mim, que até então, eu só apreciava a interação dos dois (qual é! Eu não sei direito o que é amor paternal, para mim sempre é um evento assistir algo assim de perto). ― Você... é amigo do meu filho?

Eu engulo a seco.

― S-Sou sim ― eu digo, sorrindo sem jeito e me curvando em cumprimento.

O ajusshi estreita os olhos e eu começo a ficar inquieto, intercalando o peso sobre minhas pernas. Será que ele está me reconhecendo?

― Eu já te vi em algum lugar, não? Você é daqui? Qual o seu nome?

― Ah! E-Eu sou daqui mesmo, senhor. M-Meu nome é Jeon J-Jungkook.

― Jeon Jungkook? É filho de quem? ― e ele continua a me questionar. Juro por Deus!

Eu busco Jimin com o olhar, desesperado. O mais velho parece entender que não era o momento mais oportuno para contar sobre mim, então foi rápido em contornar a situação e levar ajusshi até o outro filho.

Agora eu posso respirar um pouco mais calmo.

Por algum motivo, sempre travo quando é para contar sobre quem eu sou a alguém muito mais velho do que eu. Parece que as reações deles sempre são mais intensas, talvez seja por conta da idade ou da criação de outro tempo (claro que não dá para generalizar, minhas ajummas, tirando tia Mina, e meu ajusshi me entenderam super bem).

Talvez fosse essa minha necessidade de querer agradar todo mundo junto do medo de ser alvo de comentários ruins. Faz tempo desde a última vez que sofri com algo do gênero, a minha aparência foi um grande fator para que isso não ocorresse mais.

Porém o receio ainda existe. Eu ainda me sinto desconfortável no meio de pessoas mais velhas. E eu não acho que seja irracional.

― Papai te deixou desconfortável? Desculpa por isso ― Jimin resmunga quando volta para perto de mim. Eu dou de ombros.

― Um pouco, mas você contornou a situação bem, obrigado ― eu digo, sincero. Jimin assente, observando seus pais conversarem com Seokjin.

A ajumma em determinado momento nos encara. Eu fico sem reação com o seu olhar, é carregado de... raiva?

― Não liga pra mamãe ― Jimin diz, apoiando a cabeça sobre meu ombro. Ele a encara de volta, obrigando-a desviar.

― Aconteceu alguma coisa? ― eu pergunto, preocupado. Jimin suspira.

― Longa história. Outra hora eu te conto ― Jimin diz e eu admiro seu perfil enquanto tomo iniciativa para segurar sua mão. O mais velho resmunga em apreciação, acarinhando meu polegar. ― Por enquanto, vamos ficar assim até dar a minha hora.

― 'Tá bom, hyung ― eu inclino minha cabeça contra a sua.

[...]

Aviso sonoro. Jimin já tinha que embarcar.

Eu respiro fundo, abrindo os olhos depois de longos minutos só apreciando a presença do outro. Nos encostamos na parede, um pouco distante dos seus amigos e seus pais. Apesar de sentir os olhares queimando em nossa direção, eu pouco ligo. Jimin ainda se mantinha de olhos fechados, alheio.

― Hyung... ― eu o chamo, bem calminho. ― Você não 'tá dormindo não, né?

Jimin assopra um riso.

― Não, não, príncipe ― o seu nariz faz carinho em meu pescoço e minha pele se arrepia por inteira. ― Eu só 'tava curtindo você. Seu ombro é muito macio.

Eu coço a bochecha, tímido.

― A-Ah, valeu, eu acho ― eu resmungo e Jimin ri outra vez, se esticando até plantar um beijo em minha bochecha. Fez até barulhinho. ― H-H-Hyung, não faz assim...

Mais um aviso sonoro.

Dessa vez, Jimin prestou atenção e suspirou pesadamente ao encarar o próprio relógio de pulso.

Os seus amigos começavam a ajeitar as coisas, alguns levantavam-se dos bancos de espera e outros iam rapidamente ao banheiro. Jimin continua parado ao meu lado, tão perdido nos pensamentos quanto eu.

Havia chegado a hora de nos despedirmos e eu não sabia como fazer isso.

O hyung foi quem deu o primeiro passo, ficando a minha frente e segurando minhas mãos. Ele parecia ponderar sobre algo enquanto acariciava minhas juntas. Eu gostava dessa aproximação, mas odiava saber o que ela significava.

― 'Tá pensando no que? ― Jimin pergunta.

Eu arranco a pelezinha da boca antes de responder a primeira coisa que passa em minha cabeça: ― Eu me sinto que nem o Kendall de Big Time Rush se despedindo da Jo. Só faltou eu estar com roupa toda branca e cantar Worldwide.

Jimin gargalha, jogando-se contra meu corpo. Provavelmente o que eu falei tenha sido algo bastante engraçado para ele.

― Até em situações assim você pensa em boybands?!

Eu sorrio, fragilizado. Um bolo se forma em minha garganta.

― É que eu 'tô tentando não chorar... ― eu desabafo, puxando Jimin para mais perto, até estar o abraçando o mais forte que consigo. Queria que pudéssemos nos grudar e forma um só (que nem as Gems de Steven Universo).

Jimin respira fundo, escondendo o rosto em meu pescoço e segurando minha camisa como se me impedisse de fugir ou algo do tipo.

― Por que sempre é tão dolorido? ― Jimin pergunta e eu seguro seu rosto para que me encarasse. Com a outra mão eu tiro os fios aleatórios de sua testa, podendo assim ter a visão completa de seu rosto. Eu queria decorá-lo; cada detalhe seu.

Eu não quero que Jimin vá embora.

― Me diz que a gente não vai se afastar dessa vez, hyung... ― eu peço, acariciando toda a sua face. Jimin tinha os olhos vermelhos e mordia o lábio, claramente o rosto de quem se segurava para não chorar.

― A gente não vai ― mesmo assim, ele é firme ao dizer. ― Eu não vou deixar e nem você. Eu quero te ter na minha vida, príncipe. Eu quero ser presente, eu quero te ouvir e não me deixa te machucar de novo, por favor.

― Hyung...

O meu olhar desce para boca de Jimin.

― Não se distancia, por favor...

Jimin chega mais perto.

― Eu não vou, hyung... ― nossas bocas estão próximas, eu posso sentir o seu hálito quente bater contra o meu. Sinto que minhas pernas estão prestes a virar gelatina. ― Vem me visitar, 'tá?

Jimin sorri e eu sinto nossos peitos se tocarem. O seu coração está tão acelerado quanto o meu.

Eu quero ceder, eu quero que nossos lábios encostem. Eu quero tanto isso que não consigo entender o que ele diz ou ter noção da nossa volta. É tudo sobre nós, sobre estarmos colados, sobre querer se declarar um ao outro.

Não precisávamos de muito para entender tudo isso. É palpável demais.

― Eu vou voltar. ― ele diz antes de acabar com o espaço entre nós e dando vez ao beijo que tanto almejávamos.

Foram seis anos de espera.

É lento e apaixonante, como tudo que Jimin se dispunha a fazer. Eu correspondo, perdido nas sensações e no querer mais; sentindo nossas línguas timidamente se trançando até que um ritmo comum fosse encontrado. Os meus dedos seguravam firme sua nuca enquanto eu me inclinava mais contra o seu corpo, as suas mãos mantinham-se sobre minha cintura, mal passando disso, mas eu podia sentir todo o ardor e o desejo no seu tato. Jimin me quer tanto quanto eu o quero.

Foi somente ao ouvirmos o último aviso sonoro que nos separamos. Eu dou diversos selinhos, me sentindo ridiculamente manhoso. Havia me viciado na boca do meu hyung e tenho ciência de que só esses beijos não serão o suficiente.

― Eu preciso ir, príncipe... ― Jimin diz, selando meus lábios a cada palavra dita, sem ousar meu soltar do seu aperto. Eu também não quero isso. ― Se você continuar assim, fica difícil.

Eu selo mais uma vez e encaro os seus olhos tão bonitos.

― Você não devia ter feito isso ― eu digo, beijando-o. ― Eu vou me apaixonar.

Jimin ri, retribuindo com outro selar.

― Você 'tá tão apaixonado quanto eu! ― ele expõe, todo convencido. Eu somente dou de ombros, pois não é mentira. Eu realmente caí nos encantos do mais velho.

Eu me deixo ser levado até próximo do portão de embarque junto dos seus amigos e família, a partir daqui nos separaríamos.

Largo a mão de Jimin e o vejo se despedir dos pais. O ajusshi chorava muito, abraçando o filho e pedindo para que ele o visitasse mais vezes, enquanto ajumma não esboçou reação alguma ― apesar dos olhos entregarem o choro que ela parecia orgulhosamente engolir ―, nem mesmo quando Jimin se aproximou e selou a testa da mais velha, ela pareceu reagir. Ele ainda diz algo para sua mãe, mas eu não consigo compreender.

Depois disso, ele se volta para mim, selando nossas bocas uma última vez. Mais forte e já escancarado de saudades.

Dessa vez, eu sentia que nossa despedida não seria algo ruim.

E sim uma promessa.

Uma promessa de que na próxima vez que nos víssemos, as coisas enfim se acertariam entre a gente.

― Te vejo na próxima, príncipe ― Jimin diz, atravessando o portão e partindo de volta ao outro lado do mundo.

― Até mais, hyung. 

🦋

OLHA QUEM VOLTOU? CADÊ A GRITARIA E DEDO NO [CENSURADO] 🗣🗣🗣

GENTE FALA SÉRIO QUE SAUDADE QUE EU TAVA AQUI, JURO PRA VOCÊS, TAVA QUASE DEFINHANDO!!!!

Temos muuuuitos assuntos a tratar heheheh então vamos por tópicos:

1) Gostaram da atualização? O BEIJO FINALMENTE SAIU!!!!!!! ai ai como meus filhos enrolam pra se pegar, ein? Não me julguem, é tudo culpa deles que inventam de quebrar a quarta parede e me dar um murro na cara e soltar um "SEJA CALMO E PACIENTE COMO ERA JESUS" kkkkkk aí eu só acato, né!

Sim, Jimin voltou para os EUA e não se preocupem, na próxima att ele já volta (spoiler: pra ficar de vez).

Sendo assim, entramos num ponto muito importante, TAN TAN TAAAANNN

IAAB já tá se preparando para entrar no arco final da história, já vou avisando que daqui pra frente e só tiro, boiolagem e depressão (cade a novidade ein abel praga desgraçada)!!

2) Explicar o meu sumiço: não foi por querer. 😥 Quem me acompanha e me segue nas redes sociais sabe que eu passei por uma fase com intensas mudanças. Saí do meu antigo emprego, comecei uma nova faculdade e irei me mudar pra outro estado muito em breve. Tá sendo punk conciliar tudo, ainda tô com uns resquícios de momentos muito difíceis que tive que superar e eu agradeço a paciência! IAAB não está em hiatus, IAAB vai ter continuação e já estou a todo vapor com o próximo capítulo.

3) Como eu falei de mudanças, vamos falar de mudanças MUITO boas, lá vai:

I am a BOY se tornará livro físico pela Editora Violeta! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

LSJDLASKJLASJLJ GENTE VOCÊS NÃO SABEM COMO EU PRECISEI SER MUITO FORTE PRA NÃO CONTAR A VOCÊSKKKKKKKKK quando eu recebi a proposta, faltei MORRER (sou cardíaco pelo amor de deus, meu plano não cobre isso!!!)

Para sanar as dúvidas de quem me perguntou no twitter, IAAB será concluída em fevereiro/março de 2022 (como falei anteriormente, estamos seguindo para o arco final).

Então não se preocupem por agora, nosso livrinho de iaab só para o ano que vem! Esperem muitas surpresas e com andar da carruagem, soltarei num futuro próximo infos sobre nossos personagens que tanto amamos. Espero que vocês estejam comigo até lá! 😭🥺💜 é um sonho prestes a ser tornar realidade e tudo só tá sendo possível por causa de vocês, então muito obrigado mesmo 💜💜💜

4) LANCEI FIC NOVA!!!!!🐉⚔ Jikook e é fantasia & medieval sci-fi. O nome é "O Escolhido do Dragão" e está disponível no meu perfil, vão lá dar uma olhada, pois minha caçulinha tem uma vibe completamente diferente de iaab!

Enfim, foi isso! Muito obrigado novamente por todas as visualizações, favoritos e comentários. Isso tudo é muito importante para mim e eu sou realmente grato por todo o carinho 💕

Se cuidem e até a próxima!

xx Abel.

#éelenãoela



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