[08] mãe, você me odeia?
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Músicas do capítulo (disponíveis na playlist de IAAB fixada no meu perfil): The Village - Wrabel; Habits of my heart - Jaymes Young;
Esta história não tem a intenção de generalizar experiências de uma pessoa trans. Cada trans tem sua vivência, cada trans tem seus ideais.
Ser trans é ser plural!
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[JEON JUNGKOOK]
Eu tenho muitas manias.
Péssimas, na concepção de minha mãe.
De roer as unhas até o talo, não o suficiente, mastigo a pelinha que fica envolta; usar qualquer superfície como se eu estivesse tocando bateria por puro tédio; dormir esfregando os pés um no outro (mamãe diz que é horrível deitar comigo pois quando eu não esfrego nos meus, eu esfrego nos pés dos outros);
De balançar a cabeça que nem aqueles bonecos de cabeçudos de carro ou dos meus momentos de "Visões da Raven" em que eu esbugalho os olhos por motivo nenhum.
E talvez, a que mais tira a paciência da mais velha, eu esqueço de desligar meu celular a noite e durmo com os fones plugados em meu ouvido.
Então não é surpresa de que agora eu esteja no quinto sono ao som de alguma música do One Direction, mas é uma puta surpresa minha mãe entrar com tudo em meu quarto ― bem antes do horário que eu costumo acordar ― abrir as janelas e puxar meu cobertor.
― Garota, dormiu de novo de fone?! ― sinto seu tapão desferido em minha bunda e eu resmungo, levantando a cabeça do travesseiro totalmente grogue de sono.
― O que... hm... ― esfrego meus olhos com as costas de minhas mãos, tirando meus fones e tentando assimilar ― Hm... ah... Oi... Que horas são...? Hm...
― Quatro da matina. Anda, levanta essa bunda seca da cama!
― Quatro da manhã....? ― pergunto enquanto minha mãe me puxa pelos braços para que eu sentasse sobre o colchão. Dou um, dois, três bocejos, antes de espreguiçar-me e arregalar os olhos, encarando a doida da minha mãe totalmente incrédulo. Ela me despertou uma hora antes do horário que eu costumo acordar! ― QUATRO DA MANHÃ?! MÃE??!
― Feliz aniversário, minha Ogrinha! ― ela me aperta em seu abraço, ignorando totalmente minha cara de bunda ― Dezessete aninhos não é pra qualquer uma não!
― Assim como dezesseis, quinze, catorze...
― Deixa de papo. Anda! Levanta da cama, vá lavar a cara e o 'piupiu' que eu preciso ir à feira e alguém tem que ficar de olho na mamãe!
Minha mãe me puxa da cama e me empurra em direção ao banheiro sem que eu pudesse me opor. Ainda meio morto de sono, tomo um banho preguiçoso, escovo meus dentes, visto um conjunto básico de moletom e nem me dou o trabalho de pentear meu cabelo.
Ele que se desembarace sozinho!
Antes de ir para a sala, eu passo direto à cozinha, me servindo um chá quente que Sunmin havia deixado pronto e só então, me direciono ao cômodo. Mamãe já vestia o casaco pesado e colocava a máscara em seu rosto, sentei no sofá e liguei a televisão, esperando ela anunciar a sua partida.
― Suas tias chegam sete horas pra ajudar a limpar aqui ― ela diz pegando as chaves da moto no aparador. ― Seus primos e tio chegam só na hora do almoço. Tô' pensando em chamar os vizinhos, o que você acha? Vai chamar alguém?
― Ahn... Oi? ― que ótimo! acabei cochilando.
― Vai chamar alguém para o almoço, filha?
― A Hyejin e só.
― Certo ― mamãe se aproxima e beija o topo de minha cabeça ― Volto mais tarde, minha pequena.
Ela para na entrada, encarando-me com um sorriso enquanto eu balanço a mão direita e a esquerda uso para assoprar o chá e dar um golão.
― Nem acredito que minha filhota tá' crescendo, parece que foi ontem que você era só uma coelhinha do narigão...
― Mãeee... ― resmungo, já sabendo que começaria a sessão de apelidos vergonhosos.
― Tá' bom, tá' bom, já sai! ― fecha a porta e grita do outro lado: ― Não esquece o remédio da sua avó!
Quando ouço o motor da moto disparando, eu suspiro. Apreciando os últimos goles de chá.
Dia primeiro de setembro.
Meu aniversário.
Para uns é uma data muito especial, quando falta um mês, começam a contagem regressiva e ficam supondo os possíveis presentes que ganhariam, às vezes preferem que seja dinheiro, para não correrem o risco de se depararem com uma roupa totalmente fora do seu gosto ou em números menores que o seu. Em ambos os casos, você se vê obrigado à ir a específica loja trocar, o que dá um trabalho e preguiça.
Para outros, eu incluso, a data do aniversário não passa do dia que você nasceu junto com milhares de outras pessoas, no dia seguinte, mais dezenas de milhares nascem e assim vai com o próximo e o próximo do próximo.
No fim, não é dia necessariamente especial.
Mas eu não digo isso à minha mãe, não mesmo.
Ela gosta de reunir a família em datas comemorativas, sempre fazendo um almoção com todo mundo no quintal e como hoje é o meu aniversário, não seria diferente.
Eu não sou o maior fã dessas festas, de convidar todo mundo, principalmente chamar parente que só me viu uma vez quando eu era criança e depois só dá sinal de vida nesta data.
Mas a minha mãe gosta disso, ela fica feliz e eu, que prezo mais que tudo a felicidade da minha mãe, não me oponho jamais.
Se ela quer fazer um almoço assim, eu apoio; se ela quer chamar todo mundo, eu não reclamo.
Acho que isso faz bem pra ela, principalmente que meu avô se foi e o outro cara lá deu chá de sumiço.
Pensando nisso, eu crio forças para me levantar do sofá e me alongar um pouquinho. Depois entro em meu quarto, pegando meu celular e volto para a cozinha, deixando o aparelho sobre a mesa tocando aleatórias da minha playlist. Aproveito para preparar um café com arroz, ovo de gema mole, queijo e kimchi e assim que como, eu começo a arrumação pela casa. Primeiro limpando a cozinha, deixando as louças boas (as que a mamãe só usa quando tem visita) fora do armário, tiro o lixo e vi a data de validade dos alimentos da geladeira. Tinha um yakult que venceu há três dias, abri e tomei num gole.
Assim que acabei o primeiro cômodo, meu alarme dispara. É a hora que eu normalmente me levanto e também que minha avó toma o remédio.
― Vovó... ― digo, ao lado da mais velha já desperta, ajudando-la a sentar na cama e encostar as costas na cabeceira ― Hora do seu remédio.
― Sunmin...?
― Não, vovó. É a Jungyon, sua neta.
― Hm...
Sorrio observando os seus miúdos olhos esbranquiçados.
― Tome ― levo a colher com o remédio triturado até a sua boca. ― Isso. Aqui, um pouquinho de água... Isso, vovó, muito bem!
― Hm...
― Tia Mina e tia Seulgi chegam daqui a pouco ― digo enquanto a vejo mexer a mandíbula. ― Quer tomar um banho antes delas chegarem?
― Hm... ― espero pacientemente. ― Deixa elas chegarem...
― Ok então! ― passo as mãos pelos cabelo brancos da vovó com todo cuidado. ― Vem, vamos pra sala.
Eu calço nela as pantufas e pego o pano que cobre suas pernas, depois passo meu braço por trás dos seus joelhos, segurando firme em suas costas, carregando-a até a sua cadeira de balanço na sala.
Por volta das sete horas, ouço a campainha e logo me deparo com as minhas duas tias, irmãs da mamãe, paradas a frente.
― Yon-Yon! ― Tia Seulgi diz, sorrindo grande antes de me dar um abração que quase me mata de falta de ar. ― Feliz aniversário, sobrinha!
Tia Seulgi é, em poucos palavras, uma mistura de pura felicidade e braços fortes. Ela é lutadora de MMA, então seus braços são puro músculo que pode matar alguém só com um aperto. Sem brincadeira. Eu fico vermelho só com um apertão!
― Tia, pelo amor de deus, um pouco menos forte! ― suplico, ouvindo a risada da mais velha, que bagunça meus cabelos antes de entrar em casa.
― Yon-ah! ― tia Mina sorri, passando os braço envolta de mim, bem mais delicada que tia Seulgi. ― Feliz aniversário! Como você está? Já comeu? O que você anda comendo? Tá tão magrinha! Que horas você acordou? Está fazendo atividades físicas? Como tá a vovó e a mana?
Sim, tia Mina, é a tia preocupada que a cada segundo enche a gente de perguntas e preocupações. Ela é assistente social da escolinha que eu estudei quando criança. Sempre que eu me metia em confusão junto do Jimin hyung, parávamos nas mãos da tia.
Aproveito que as duas chegaram e estão conversando com a vovó, eu pego meu celular e sento no balcão da cozinha, finalmente parando para ver as mensagens.
Como era cedo, eu já esperava que não houvesse quase nenhuma. Mas pelo visto eu me enganei.
Por não dormir tarde, não visualizei na hora as mensagens que me mandaram meia noite.
Tinha de alguns primos que eu esporadicamente converso;
Tinha, para minha surpresa, mensagens da Wheein e do Taehyung, me desejando felicitações;
Por um momento cogitei chamá-los para o almoço, mas logo descartei a ideia. Eu não sei se somos íntimos o suficiente e nem sei se eles me consideram um amigo.
Enfim, seria desconfortável.
Tinha da Hyejin, sempre tão escandalosa, mandou uma dúzia de mensagens exageradas, com áudios delas cantando parabéns em todas as línguas possíveis e um bônus de uma foto super aleatória minha dormindo que ela convenientemente achou uma boa enviar.
No meio de risos, achei que ela fosse a última da lista de conversas, mas assim que deslizei meu dedo para baixo, vejo o nome do meu hyung em pendente.
Ele enviou mensagem meia-noite certinho.
Hyung:
Ei...
Hyung:
Feliz aniversário, princesa!!
Hyung:
É o primeiro aniversário que a gente passa longe desde que viramos amigos. Que estranho...
Hyung:
Eu espero ter sido o primeiro a mandar parabéns!!
Hyung:
💖💖💕💕💕💖
Sorrio com sua mensagem e sinto meu coração acelerar, apesar de que há um tempo não conversamos mais, ele ainda me causava reações tão involuntárias.
[...]
Minha família não é pequena. Na verdade, somos muitos e muitos Jeon's.
Minha avó mesmo ainda tem seis de doze irmãos vivos e do meu falecido avô, ainda há quatro.
Os irmãos dos meus avós, cada um teve mais de 4/5 filhos e esses filhos quase todos tiveram em média 2 filhos.
Se calcular (conta que eu não faço nem uma porra!!), eu tenho muitos primos mesmo!
Agora enxugando para a família mais próxima, meus avós só tiveram quatro filhos: Minha mãe Jeon Sunmin, as tias Jeon Mina e Jeon Seulgi e meu tio Jeon Sungjin.
E cada um deles, tirando a tia Seulgi que não quer saber de ser mãe, teve apenas um filho.
Meus primos Jinyoung e Jisoo.
Jinyoung era o primo mais velho, filho da Tia Mina, ele que liderava as brincadeiras e sempre tentava manter tudo em harmonia com a primarada. Apesar de ser quase impossível, pois no final sempre um acabava chorando porque o outro primo pegou o brinquedo e não quis dividir; ou então eles começavam a se chutar porque ficavam trapaceando durante o jogo e sobrava para o Jinyoung afastar (óbvio que eu sempre ficava assistindo. Era legal ver eles perdendo a cabeça!).
Já a minha prima Jisoo, filha do tio Sungjin, era tão quieta quanto eu, porém o "quieto" dela era passar horas estudando. Eu não sei o que ela achava tão divertido enfiando a cara no meio de um monte de exercícios não-obrigatórios da escola. Também é fato que ela se formou na escola muito cedo e bem, apesar de termos a mesma idade, ela já tá no segundo ano da faculdade.
Quem sou eu pra julgá-la, né? Pelo menos ela é boa em alguma coisa.
― Filha, ajuda sua prima a pegar as louças e colocá-las na mesa lá fora! ― mamãe diz, terminando de enfeitar o bolo que, para a felicidade do meu estômago, era de café com chocolate, o meu favorito.
Eu assinto, terminando de tampar a última bandeja de comida, antes de me direcionar a bancada onde Jisoo pegava os pratos, eu pego às talheres e o pacote de copos de plástico coloridos, levando-os para fora.
Nosso quintal não era pequeno, mas suficientemente grande para caber uma mesa de madeira comprida e uma churrasqueira aos fundos. O chão era metade madeira e terra batida que há muito tempo atrás o vovô tinha começado o assoalho.
Coloquei as talheres sobre a mesa que a mamãe cobriu com um pano branco enquanto viu meu primo e o tio na churrasqueira cortando as carnes de porco, vez ou outra beliscando uns pedaços. Não me segurei em aproximar e pedir um pedaço.
Hoje, aparente e felizmente, seríamos só nós, os vizinhos da casa ao lado, a noona e Taehyung.
Sim, no meio dos preparativos, eu meio que decidi chamar Wheein (apesar de saber que ela viria de qualquer jeito por ser filha dos vizinhos) e Taehyung, ainda que receoso.
Bom, eu posso pensar positivo, certo? Eles são pessoas que me fazem bem e desde aquele dia temos nos aproximado muito. Hyejin vai estar aqui também e minha mãe vai ficar feliz em saber que fiz novos amigos.
― Filha, vá tomar banho, daqui a pouco seus amiguinhos chegam ― mamãe diz pondo as duas mãos em meu rosto, fazendo carinho em minhas bochechas. Agracio seu carinho, me aconchegando mais sobre a sua palma. ― Tenho um presente para você e quero que use hoje, ok? Você vai adorar.
Encaro a mais velha, curioso.
― O que é?
― Tome banho primeiro, eu vou colocar seu presente em cima da cama.
Mamãe beijou minha testa, antes de me empurrar em direção ao corredor, com um tapinha na bunda.
― Vá logo, Ogrinha!
O banho que eu tomo não é demorado, então logo eu saio com a toalha envolta de meu torso e outra enxugando meu cabelo, indo para o meu quarto.
Quando eu abro a porta, vejo minha mãe parada no meio do cômodo, segurando em mãos um vestido amarelo rodado de mangas curtas. Bonito e delicado.
Vestido que mais combinaria com a minha mãe do que comigo.
Um sorriso forçado se forma em meu rosto quando eu me aproximo em passos lentos em sua direção, ficando na frente daquela vestimenta com detalhes em rendas, perceptíveis quando se via de perto.
Passei os dedos pelo tecido, sentindo meu corpo reagir de uma maneira ruim quando toquei a bainha.
Aquele vestido não me faria sentir bem.
― Gostou, minha pequena? ― minha mãe pergunta, com os olhos cheio de expectativa. Sinto uma pontada dolorida em meu peito só em cogitar em dizer "não". ― É de marca. Eu sei que quase nunca posso ter dar todas as roupas que eu queria. Mas eu fiz questão, porque você é meu orgulho e te ver crescendo me deixa tão feliz, pequena.
Mamãe toca em meu rosto. Sinto amor em suas palavras, mas esse amor me machuca tanto; tanto ao ponto de respirar fundo, engolir o bolo que começava se formar na garganta.
Eu queria poder dizer que isso me faz mal.
― Obrigada, mamãe. Eu adorei! ― é o que eu digo.
Sinto o abraço da mais velha. Sinto quando ela beija minha bochecha. Vejo ela se afastar e pôr o vestido sobre minha cama e, por fim, a vejo sair do meu quarto.
Meus lábios tremem, mas eu não deixo uma única lágrima cair.
Hoje não.
Dessa vez eu não coloco as ataduras em meu corpo. Visto a roupa com cuidado, calço meus sapatos, amarro meu cabelo e não olho meu reflexo.
Hoje não.
Quero minha mãe feliz.
Então eu fecho a porta.
[...]
― Vocês vieram juntos? ― eu pergunto assim que me deparo com Taehyung e Hyejin um do lado do outro.
― Mais ou menos, meu pai veio me trazer e a gente viu o Tae vindo andando. Só foi uma carona.
Taehyung semicerrou os olhos pra minha noona.
― Mentirosa! Seu pai que ofereceu carona, você queria passar direto!
Hyejin ri, mostrando língua pro mais alto, que revira os olhos antes de virar-se para mim e abrir um sorriso grandão.
― Feliz aniversário, Jeon!
Ele estende um embrulho em minha direção e eu sorrio de bom grado.
― Obrigada! ― falo, dando espaço para que os dois passassem. Hyejin me olha estranho, mas eu a ignoro por um instante. ― A Wheein já chegou. Ela tá' lá na cozinha, podem ir lá!
Taehyung assente, mas quando vê-se caminhando sozinho, ele vira a cabeça, franzindo o cenho.
― Não vem, Hye?
― Vai na frente. Eu quero falar com Jeon rapidinho ― ela responde, segurando meu braço. O de óculos assente novamente, seguindo caminho a cozinha.
Quando enfim, me vejo a sós com a minha noona na sala. Solto uma lufada de ar que nem percebi segurar e sinto o seu olhar, agora, preocupado sobre mim.
― Como você se sente? ― Hyejin pergunta, fazendo carinho em meu braço.
Eu dou de ombros. Não querendo estender o assunto.
― É um dia como qualquer outro ― respondo então. ― Mas pelo menos vocês estão aqui.
Hyejin sorri, me abraçando. Quando me solta, só então percebo o presente ao seu lado. Era um caixa embrulhada em papel do Homem de ferro.
― O que é isso? ― pergunto, rindo da escolha do embrulho.
― Oh. Isso? ― ela olha para a caixa em mãos, antes de sorrir travessa para mim ― É o seu presente, Kook-ah. Feliz aniversário!
― Obrigado, noona ― pego de suas mãos, ponderando um pouco seu peso na tentativa de adivinhar o que é.
― Não abre agora! ― ela se exasperou quando percebeu eu começar a desamarrar as fitas ― Deixa pro' fim da festa. Quero ver você usando!
― Ah! Então é uma roupa?
― Mais ou menos... ― ela morde os lábios, balançando o corpo para frente e para trás. ― Depois você vê! Agora, vamos lá com o pessoal, aniversariante.
― Tá' ― eu digo sorrindo, apesar de ainda querer dar uma espiada ― Eu vou deixar lá em cima com o do Tae e já te acompanho.
― Não é pra espiar! ― a mandona da Hyejin semicerrou os olhos para mim, apontando o dedo. ― Senão eu te dou uns cascudos.
― Não vou, pinscher! ― revido um pouco mais alto, correndo até meu quarto, deixando em cima da cama e indo até a cozinha.
Assim que chego, vejo meus três amigos conversavam próximo a bancada com a minha mãe. Logo em seguida, ela pede para que eles ajudassem a levar as comidas para mesa. Taehyung é o primeiro dispor-se a pegar, do jeito todo carismático que ele é, tenho quase certeza que a minha mãe ficou toda encantada. Depois veio Wheein e por fim a resmungona da Hyejin, que fazia a maior manha para mais velha.
Já na mesa, o 'Parabéns' não demorou muito para ser cantado e nem a hora de apagar as velas com o famoso ritual de fazer um pedido.
Eu peço o de sempre. Saúde para minha vovó e felicidade para a mamãe.
Naquele clima, de conversas, de passar um pouco de barriga de porco e macarrão um para o outro, foi quando ouvimos a campainha tocando. Encaro minha mãe, sentada em minha frente e ela retribui o olhar em confusão. Eu não lembro de ter chamado ninguém e pelo visto, Sunmin também não.
A mais velha, limpa os cantos da boca com o guardanapo, pedindo licença ao se levantar da mesa e seguir a dentro de casa até a porta de entrada.
Quando ela volta, não estava mais sozinha, e sim acompanhada. Eu seguro a imensa vontade que sinto de revirar os olhos com a presença tão indesejada do tio Wonshik. Infelizmente, irmão do meu pai.
Assim que todos percebem a sua pessoa, o clima se esfria e a mesa fica em silêncio. Até mesmo os que não conheciam meu tio, sentiram-se tensos quando viram aquele homem de terno caro, cabelos alinhados e o sorriso prepotente estampado no rosto.
Alguma coisa desagradável tinha que acontecer.
― Esse é... Jung Wonshik, tio da Jungyon ― mamãe o apresenta, sem graça.
Enquanto minha família o ignorava completamente (tirando a tia Seulgi que parecia estar se segurando para não dar um gancho nele), os convidados sorriram meio envergonhados e tensos, antes de voltarem a comer.
Eu ainda o encarava, sentindo minha mandíbula travar quando ele me olhou de volta.
― Feliz aniversário, sobrinha! ― sorriu, se aproximando para bagunçar meu cabelo. Ridículo e inconveniente.
― O que você tá' fazendo aqui? ― pergunto, totalmente desgostoso ao ver ele sentando ao meu lado. Sinto minha mãe cutucar minha canela embaixo da mesa, mas ignoro o seu aviso.
― Comemorar o aniversário da minha sobrinha em família, talvez? ― responde, se servindo.
― Em família? Você não é da família! ― digo, afiado, sentindo novamente o cutucão de minha mãe.
― Jungyon... ― mamãe sussurra.
― Óbvio que sou. Sou seu tio de sangue, você é filha do meu ir-
― Não ouse terminar essa frase...
― O quê? Você é filha de Jungsuk.
Estremeço ao ouvir esse nome, me encolhendo na cadeira, buscando o olhar de minha mãe. Ela estava pálida e mantinha a cabeça abaixada.
― WONSHIK! ― tia Seulgi grita, levantando-se vermelha de raiva. Tio Sungjin segura seu braço na tentativa de puxá-la de volta a cadeira, mas pouco faz diferença, não quando ela aponta o dedo em direção a Wonshik e murmura em puro escárnio: ― Você não tem o direito de falar esse nome aqui e nem ouse tentar estragar o dia de hoje. Minha irmã e minha sobrinha podem ser pacientes, mas eu não sou nem um pouco.
Wonshik deu de ombros, não estendendo o assunto. A mesa toda ficou carregada daquela aura pesada.
Era sempre assim.
Era inconveniente o suficiente para aparecer aqui, mesmo sabendo que sua presença não era bem vinda. Não quando eu sabia que ele mantinha contato com o meu pai, onde quer que aquele homem tenha se enfiado no mundo.
Não importa.
Eu não quero ter contato com ninguém que tenha haver com ele.
Só a simples presença do irmão, me causa a mais pura raiva, minhas mãos tremem e a respiração ficou descompassada. Hyejin, que estava ao meu lado, percebeu e segurou uma das minhas mãos fazendo um carinho terno.
Infelizmente, meu tio viu.
E ele era babaca o suficiente para não deixar passar despercebido.
― É sua namorada, Jungyon? ― ele lança, tomando um gole do refrigerante. Eu o ignoro. ― Oh? Vai me ignorar, sobrinha?
― Deixa minha filha em paz, Wonshik ― mamãe diz, pela primeira vez interferindo.
― Só estou fazendo um questionamento, Sunmin ― Wonshik pisca, antes de estalar os lábios. Eu respiro fundo. ― Até porque, conhecendo minha sobrinha, sei que ela não é um exemplo de mulher. Agora ela está apresentável, mas eu já a vi na rua, usando aquelas roupas de homem. Uma garota que se preze, não devia sair de qualquer jeito e ainda assim ficar agarrada em outra garota. Não é suspeito?
― CHEGA DE FALAR DA JUNGYON! ― minha mãe grita, levantando-se com tudo da cadeira e assustando todos a volta. Até mesmo minha avó sentiu o peso de suas palavras, pois engasgou-se enquanto minha tia Mina a alimentava.
Eu engulo a seco, sentindo minha cabeça doer.
― Sunmin, sua filha sempre foi muito estranha, bem que o meu irmão comentou sobre antes de ir embora.
Eu levanto da mesa, sentindo meus olhos vermelhos e a boca trêmula. Hyejin tenta segurar meu pulso, mas eu me afasto de seu toque o mais rápido que eu posso, assim como não dou ouvidos a minha mãe me chamando e nem a minha tia xingando aquele homem.
Por hoje deu o que tinha que dar. Tudo o que eu quero é ficar no meu canto.
Entro em meu quarto, fecho a tranca e tiro o mais rápido possível aquele vestido do meu corpo.
Ele machuca tanto quanto as palavras ruins de meu tio.
E me frustra que, mesmo tirando, ainda sinto dor.
Dor que me dilacera; que me machuca por inteiro. Da pele aos ossos de meu corpo.
Abro o mais rápido que posso o armário, tirando dos fundos o meu rolo esparadrapo e ataduras tão encardidas que escondo a mais de dois anos.
Envolvo meu tronco, imprensando o mais forte que consigo meus intrusos. A dor física é grande, o tecido pinica, a respiração fica mais complicada que antes, mas nada se compara a dor que minha mente está projetando. Por isso eu sei que as lágrimas que molham minhas bochechas e deixam meu rosto vermelho, são consequências de eu ser assim.
E a possibilidade de ser isso, um dos motivos para meu pai ter nos deixado, machuca mais ainda.
É tanta amargura, tantas sensações ruins, que eu não percebo de primeiro, os toques tímidos em minha porta. Só quando ele se tornam mais insistentes e a voz suave de minha noona do outro lado da madeira que me trazem, minimamente, de volta a realidade.
Vou em passos de tartaruga abrir a porta, deixando apenas um pequeno espaço para que Hyejin passasse. Percebo seu olhar preocupado e ressentido assim que entra em meu quarto.
Ela vê o vestido amarelo jogado no canto, vê os pedaços de esparadrapo amassados na cama junto a uma tesoura, mas Hyejin não comenta coisa alguma até se sentar sobre o colchão e pedir em mudo para que eu sentasse ao seu lado.
Ficamos em silêncio por um tempo, comigo fungando baixo e Hyejin brincando com os próprios dedos. Até que ela pareceu querer se arriscar e olhou em minha direção.
― Sua tia o expulsou.
― Hm.
― Wheein e Taehyung foram embora logo depois. Pediram para que eu desejasse feliz aniversário mais uma vez a você e que a comida estava uma delícia.
― Entendi.
Hyejin suspira, segurando minha mão direita.
― Ei... ― a noona me chama baixinho. ― Não liga pro que aquele homem diz. Roupa nenhuma te faz menos homem, ok?
― Tá' ― eu não acredito muito em suas palavras, me limitando a ser monossilábico.
Ela inicia um carinho leve sobre a palma, antes de virar a cabeça e olhar alguns presentes dispostos sobre a cama.
― Esquece ele. Que tal a gente ver o que você ganhou?
― Eu não tô' muito afim, noona...
― Vem ― mesmo assim ela me puxa para que eu sentasse no meio da cama. Sem forças para negar, eu apenas deixo ser levado. ― Vamos ver o que você, senhor Jungkook... Esse daqui é da sua tia Mina.
Ela me entrega o embrulho e eu suspiro, abrindo-o preguiçosamente. Era um perfume.
― Nossa, esse é muito cheiroso.
― Eu nem gosto de perfume.
― Me dá então! ― ela se inclina para pegar o vidro de minha mão e eu desvio. ― Tá bom, chato... Olha, esse é do Taehyung.
― Um cd... ― dou o que poderia ser um sorriso, relembrando o dia que a gente se conheceu. ― É do Maroon 5.
Continuamos abrindos os presentes e até me deixei rir um pouco quando vi o da Wheein, era um livro BL.
Deixamos o da própria noona por último e quando eu me inclinei para pegá-lo, Hyejin fora mais rápida, segurando-o como se sua vida dependesse disso. Arqueei uma de minha sobrancelhas para a ruivinha que riu meio nervosa.
― Não vai deixar eu ver? ― eu pergunto, estendendo a mão em direção ao presente. Recebendo um tapa da doida no lugar.
― Primeiro, ― ela pigarreia. ― Eu não sabia bem o que te dar, então eu fiz umas... pesquisas? É, pode-se dizer assim.
― E o que você pesquisou?
Hyejin ameaça me bater de novo quando eu tento pegar o presente na mais pura implicância.
― Não me interrompe, garoto! ― eu reviro os olhos. ― Continuando... Você sabe que a minha mãe é costureira... Então, fazendo essas pesquisas, eu pedi que ela fizesse um negócio.
― Esse negócio é o meu presente?
― Sim, mas... ― minha noona mordeu os lábios, envergonhada. ― Eu comprei outra coisa, pra ser complemento. Então... É, é isso. Pega.
Ela estende o pacote em minha direção e eu a encaro cúmplice antes de desatar o laço e abrir a caixa.
Minha respiração engatou ao ver.
― Isso é um b-binder? ― pergunto, segurando o acessório um tanto trêmulo, para em seguida com a outra mão, pegar o segundo pacote lacrado. ― E.... i-isso são c-cuecas?
Hyejin sorri, balançando a cabeça.
Não consigo dizer qualquer coisa enquanto encaro os dois presentes.
― Eu não sei o seu tamanho direito, acho melhor você experimentar pra ver se cabe certinho.
Eu me levanto da cama ansioso, que até me atrapalho em tirar as ataduras. Hyejin logo percebe e se levanta para me ajudar. Enfim fico livre, deixando meus peitos amostra, sem me importar com que Hyejin me veja, pego o primeiro pacote.
Primeiro eu abro o lacre das cuecas, eram três boxers de cores distintas. Minha bochecha dói de tanto sorrir quando eu pego a azul marinho. Hyejin vira o rosto, respeitando-me enquanto eu troco a minha calcinha preta pela cueca. E ela sorri grande quando eu digo que o tamanho estava certinho.
Meu coração batia disparado.
Faltava vestir o binder.
Troco olhar com Hyejin, que parecia tão ansiosa quanto eu, e pego o colete preto, abrindo os fechos da lateral para passar meus braços. Ajeito meus peitos dentro do tecido elástico e com ajuda da noona, recoloco os ganchos.
Viro-me para o espelho e deixou um arfar sair de minha boca... Está liso.
Passo minha mão pelo tronco... Está liso.
Fico de lado, não vejo a protuberância que tanto me incomoda.
É liso. Totalmente liso.
É uma sensação genuína.
Eu consigo me imaginar daquele jeito; consigo ver meu peito reto e as aréolas pequenas em minha mente.
Olhando meu reflexo, totalmente perdido em meu próprio mundo. É isso que eu quero.
Entretanto, eu deveria ter me tocado de que ficar preso por tanto tempo em meu próprio mundo poderia me trazer problemas.
É como uma montanha-russa, onde temos subidas tão devagares e as descidas tão rápidas.
Eu estava vivendo uma subida, tão devagar, que me fez esquecer por um momento que existiam outros ainda em casa.
Não estávamos sozinhos.
― Hyejin, querida, seu pai chegou... ― minha mãe diz, abrindo a porta que eu havia esquecido de trancar. Ela me olha, da cabeça aos pés, questionando em mudo. Sinto a tensão tão pesada que poderia me esmagar. ― Filha... O-O que?
As respirações presas, o olhar assustado de Hyejin sobre minha mãe e eu. O bolo se forma em minha garganta e o coração bate em minha caixa toráxica tão rápido que me faz querer arrancá-lo do peito.
A próxima volta da montanha-russa era uma descida, uma descida extremamente alta e rápida.
― Hye... ― eu murmuro, pedindo em mudo por sua saída. Ela entende o recado, pegando suas coisas, dando um tchau ligeiro antes de sair porta afora.
Engulo a seco.
Agora, sou apenas eu e minha mãe.
A mais velha me olha profundamente, com os braços cruzados, a cabeça inclinada e o cenho franzido. Ela esperava por respostas e eu não sei se conseguiria dizer.
Quando imaginei estar nessa situação, bem próximo de me abrir para minha mãe, eu não tinha noção do quão temeroso eu estaria.
Eram tantos medos, tantas possibilidades de reação.
Eu não tinha boas referências, não tinha próximos como eu com quem poderia trocar uma ideia sobre como os pais reagiriam, era frustrante me sentir sozinho e minha cabeça tão pessimista só conseguia pensar em uma única coisa.
Minha mãe vai me odiar.
― M-mãe, ― me pronuncio e é tão perceptível o quão trêmulo eu estou. ― S-senta na c-cama, eu, eu... Preciso te contar uma coisa.
Sunmin atravessa o quarto e senta sobre o colchão, ela passa a mão por cima dos presentes rapidamente, antes de voltar-se a mim, demonstrando tanta calma e serenidade que só me deixa mais ansioso.
― O que você quer me contar, filha? ― ela pergunta e eu crispo os lábios.
Ela vai me odiar. Ela vai me odiar. Ela vai me odiar.
Por que é tão difícil? Por que minhas mãos tremem tanto?
Meu corpo queima e eu sinto que estou a um passo de chorar.
Ela precisa saber. Sou eu.
Mas como eu conto? Eu deveria dizer que a amo antes de tudo, amaciar o campo antes de disparar uma verdade assim sem mais nem menos?
Ou eu simplesmente digo, mas eu nunca disse em alto. Eu nunca cheguei e falei com todas as letras quem eu sou, nem mesmo para a Hyejin.
Mas são situações diferentes, Hyejin é minha melhor amiga, eu sempre fui mais aberto com ela do que com qualquer outra pessoa.
E minha mãe... Ela é meu porto seguro, mas... será que ela vai me receber de braços abertos?
― Mãe... ― consigo dizer, sem gaguejar. ― Eu sou um garoto.
― Você é o que?
― Eu sou um garoto, mãe.
Em algum momento, fechei meus olhos ao disparar tal frase, evitando encarar a face da mulher que me trouxe ao mundo.
Eu falei, eu realmente falei.
― O que f-filha... ― mamãe murmura e eu tomo coragem para olhá-la. Seu rosto parecia sem cor, enquanto esfregava as mãos curtas por todo rosto. ― O que você tá dizendo... Filha... Garoto? C-como assim?
Aproximo-me da mais velha, ajoelhando em sua frente a par de suas mãos fazendo um carinho terno, antes de olhar bem fundo em seus olhos e dizer mais uma vez.
― Eu não sou uma menina, mamãe. Eu não sou a Jungyon ― sorrio não tão feliz assim ao ver os olhos de Sunmin ficarem vermelhos, porém aliviado por tirar um peso tão grande, que nem sabia que segurava, quando digo em voz alta as próximas sentenças: ― Eu sou o Jungkook e sou um garoto.
Então eu disse. Eu disse tudo.
E minha mãe desata no minuto seguinte em choros e soluços.
Não é uma cena bonita, na verdade, é horrível ver minha mãe chorar por minha causa, por quem eu sou e no meu aniversário.
Acalento a mais velha em meus braços, mesmo que os soluços comecem a sair de meus lábios e as lágrimas pesadas umedeça as minhas bochechas.
Após minutos, sinto o choro de minha mãe diminuir. Eu tento levantar seu rosto, mas ela se recusa. E em silêncio, Sunmin se desvencilha do meu abraço e sai do meu quarto.
Eu fico sem chão.
O que isso quer dizer?
Ela me odeia? Ela não quer mais olhar para minha cara? É isso.
Meus olhos arregalam, ponho as mãos em meu peito tentando segurar meu coração que tanto doía e eu solto o ar dos meus pulmões como se algo estivesse me afogando.
Afogando em mágoas.
Minha mãe me odeia.
Como um filhote abandonado eu choro; não baixo como sempre estive acostumado, e sim alto e sufocante. Como se todos os anos que eu escondi minhas emoções caíssem de uma vez sobre mim.
Dei um tapa em meu próprio rosto e não parei; desferi um e mais outro, vários, até que minha bochecha começasse arder e eu pudesse sentir a pele quente.
Por que eu sou assim? Por que eu não nasci normal?
Estúpido.
Defeituoso.
Erro.
Aberração.
― Minha filha não vai ser essa aberração!
Posso ouvir a voz do meu pai ecoando pela minha mente enquanto me encolho no chão frio do quarto, soluçando.
Eu não posso ser um garoto. Eu tenho que dar orgulho para mamãe.
Mas, porra.... Dói tanto.
Minha mente está nublada, eu sinto minha próprias unhas arranharem cada canto de meu corpo, meu joelhos doloridos de tantas mordidas. Eu só buscava alguma forma de afastar essa dor tão dilacerante.
O telefone toca e meus olhos se abrem de novo. Já era noite.
Eu passei tanto tempo assim jogado no chão?
Engatinho até a escrivaninha próximo a cama e pego o aparelho. Primeiro vendo a hora, depois vendo o nome reluzente.
23 horas.
Faltando uma hora para acabar o dia primeiro de setembro.
Park Jimin me ligava.
― Justo agora? ― mordo os lábios, impedindo um soluço sofrido de sair.
Por algum motivo eu queria atender, mesmo nesse estado tão trágico no qual eu me encontro.
Desesperadamente, eu precisava ouvir a voz do hyung.
― Alô? Princesa? ― mordo a língua, querendo chorar de novo ao ouvir sua voz, tão doce e curiosa, do outro lado da linha. ― Feliz aniversário!
― H-hyun... J-Jiminie...
― Yon? ― Jimin murmura, assustado. ― Você tá' chorando?! O que houve?
― E-eu não quero f-falar só... ― soluço. ― Só m-me ajuda a m-me acalmar. Por favor...
― Princesa... ― dói muito. ― A janela tá' fechada? Deve estar muito frio agora.
Não me chama assim.
― T-tá' sim.
― Você tá' sozinha?
― T-tô'.
― Ok... Respira comigo, um, dois, três e solta... Faz de novo. Isso ― fazia seus comandos para me acalmar já tão conhecidos. ― Tem como você beber um copo d'água?
― E-eu não consigo me levantar agora.
― Entendi ― eu suspiro, roendo o canto das minhas unhas ― A gente pode cantar uma música, o que acha? Até você se acalmar, a gente canta quantas forem preciso.
― P-Pode ser.
O telefone fica em mudo, posso ouvir barulho de movimentação do outro lado da linha, até que uma melodia tão silenciosa e tímida começa a tocar.
― V-você tá' tocando?
― Eu ainda sei tocar ― Jimin ri soprado ― Uma música só, mas já é alguma coisa.
Eu me forço a sorrir, ainda que soluçando; conheço a melodia, era uma de nossas músicas favoritas.
Você sabe que eu prefiro ficar só,
Mas então você me liga no telefone...
Ah! Os hábitos em meu coração, eu não posso dizer não.
Está me rasgando ao meio.
Você torna difícil te deixar ir.
A melodia, nossas vozes unidas, a minha tão fragilizada e a dele tão tímida. Não foi apenas uma música, e sim várias.
Jimin, em nenhum momento, perguntou novamente sobre o que aconteceu, ele parecia ter percebido que não era hora para questionamentos, e sim apoio.
Poderia dizer que só de ouvir a voz dele, cantando e tocando para mim, acalmou um pouco o turbilhão de sentimentos ruins.
Até que eu ouço três batidas relutantes na porta.
23h55min da noite.
Era a minha mãe. Com os olhos inchados, o nariz vermelho e o semblante inquieto.
Eu arregalo os olhos, me atrapalhando ao que me despeço do hyung.
Em passos lentos eu paro em frente a minha mãe.
A respiração engata e uma nova onda de choro quer se fazer presente, mas eu não permito. Eu seguro.
Ou eu tento, pois suas seguintes palavras são o suficiente para me desestabilizar por completo.
― F-filho, venha aqui ― minha mãe diz, em um sussurro, abrindo os braços para me receber.
E eu vou, tão desesperado quanto aliviado, eu me encolho nos braços da mulher que eu mais amo no mundo.
Ela me chamou de "filho", pela primeira vez.
Meu aniversário não era mais só uma simples data.
🦋
OIE GENTE!
Gostaram do capítulo?
😭😭😭 particularmente é um dos meus capítulos favoritos e também um dos mais pessoais pra mim!
Foi muito difícil escrever esse capítulo pois ele mexeu muito comigo, eu tive que pausar várias vezes, respirar muito e enxugar lágrimas teimosaskkkk
Finalmente nosso pequeno Jungkook se abriu pra mãe e agora estamos oficial na segunda fase de IAAB!! Se preparem, pois é uma fase cheia de mudanças.
Hoje eu não tenho muitos avisos, mas eu gostaria de agradecer cada um que se dispõe a ler o que eu escrevo! IAAB BATEU 50K 💕💕💕🗣️ !!!!!!! É sério, nossa uau isso é muito pra mim, tô quase explodindo!! Obrigado, de verdade!
E agora nós temos tag no twitter!!!! Simmm, lembram das sugestões? Pois então, a tag é: #éelenãoela
Usem a tag, se puderem!🥺 Pretendo interagir muito e gostaria de saber suas opiniões e conclusões sobre a fic, sobre os personagens, quem vocês esperam conhecer, quem são seus favoritos, quem vocês se identificam e por aí vai. Vou gostar muito de saber!
E me sigam nas redes sociais instagram/twitter! @arabelluv em todas elas!
Enfim, obrigado mais uma vez por todo o carinho. 🦋🏳️🌈
xx Abel.
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