Capítulo 16 - O que é um Rougarou?
Na manhã seguinte, assim que o sol saiu no horizonte, Thraja já estava de pé e preparada para buscar seus pertences.
Agora equipada com seu Facão Xingu XV 1913, entrou na floresta e percorreu a mesma trilha da noite anterior.
O que sobrou de suas roupas, sua arma e celular estavam exatamente onde deveriam estar, o que não fazia sentido. Se aquilo que a perseguiu pudesse voltar a forma humana, com certeza teria se desfeito dos objetos.
Por sorte seu celular ainda possuía bateria, então ligou para Simon de dentro da floresta.
- Oi, pelo visto recuperou suas coisas. - Comentou Simon ao atender o telefonema.
- Você está com uma voz péssima Simon, espero que a noite em claro tenho ao menos rendido respostas.
- Separei algumas opções de seres que essa coisa pode ser, preciso lhe fazer algumas perguntas para descartar algumas opções.
- Pode perguntar. - Respondeu andando e observando o lugar em busca de pistas.
- Okay, como ontem não era lua cheia já descartei o lobisomem, e se fosse um metamorfo você saberia, então vamos lá:
- Aquela coisa andava de pé?
- Sim. - Respondeu ela imediatamente.
- Como você recuperou suas coisas, presumo que aquilo não consiga voltar a forma humana, se é que tem uma. - Conclui Simon.
- Pensei exatamente isso, quando cheguei aqui e vi tudo espalhado da mesma forma que ficou quando fugi.
- Você está viva, então a coisa não é tão rápida. Se fosse um wendigo você saberia, então também descartei essa opção. - Explica ele. - Em nenhum lugar encontrei nada falando que o pé grande uive como um lobo. Então só restou da lista o Rougarou. - Concluiu.
- Rougarou? Mas que diabos é isto? - Pergunta Thraja.
- Um Rougarou é uma figura mítica presente nas comunidades de origem francesa, associada às tradições do lobisomem. A sua existência só se dá por meio da maldição de uma bruxa, e essa condição é transmitida de geração para geração. Essas criaturas alimentam-se de carne humana e, no princípio, são pessoas comuns, mas, ao alcançarem a puberdade, sentem um intenso desejo por essa carne. Após um único consumo, tornam-se viciados e nunca mais conseguirão saciar sua fome. Caso evitem o consumo de carne humana, poderão viver suas vidas como seres humanos normais. Sua transformação ocorre apenas à noite e exclusivamente durante a lua nova. A única maneira de acabar com um Rougarou é através de queima-lo vivo ou decapitação. - Esclarece Simon.
- Estamos na lua nova e a coisa apareceu ontem, faz todo sentido. Não encontrei a recepcionista quando fui buscar algo para comer ontem, mesmo sendo pouco mais de oito horas e também não a vi quando cheguei e precisei pegar a chave extra do quarto. - Comentou Thraja.
- Sabe qual o nome dela? Posso fazer umas pesquisas e ver se ela se encaixa em algo com nosso novo bichinho. - Pede o rapaz.
- Sim, ela fez questão de se apresentar após fazer várias perguntas ontem. Olivia Trevor foi o nome que ela me deu.
- Perfeito, apesar de ser um nome comum, vou ver se encontro algo, e descobrir como identificar um Rougarou sem estar transformado. Assim que descobrir algo te ligo. Não se meta em confusão. - Diz Simon desligando o celular em seguida.
- Também te amo. Ah, claro, desligou. - Ralhou Thraja olhando o aparelho de celular nas mãos.
- Não encontrei muita coisa que falasse sobre Rougarou na forma humana, - explicou Simon, ao ligar novamente uma hora depois, - uma maneira de se proteger dele é colocar coisas como um montinho de arroz ou treze moedas no chão ao redor de sua cama ou em um lugar visível. O Rougarou passará a noite ou dia contando os grãos de arroz um a um ou recomeçando a contagem das moedas quando chegar a doze.
- Como a lenda sobre as fadas contarem os grãos de sal ou arroz se forem jogadas em sua frente?
- Algo do tipo. Você pode fazer o teste com a recepcionista. - Sugeriu Simon.
Thraja juntou seus centavos e seguiu para a recepção. Que estava novamente vazia.
Ao retornar para o quarto, encontrou a camareira saindo de lá.
- Sabe me dizer onde está a recepcionista? - Perguntou Thraja.
- Está com a proprietária do hotel na suíte 13. - A moça respondeu. - A dona se machucou em um assalto ontem e a senhorita Trevor a está fazendo companhia.
- A proprietária está muito
machucada?
- Não sei ao certo, mas parecia grave.
- E porque ela não foi ao hospital? - Comentou para si em voz alta.
- A senhorita Foster tem trauma de hospitais, já a ouvi dizer que passou muito tempo da sua adolescência internada, então se puder ela evita o lugar.
- Entendi, obrigada pela ajuda, vou procurar pela recepcionista no apartamento. - Thraja agradeceu e seguiu para a parte da frente do motel, onde ficavam aos cinquenta primeiros quartos.
A porta do quarto estava entreaberta quando Thraja chegou a suíte de número 13.
- ... a senhorita, tem certeza que não quer que eu chame um médico? - A secretaria perguntou. - O curativo que diz ontem parece que deixou a ferida pior.
- Já disse que não Olivia, fariam muitas perguntas que eu não saberia responder, tire este curativo e faça outro.
Ao ouvir as palavras ditas pela proprietária do lugar, Thraja se aproximou da porta entreaberta e deu três batidas com as falanges.
Olivia se aproximou rapidamente da porta, saindo por ela e a fechando em seguida.
- Desculpa a intromissão, vim lhe procurar pois minha diária vence em alguns minutos. - Mentiu Thraja. - E acabei ouvindo sua conversa com aquela moça - apontando o queixo em direção a porta do quarto -, eu sou enfermeira, na verdade era, faz alguns anos que não trabalho na área, mas posso olhar o ferimento da sua amiga sem fazer perguntas. - Sugere Thraja.
- Obrigada pelo curativo. - Agradeceu Foster. - E obrigada de novo por não fazer perguntas.
- Eu prometi que não faria perguntas. - Lembrou Thraja. - Não sou médica mas aconselho a tomar Fentanil e Levaquin para ajudar na dor e infecção.
A proprietária agradeceu com um aceno.
Antes de sair Thraja se virou.
- Se você quiser conversar, talvez possa te ajudar.
- Eu não... Não sei bem o que aconteceu. Eu estava no estacionamento com meu irmão e as luzes se apagaram. Ouvi um barulho estranho e então senti uma dor terrível no ombro e costas. - Compartilhou a moça. - E aqui estou eu, sendo tratada por você. - Dando de ombros e fazendo expressão de dor ao movimentar o ombro esquerdo.
- E seu irmão como está?
- Eu não sei, quando as luzes voltaram a ascender eu estava sozinha no chão ao lado do meu carro. Tentei ligar para ele mas deu apenas caix... - Sua frase foi interrompida pelo som de um celular tocando.
- Só um minuto. - Pede Foster, retirando o celular do bolso. - É o meu irmão. - Avisa a Thraja. E sai, fazendo gestos pedindo para que Thraja espere.
- Valtor, por onde você andou? Estava super preocupada com você. - Ralhou ouvindo atentamente o que o rapaz dizia.
- Não me venha com essas histórias mal contadas se novo, volte agora para o hotel. - Desligando o telefone.
- Me desculpa. Valtor tem agido estranho desde que nossa mãe faleceu.
- Meus pêsames. - Desejou a caçadora. - Também perdi meus pais cedo. - Concluiu.
- Temos a diferença de quinze anos, quando Valtor nasceu eu já havia completado quinze anos a uma semana.
- Minha mãe engravidou do chefe dela, eu pelo contrário sou fruto de um romance adolescente. No final das contas ela não criou sozinha.
- Fui criada praticamente sozinha, meu pai raramente ficava em casa e minha mãe morreu quando fiz quinze anos. - Comentou Thraja.
- Valtor sempre foi um bom rapaz, estudioso, atencioso e educado. Mas desde que se mudou para o Hotel, tem sido difícil aguentar seu temperamento e suas mentiras constantes. Agora mesmo disse que estava em algum lugar próximo ao pantano e não sabia como havia ido parar lá.
No momento em que Thraja ouviu as palavras da Senhorita Foster, as peças começaram a se encaixar.
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