Capítulo 13 - Nos conte uma História Sarah Bellows - Parte I
Mill Valley - Califórnia, 31 de outubro de 1968.
- Não deveríamos estar aqui. - Fala apavorada Dorothy Smith.
- É Halloween Dory, onde mais deveríamos estar... além de uma casa mal assombrada? - Lhe questiona Jasper Mill's.
- Talvez... pegando doces, como as outras pessoas? - Responde a garota.
- Não temos mais idade para isso, e mais, onde estaria a diversão? - Argumenta Jessie Mill's.
- Temos uma casa mal assombrada só para nós, hoje é o dia perfeito para pedir a Sarah, que nos conte uma história. - Dylan Carther fala entusiasmado.
- Vamos parar de enrolar e entrar logo, antes que meu pai comece a ronda e nos encontre aqui. - Adverte Myles Monroe.
Desceram todos do Dodge Charger, que Dylan havia ganho de aniversário de dezesseis anos, e seguiram para a casa escura, velha e assustadora.
- Vocês não estavam brincando, esse lugar é o máximo. - Fala Dylan eufórico.
- Eu disse que não iria te decepcionar, isso que nem entramos ainda. - Comenta Jessie.
- Esse lugar deveria estar lotado no Halloween. - Exclama Dylan.
- E ficava, por vários anos, ai uma criança desapareceu e eles fecharam a casa toda. - Explica Jasper.
- Não sei por que ainda não foi demolida, isso sim. - Fala Dorothy ainda com medo.
Caminham por alguns minutos próximos a cerca a procura de uma passagem que os permitisse adentrar ao terreno da casa.
- Aqui gente, achei. - Grita Jessie aos amigos.
Os jovens atravessam a cerca e seguem em direção a sinistra casa dos horrores.
Atravessaram por uma grana alta e galhos caídos.
Ficaram parados em frente a escada da varanda por alguns minutos em silêncio, até ele ser quebrado.
- Pronto, já vimos, vamos embora agora. - Choraminga Dorothy aos amigos.
- Quem chamou a maria medinho. - Brinca Jessie.
- Só porque eu não quero passar a noite em uma casa onde morava uma assassina de crianças? - Questiona Dorothy.
- É sério? Teve um assassinato nessa casa? Assustador. - Exclama Myles eufórico. - Quem morava aqui? - Continua o garoto subindo para a varanda da casa.
- Os Bellows, eram uma família de imigrantes, eles vieram para cá no final do século XIX. - Conta Jessie seguindo os amigos.
- Eles eram donos da fábrica que colocou essa cidade no mapa. - Continua Jasper, subindo os degraus de acesso à varanda.
- É como eu imaginava, está trancada, fim da linha, podemos voltar agora? - Implora Dorothy aos amigos, assim que todos já estão em frente a porta da casa.
- Alguém tem um grampo? - Lhes pergunta Myles.
- Você não está pensando em arrombar esse cadeado, está? - Dorothy o adverte.
- Para de ser um bebê chorão Dory. - Zanga Jessie. - Tenho um aqui. - Continua a garota estendendo o grampo que retirou da alça do sutiã para o amigo.
Myles então com o grampo já em mãos, o coloca na abertura da chave do cadeado e dando algumas voltas e movimentos complexos, ele se abre.
- Ele é muito mais interessante que você. - Fala Jessie ao irmão Jasper que a empurra com o ombro em sinal de advertência.
O quinteto se adentra a residência escura e fria, um a um e quando o último dos amigos passa pela porta, uma rajada inesperada de vento faz com que a porta de entrada se bata bruscamente os assustando.
- Isso é um mau sinal. - Tenta Dorothy convencer seus amigos mais uma vez, mas assim como das outras vezes, ninguém a leva a sério.
Caminham cada vez mais fundo dentro da casa, olhando e analisando cada objeto contido no hall de entrada.
- Aqui é incrível. - Grita Dylan aos amigos.
- Os Bellows tinham um segredo, uma filha que nunca podia sair de casa. A lenda diz que havia uma coisa muito errada com ela. - Começa Jessie.
- A parte mais bizarra, é que a família a apagou de todas as fotos, e até hoje ninguém viu uma foto da Sarah. - Complementa Jasper.
- Eles a rejeitaram. - Exclama Dorothy com uma voz de dor, com os braços encolhidos próximo ao peito.
Caminharam por mais alguns metros, até se aproximarem de um enorme espelho em uma parede.
- Crianças vinham de todos os lugares, na esperança de ver a estranha Sarah, e apesar de ninguém nunca a ter visto, podiam ouvi-la, através desta parede. - Comenta Jessie aos amigos, apoiando as mãos sobre o enorme espelho.
- Sarah lhes contava histórias... histórias assustadoras. - Continua Dylan, fazendo cara de medo enquanto levanta as mãos as abanando.
- Algumas crianças nunca voltaram para a casa, e algumas crianças da cidade, morreram envenenadas pelo que eu ouvi. - Inclui Dorothy. - Mas pode nem ter sido ela, crian...
- A lenda diz que ela se enforcou em seu quarto frio e escuro, com seu próprio cabelo. - Jessie acrescenta, ignorando Dorothy.
- Sinistro, e como chega atrás desta parede? - Pergunta-lhes Myles.
- Não sabemos... - levantando os ombros - acho que ninguém sabe. - Dylan responde.
- Está com você. - Brinca Jessie tocando em Myles e correndo, seguido pelos outros amigos que se espalham pela casa em segundos.
Dorothy permaneceu parada e Jessie a puxou pelas mãos. Com relutância, Dorothy se rendeu ao medo.
Correram e brincaram de pega-pega por algum tempo, se escondendo, subindo e descendo as escadas do casarão assombrado.
- Dorothy, sei que você está aqui, vamos brincar. - Sussurra uma voz não familiar.
- Gente, vocês ouviram isso? - Pergunta a garota assustada.
- Isso o que Dorothy? Vai dizer que ainda esta com medo? - Indaga Jessie.
- Não, não é isso, juro que ouvi alguém me chamando. - Fala ela.
- Ninguém te chamou Dory, relaxa. - Jasper acalma a garota - Agora fique quieta se não ele vai nos encontrar.
- Doryyy... venha... vamos brincar! - Novamente a voz sussurra, um sussurro medonho, mas chamativo.
- Não tem graça gente, parem com isso. - Pede a garota com medo.
- Parem com o que, ninguém está fazendo nada Dory, você está bem? - Pergunta Jessie a amiga, que permanece calada e imóvel.
- Venha Dory... venha aqui embaixo, vou lhe contar uma história. - A voz apavorante novamente chama pela garota, que sente a impulsiva vontade de correr em direção aquela voz.
Acreditando ser mais uma peça que os amigos estão pregando, Dorothy começa a seguir o som da voz que a chamava, caminhando por alguns cômodos da casa e chegando aos fundos, onde há muito tempo ali, deveria ser uma bela e deslumbrante cozinha.
- Isso Dory, vamos brincar... abra a porta e venha aqui em baixo. - Continua a voz lhe chamando. Não sente mais medo, apenas uma agonia, que também não parecia vir dela, mas pertencer ao dono daquela voz.
Parada em frete a um armário de louças suspenso na parede, - ela pode observar graças a pouca luminosidade que entrava pela janela e a belíssima lua cheia no céu - algumas marcas tanto no piso de madeira velho como na parede, pareciam arranhões feitos pelo movimento repetitivo de arrastar de um lado para outro o armário.
Tentou sem êxito empurra-lo e descobrir sozinha de onde vinha aquela voz, mas lhe faltou o principal: força. Nem ao menos sabia de onde vinha tanta coragem repentina.
- Gente, vem cá, acho que encontrei alguma coisa. - Chama insatisfeita pelos amigos.
- O que você achou? - Pergunta Jessie descendo as escadas e entrando na cozinha.
- Eu não sei bem, mas acredito que tem alguma coisa aqui atrás. - Responde a garota mostrando as marcas de arranhões pelo chão e parede.
- Não tem nada aqui, apenas marcas velhas em um lugar também velho. - Comenta Myles que se adentrou ao lugar, se aproximando do armário e escorando nele.
Com o peso do corpo de Myles, o armário moveu-se alguns centímetros para o lado, deixando amostra um pedaço de parede sem papel de parede, diferente do restante da cozinha.
- O que tem aí? - Jasper curioso questiona.
- Não sei, me ajuda a empurrar mais. - Pede Myles.
Então os garotos com muito trabalho e dificuldade, conseguiram empurrar aquele armário velho e pesado totalmente para o lado, dando acesso a uma porta escondida por trás.
- Não pode ser. - Exclama Dorothy.
- Vamos abrir. - Diz Jasper empurrando para o lado o trinco que fechava a porta.
Com um estralo e ranger, a porta se abriu, dando acesso a uma escadaria que levava a uma sala escura no porão.
- Era aqui onde eles a mantinham? - Pergunta Dylan.
- Não sei, vamos descer. - Responde Jessie eufórica, passando pelos amigos e começando a descer a escada.
Um a um seguiu a garota para o fundo do porão, curiosos por conhecer onde supostamente, Sarah Bellows foi mantida presa por quase toda a sua vida.
- É... acho que é o fim da linha. - Fala Dorothy aliviada pela segunda porta estar trancada com um enorme cadeado velho.
Dorothy desejava voltar ali, sozinha e desvendar ela mesmo o mistério.
- Sai da frente Dory. - Pede Myles abrindo seu canivete.
- Não falei que ele é bem mais interessante. - Por mais uma vez, Jessie fala ao irmão, que apenas revira os olhos em resposta.
E com um clique o velho e enferrujado cadeado se abriu.
- Aprendi em um filme do Terry Jenkins*.
- Explica Myles.
Empurraram então a grande porta de ferro que fechava o lugar e se depararam com um pequeno cômodo escuro.
- Este é o qua-quarto da Sa-sa-sarah. - Gagueija Dorothy apavorada.
- Maneiro. - Exclama Dylan entrando no quarto.
- Não acredito. - Grita Jessie empolgada também entrando no cômodo.
Myles não conseguindo ver nada devido à escuridão do lugar, acende seu isqueiro a querosene e então pode observar algumas velas em um castiçal sobre uma velha mesa ao lado da porta.
Após acender as velas, puderam observar a magnitude e horror do lugar.
- Aqui era onde a família a mantinha presa. - Conta Dorothy passando as mãos por uma velha cadeira de balanço de madeira, como se ela tivesse total certeza do que dizia, pois o lugar estava lhe contando.
- Totalmente isolado do mundo. - Continua Jessie, se olhando por um pequeno espelho acima de uma minúscula pia.
- Sozinha, como se fosse uma aberração, ela devia sentar aqui e contar as histórias para as crianças através desta parede. - Fala Dorothy sentando na cadeira de balanço ao lado da parede de espelho.
- Já viemos aqui milhares de vezes, por que nunca havíamos visto isso. - Pergunta Jasper.
- Eu não sei, acho que ela não queria que víssemos. - Responde Dorothy.
Dorothy se levanta da cadeira de balanços após avistar algo caído ao chão, quase que imperceptível, próximo a uma estante coberta de poeira e teia de aranhas.
Se agacha e pega a pequena caixinha de músicas caída ao chão, da corda e a mesma começa a tocar uma linda e horripilante música.
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- Acho que podemos ir embora agora. - Fala assustada com a música que ainda tocava
- Claro que não, mal chegamos. - Adverte Jessie próxima a uma estante de livros.
Olhando para a velha estante, abre uma rasgada cortina, que escondia alguns livros e algo lhe chamou a atenção. Era um livro com a capa completamente de couro.
Jessie o segurou em suas mãos observando cada detalhe do couro e então o abriu.
- Galera, olha isso aqui. - Chama Jessie pelos amigos, lhes mostrando o livro.
- É só um livro velho. - Fala Dorothy, sentido um nó em seu estômago.
Então a garota começa a folheá-lo, e em sua segunda folha algo escrito lhe paralisa.
- Este Livro Pertence a Sarah Bellows, não acredito, é o livro dela. - Exclama Jessie animada.
- De suas histórias assustadoras? - Jasper pergunta se aproximando ainda mais.
- Vocês não falaram nada sobre um livro escrito por ela. - Dylan questiona.
- Eu ouvi falar que ele é todo escrito em sague. O próprio sangue dela... - Responde Dorothy, sentido seu estômago revirar.
Algo estava errado, Dorothy podia sentir, era aquela sala, aquela casa, tudo cheira a morte e sangue.
- Crianças morreram ouvindo essas histórias, nós não vamos ler. - Continua a garota fechando o livro nas mãos da amiga.
- Para de ser medrosa Dory. - Myles a adverte.
- Querem ver algo legal? - Pergunta Jessie.
- Não, você não vai fazer isso Jessie, vamos guardar ele onde estava e ir embora. - Censura Dorothy, podia sentir ela ali, Sarah Bellows estava ali com eles.
Neste instante, uma rajada de vento faz a porta de entrada bater e todas as velas acesas se apagarem.
- Vamos embora, vamos embora, vamos embora, vamos embora. - Dorothy começa a repetir enquanto segura com as mãos em seus ouvidos e cabeça, a voz que antes sussurrava, agora ria em plenos pulmões. Uma risada maléfica.
- Foi só o vento, para de histerismo. - Fala Dylan afagando o ombro da amiga.
Jessie ainda com o livro, começa a folheá-lo e ler os nomes das histórias contidas ali, então uma idéia passa por sua cabeça.
Segurando o livro aberto em mãos ela fala baixinho:
- Sarah Bellows, nos conte uma história?
* Terry Jenkins - Terry Jenkins nasceu em 6 de fevereiro de 1936 em Bedford, Inglaterra. Ele era um ator, conhecido por Paint Your Wagon (1969), It Takes a Thief (1968) e Bandidos (1967). Ele morreu em 5 de abril de 2009 em Los Angeles, Califórnia, EUA.
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